8. Fantástico: Suspeita essa atitude, não?!

Pedro de Campos
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Vítima Aurora Fernandes sendo examinada pelo Dr. Orlando Zoghbi. No detalhe, as…
Créditos: Arquivo GUG

Por Pedro de Campos

Uma escritora amiga, autora de vários livros, após ver o Fantástico de 15 de agosto de 2010, produzido pela Rede Globo de Televisão, de imediato nos enviou um e-mail a título de desabafo. Nele, ela dizia que a matéria exibida era revoltante, justamente agora quando a Força Aérea Brasileira, por meio da Portaria 551/GC3, de 09 de agosto de 2010, regulamentava o registro de ocorrências ufológicas e seu envio ao Arquivo Nacional. Para ela, o que passou na TV parecia uma represália.

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Após a louvável iniciativa da FAB, a Globo levou ao ar matéria colocando em xeque o organismo militar e os civis investigadores do Fenômeno UFO, como se eles fossem ingênuos a ponto de não saberem que as fraudes campeiam em quase todas as atividades humanas e na Ufologia, em particular. A escritora, perplexa, dizia: “O que a matéria do Fantástico acrescentou de útil ao conhecimento já sofrível do povo sobre esse tema?!” E prosseguiu indignada: “Vendo a reportagem, nota-se clara intenção de, ao contrário, sedimentar nos leigos ou incautos a convicção de que, ante as tais fraudes ali denunciadas, ufos e assemelhados não passam mesmo de nonsenses [coisa desprovida de lógica e alheia ao cartesianismo que formou a cultura ocidental]. Até onde vai isso? Se por um lado eles fazem isso num momento importante para a ufologia brasileira, de outro ignoram, clamorosamente, e de caso pensado (não se sabe até que ponto), os fenômenos que surgem sem cessar em todo o mundo, a revelia de descrenças e acobertamentos!\” E concluiu: \”Suspeita essa atitude, não?!\”

Não há dúvida, a atitude parece suspeita. E de fato as atividades de contra-informação, realizadas por ideólogos céticos e por opositores da Ufologia, de há muito visam confundir e ofuscar a verdade sobre os UFOs. Então surge a pergunta, em quem confiar? E a indagação é procedente, pois a verdade não pode estar nos dois lados divergentes. Contudo, esse dilema talvez possa ser minimizado com outra indagação: Quem seria mais confiável: aqueles que nada viram e dizem que não é…, ou os que viram o fenômeno e afirmam que é…?

No Caso Barra da Tijuca (1952, sequência de fotos de Ed Keffel e jornalista João Martins) e no Caso Trindade (1958, sequência de 6 fotos, fotógrafo Almiro Baraúna e 48 testemunhas militares interrogadas pela Marinha Brasileira), não sei se ainda haveria alguém vivo e disposto a falar o que viu. O programa se ateve a mostrar o jornalismo do passado, fabricante de notícia, feito supostamente sem ética nem responsabilidade. Mostrou os delitos à luz da perícia fotográfica e o testemunho de quem teria ouvido uma suposta fraude. 

 

No Caso Barra da Tijuca, estranha-se não ter sido dado a autoria da \”descoberta\” ao professor Flávio A. Pereira, que em sua obra, O Livro Vermelho dos Discos Voadores [Florença, 1966, p.175], dá o fato como \”inverosímil\”, refutado pela Comissão Brasileira de Pesquisa Confidencial dos Objetos Aéreos Não Identificados – CBPCOANI, da qual ele era o presidente. Hoje, documentos em PDF, liberados recentemente pelo governo, mostram 9 fotos e 7 desenhos bem estudados do Caso, mas não mencionam impropriedade.

 

No Caso Trindade, um tenente da tripulação do navio-escola Almirante Saldanha, da Marinha Brasileira, teria alertado Baraúna sobre o UFO. Resta saber se Emília Bittencourt, apresentada no Fantástico como testemunha, falava especificamente do Caso Trindade e não de outro em que Baraúna tivesse feito alguma brincadeira, pois o caso mostrado foi alvo de sérios e demorados estudos especializados da Marinha. Para saber a verdade, por que o programa não cobrou os documentos oficiais  ainda de posse da Marinha? Contudo, salvo novos argumentos e vestígios periciais em contrário, os dois casos foram desqualificados e os supostos fraudadores tiveram seus nomes jogados na lama. [NOTA: Veja neste blog a postagem 31. Caso Trindade – Infrações contra a honra ou burla nas fotos?].

No programa, o Caso ET de Varginha foi colocado em xeque. O Fantástico apresentou a opinião do principal investigador, o qual, após 14 anos, diz não ter encontrado prova para dá-lo como de procedência extraterrestre. Até aí, tudo bem! Mas ficar apenas com esse depoimento é insuficiente. Surge a indagação: será que vale mais a opinião de quem não viu… do que o depoimento das três meninas que viram a criatura? Afinal, foram elas que viram, não ele! Por que o Fantástico não entrevistou as”meninas”? Além disso, o soldado Marco Eli Chereze, que teria capturado a criatura de Varginha, foi a óbito. Por que o Fantástico não ouviu os testemunhos da mãe, da irmã e da viúva do soldado morto? Por que não ouviu o escritor e importante investigador do Caso Varginha, senhor Vitório Pacaccini? Afinal, esses testemunhos seriam importantes ao esclarecimento. Se a Globo quer a verdade, por que não cobrou também os documentos oficiais do Exército (que registra ter encaminhado para arquivo na 4ª Circunscrição Judiciária Militar – Juiz de Fora – MG), da PM (regimento de Bombeiros) e da Unicamp, órgãos que teriam participado diretamente das ações de captura e da autópsia da criatura? Tendo em vista essas omissões, a escritora, em seu e-mail, diz: “Suspeita essa atitude, não?!”

O Caso Operação Prato, investigado pela Força Aérea Brasileira, na Amazônia, foi apresentado de modo ainda mais insuficiente. A falta de bom senso deu mais destaque àquele que diz ter adulterado fotos do que ao capitão Uyrangê Hollanda, comandante da missão que envolvia cerca de 60 homens. O capitão Hollanda, já falecido, era um militar sério, responsável e capaz, planejou as operações, ficou de tocaia por noites a fio, avistou os UFOs, tirou centenas de fotos, filmou os objetos, coletou depoimentos do prefeito, do padre, da médica, das vítimas e de seus comandados. Depois mandou o material todo a seus superiores, comprovando a intensa atividade ufológica no local. Por que o Fantástico não entrevistou o alegado fraudador, Fernando Costa, e preferiu exibir o chamado “disse-que-disse”? Seria importante saber se ele praticou a fraude ou se estava querendo ter um ilusório cinco minutos de fama na mídia. Se realmente houve fraude, até que ponto ela impacta a Operação Prato? Por certo, a Globo ficou devendo ao público essas explicações. Esperamos que ainda o faça!   

Além disso, todo ufólogo sabe que o Fenômeno UFO tem uma característica dual: às vezes é físico, outras vezes é luzente e ultrafísico. Parece que os operadores de UFOs usam de tecnologia capaz de converter massa em energia e vice-versa, sem que saibamos como. E talvez disso provenha a dificuldade de obter-se prova concreta e irrefutável. Mas fotos, filmes, desenhos, testemunhos civis e militares, pessoas feridas e laudos médicos fazem parte das provas reunidas por Hollanda e seus soldados. Contudo, o que é prova para uns, pode não ser para outros. E daí nasce o engano, o ceticismo e, por outras razões, a fraude interesseira, mostrada pelo Fantástico. Mas isso não significa que todas as testemunhas usem dessas práticas, porque elas, na maioria, são sérias, honestas, gozam de perfeita saúde e são dignas do nosso mais profundo respeito e consideração.

Hollanda concedeu longa entrevista à Revista UFO, contando os fatos na Amazônia. E outros importantes testemunhos também vieram à tona, como, por exemplo, o da médica psiquiatra, chefe da Unidade Sanitária da Ilha de Colares, doutora Wellaide Cecim Carvalho, profissional ainda em atividade, que atendeu cerca de 80 vítimas e deu também sua entrevista à UFO, contando coisas intrigantes. Se esses vestígios e testemunhos nada valem para a Globo e ela prefere deixar em xeque a Operação Prato, ocorrência ufológica mais bem investigada no Brasil pela FAB, então só nos resta dizer: “Suspeita essa atitude, não?!”

A chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, mostrada na televisão, em maio de 1986, foi ratificada agora com os documentos liberados pelo governo brasileiro. Naquela noite, os UFOs sobrevoaram São José dos Campos e região. E o que foi dado a público nos faz confiar na atuação da FAB, na sua organização e nos militares envolvidos na defesa do espaço aéreo nacional. Bem como na  iniciativa atual da FAB de divulgar todas as ocorrências ufológicas, o que é altamente esclarecedor.

Quanto ao Fantástico de 15 de agosto, apenas restou saudade dos programas de outrora, em que podíamos assistir com satisfação a documentários consistentes, profundos e imparciais, sem o ranço de superfície que coloca em dúvida a atuação dos militares da FAB e dos ufólogos civis brasileiros. Nitidamente, deu-se preferência à desqualificação, como se os UFOs fossem apenas fraudes, enganos ou coisas da imaginação. “Suspeita essa atitude, não?!”

Caro leitor, não se deixe enganar: leia as matérias sérias relativas aos principais casos, acompanhe as divulgações oficiais, procure os detalhes, veja inclusive o vídeo abaixo, produzido pela Globo nos áureos tempos do Fantástico, e tire as suas conclusões sobre a questão ufológica no Brasil.

Vídeo: Noite Oficial dos UFOs no Brasil:

 

 

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Formado em engenharia e administração de empresas transferiu da Itália ao Brasil tecnologia para transmissão de dados via satélite. É autor de diversos livros biográficos, de ufologia e de espiritismo. É congressista, participa de programas de rádio e tevê, escreve para revistas: Ufo, Espiritismo & Ciência, Revista Internacional de Espiritismo - RIE e Jornal O Clarim.