
Por Pedro de Campos
Até mesmo jornalistas e editores de revistas e jornais conceituados se equilibram para manter a si mesmos e os seus veículos de massa numa posição confortável, capaz de refutar ou aceitar o incomum desde que sua imagem pública possa ser mantida no patamar sério e refletir credibilidade. A boa reputação precisa ser preservada e o fato incomum não pode lhe trazer descrédito.
Contudo, o que muitos profissionais da mídia parecem esquecer é que o UFO, a priori, não é um Disco Voador (DV) de outro planeta, mas um Objeto Voador Não Identificado (OVNI), evento que requer estudo científico para sua identificação. Curiosamente, o medo da chacota e da mácula campeia também na mídia escrita, falada e televisionada.
Isto nos faz lembrar, mas com satisfação, da entrevista concedida pelo editor da revista UFO, A. J. Gevaerd, à TVE do Rio Grande do Sul, a segunda maior daquele Estado, emissora pública administrada pela Fundação Piratini. A entrevista foi gravada em 25 de junho de 2012, um dia após a comemoração do Dia Mundial dos Discos Voadores, e pretendia esclarecer os científicos e o público em geral sobre o que os peritos no fenômeno UFO têm apurado nas investigações de campo.
Ocorre que o diretor da emissora não levou o programa Frente a Frente ao ar, como previamente concordado entre a revista UFO e a TVE, porque, pelo andar da carruagem, naquele dia as coisas andaram a favor da Ufologia, em detrimento dos céticos de plantão.
A revista, na pessoa de seu editor, foi convidada ao programa por ser a publicação especializada mais antiga do mundo e ter conceito reconhecido no Brasil e no exterior, como se observa nos eventos internacionais que é chamada a participar e nos congressos nacionais que organiza, inclusive com a participação de especialistas civis e militares de várias partes do mundo.
A atitude do diretor de TV era bizarra: o programa fora gravado, editado e estava totalmente formatado para ir ao ar, quando a emissora cancelou a exibição, anunciando que “não havia mais data para levá-lo ao ar”. Em suma, não seria mais exibido. Ocorre que uma cópia do programa tinha sido entregue à revista UFO, e quando sobreveio a interdição, com a negativa da emissora contrariando o interesse público, a cópia foi colocada no Youtube. Em pouco tempo, a entrevista registrou recorde de audiência, superior a muitos programas. Então a emissora se viu obrigada a explicar o fiasco. O fato é histórico e vale a pena assistir ao vídeo.
Não obstante a prevenção das testemunhas e os entraves na mídia para divulgação do fenômeno UFO, ainda assim temos de ressaltar, com bom ânimo, o trabalho dos veículos de comunicação e de seus profissionais. Não são poucos os propensos a mostrar de modo imparcial e informar o público sobre a casuística e o trabalho dos ufólogos na elucidação de casos enigmáticos. Afinal, após o advento da internet e das facilidades dadas pelas novas tecnologias de captura e modificação de imagens, o evento sério virou motivo de gracinhas imaturas e redundou na banalização do fenômeno nas páginas eletrônicas, dificultando o trabalho dos especialistas.
Contudo, como modelo de lisura e seriedade na mídia, há que se destacar o trabalho do jornalista Gustavo Criscuolo, que de modo imparcial e comprometido com os fatos decidiu mostrar ao público que os UFOs incidem também na cidade de Guarulhos e são alvos de estudo especializado.
Na entrevista, o jornalista levantou pontos importantes e pudemos discutir amplamente a questão. Diferente do espaço restrito do jornal, nós não temos tal restrição aqui e damos ao leitor o teor completo da conversa (publicação parcial no Guarulhos HOJE, sab. e dom., 8 e 9 de nov. 2014 – nº 1637, p.6 – confira clicando aqui):
Gustavo Criscuolo (do jornal Guarulhos HOJE): Como você começou a se interessar pelo assunto?
Pedro de Campos: Moro em Guarulhos desde 1953. A minha curiosidade começou aos 11 anos, em 1961, quando um amigo de infância, o José Carlos Rodrigues, ainda hoje morador na cidade, mostrou-me um pequeno fragmento de metal que seu pai recolhera, dizendo ser um pedacinho de disco voador que havia explodido na região de Ubatuba, em 1957. Como todo garoto, achei aquilo fantástico, mas o tempo passou e o caso caiu no esquecimento. Certa feita, uns vinte anos depois, quando comecei a interessar-me pelo famoso Caso Roswell, pedi a ele o tal pedacinho de metal, mas os anos já haviam passado e o destino do fragmento era então ignorado. O meu interesse começou assim: um amigo me falou sobre o caso, mostrou-me algo intrigante e depois li sobre a casuística.
Naquela época, principalmente nos Estados Unidos, havia gente importante investigando os UFOs. E você, como entrou nisso?
Isso foi muito tempo depois, quando examinei documentos militares de oficiais norte-americanos dando conta das investigações de campo. Alguns, como o capitão Edward Ruppelt (chefe do Projeto Blue Book), o major Donald Keyhoe (aviador da Marinha), o astrônomo Dr. Allen Hynek (consultor da Força Aérea dos Estados Unidos – USAF), e o astrofísico Dr. Jacques Vallée, que inovou a investigação associando alguns UFOs à Parapsicologia, todos eles profissionais acima de qualquer suspeita. Suas buscas e estudos científicos me pareceram bem fundamentados e dignos de crédito, mesmo porque eram céticos que se renderam às evidências. Então passei a estudar a questão, seguindo a linha investigativa de Vallée em vários casos.
Esses homens foram autores de livros. A que conclusão eles chegaram? De onde os ETs viriam?
Ocorre que na época surgiram ao menos três escolas de interpretação ufológica: a primeira delas associa os UFOs a “ilusões do observador”, não os dando como fatos reais; a segunda os associa a seres de “outra dimensão do espaço-tempo”, algo como espíritos; a terceira, a “astronautas de mundos como o nosso”, que chegariam aqui vindos de algum planeta de fora do nosso Sistema Solar, sem que a nossa ciência saiba como.
Além do Sol é muito distante. Então é o caso de perguntar, como seria isso possível?
As hipóteses mais promissoras são de que viajariam “por fora do nosso espaço”, pelos chamados “Buracos de Minhocas”, que não é ficção, mas teoria científica, ou, então, viriam de “Universos Paralelos” físicos como o nosso, mas impossíveis de ver pela matéria escura que permeia o cosmos. Seja de um modo ou de outro, “eles” teriam de ter ciência e tecnologia muito superiores às nossas.
Temos hoje engenhos voadores sofisticados, que podem ser confundidos com UFOs. Não está havendo muito engano por aí?
Sim, está! O avistamento incomum precisa da “logia” – do estudo científico do “Ufo”, que deve estar lá em cima. O objeto tem que ser avistado e fotografado, ser pego pelo radar ou filmado para receber estudo. É claro que há os “engenhos feitos pelo homem” (aviões, dirigíveis, balões) e os “fenômenos atmosféricos mal compreendidos” (raios bola, reflexos de luz, bólidos etc.) que causam confusão, por isso as imagens captadas precisam ser analisadas por peritos. A internet está repleta de vídeos de UFO que tentam chamar a atenção para promover alguém ou alguma empresa, mas praticando fraude e sujeitando-se ao rigor das leis. O fenômeno UFO é algo raro!
Há também pessoas que afirmam que os UFOs não são reais. Seriam frutos do imaginário?
Nos Estados Unidos, o fenômeno UFO é debatido com frequência pelo povo, pelo governo e nas universidades. Agora, por exemplo, em 12 de novembro de 2014, a Universidade Americana de Washington D.C. receberá os especialistas e fará um painel de discussões sobre UFOs. Isso tem passado despercebido no Brasil, apesar da incidência ufológica ser das maiores do mundo. A “ilusão do observador” foi tratada de modo extenso por Carl Jung, fundador da psicologia analítica, em seu livro Um mito moderno… [Vozes, 1988], afirmando que o ilusório não pode ser fotografo nem filmado, tampouco pode ser pego no radar, como acontece aos UFOs.
Você tem se dedicado à Ufologia. O que já publicou?
Sim, temos publicado em jornais e na revista UFO, a única especializada no Brasil. Temos um blog na revista falando de casos, com imagens e vídeos. Gravamos dois DVDs – Os aliens na visão espírita – parte A e parte B, na TV Mundo Maior – Fundação Espírita André Luiz, lançados pela videoteca da revista UFO e contendo nove horas de gravação e imagens de UFOs. Temos também cinco livros: Universo profundo; UFO – fenômeno de contato; Um vermelho encarnado no céu; Os escolhidos; Arquivo extraterreno, específicos sobre UFOs e publicados pela Lúmen Editorial, de São Paulo.
Parece que há casos em toda parte. E em Guarulhos?
Também há vários casos, que são informados à revista UFO via internet. Após exame preliminar, os mais sugestivos são investigados. Lembro-me do Caso Rudy, ocorrido a 28 de agosto de 2009 e testemunhado por três oficiais militares, às 22h00, perto da barragem de Tanque Grande, em Guarulhos. Naquela noite, uma luz vermelha se movimentou veloz e irregular perto da barragem, sob o olhar atônito dos oficiais, um deles muito cético, formado em história. O objeto foi filmado, mas com baixa qualidade devido à falta de capacidade do equipamento. O caso foi discutido junto aos grupos ufológicos GUCIT e EXO-X, em reunião que ocorre ainda hoje, uma vez por mês, na sede em São Paulo (Rua Força Pública, nº 268, Santana), de propriedade do GEAS.
Esse caso é de 2009. E nos dias de hoje, há algo quente?
Sim, há! O caso é recentíssimo e ainda estamos no aguardo da testemunha dar as especificações da máquina que fez as fotos e as condições ocorrentes, conforme norma da revista UFO. De modo resumido, o UFO Escola Dona Belinha incidiu a 02 de outubro de 2014, às 02h25 da manhã, por sobre a Escola Estadual Izabel Ferreira dos Santos, Jardim Vila Galvão, numa linha reta da Fundação para o Remédio Popular (FURP), na Vila Augusta. O cachorro do vizinho latia como desesperado e a testemunha foi ver o que era. Então avistou um objeto luzente, achatado, com cerca de um metro, próximo ao poste de iluminação e acima dos fios da rua. Na foto, bem acima no céu, há também uma luzinha de um suposto corpo celeste, que ainda deve ser analisada. A foto ainda precisa ser submetida à perícia, para confirmar ou não suspeita de “sonda ufológica”. [NOTA: Para quem aprecia história, antigamente na Rua Freire de Andrade (local da incidência), divisa entre Jardim Vila Galvão e Jardim Tranquilidade, ficava a chamada “Biquinha”, uma nascente que formava um pequeno lago onde a garotada ia nadar e mais tarde construiu-se a Escola. Dona Belinha, por sua vez, nascera em 1915, em Petrolina, Pernambuco. Ao chegar a Guarulhos, fixou residência na Rua Tomé de Souza, Jardim Vila Galvão. Numa pequena sala, próxima de sua casa, ela dava aulas avulsas para crianças entre a pré-escola e a quarta série, além de alfabetizar adultos no antigo Mobral. Curiosamente, a professora solteira e muito religiosa passou a usar hábito de freira, que a deixava feliz e amparada. Foi muito conhecida na região. Faleceu em 21 de dezembro de 1980, mas quatro anos depois, a 2 de setembro, tornou-se patrona da Escola Estadual Izabel Ferreira dos Santos – Dona Belinha. Foi ali que o atual incidente UFO ocorreu].
Cadê o órgão brasileiro de investigação dos UFOs?
O que precisa ficar claro aos brasileiros é que vários países da América do Sul têm um órgão especializado de investigação ufológica e trabalham abertamente com a hipótese extraterrestre. São exemplos: o Uruguai, com sua Comissão de Reporte e Investigação de Denúncias de Objetos Voadores Não Identificados (CRIDOVNI, clique e veja!); o Chile, com o seu Centro de Fenômenos Aéreos Anômalos (CEFAA, clique e veja!); o Peru, com a sua Oficina de Investigação de Fenômenos Anômalos Aeroespaciais (OIFAA); a Argentina, que em 2011 criou sua Comissão de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (CIFA), órgão da Força Aérea Argentina (FAA), e vendo a Igreja do Papa Francisco ser proprietária do Observatório do Vaticano e buscar exoplanetas estudando sua eventual exobiologia (vida extraterrestre), estaria dotando seu órgão oficial de maiores recursos para liberar documentos de arquivo. Chile e Uruguai, por sua vez, representados pelo general da reserva Ricardo Bermúdez (FACH) e pelo coronel Ariel Sánchez (FAU) acabaram de assinar acordo para “Cooperação Militar Conjunta na Ufologia”. Como se nota, os países sul-americanos com certo poderio e controle do espaço aéreo têm o seu órgão especializado de controle e investigação, menos o Brasil.
É interessante a posição do Vaticano. Fale um pouco disso.
O padre José Gabriel Funes, diretor do Observatório do Vaticano, deu uma entrevista polêmica, publicada no veículo oficial da Igreja, L’Osservatore Romano, a 14 de maio de 2008. A entrevista recebeu o título “O extraterrestre é meu irmão”. Nela, o diretor do Observatório deixa claro que existe possibilidade de haver outros seres viventes no universo, por isso a astrobiologia está em grande desenvolvimento, na esperança de achar marcas de vida nos planetas distantes. Seres como nós, com milhares ou milhões de anos à nossa frente, talvez já saibam como viajar no cosmos de maneira diferente da nossa, à revelia da nossa ciência atual. Em razão dos UFOs, a Igreja se preocupa com eventual contato. Afinal, uma civilização mais avançada se sobrepõe à outra; assim, quem catequizou no passado, correria agora o risco de ser catequizada.
Quanto ao Chile e Uruguai, parecem bem adiantados na investigação dos UFOs. E ao Brasil, o que faltaria?
Sem dúvida, no controle dos UFOs o Uruguai e o Chile parecem estar à nossa frente, com organograma de responsabilidades, adoção de metodologia, técnica de entrevista, avaliação dos testemunhos e divulgação. Quanto a nós, que não fazemos parte das instituições oficiais, cabe-nos apenas especular a bom senso. Será que haveria hoje falta de profissionais especializados no governo brasileiro? Faltaria infraestrutura aeroportuária, instrumentação, equipamentos, aviões de caça para isso? Se as investigações e estudos são realizados no Brasil, cadê os relatórios, por exemplo, do ano passado e deste ano? Tanto quanto se sabe, não há hoje órgão específico dentro da Força Aérea Brasileira (FAB) para investigar os UFOs. Mas como cidadãos, nós temos o direito de saber. Afinal, os avistamentos são reais e o povo quer ficar informado.
Isso parece notório. Mas o que teria de ser feito de modo satisfatório no Brasil?
Tal como os países citados, o Brasil deveria instituir um órgão oficial investigativo, dotá-lo de recursos e atribuir a uma universidade a tarefa de estudar as incidências subsidiando as investigações militares, para entendimento científico. Além de tentar entender as evidências notórias, seria uma chance de responder as perguntas capitais e estender o controle do nosso espaço aéreo às incidências enigmáticas. O que não dá para aceitar mais é a postura conservadora dos oficiais que alegam: “Não há perigo algum”, sem saber o que são os UFOs e, talvez, um sistema de camuflagem aperfeiçoado; nem a miopia dos científicos que se abalançam no chavão: “Teoricamente não pode ser…, então não é!”
Canal Livre – Vida Extraterrestre:
Entrevista de A. J. Gevaerd à TVE de Porto Alegre: