Por Pedro de Campos
Nas proximidades da festa natalina, é comum refletirmos sobre como era verdadeiramente Jesus Cristo. Isto nos leva aos escritos de Públio Lentulus, legado do imperador Tibério na Judeia, romano que no ano 32 da Era Cristã escreveu uma carta falando como era o Cristo. De sua casa na Galileia, enviou a carta ao Senado Romano, por meio de um emissário, enquanto Jesus ainda vivia. No ano seguinte, o Cristo seria crucificado. A carta foi importante documento do Estado Romano. Ela descreve de modo breve a fisionomia de Jesus e fala de Sua personalidade sob o ponto de vista humano, sem arrebatamento sentimental. É o único documento a descrever Jesus com “a barba repartida no meio”, em perfeita sintonia com o recentíssimo achado arqueológico de Ostia Antica, em Roma, que deu legitimidade àquela informação de Lentulus. Não fosse a carta, nada saberíamos da fisionomia de Cristo.
EPÍSTOLA LENTULI (versão de 1499)
Lentulus, legado em Jerusalém [oficial de parte da Judeia], ao Senado e ao Povo Romano: Apareceu nestes tempos e ainda se acha entre nós um homem de grande virtude, que se chama Jesus Cristo, tido pelo povo como profeta da verdade. Seus discípulos o chamam de filho de Deus, pois ressuscita os mortos e cura os doentes. É um homem notável, de alta estatura e aspecto venerando, que pode inspirar amor ou temeridade a quem o olha. Tem os cabelos no tom cobre-acastanhado, levemente ondulados até as orelhas e a partir daí mais escuros, encrespados e brilhantes até a altura dos ombros; usa-os repartidos ao meio, ao estilo dos Nazarenos. Seu rosto, bem conformado e de aspecto sereno, não tem rugas nem cicatrizes, e na face um rubor moderado a torna mais bela, sem imperfeição no nariz nem na boca. Tem a barba abundante e avermelhada, quase da cor dos cabelos, não longa, mas bifurcada no queixo. Sua expressão é simples e natural, e seus olhos azulados e brilhantes. Sua feição é severa quando reprova, e serena e amável quando aconselha, sendo até mesmo quase alegre, mas sem perder a sua dignidade, já que jamais foi visto rindo, embora o tenham visto chorar por vezes. Seu talhe corporal esbelto é bonito de ver, com mãos e braços proporcionais. É grave e eloquente ao falar, mas reservado e modesto. E seu modo simples de ser é comparado ao dos demais homens. Passai bem.
Em termos históricos, ao longo dos tempos, algo curioso ocorreu com este apócrifo. Desde há muito os pesquisadores ficaram pé no estudo alheio, feito por algum investigador do passado, dele tomaram fé, associaram o fato de que não houve um “governador” Públio Lentulus na Judeia e deram a Epístola como falsa, forjada em algum ponto na Idade Média. A partir daí, de modo geral, afastou-se o exame analítico dos exemplares mais antigos e o contexto histórico em que a Epístola teria rolado nos primeiros séculos do Cristianismo. Por conseguinte, perdeu-se o tino psicológico que requer toda investigação histórica, perderam-se os meandros da história e as ocorrências sociais e políticas que contribuíram para a existência das várias versões hoje encontradas da Epístola Lentuli.
Ao que parece, o ideal religioso no mundo antigo (voltado para outras preferências), os impedimentos para se obter informações na Antiguidade e a falta de uma hipótese viável que pudesse levar os estudos a outro rumo, constituíram barreiras decisivas para relegá-la ao esquecimento durante séculos. Contudo, em tempos recentes, a psicografia de Chico Xavier, no livro Há 2000 anos… [FEB, 1939], veio lançar luz ao entendimento da Epístola Lentuli. Então se observou nela o que faltava – a chance de ser um documento legítimo.
Para saber a verdade sobre Públio Lentulus e sua carta foram realizadas pesquisas exaustivas e resgatados informes antiguíssimos. Entraram em cena os escritos dos primitivos Pais da Igreja, dos primeiros escritores latinos e o contexto social em que a Epístola rolou nos séculos iniciais da Era Cristã e ao longo de toda a Idade Média. Pinturas antigas e ícones do Cristo foram resgatados, além de descobertas arqueológicas recentíssimas na cidade de Roma que retrocederam a Epístola aos tempos do Cristianismo primitivo. O material escavado da história permitiu dar nova interpretação aos fatos e formular tese histórica condizente com os vestígios encontrados. Assim nasceu o livro A Epístola Lentuli [Lúmen Editorial, 2012].
As condições ocorrentes para Públio Lentulus escrever sua carta na Antiguidade foram mostradas de modo magistral em Há 2000 anos… [FEB, 1939], psicografia de Chico Xavier, dando ampla chance a todo pesquisador sério e imparcial de explorar a história e extrair dela os vestígios remanescentes. Tal alargamento pode ser encontrado na tese histórica do livro A Epístola Lentuli [Lúmen Editorial, 2012].
Pedro de Campos é autor dos livros: Colônia Capella; Universo Profundo; UFO – Fenômeno de Contato; Um Vermelho Encarnado no Céu; Os Escolhidos; Lentulus – Encarnações de Emmanuel, publicados pela Lúmen Editorial. E também dos recém-lançamentos: A Epístola Lentuli e Arquivo Extraterreno. E dos DVDs Os Aliens na Visão Espírita, Parte 1 e Parte 2, lançados pela Revista UFO. Conheça-os!
Sala do Opus Sectile do Cristo – recente achado arqueológico, datação 394 d.C.
Chico Xavier 1971 – Viver em outros orbes