Por Pedro de Campos
O programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, exibido em 15 de agosto de 2010, trouxe matéria colocando em xeque o Caso Trindade, evento ocorrido em 1958, quando a tripulação do navio-escola Almirante Saldanha, da Marinha do Brasil, alertou o fotógrafo civil Almiro Baraúna sobre um objeto voador não identificado nas proximidades daquela embarcação, exigindo do profissional uma sequência de chapas que depois ficariam mundialmente conhecidas.
No programa, Emília Bittencourt falou sobre a burla que Baraúna teria realizado ao fotografar, em sua casa, duas colheres sobrepostas para simular o UFO da ilha de Trindade e enganar a todos. Contudo, suas explicações foram por demais singelas, até mesmo ingênuas do ponto de vista investigativo, pois o índice de dificuldade era muito grande para sobrepor fotos arranjadas com duas colheres é simular um disco voador tão perfeito quanto o apresentado por Baraúna. Além disso, era preciso enganar toda a tripulação. A explicação de Emília foi considerada insatisfatória e não pode ser acolhida pelos ufólogos brasileiros mais precavidos. Sobre isso, fizemos alguns comentários na postagem 8. Fantástico…, deste blog. Agora, o caso poderá ser mais bem observado, em razão do trabalho feito pela Equipe UFO.
A hipotética “sobreposição das colheres” não batia com a qualidade das chapas em sequência. Causava estranheza também o fato de haver a bordo 48 testemunhas entre militares e civis, que viram a presença do estranho objeto. Em declaração oficial, após o incidente, o próprio Gabinete do Ministério da Marinha do Brasil admitiu o insólito. Cerca de 40 dias após o episódio, o deputado Sérgio Magalhães cobrou as autoridades para darem a público o resultado das investigações. A Marinha instaurou inquérito e apurou os fatos. Os militares confirmaram o avistamento e o Caso Trindade ficou conhecido mundialmente. Agora, as declarações de Emília soavam como “brincadeira de Baraúna”, a qual ela teria aceitado sem questionar, diferente do que requer uma investigação séria.
O colaborador da Revista UFO, Antonio Huneeus, buscando evidências da época, encontrou em seu arquivo pessoal um documento datilografado com assinatura de Almiro Baraúna, datado cerca de nove anos após o incidente. Huneeus dá conta de que teria recebido o tal documento do coronel húngaro-americano, Colman von Keviczy, diretor da Rede Intercontinental UFO (ICUFON), em Nova York, que se correspondia com Baraúna e recebera dele cópia de boa qualidade das fotos. O site da UFO estampou o documento. Apenas temos a lamentar que a excelente edição do site tenha sido prejudicada pela retirada do vídeo, no qual Baraúna explica a ocorrência e não cita qualquer embuste. Desconhecemos o motivo pelo qual o “usuário do YouTube” removeu o vídeo. Face à importância do relato, vamos reproduzir aqui o documento de Huneeus, com a redação do Baraúna:
“Como se deu a aparição do disco voador da ilha da Trindade:
No dia 16 de janeiro de 1958, o Navio Escola Almirante Saldanha, da Marinha de Guerra do Brasil, se encontrava fundeado na enseada da Ilha da Trindade, a cerca de 800 milhas da costa do Espírito Santo. Eram mais ou menos 11 horas da manhã, o dia estava claro, a tripulação preparava-se para retornar ao Rio de Janeiro quando de repente um grupo de pessoas que se encontrava na popa do navio, entre eles o Capitão Aviador da reserva da Força Aérea Brasileira, José Viegas, deu o alarme. Num instante, todos os que estavam na coberta do navio, cerca de 50 pessoas, passaram a observar um estranho objeto prateado em forma de prato, que se deslocava do mar em direção a ilha. O objeto em questão não fazia o menor ruído, era luminoso e se deslocava ora rápido, ora lentamente, subia, descia, ondulava suavemente e quando aumentava a velocidade, deixava atrás de si um rasto branco fosforescente que logo se desfazia. Na sua trajetória, o objeto desapareceu por detrás do morro Pico Desejado, e quando todos esperavam que ele surgisse do lado oposto, ele retornou na mesma direção, parou alguns segundos e em seguida disparou em incrível velocidade desaparecendo no horizonte.
Durante a aparição, consegui tirar 6 fotos, sendo que 2 delas, devido ao pandemônio que se formou no convés, não foram aproveitadas, as outras 4, numa sequência razoável, o objeto no horizonte, aproximando-se da Ilha, parado ao lado do morro (a melhor) e finalmente desaparecendo ao longe. O filme foi revelado cerca de 20 minutos após, a pedido do comandante que desejava saber se as fotos estavam boas. Os negativos foram vistos por quase toda a tripulação, e todos foram unânimes em identificar posteriormente as ampliações no Serviço Secreto da Armada. Convém esclarecer, que o grupo de civis se encontrava a bordo a convite da Marinha para fazer pesquisas submarinas e tirar fotografias da fauna submarina da Ilha.
O grupo era composto dos seguintes elementos:
Chefe: Amilar Vieira Filho, bancário, mergulhador e desportista.
Sub-Chefe: Cap. Av. da FAB, José Viegas.
Mergulhadores: Aluízio e Mauro.
Fotógrafo: Almiro Baraúna
Todos os componentes faziam parte, na época dos acontecimentos, do Grupo de Caça Submarina Icaraí.
Dentre os cinco, somente Mauro e Aluízio não viram o objeto, uma vez que se encontravam no refeitório do navio, e, quando subiram, atraídos pela gritaria, o objeto já havia desaparecido.
Segundo rumores ouvidos à bordo, a aparelhagem elétrica do navio deixou de funcionar durante a aparição do objeto, o que posso afirmar é que logo depois da largada, o navio parou por 3 vezes, tendo os oficiais dado as mais estranhas versões sobre as paradas. Quando o navio parava, a luz ia aos poucos apagando até apagar de todo. Nessa ocasião, vários oficiais se dirigiram para o convém munidos de binóculos, entretanto o céu estava já encoberto por nuvens e nada foi possível observar.
Devo acrescentar que se não fosse a indiscrição de um repórter do Correio da Manhã, que se apoderou das cópias fotográficas oferecidas ao então Presidente Juscelino Kubitschek, talvez ninguém viesse a saber deste fato, uma vez que a Marinha já havia me “sondado” para saber quanto eu queria para não dar publicidade às fotos. Convém deixar claro que todos os oficiais com quem tive contato durante todo o tempo do inquérito foram gentilíssimos comigo, deixaram-me inteiramente à vontade, não puseram nenhuma objeção à divulgação do caso, apenas insinuaram que sensacionalismo no caso poderia causar pânico na população, daí o interesse das Forças Armadas em não dar publicidade a casos dessa natureza.
30/1/67
[Assinado de punho] Almiro Baraúna
Oficiais/Marinheiros [Desenho do navio]”
Além desse comunicado, o ufólogo Marco Antonio Petit, co-editor da Revista UFO, entrevistando Baraúna, em 1997, antes da morte do fotógrafo, num trecho do vídeo mostra Baraúna comentando um embuste que promovera envolvendo história e fotos de um suposto tesouro no Espírito Santo [Conforme nota escrita no YouTube], nada tendo com o Caso Trindade, embora alguns tenham misturando as declarações. O trabalho escrito de Petit fora publicado na UFO 54. O vídeo em que Baraúna fala especificamente do Caso Trindade, nós conseguimos achar num site e pode ser visto clicando aqui; nele, Baraúna deixa claro as condições ocorrentes quando fez as fotos e como as revelou à bordo do Almirante Saldanha.
Recentemente, outro membro da Equipe UFO, o ufólogo Alexandre Carvalho Borges, da cidade de Salvador, resolveu tirar tudo a limpo. Fez um retrospecto do Caso Trindade e entrevistou um sobrinho de Baraúna, também fotógrafo, Marcelo Ribeiro, 69 anos. Este, numa entrevista bem conduzida por Borges, falou de coisas que impactam sobremaneira o acontecimento. O autor da matéria e a Revista UFO mostram isso de modo detalhado no site da UFO, dando ampla divulgação em língua portuguesa (Parte 1, Parte 2, Parte 3 e Parte Final) e tradução para o inglês (Part 1, Part 2, Part 3, Final Part), feita pelos membros da Equipe UFO, Eduardo Rado e Thiago Ticchetti.
Apenas devemos lembrar que diante de testemunhos tão contraditórios entre si, como pode ser notado confrontando a entrevista Ribeiro e os vídeos Emília e Baraúna, somente o exame pericial dos negativos poderia mostrar a verdade. As seis chapas batidas, duas das quais “queimadas” e quatro bem nítidas, mostram o UFO, as paisagens da ilha e alguns detalhes do navio-escola. As fotos reveladas dentro do Almirante Saldanha, conforme declarações de Baraúna no vídeo site ufoportugal não teriam qualquer artifício.
Nota-se que entre os depoimentos de Almiro Baraúna, Marcelo Ribeiro e Emília Bittencourt há grandes discordâncias. O primeiro faleceu em 29 de julho de 2000, mas sempre declarou que tudo fora lícito; os dois outros, não. Ribeiro e Emília apontam burlas contundentes de Baraúna. Por certo, sendo pessoas próximas ao fotógrafo, devem ter sérios motivos para contradizê-lo. Diante de tais discordâncias, devemos enaltecer a “apuração Carvalho Borges” [Fotos supostamente fraudadas, mas UFO verídico na Ilha de Trindade], na qual o autor tenta desenrolar o novelo em busca da verdade. A importância de sua matéria é capital. Por ora, trata-se da hipótese cujo conteúdo é digno de novos estudos.
No Caso Trindade, as fotos sempre se revelaram mais importantes que o relato: a nitidez das chapas impressionou os especialistas e patenteou a ocorrência como das melhores da Ufologia Mundial. De duas uma: ou estamos diante de “infrações conta a honra” do fotógrafo ou de “burla efetiva nas fotos”; com as alegações, não há certeza de uma ou de outra. Mas diante das evidências, fica a impressão de mais um caso detonado na Ufologia Brasileira. Apenas a perícia dos negativos, realizada em laboratório de reconhecida capacidade, poderia resolver a pendência. A esperança é que esse trabalho ainda possa ser feito, para esclarecimento da comunidade ufológica nacional e internacional: falta o exame dos negativos!
Caro leitor, não deixe de ler as matérias mencionadas, em especial a mais recente, escrita por Carvalho Borges, nem de assistir aos vídeos anteriormente apontados, são vitais para entendimento do polêmico Caso Trindade. Veja também os vídeos abaixo, para fazer uma viagem à ilha e ver as fotos do UFO.
Pedro de Campos é autor dos livros: Colônia Capella – A outra face de Adão; Universo Profundo; UFO – Fenômeno de Contato; Um Vermelho Encarnado no Céu; Os Escolhidos da Ufologia na Interpretação Espírita, publicados pela Lúmen Editorial. E também do recém-lançamento: Lentulus – Encarnações de Emmanuel. E dos DVDs Os Aliens na Visão Espírita, Parte 1 e Parte 2, lançados pela Revista UFO. Conheça-os!