Pesquisadores do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha, anunciaram nesta quinta-feira, 18, a descoberta, a 2.200 anos-luz da Terra, de um planeta que provavelmente se originou fora da Via-Láctea. Um gigante gasoso, pouco maior que Júpiter, gira em torno de uma estrela incorporada por nossa galáxia há mais de 6 bilhões de anos. A descoberta foi feita com um dos telescópios do Observatório Europeu Sul (ESO) mantidos em La Silla, no Chile.
A galáxia original, provavelmente um satélite da Via-Láctea, foi destroçada e engolida pela nossa de seis a 9 bilhões de anos trás. Embora o evento, descrito dessa forma, pareça violento, o fato de o planeta ter sobrevivido ao processo sem ser destruído ou arrancado de sua estrela não é surpreendente, diz um dos autores da descoberta, Rainer Klement.
“É preciso ter em mente as enormes distâncias envolvidas e a escala de tempo”, disse. “Para que o orbe fosse perturbado, seria necessário que uma outra estrela passasse muito perto dele”, acrescentou. Os mesmos fatores tornam improvável que o planeta tenha sido capturado pela estrela depois de completada a migração para nossa galáxia.
Chamado HIP 13044b, orbita a estrela HIP 13044. Cientistas sabem que essa estrela veio de uma galáxia devorada pela nossa porque ela faz parte de um grupo, chamado Corrente Helmi, formado por astros de composição química muito semelhante e que seguem uma trajetória peculiar pelo interior da Via-Láctea. “Quando se fundem, formam-se correntezas de estrelas”, explicou Klement.
As características da corrente podem ser reconhecidas mesmo bilhões de anos mais tarde, pelo movimento das estrelas importadas em relação ao plano geral da galáxia. O artigo científico que descreve a descoberta está publicado no Science Express, o serviço online da revista Science.
Assista uma animação sobre o orbe:
Além de ser o primeiro orbe extragaláctico já encontrado no interior da Via-Láctea, HIP 13044b também é um dos poucos mundos conhecidos a ter sobrevivido à fase gigante vermelha de sua estrela. Nesse estágio de suas vidas, astros semelhantes ao Sol se expandem, devorando os planetas que se encontravam mais próximos de si.
O Sol entrará nessa fase dentro de cinco bilhões de anos, engolindo Mercúrio, Vênus e, talvez, também a Terra. A estrela HIP 13044 tem baixa metalicidade – isto é, contém muito poucos elementos pesados, como carbono ou ferro. De acordo com Klement, isso torna “quase nulas” as chances de que ela tenha contado, um dia, com planetas rochosos. Mesmo a existência do planeta gasoso é surpreendente, nessas condições.
O planeta extragaláctico está muito próximo de sua estrela, localizando-se a pouco mais de 5% da distância que existe entre a Terra e o Sol. Ele completa uma órbita a cada 16 dias. HIP 13044b pode ter começado sua vida muito mais longe, mas se aproximado da estrela depois que ela passou da fase gigante. Atualmente, a HIP 13044 está queimando hélio em seu núcleo. Quando essa fase terminar, ela voltará a se expandir e o planeta, que sobreviveu à morte de uma galáxia, finalmente verá sua sorte chegar ao fim.