Um aspecto que de há muito desperta o interesse dos ufólogos é a controvertida possibilidade de se avistarem satélites artificiais em certas horas e condições. Evidentemente, para os “experts” em astronáutica e astronomia, tal assunto não apresenta dificuldade. No entanto, temos notado que com o advento cada vez maior da vontade dos pesquisadores, em adquirir postura objetiva e científica, principalmente perante depoimentos de testemunhas de alegados avistamentos ufológicos, o problema vem oferecendo alguma barreira, especialmente para fins de registro e análise. Nos últimos eventos de que participamos fomos abordados por colegas desejosos de trocar idéias a respeito do tema. Isso nos inspirou a elaborar esta pequena contribuição. Baseamo-nos em noções elementares de astronomia e fomos buscar em compêndios de astronáutica as informações que aqui passamos.
Muitos ufólogos já depararam com depoimentos de pessoas, que viram um pequeno ponto de luz varando os céus em trajetória retilínea, sem os característicos movimentos do UFO. Partindo da premissa de que tal objeto se manifestou fora da atmosfera, como temos certeza absoluta de que se tratava de um dos satélites artificiais que rodeiam nosso planeta? De que forma poderemos considerar o número de dados para registrá-lo em termos de possibilidades, de que se tratava ou não de um UFO? É o que estudaremos.
O que é uma vigília?
Certa ocasião, alguém ergueu o dedo num auditório e lançou a pergunta – “Afinal, qual a finalidade das tais vigílias?” – A resposta é óbvia. Vigília é um período de tempo escolhido pelo pesquisador para, em determinado local, observar manifestações de características ufológicas, e colher dados que justifiquem um alegado índice anormal de aparições. O ouvinte, desejoso de informações acadêmicas, retrucou logo: “Em suma, vocês são uma turma de loucos que vão para o mato caçar disco voador”.
Em princípio ele teria razão. Não se pode lançar mão da vigília com a única finalidade de avistar um UFO. Ela tem utilidade bem ampla. Muitos depoimentos originam-se da confusão que o mal informado faz quando avista um fenômeno natural pouco comum e principalmente ao observar fenômenos artificiais de apresentação à primeira vista indefinível.
A vigília é oportunidade para se registrarem, além de outras, aparições de engenhos conhecidos e ocorrências naturais, que possam ser confundidos com objetos voadores não identificados. Método científico é o comparativo, quando checagem de informações precisas é importante e podemos concluir por uma coincidência de dados.
É comum avistarmos o nascimento de um astro no horizonte, onde o espetáculo é notável em períodos de atmosfera carregada, que funcionando como lente, torna o brilho da estrela bastante ampliado. Munidos de uma carta estelar, sabemos que tal hora e em tal posição, tendo como um ponto de referência algum acidente geográfico ou topográfico, uma estrela, “X”, surgiu no céu observável.
A evidência do fenômeno pode impressionar um leigo, que julga ter sido testemunha de uma aparição ufológica. A má informação torna tão frágil a impressão do observador, que confusões assim são mais comuns do que se supõe. Temos registros de pessoas que juram ter visto discos voadores, que, no entanto eram automóveis em estradas isoladas, invisíveis à noite. De “contatados” que se comunicaram telepaticamente com tocos de árvores pegando fogo no pasto (como conta de maneira hilariante o pesquisador brasileiro Roberto Beck) e assim por diante.
Ocorrências astronômicas são mais comuns em casos de confusão. Nós mesmos, com nossa equipe, fomos vítimas da estrela Alfa da Constelação do Centauro, quando o fator emocional nos jogou num verdadeiro e constrangedor frenesi, diante da possibilidade de estarmos vendo um enorme UFO, que ao telescópio apresentava-se como duas bolas unidas.
Diga-se de passagem, que a “famigerada” explicação dada pela USAF a avistamentos de UFOs, como se fossem observações do planeta Vênus, à época do Projeto Livro Azul, não era tão desrespeitosa. Vênus já fez congestionar nossos telefones por inúmeras vezes. Os trabalhos na vigília não se restringem à observação noturna. O dia deve ser utilizado para colherem-se dadas de eventuais observações da noite anterior, perante pessoas da cidade e do meio rural circundante.
Pelo método comparativo, o avistamento de um UFO no mesmo sítio do espaço, à mesma hora e de idênticas características visuais ao nascimento do nosso astro “X”, cai diante da probabilidade de se ter observado o tal astro, que é praticamente de 100%.
Satélite – constante intruso
Durante uma vigília, qualquer coisa que se mova no espaço paralisará nossos nervos. A parte aviões, que ao lado de fenômenos naturais devem ser objeto de outro estudo, vamos nos ater aos satélites artificiais. Mas, há uma maneira segura de se afirmar se um ponto de luz em movimento a grande altitude não se trata de um UFO? É claro que não. Sempre que um fato ufológico movimenta a Imprensa, a tendência é solicitar o parecer de um astrônomo.
Nada mais certo à primeira vista, levando-se em conta a possibilidade de ter ocorrido confusão com um evento astronômico. Mas não se justifica ao extremo. O incidente UFO é acontecimento de baixa altitude (estatisticamente falando). O astrônomo quase sempre observa um sítio certo do espaço, tendo o seu telescópio regulado num campo restrito, com o foco direcionado para distâncias imensas fora da atmosfera.
Caso um objeto cruze a frente de seu telescópio, o que já seria rara coincidência, provavelmente o estudioso sequer o notaria, em virtude da distância focal. Ademais, não vemos outros fatores que justifiquem ao astrônomo opinar sobre UFOs, somente porque se trata de eventos cuja característica é o vôo. Enfim, os acontecimentos elementares de astronomia são necessários ao ufólogo. A recíproca talvez não seja imprescindível.
Vulgarmente os satélites, em termos visuais, são pontos de diversas intensidades de brilho cruzando o espaço em linhas características conhecidas dos aviões, entre elas as do vôo “por instrumentos”. Podemos acompanhar a trajetória de satélites de variados tamanhos e brilhos. Esses silenciosos caminhantes espaciais tomaram conta do céu a partir de 04 de outubro de 1957, quando o Sputnik abriu a leva de engenhos artificiais colocados em órbitas da Terra.
Um cálculo nada exagerado afirma que em média coloca-se um satélite em órbita por semana. Diversos países têm tecnologia propícia à farta utilização de satélites artificiais, como Estados Unidos, França, Hola
nda, Canadá, Itália, China etc. Suas destinações, além de bélicas, são inúmeras comunicações por canais que substituem, mais propriamente, todos os cabos submarinos: meteorologia, com destaque à previsão do tempo via TV, avisos sobre furacões e tempestades, cartografia, informações sobre colheitas e pragas, distribuição de águas de superfície, indicação de poluição de água e ar, navegação, medições astronômicas e outras infindáveis pesquisas de astronomia, mormente após a colocação de telescópio infravermelho fora da atmosfera.
São tantos os satélites, parte deles visível a olho nu, que alguns acordos aéreos entre potências foram firmados com o lançamento de satélites de controle do tráfego aéreo para regularizar a segurança nos ares. Que nenhum ufólogo se assuste quando observar, o que não é raro, vários satélites cruzando os céus simultaneamente na mesma trajetória, como verdadeiras esquadrilhas. Até o fim do primeiro semestre de 1983, portanto em cerca de 25 anos, 13.500 satélites foram lançados, com a utilização de 2.230 foguetes.
Um comportamento estranho
Intrusos e de estranho comportamento, os satélites surgem de surpresa, logo após o horizonte ou manifestam-se de repente em pleno céu, quase no “Zênite”. Outra característica de sua invasão da abóbada celeste é a impressão que dão de, aos poucos, irem diminuindo sua luminosidade, como se “apagassem sua luz”, até desaparecerem em pleno espaço.
Diante de tais casos, espantamo-nos porque juramos que nenhuma nuvem, por tênue que fosse, pudesse ali estar para escondê-los. Os satélites se cruzam à nossa vista, em rotas perpendiculares e oblíquas entre si. Como sabemos, boa parte não é eternamente aproveitável. Apesar do muito espaço que existe à órbita do planeta, o número de objetos e artefatos artificiais é tão grande que o perigo de colisão existe. Basta lembrarmos que os acidentes de avião seriam ilógicos se considerássemos a vastidão do espaço aéreo. No entanto ocorrem. Outro exemplo é a imensidão dos oceanos, onde independentemente disso acontecem amiúde colisões entre embarcações.
Dezenas de explosões no espaço, sem dúvidas atribuíveis a choques entre satélites, foram e são detectadas. Algumas não são meramente acidentais, mas programadas, provocadas por satélites destinados à destruição de outros espiões. É a “guerra nas estrelas”, hoje tão comentada. Toda uma festa no céu só tende a esquentar, considerando-se as inúmeras utilidades da ocupação espacial. Se os ufólogos acharem que a tendência é tornar-se mais fácil o trabalho para analisarem os avistamentos de UFOs, engana-se. A cada dia que passa mais e mais fatores estarão complicando nossos céus, provocando confusões e enganos.
Órbitas e observações
Mais duas órbitas “exóticas” interessam ao ufólogo, pois o leigo não sabe o que ocorre. Se pudéssemos notar visualmente um satélite situado a 35.800 km de altitude, o seu período orbital seria de 23h56, ou seja, a duração média de um dia, que é o período de rotação da Terra. Assim o satélite giraria na mesma velocidade em que a Terra gira sobre seu eixo, apenas mantendo-se em grau de latitude.
O observador, em solo, ao vê-lo, irá escrever um “oito”, no céu, tanto mais alongado quanto maior fosse seu plano de inclinação ao plano do Equador, o “oito” ficará reduzido a um ponto. Virtualmente o satélite será fixo, latitude e longitudinalmente. Sempre estará “parado” no mesmo ponto. É o conhecido satélite estacionário. E não é planeta, nem estrela ou sequer um UFO.
Movimento nos céus
Á nossa vista, tudo lá em cima se move. O movimento aparente se dá devido à rotação da Terra e do trajeto que nosso planeta desenvolve no espaço, acompanhando o Sol ao redor dele. Além dos meteoros e bólidos, acabamos por nos acostumar à observação de tal modo que notamos nitidamente a rota que um certo astro descreve, desde que surge, mormente se tomamos outros, como pontos de referência. Já que falamos em rotas de satélites, devemos discutir rapidamente a base disso. A rotação da Terra.
O movimento das estrelas, á noite, dito aparente, é notado de leste para oeste, dessa forma “retrógrado”, ao de rotação do mundo. A rotação acontece de oeste para leste, sobre o próprio eixo. Evidente que não possuímos sempre em mãos meios para anotar invariavelmente qual satélite foi avistado e de prever a trajetória de todos eles. Para os mais exigentes existem tabelas de posições dos satélites em seus giros orbitais, mormente para os pilotos que utilizam o sistema de navegação por satélites. Se o Ufólogo tiver condições e conhecimento para tal, tais tabelas são elaboráveis com antecedência, por previsão matemática. Como se vê, nestes aspectos a coisa muito se complica. Afinal, as velocidades de satélites são significativas para que eles se desloquem consideravelmente em um milésimo de segundo.
Satélites, a todo instante?
Em condições boas de observação, ou seja, céu sem nuvens e sem lua, sempre temos chances de testemunhar as trajetórias dos satélites, mas há uma espécie de limite de horário. E, esse sim, talvez seja o trunfo que nos sobre para, pelo menos com boa margem de probabilidade, sabemos se estamos ou não avistando um UFO. Outro conceito astronômico vem de nos oferecer a base de procedimento para a distinção que desejamos.
Ocorre um efeito provocado pela Terra e pelo Sol: quando um grande objeto é iluminado por outro grande objeto, formam-se posteriormente ao corpo iluminado duas áreas, no espaço – O chamado Cone de Sombra, extensão que não recebe nenhuma luz da fonte. É óbvio, a fonte de luz é o Sol (estrela de luz própria) e o corpo escuro iluminado é a Terra. E o conhecido Cone de Penumbra, que recebe pouca luz, apenas de alguns pontos da fonte luminosa.
Para aqueles que costumam permanecer de vigília até que o Sol volte a raiar, é bom lembrar que o dia começa à meia-noite, zero-hora. Tudo volta a pesar com a mesma média de tempo antes do Sol nascer, quando voltaremos a vislumbrar satélites e UFOs até que da claridade volte a ofuscar o espaço. O fato é que os satélites são eclipsados, e dependendo da altitude, capacidade de reflexão, órbita e tamanho, sofrem os mesmos efeitos visuais dos astros.
Os satélites mais visíveis, em virtude do seu poder de reflexão, são os construídos com uma espécie de plástico metali
zado, semelhante ao dos balões de estratosfera. São infláveis e têm quase a mesma função de balões científico de estudo atmosférico a altitudes elevadas. Alguns bem famosos assustaram muita gente à noite, como os da série Echo, de dimensões incríveis, com cerca de 40 m de diâmetro. Ao lado da série Telstar se constituíram bons pontos de observação visual, apesar de relativamente pequenos.