Quando o assunto é folclore, logo lembramos de saci-pererê, mula-sem-cabeça, curupira, Iara. Duvido que você não conheça ao menos um desses personagens! Levante a mão, no entanto, quem já ouviu falar do Labatut ou do Gorjala. E do Bradador? Pois é, esses e outros mitos, menos conhecidos nos dias de hoje, também fazem parte do folclore brasileiro. Ao lado dos nossos mais populares mitos, eles aparecem em um livro de arrepiar, recheado de mistério. Se você quiser saber mais sobre ele, acompanhe o bate-papo que a Ciência Hoje das Crianças teve com Luciana Garcia, a autora de O mais assustador do folclore – monstros da mitologia brasileira.
UFO – Como surgiu a idéia do livro? Luciana – A idéia para criar o mais assustador do folclore surgiu quando estava fazendo um outro livro sobre o assunto, pois encontrei muitos personagens e não queria reunir todos em uma só obra. Como exatamente a metade deles podia ser classificada como monstros, tudo se encaixou direitinho. O livro apresenta ao público personagens do folclore brasileiro desconhecidos, tornando-os divertidos. Montei a história central aos poucos e, curiosamente, a maior parte dela eu criei quando estava presa no trânsito de São Paulo, pois sempre ando com uma caderneta e uma caneta na bolsa.
O seu livro é sobre algumas lendas brasileiras que não são muito conhecidas. Como você conseguiu reunir essas histórias? A partir de muita pesquisa, principalmente sobre as obras do respeitado folclorista Luís da Câmara Cascudo. Visitei muitas bibliotecas, pois a maioria dos livros sobre folclore, por serem muito antigos, estão fora das livrarias. Na internet, apenas chequei o que já havia pesquisado. A maior parte das histórias originais de folclore são voltadas para adultos. Por essa razão, tive que adaptar muitas delas, para depois repassar para as crianças.
Você escreveu outros livros com o mesmo tema, mas com abordagens diferentes. Conte como foi a confecção de cada um deles? Escrevi três livros: O mais legal do folclore; O mais misterioso do folclore e O mais assustador do folclore. A idéia do primeiro livro nasceu do meu interesse pelo tema e porque procurei muito, quando era criança, um livro que trouxesse vários personagens diferentes. Trabalhei com alguns já conhecidos e populares, como o saci. Depois de ter os personagens, quis incrementar a obra e acabei tendo a idéia de fazer uma história interativa para despertar o interesse das crianças pela leitura e deixar o texto mais divertido. No segundo volume, procurei criar uma história um pouco mais elaborada e com personagens mais originais. Já no terceiro, meu objetivo central desde o início foi criar algo muito bem-humorado, justamente para quebrar o clima de medo e fazer do terror uma diversão. Um fator interessante presente nos três livros é que procurei inserir alguns elementos da atualidade, como é o caso da Chamada Particular Para Investigação, a CPPI – uma alusão à Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI do governo federal, que hoje, infelizmente, é uma discussão mais atual que nunca no Brasil.
Na infância, você gostava de ouvir lendas e histórias fantásticas? Eu tinha um pouco de medo, mas, ao mesmo tempo, adorava histórias misteriosas, pois eram as que mais me interessavam. Sem dúvida, em minha infância, a influência do folclore brasileiro e da mitologia em geral foi grande. Eu lia muito os livros de Monteiro Lobato.
Qual a história que você mais gostava de ouvir? Eu tenho até hoje um livro chamado Os fantasmas da casa mal-assombrada, de Carlos Marigny, que era o meu favorito, mas havia muitos outros. A lenda do Negrinho do Pastoreio também me interessava muito.
Você pensa em escrever outros livros sobre folclore? Minha próxima publicação não será sobre folclore. Mas talvez, no futuro, eu ainda volte a fazer alguma obra que fale das lendas brasileiras, que são muito ricas e me inspiram bastante.