Ontem, 27 de setembro, alguns sites mundiais, de noticiários famosos e respeitados, divulgaram uma manchete sobre Mazlan Ohtman, astrofísica da Malásia, que conforme a notícia espalhada, seria eleita a representante do planeta Terra no caso de contato oficial com extraterrestres. A embaixadora das Nações Unidas para o Espaço se encarregaria de coordenar a resposta da humanidade no momento que se produza uma comunicação alienígena. Othman, atualmente diretora do United Nations Office for Outer Space Affairs [Escritório das Nações Unidas para Assuntos Espaciais, Unoosa], explicaria em profundidade as concorrências de seu novo cargo em uma conferência perante a Royal Society, no condado de Buckinhghamshire (Inglaterra) na próxima semana.
A proposta do cargo seria justificada pelo grande número de planetas fora de nosso Sistema Solar descobertos recentemente, o que incrementaria as possibilidades de que a espécie humana contatasse com vida extraterrestre inteligente. O plano para converter à Unoosa no organismo de coordenação para encontros com extraterrestres seria debatido pelos comitês científicos das Nações Unidas antes de ser enviado à Assembléia Geral. Para o especialista em direito espacial Richard Crowther, “quando (os extraterrestres) nos disserem \’Levem-me a vosso líder\’, Othman seria o mais próximo que teríamos”.
No Tratado do Espaço Exterior de 1967, os membros de Nações Unidas lembraram que o melhor método para proteger a Terra de uma contaminação alienígena passaria pela “esterilização” dos extraterrestres. Obviamente, a manchete termina com os “sinceros” votos e esperanças de que a astrofísica malaia apresente uma perspectiva mais tolerante.
Horas depois, a verdade
Por sorte dos brasileiros, principalmente os internautas, o fake [trote] não chegou a invadir nosso espaço virtual – ainda -, motivo pelo qual tomamos a dianteira em esclarecer rápida e definitivamente o equívoco. Se surgir por aqui, estaremos vacinados e prontos para descartá-lo.
De todos os meios que deram a notícia, nenhum a comprovou, ou seja, foi um festival de copiar e colar o texto inicial [Parece ter sido do The Sunday Times], mudando um pouco conforme o gosto, para acrescentar-lhe um toque pessoal, e foi se espalhando Internet adentro. Até que, finalmente, Matthew Weaver, um repórter do The Guardian, tentou comprovar a notícia – algo mínimo que se espera dos jornalistas -, descobrindo que era falsa. “Soa genial, mas tenho que negar, pois não é real”, disse a astrofísica. Weaver tem publicado o desmentido em seu blog e, pouco depois, um porta-voz da ONU sentenciava que “o artigo do The Sunday Times é um disparate”.
“Há que voltar aos princípios da profissão: contrastar, comprovar e tentar ir à fonte de primeira geração”, disse um ano atrás Magis Iglesias, presidenta da Federação de Associações de Jornalistas de Espanha (FAPE), em uma reportagem sobre a facilidade com que os meios publicam notícias extraordinárias que simplesmente não procedem. Desde então, essa tendência não tem mostrado ainda vestígios de arrependimento ou retrocesso. Novamente, percebemos que na Internet, todo cuidado é pouco e mesmo sites com equipes especializadas e confiáveis acabam engolindo fakes [Trotes]. Fica o alerta aos incautos: verificação de fontes é imprescindível, antes de qualquer ação ou reação, antes do sim ou não. Na dúvida, duvidem mesmo! Mais um engano desmistificado, sem maiores danos, felizmente.