Quando testemunhou seus próprios colegas astrônomos destruírem registros de UFOs gravados em computadores de aparelhos de radar, o astrofísico Jacques Vallée sentiu-se compelido a examiná-los mais detidamente. Insatisfeito com a pouca atenção que o mundo científico destinava à essa extensa fenomenologia, não hesitou mais e partiu para seus estudos teóricos, posteriormente embasados por muitas investigações de campo e análises. Seus vários anos de pesquisa resultaram numa rara compreensão dos fatos ligados aos UFOs, tanto de suas implicações científicas quanto sociais, além da necessária visão dos sistemas de controle que afetam a percepção humana do fenômeno. Em se tratando de um exame da questão, não há voz mais articulada no mundo atual, embora Vallée tente manter-se fora das principais “correntes” de pesquisa ufológica. Suas idéias são firmes como uma poderosa e confiável influência no pensamento dos que batalham no setor.
Francês radicado nos EUA há 3 décadas, Vallée é uma espécie de pensador-inquisidor. Seus estudos no campo da Matemática, que é uma de suas especialidades, o tornaram célebre. Seus projetos na área de computação, outra área que domina, o levaram a destacar-se no mundo científico. E seu pensamento sobre os UFOs fizeram deste cientista um verdadeiro farol na escuridão de diferentes correntes e linhas de tratamento que o Fenômeno UFO recebe dos mais diversos segmentos, científicos ou não. Os ufólogos respeitam seu ceticismo “sadio” em relação aos fatos mais absurdos da Ufologia, assim como os cientistas (evidentemente desligados da questão extraterrestre) respeitam sua liberalidade e participação no mundo ufológico.
Quem se lembra do fantástico e – por que não? – profético filme Contatos Imediatos do 3º Grau, de Steven Spielberg, deve recordar a marcante presença do cientista francês Lacomb, representado pelo artista François Truffaut. Essa foi a homenagem que o Dr. Joseph A. Hynek, consultor do filme, destinou ao seu amigo Vallée, também um cientista em busca da explicação para os UFOs. Conhecido no mundo todo, embora pouco lido no Brasil, em função das raras traduções de seus livros, Vallée mora atualmente na Califórnia ao lado de sua esposa Janine e de dois filhos. Pensador de vanguarda, ingressou na Ufologia sob a influência de grandes nomes, como Aimé Michel e o próprio Hynek. Sua obra é vasta e marcada por um estilo crítico, inteligente e revolucionário.
Seus principais livros são: Anatomy of a Phenomenon (1965), Challenge to Science (1966), Passport to Magonia (1970), The Invisible College (1975), The Edge of Reality (1975), Messenger of Deception (1980), Dimension: A Casebook of Alien Contact (1988) e Confrontations (1991) – este último foi traduzido e publicado pela Editora Bestseller com o título de Confrontos: A Pesquisa e o Alerta de um Cientista, em 1992 [Editor: disponível para pedidos através do cupom das páginas centrais desta edição]. Além destas obras no campo da Ufologia, Vallée também é autor de vários livros sobre Cibernética, Matemática e até Ficção Científica, temas que domina com igual capacidade.
Dimensionalista – Acusado de ser um \”dimensionalista\”, como o polêmico autor John Keel, o cientista-ufólogo é um pesquisador aberto ao Fenômeno UFO e todas as discussões que o concernem. Por sua tradicional postura crítica e céptica em relação à muitas “verdades ufológicas absolutas”, e ainda por seu distanciamento de todas as organizações ufológicas norte-americanas ou internacionais, Vallée tem sido regularmente acusado de ser colaborador da política de ocultamento de informações orquestrada pela CIA. Mas os conhecedores de sua obra sabem que ele é exatamente o contrário: poucos ufólogos mostram-se tão inteligentemente críticos da Ufologia quanto ele, que é considerado o mais controverso debatedor da hipótese da origem extraterrestre dos UFOs.
Vallée veio ao Brasil várias vezes, para investigações de campo no Rio de Janeiro, no interior do Maranhão, do Piauí e do Ceará. Sempre acompanhado de sua esposa, o autor já é grande conhecido dos ufólogos brasileiros, e em especial dos nordestinos, que o acolhem calorosamente. Sua curiosidade, em especial, se converge para os excepcionais casos de ataques de ETs a humanos, freqüentes na região Nordeste. Numa de suas viagens à Belém, o casal Vallée – em meio a contatos com pesquisadores do Pará, ouvindo testemunhas do “Fenômeno Chupa-Chupa” e visitando lugares de avistamentos como a Baía do Sol e a Ilha do Mosqueiro – concedeu esta entrevista ao representante da Revista UFO no Estado, Daniel Rebisso Giese.
Sua ida para os Estados Unidos foi motivada pela Ufologia ou por razões profissionais? Primeiramente, fui para lecionar na Universidade do Texas, em Austin. Foi ali que conheci o Dr. Hynek, que me convidou para trabalhar com ele na Universidade do Nordeste, próximo a Chicago; passei 4 anos lá. Naquela altura, trabalhando com Hynek, tive acesso aos arquivos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) e fiz um trabalho em cima do Projeto Blue Book, revisando os métodos estatísticos empregados. Pouca gente sabe que pude revisar nada menos do que 11 mil casos acumulados no Projeto, sendo que descobri que cerca de 80% deles poderiam ser explicados por causas naturais, como a própria Força Aérea insistia em dizer ao público. Mas havia um resíduo de quase 20% de casos completamente inexplicados – alguns até surpreendentes.
Sendo um amigo particular do Dr. Hynek, como o senhor analisa seu envolvimento com o Projeto Blue Book, que foi tão criticado por todo mundo? Hynek tinha que ser muito cuidadoso em tudo que fazia ou dizia, porque era um cientista e estava trabalhando oficialmente com os UFOs. Tinha que ser muito rigoroso e até céptico. Certa vez, quando leu um livro de Aimé Michel, ele me disse: \”isso tudo se parece com uma história de fantasmas. Talvez isso até tenha acontecido, mas eu não sei cientificamente o que poderia significar”. Mostrei-lhe, então, que os mesmos padrões estatísticos encontrados por Michel estavam em seus dados e nos do Blue Book. Isso o convenceu a procurar novas abordagens. Hynek começou como um céptico, mas com a mente aberta. Era um homem muito inteligente e conhecia a história da Ciência muito bem. Estava sempre aberto para novos fenômenos, novas descobertas – mas sempre cauteloso, esperando a hora em que tivesse condições de provar aos seus colegas que o Fenômeno UFO realmente existia.
Já que tocamos no assunto, nos últimos anos o Dr. Hynek acreditava que os UFOs tinham outra explicação além de hipótese extraterrestre, não é? Isso é algo que discutíamos muito. Como astrônomo, ele era inclinado para a teoria extraterrestre, e eu também. Nos primeiros 10 a 15 anos de pesquisa, eu mesmo achei que a melhor explicação para os UFOs seria a teoria extraterrestre. Mas comecei a duvidar disso quando fiz a pesquisa para o meu livro Passport to Magonia. Vi que o mesmo fenômeno vinha acontecendo não somente no Século XIX, mas também nos tempos medievais, e não fazia sentido uma visita extraterrestre aqui, pelo menos da maneira que pensávamos. Então falei com Hynek a respeito disso e chegamos à mesma conclusão, a de que o Fenômeno UFO era mais complexo do que se imaginava – não era apenas extraterrestre e tínhamos que vê-lo dentro de um contexto histórico e de outros fenômenos, como os paranormais.
Pouca gente sabe que tive acesso aos arquivos da Força Aérea dos EUA e fiz um trabalho em cima do Projeto Blue Book, revisando os métodos estatísticos empregados. Revisei nada menos do que 11 mil casos acumulados no projeto, dos quais 20% eram totalmente inexplicados
O senhor acha que há algo errado na investigação dos UFOs nos EUA? O que seria? O problema é que muitos ufólogos e pesquisadores falam muito e nada fazem… Acho que, no futuro, vamos encontrar muita pesquisa sobre UFOs feita tanto dentro dos grupos ufológicos quanto fora deles, desenvolvida por outros segmentos. Ainda há lugar para muitas teorias sobre os discos voadores e há contínua necessidade de alguns grupos estruturados e fortes em resolver a questão. Mas se sua principal atividade for contar histórias horripilantes sobre ETs e fazer especulações sem fim sobre o que o governo possa estar escondendo eu não sobre os UFOs, não estou interessado em suas linhas de trabalho.
Por favor, fale-nos brevemente sobre seus livros e sua pesquisa. Acho que meu papel dentro da Ufologia pode ser descrito como o de construir pontes. Quando escrevi o Challenge to Science, construi uma ponte usando a estatística, observando ortotenias, padrões no tempo e assim por diante. Naquela época tínhamos que começar de algum ponto e então fizemos o primeiro catálogo de casos. Acho que o livro inspirou muita gente a fazer o mesmo, porém trabalhos bem melhores do que aquele. Já o Passport to Magonia foi o livro mais importante que escrevi, porque faz uma ligação entre o folclore e a Sociologia. Muitos ufólogos rejeitaram a obra porque, para eles, os UFOs eram naves espaciais que vinham de outros planetas e nada tinham a ver com duendes, fadas e todo esse folclore. Para mim, foi uma descoberta fundamental perceber que havia um paralelo entre os UFOs e todas as lendas antigas. Em Passport apenas arranhei a superfície do problema; há muito mais a ser descoberto. O Invisible College, por sua vez, faz uma ponte entre os UFOs e a Parapsicologia, o que muitos ufólogos também acharam uma loucura, pois os UFOs, segundo eles, eram naves espaciais que nada tinham a ver com fenômenos psi. No Dimensions já fiz algo um pouco diferente. O livro é uma tentativa de revisão da história do Fenômeno UFO, atualizando informações. A obra é um desafio à teoria extraterrestre, pois esta não explicou uma série de casos importantes, como por exemplo as materializações, fusões e mutações de UFOs. Para se fazer essas coisas, é necessário que se tenham outras dimensões de espaço ou tempo.
O senhor acha que as autoridades estão realmente escondendo alguma coisa do público, sobre os discos voadores? É claro que há muitas coisas escondidas. Mas veja desta forma: se o governo estivesse tentando esconder, digamos, a Nebulosa de Andrômeda do público, você acha que isto poderia me impedir de levar meu próprio telescópio para o quintal de minha casa e observá-la de lá? Os UFOs não são um fenômeno que se possa esconder em uma gaveta hermética. Estou feliz em ver que alguns de nossos colegas na pesquisa dos UFOs estão tentando a todo custo trazer luz para boa parte das informações escondidas pelo governo. Mas acho que posso usar bem melhor minhas habilidades como cientista se continuar a desenvolver o tipo de pesquisa que venho fazendo há anos. Sou mais produtivo assim.
No decorrer desses 50 anos de estudos, por que os pesquisadores não encontraram ainda uma explicação para o Fenômeno UFO? Há 40 anos os astrônomos têm estudado o movimento das galáxias com os mais sofisticados telescópios, mas ainda não sabem se o Universo está se expandindo ou não. Nesse mesmo período, estudamos o câncer e ainda não podemos curá-lo. Eu acho até normal que a Ciência, ao encontrar um novo fenômeno, leve algum tempo para desenvolver conceitos que nos possibilitem classificar e resolver seus aspectos. Nós, ufólogos, podemos estar na mesma situação que se encontravam os cientistas franceses ao tentar explicar a aurora boreal no final dos Século XVII e XVIII. Eles podiam observá-la, fazer pinturas e tapeçarias mostrando a aurora, mas não havia jeito de entendê-la. Não poderiam compreender o fenômeno sem ter conceitos sobre partículas elementares, campos magnéticos e equações matemáticas apropriadas, que só temos agora. Tivemos que estudar duzentos anos até encontrarmos a solução para o fenômeno. E talvez levaremos mais dois séculos antes de termos o conhecimento necessário para entender os UFOs. Acho que o nosso trabalho é fazer a melhor documentação possível e transmiti-la às próximas gerações.
O senhor acha que o governo possui provas concretas da existência dos UFOs? Depende. Se por provas concretas você quer dizer inúmeros dados interessantes e relevantes sobre o fenômeno, minha resposta é sim. Mas eu diria ainda mais. Diria que eles – os homens do governo – estão tão confusos a respeito do fenômeno quanto qualquer um de nós! Evidentemente, relutam em aparecer em público e admitir isto. Mas se por provas concretas você quer dizer que a USAF resgatou e destruiu discos voadores e corpos humanóides nos desertos dos EUA, por exemplo, então devo dizer que continuo extremamente céptico. Essa coisa toda não cheira muito bem…
O senhor tem alguma teoria própria sobre o projeto Majestic-12 e seu verdadeiro propósito? Ou acha que o projeto nunca existiu e foi forjado por alguém? Nós estamos entrando num tema escorregadio e confuso. Minha posição pessoal é a seguinte: sou mais céptico sobre a forma como a informação surgiu do que sobre o conteúdo da informação em si. Sua origem é que me incomoda. Você pode achar que um vazamento deliberado de informações foi armado (pelo próprio governo) para propagar a idéia de visitas do espaço exterior e dar credibilidade ao assunto através de organizações ufológicas civis que são mais do que receptivas a este tipo de “provas”. No entanto, fornecendo os nomes dos cientistas supostamente envolvidos com o MJ-12 na lista, me parece que o trabalho todo poderia ter tido uma orientação inteiramente diferente, mais ligada ao bem-estar psicológico da população. Tratei desse assunto em meu livro Messengers of Deception e fui criticado porque a comunidade ufológica internacional ainda não estava preparada para nem mesmo considerar este aspecto do problema.
Agora que se passaram alguns anos e mais dados vieram à luz, o senhor poderia reafirmar as partes principais do Messengers? O livro, em síntese, diz que o Fenômeno UFO é absolutamente real mas não necessariamente extraterrestre. Isso também incomoda muita gente… E diz que a idéia dos visitantes extraterrestres pode ser explorada – como na verdade vem sendo, e repetidamente ao longo dos anos – por organizações humanas com objetivos bem mundanos. Mas quando escrevi isso, muitos de nossos colegas ufólogos pensaram que estava dizendo que todos os casos de UFOs eram elucubrações humanas, coisa que nunca nem ao menos considerei. O problema, ao meu ver, é que a maioria deles não consegue imaginar qualquer coisa que não seja nem daqui e nem de outro planeta. E esse é meu ponto de vista: uma parte dos UFOs pode simplesmente ser algo entre um veículo que não seja terrestre e que, ao mesmo tempo, não seja extraterrestre…
O senhor acha que talvez isso se deva ao fato de que todo mundo tem buscado soluções puramente técnicas para o problema? Aqueles que viram as implicações do Fenômeno UFO a longo prazo, por alguma razão, estavam fora da comunidade científica. Por exemplo, quando encontrei o swami Muktenanda [Editor: um conhecido guru indiano, já falecido], na época em que estava escrevendo o Messengers, ele já sabia exatamente do que eu estava falando. E me disse, numa ocasião: “eles não são de um outro planeta; são de um outro plano!” Sei que isso pode parecer confuso, mas toda a questão dos UFOs é.
Muitos leitores viram suas idéias, após a publicação do Messengers, como uma mudança de rumo em relação aos seus trabalhos anteriores. Na realidade, não foi. Com as idéias que lancei sobre o Fenômeno UFO, nós passamos a nos confrontar com o desafio da compreensão não apenas de um outro ambiente de vida – seja ele terrestre, extraterrestre ou o que for –, mas de toda uma outra realidade. Eu introduzi esta idéia há bem mais tempo, em meu livro Passport. Mais tarde, em meu outro livro, Invisible College [Editor: ambos indisponíveis no Brasil], apenas aumentei o nível dessas discussões. Para mim é óbvio que os UFOs fazem parte de um fenômeno bem maior, bem mais global e complexo do que imaginamos. Simplesmente atribuir-lhes origem extraterrestre é mera minimização de sua importância. O Messengers foi o livro seguinte dessa série, consistente com tudo que havia escrito antes, só que foi um pouco mais adiante. Este livro acrescentou uma nova idéia que atingiu muitos ufólogos na época: a de que o Fenômeno UFO é um fenômeno social e como tal deve ser explorado.
O senhor tem dados que sustentam esta sua afirmação? Creio que sim. Quando se gasta tempo suficiente em pesquisas de campo, você a-caba revelando farsas involuntárias surpreendentes, que não foram planejadas pelas testemunhas, mas que ocorreram. Ao contrário do que se imagina, estas farsas – algumas até bem amplamente noticiadas – foram planejadas por alguém ligado ao caso e para benefício próprio. Às vezes, isso fracassa; noutras, dá certo. Por exemplo, há principalmente dois casos que se enquadram nesse padrão: o Caso Ummo, ocorrido nos países de língua espanhola, e o Caso Pontoise, centralizado na França. Eu pesquisei a fundo os dois. Na verdade, fui um dos destinatários do material Ummo original e segui as trilhas de algumas de suas ramificações até a Argentina. Acho que o Ummo é um desses casos que ficou fora de controle. Já o Pontoise é um dos que fracassou.
O problema é que a maioria dos ufólogos não consegue imaginar qualquer coisa que não seja nem daqui e nem de outro planeta. Esse é meu ponto de vista: parte dos UFOs pode simplesmente ser algo entre um veículo que não seja terrestre e que, ao mesmo tempo, não seja extraterrestre
Mas qual poderia ser o propósito obscuro deste tipo de manipulação? Um objetivo básico seria estimular a criação de um culto com uma estrutura interna forte que, posteriormente, seria explorada para outros propósitos. Este objetivo certamente foi atingido no Caso Ummo. Mas em Pontoise, algo deu errado. Acho até engraçado que as testemunhas do Caso Pontoise simplesmente desistiram de afirmar seus raptos por ETs nos dias seguintes à edição francesa do Messengers… E há casos semelhantes em todo o mundo, principalmente nos EUA.
Nos EUA também? Como assim? Bom, este assunto ainda não está suficientemente maduro para discussão. Ainda é muito prematuro aventarmos hipóteses sem termos provas que as sustentem, pois isto afetaria um número significativo de relatos de contatos com ETs. O problema é que são esses os relatos que tendem a se tornar bem conhecidos através da mídia e nós, como pesquisadores, talvez tenhamos que gastar muita energia antes de reconhecê-los. Talvez eles nos dêem mais algumas pistas para melhor compreendermos o Fenômeno UFO, mas, como já disse, ainda é cedo para os apresentarmos ao público, e com certeza, fazendo-o agora, iremos colocar muito a perder.
Quer dizer que o estudo de contatos com alienígenas nos EUA é mais difícil e complexo que em outros países? De certa forma. Nos Estados Unidos há cada vez mais registros de pessoas que se dizem raptadas e levadas para dentro de naves, onde são submetidas a algum tipo de exame médico. Bem, na minha opinião isso não faz o menor sentido, porque se os ETs quisessem conhecer a Biologia humana, poderiam obter essas informações por outros métodos mais fáceis e mais rápidos. Não precisariam fazer isso com tanta freqüência. Minha interpretação é de que as testemunhas estão falando a verdade sobre o que pensam ser real. Elas não estão mentindo. Mas o que aconteceu com elas foi algo simbólico e como tal deve ser entendido. Há um sistema que nos controla e nos expõe a uma “certa realidade”, mas não devemos acreditar nessas imagens. Seria como ir ao cinema e acreditar que o filme realmente acontece ao mesmo tempo.
Os ETs, pelo que o senhor sugere, teriam um sistema de controle capaz de “brincar” conosco. É isso? Sim, podemos encarar dessa forma. É claro que o Fenômeno UFO tem a habilidade de liberar imagens para a população, as quais sugerem uma forma de poder diferente. Eles podem “brincar” conosco, podem nos condicionar a certos tipos de comportamento.
Suas idéias são ligeiramente semelhantes às concepções místicas em torno do fenômeno. O senhor é um ufólogo místico? Não, eu não sou um místico, embora respeite quem é. Minhas idéias se aproximam mais das de Carl Jung. Entre seus muitos trabalhos, ele escreveu um livro sobre os discos voadores onde sugeria que o fenômeno era parte do inconsciente coletivo. Segundo sua visão, os UFOs seriam um arquétipo. Eu concordo que é neste nível que precisamos entendê-los – e isso não significa que não haja algo de concreto e que não tenha uma dimensão física. De qualquer forma, ainda há muito para aprendermos; queiramos ou não, ainda não estamos suficientemente maduros para isso.
Por que o senhor diz isso? Os ufólogos já estão cheios de rumores sobre manipulações. A opinião pública ainda é muito ingênua a respeito dos métodos e objetivos deste “mundo desconhecido”. No campo dos UFOs, um dos segmentos desse mundo, esta ingenuidade é exacerbada pela necessidade de se crer que o governo tenha todas as respostas e não está nos dizendo o que são os discos voadores. O povo simplesmente quer saber de tudo, não importa o quê. Mais ainda, há algo de psicológico em o povo ter certeza de que o governo já sabe de tudo e não quer nos contar. Como já disse antes, estamos de uma certa forma perdidos nesta fantástica escuridão que é o Fenômeno UFO.
Voltando a esse assunto, o senhor acha que os governos devem pelo menos nos dizer se têm ou não as respostas que tanto almejamos? Não necessariamente. Quando foi a última vez que o governo dos Estados Unidos, por exemplo, nos disse a verdade sobre seja lá o que for? É… Faz tempo que estamos sendo iludidos, para não dizer enganados, sobre uma vasta quantidade de assuntos. A questão dos UFOs, na minha opinião, é das menores preocupações que os governos têm. É da natureza da burocracia governamental manter as coisas para si própria, especialmente quando elas são manipuladas de forma incompetente. Todas as vezes que tive chance de ver a forma como o problema ufológico estava sendo manipulado oficialmente, vi apenas e tão somente esforços até muito bem intencionados, mas infelizmente desorganizados ou simplesmente com absoluta incompetência!
O senhor acha que o Majestic-12 é uma fraude ou um exemplo de incompetência governamental quanto aos UFOs? Eu não sei se o MJ-12 é uma fraude. O projeto pode muito bem ter existido em algum nível de atividade do governo do EUA, mas gostaria de verificar mais atentamente as evidências sobre sua existência antes de me posicionar. Acho até interessante observarmos a questão sob variados pontos de vista. Um deles diz respeito aos objetivos que o governo poderia ter divulgando “acidentalmente” os documentos. A comunidade ufológica pensa que o governo estava brincando com os ufólogos quando os divulgou. Não sei não, mas acho que não é por aí que temos que ver a questão [Editor: o leitor poderá se informar completamente sobre o Majestic-12 lendo artigos pró e contra publicados na edição UFO 24]. Talvez haja ainda outros objetivos que sequer cogitamos…
Como o quê, por exemplo? No Messengers eu tentei sugerir o que estava acontecendo. Mencionei, por exemplo, os programas The Martians (os marcianos) e o Double Cross Committee (comitê da cruz dupla), desenvolvidos durante a 2ª Guerra Mundial. Ambos foram empreendimentos científicos de alto nível, mas de decepção estratégica – e decepção aqui significa o mesmo que o título de meu livro: enganação, embuste. Creio que o MJ-12 estava no mesmo ramo de negócios. As hipóteses se casam perfeitamente com os nomes dos cientistas apresentados na lista anexa aos documentos, especialmente quando tal lista inclui o nome do Dr. Menzel. Coincidência? Duvido!
Esta discussão nos leva à Alintel, sua obra mais recente. Embora em francês, ela tem circulado em todo o mundo. Nela, o senhor faz alusão a um eventual contato com ETs. Poderia explicar melhor? Escrevi Alintel na forma de ficção para dizer coisas que eu não pude desenvolver melhor no Messengers. O livro descreve em detalhes como um encontro com algum dispositivo multidimensional – um UFO, em minha concepção – poderia parecer ao ser humano e quais seriam as conseqüências. O livro também diz respeito à reação da comunidade acadêmica quanto a possibilidade de um contato alienígena. No livro, criei a hipótese de que existe uma organização secreta chamada Alintel, que significaria Alien Intelligence Agency [Editor: agência de espionagem alienígena]. Comparado à esta “agência”, o MJ-12 seria apenas um grupo de amadores. O interessante a respeito da ficção científica é que se pode explorar muitas possibilidades. Por exemplo, em Alintel a agência é uma organização mundial que conecta o leste ao oeste numa só rede, pois os interesses das principais potências convergiriam totalmente quando se trata de contatar UFOs. Mas será que isso é apenas ficção?…
O que o senhor acha que a pesquisa dos UFOs mais necessita no momento? Apoio dos governos? Precisamos de muitas coisa, principalmente dinheiro e suporte. Mas uma fraqueza que temos que suprir e que é particularmente deplorável é nossa falta de cépticos inteligentes. Não digo estes fanáticos de mentes fechadas que gastam tempo tecendo ataques ridículos ou pessoais contra testemunhas de UFOs. Há muitos deles por aí e eu simplesmente os ignoro, pois não trazem qualquer contribuição à Ufologia. Mas nós precisamos é de cépticos bem informados sobre os UFOs, que estejam dispostos a analisar os dados com todo critério do mundo. Sem eles, os argumentos pela realidade ufológica serão muito parciais.
Acho errada a idéia de que os governos deveriam nos pagar para fazermos pesquisas ufológicas. É nossa responsabilidade nos organizarmos. A pesquisa depende de nós, não do governo! Mas há gente dentro da burocracia governamental que quer trocar informações com ufólogos e conhecer mais sobre os UFOs
O senhor acha que o governo pode ajudar a comunidade ufológica de alguma forma? E essa ajuda seria interessante para os ufólogos? Penso que é um engano esperar que os governos ajudem a resolver o problema dos UFOs. As estruturas políticas e militares não têm o mínimo interesse em pesquisá-los. Os políticos interessam-se apenas em serem reeleitos; os militares se preocupam é com a proteção e segurança de seu país. Uma vez, na presença do chefe do Blue Book, fiz a observação de que haviam casos sem explicação que foram arquivados sem qualquer pesquisa. Ele me disse: \”o que você quer que eu faça? Não era um helicóptero, um avião, um balão ou uma nuvem, nem muitos menos a lua ou uma estrela. Não era identificado. Por isso fechei o arquivo e ponto final\”. Eu lhe disse que era justamente por aí que a pesquisa deveria começar, mas ele retrucou: \”eu não sou pago para fazer pesquisa; a missão da USAF é identificar, interceptar e destruir qualquer coisa que sobrevoe os EUA. Se quiserem fazer pesquisas, trocaremos informações com vocês, mas esse não é nosso trabalho\”. É por fatos como esse que eu acho errada a idéia de que os governos deveriam nos pagar para fazermos pesquisas. É nossa responsabilidade nos organizarmos. A pesquisa depende de nós, não do governo! Há muita gente inteligente dentro das elites da burocracia governamental que quer trocar informações com ufólogos e conhecer mais sobre os UFOs. Mas depende exclusivamente de nós provarmos que somos honestos e maduros em nosso trabalho.
O senhor é criticado por desenvolver uma pesquisa solitária e não se associar a nenhum grupo ufológico. Por que trabalha assim? Isso é um engano; eu nunca poderia trabalhar só. Trabalho com um grupo de amigos, alguns até participam de grupos ufológicos. Trabalho também com cientistas e alguns homens de negócio. Isso me dá acesso ao tipo de informação de que preciso: as opiniões de especialistas que me permitem conferir minhas idéias. Ninguém pode trabalhar só nesta área. Até não tenho nada contra organizações ufológicas, exceto que nos Estados Unidos elas tendem a se tornar muito burocráticas e perdem muito tempo lutando entre si, em vez de trabalharem. Veja bem: esta não é minha profissão; eu não sou pago para ser ufólogo. Preciso trabalhar para fazer Ufologia e para viver, e quero ser 100% produtivo nas minhas horas livres, que dedico à pesquisa. Não quero ir para reuniões de algum grupo para nomear um novo chefe ou diretor disso ou daquilo; não me interesso por isso. O que eu quero é falar com testemunhas, analisar casos, verificar locais de observação, fazer análises teóricas etc…
O que o trouxe ao Brasil? Meu trabalho no Brasil tem a ver com o meu campo de pesquisa. Nos últimos 10 anos me interesso em como os UFOs afetam as testemunhas e interagem com seus corpos. Ouvi aqui casos de morte declaradamente relacionados com os UFOs. Acho que no Brasil há uma grande concentração de casos dessa natureza e similares, envolvendo violência contra humanos, por isso vim conhecê-los, falar com as testemunhas, falar com a Força Aérea Brasileira e observar se há algum padrão nesse tipo de informação.
Qual foi sua impressão sobre os fenômenos que foram registrados no Nordeste, de violência com testemunhas? Estou muito impressionado com o fato de que todas as testemunhas com quem conversei estavam descrevendo uma luz que as atingia, mas não uma luz como as que conhecemos. Precisamos pesquisar melhor a natureza desses objetos luminosos. Necessitamos também de especialistas em várias áreas, médicos forenses e patologistas capazes de nos auxiliar nesse imenso trabalho. O que estou fazendo agora é muito preliminar, mas acho que esta é uma das formas através das quais poderemos obter o que precisamos. Conto com o apoio dos ufólogos brasileiros de mente aberta!