Em 2008, uma enorme contribuição à Ufologia Brasileira foi dada por um dos mais graduados e respeitados militares brasileiros, na forma de uma entrevista exclusiva à Revista UFO. O oficial que concedeu seu tempo para atender ao interesse de nossos leitores foi ninguém menos do que o brigadeiro José Carlos Pereira, que foi comandante-geral de Operações Aéreas e do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), órgão que já foi chamado de “Área 51 Brasileira”, entre 1999 e 2001. Amplamente conhecido como “o homem que tem a chave do cofre dos segredos ufológicos do país”, Pereira teve uma longa conversa com este editor, o coeditor Fernando A. Ramalho e o então conselheiro especial Roberto A. Beck.
Deste diálogo revelador surgiu uma entrevista histórica para a Ufologia Brasileira, igualando a que foi concedida em 1997 pelo coronel Uyrangê Hollanda. O trabalho, de tão extenso, teve que ser publicado em duas partes, e o foi nas edições 141 e 142, respectivamente abril e maio de 2008. Ao longo das quase duas dúzias de páginas usadas para acomodar toda a extensa entrevista, Pereira fez declarações espantosas para um homem em sua posição. Para começar, declarou francamente que os segredos sobre os UFOs no país devem ser liberados imediatamente. “Tem que haver transparência na questão ufológica, pois não há nenhuma razão para se continuar escondendo o que se sabe”, disse.
Engajamento pessoal
Não apenas o brigadeiro deu enorme respaldo à causa ufológica brasileira, que teve em sua entrevista um forte subsídio para tornar ainda mais clara a importância da presença alienígena na Terra, como ele também se engajou de maneira firme na campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que já vinha sendo conduzida pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), por meio da Revista UFO, desde 2004. Foi com sua adesão — e inclusive participação em eventos de Ufologia em todo o país — que o movimento ganhou uma dimensão mais ousada, acabando bem-sucedido em 2007 com a liberação, pelo Governo Federal, de 4,5 mil páginas de documentos antes secretos sobre UFOs no país.
A entrevista concedida pelo brigadeiro José Carlos Pereira foi considerada pelos leitores de UFO, em votação realizada em seu site [ufo.com.br] nos primeiros meses deste ano, como a melhor de todos os 30 anos de existência da publicação, ao lado da feita com Hollanda. Assim, foi escolhida para ser reproduzida na histórica UFO 200, do mês passado, e novamente dividida em duas partes para acomodar tamanha carga de informação. Agora temos a parte final do extraordinário diálogo com o oficial, que já foi devidamente apresentado aos leitores na referida edição. “Sempre compro a UFO nas bancas de Brasília e estou à disposição dos ufólogos da revista”, disse-nos antes de encerrar a conversa, em 2008. Este é o homem que se reportará mais uma vez aos leitores, a partir de agora.
Forte impacto emocional
O senhor não acha que um dos pontos mais altos da carreira do coronel Uyrangê Hollanda se deu justamente durante a Operação Prato?
Sim, mas o que aconteceu com ele? Ele “fugiu” da intendência, onde o colocaram. Pois ele nunca foi realmente um oficial intendente. Porque na época, e ainda hoje, o sistema de inteligência precisava de pessoas, independente do que elas fossem: aviadores, intendentes, padres etc. Estas pessoas eram recrutadas para trabalhar na inteligência daqueles anos. Hoje a inteligência é uma profissão, mas naquela época não. Você “pescava” a pessoa para se dedicar àquilo, dava um curso e elas iam trabalhar em inteligência. E o Hollanda se agarrou naquele trabalho da inteligência e foi em frente.
Dizem que, quando foi chamado para ser comandante da Operação Prato, o Hollanda adorou, pois era tudo o que queria: ir para a selva. Ele assumiu a missão militar e teve contato direto com um ET, que nos revelou na entrevista. O senhor sabia disso?
Soube, ele relatou isso. Mas eu não cheguei a discutir este assunto com ele. O Hollanda também me ligou logo em seguida, mas eu estava em outra operação.
Ele descreveu que estava com um comandado no Rio Guajará-Mirim, já voltando para o acampamento, quando uma nave cilíndrica, com 100 m de comprimento, praticamente pousou em pé na outra margem. Do alto dela, uma porta se abriu e um ET saiu e desceu flutuando até onde eles estavam. Este teria sido o momento mais excitante da Operação Prato. O senhor discutiu esse assunto com ele?
Não, infelizmente não tive detalhes antes. Mas talvez seja por isso que ele tenha se jogado de corpo e alma naquilo. A Operação Prato foi onde ele se encontrou. Se como aviador não deu certo, e ele rejeitava a ideia de ser oficial intendente, então a inteligência caiu bem para ele. Para mim, trabalhar na inteligência é uma coisa agradável, pelo menos em termos. Naquela época era coisa ferrada. Eu trabalhei muito em inteligência militar pura, com estratégia. Mas nunca me preocupei muito, por exemplo, com comunistas [A primeira explicação oficial para a Operação Prato foi de que se tratava de uma missão para identificar comunistas supostamente infiltrados na Selva Amazônica]. Minha preocupação era com a Argentina.
O Hollanda suspeitava que foi justamente o contato com o tal ET às margens do Rio Guajará-Mirim, que ocorreu em meados de dezembro de 1977, o fator determinante para o encerramento da Operação Prato. Ele disse que, ao reportar o fato ao seu superior, o brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, comandante do 1o Comando Aéreo Regional (I COMAR), foi ordenado a encerrar a missão. O senhor sabia disso?
Em parte. Eu não tinha este detalhe.
Muita gente ainda acredita que ele não se suicidou, mas que teria sido assassinado por supostamente falar demais. Isso não é verdade. No entanto, se a edição em que a primeira parte da entrevista com ele foi publicada — UFO 054, de outubro de 1997 — tivesse saído antes, e ele tivesse visto a homenagem que a Equipe UFO lhe prestou, sentindo-se prestigiado e vendo a contribuição que prestou à Ufologia Brasileira, talvez ele não tivesse tirado a própria vida…
É, pode ser. Ele tinha uma vida solitária, e isso é algo mundo triste. Por isso, no mundo militar, o setor que mais une as pessoas é a inteligência. Quem viveu isso sofre ao se afastar deste meio. É aquele negócio: em uma guerra, no meio do tiroteio, ninguém está pensando na Pátria. O cara está pensando na pele dele e na de quem está ao seu lado, que é o único que pode socorrê-lo naquela hora. Então, esse conceito de heroísmo é uma grande besteira. E a pessoa que trabalha na inteligência pode não ter essa grandiosidade toda, mas ele faz amigos e depende deles. E o Hollanda, quando entrou para a reserva, estava completamente isolado de tudo e de todos. Isso realmente afeta a pessoa.
Relatos de avistamentos de UFOs feitos por pilotos, que normalmente são os mais consistentes, são também os mais impressionantes. Porque eles não estão comandando um veículo, mas uma aeronave. E eles vão todos para o relatório de ‘tráfego hotel’.
O Hollanda teve certa intimidade com o Fenômeno UFO, especialmente do meio para o fim da Operação Prato, até que aconteceu o contato com o ET e a missão foi encerrada. Mas isso não o fez acabar com as investigações, que ele continuou conduzindo por conta própria e nas horas vagas. Ele continuou, inclusive, tendo novos contatos, até que um dia, sem explicação, os fenômenos em torno dele pararam. Isso parece tê-lo afetado bastante. O senhor sabia disso?
Não, não sabia. Mas, certa vez, conversando com uma psicóloga sobre o Hollanda, expliquei a situação para ver o que ela diria. Ela não o conhecia, mas afirmou que ele apresentava o perfil de um homem que, não sendo bipolar, deveria ter vivido alguma coisa muito grave em algum momento de sua vida. Tão grave que o isolou, digamos assim, de seus semelhantes. Eu acho que foi o problema com o curso de aviador, que já vi acontecer antes na Aeronáutica.
Elemento catalisador
O senhor também acha que a experiência que ele teve na Operação Prato poderia ter sido um elemento colaborador para seu estado?
Sem dúvidas, foi um elemento catalisador, uma experiência muito forte.
Circularam no meio militar brasileiro, naquela época, os resultados que a Operação Prato vinha atingindo?
Sim. Mas não foi com grande ênfase. Mesmo assim, todo mundo ficou sabendo o que estava acontecendo no Pará.
E sobre o contato que o Hollanda teve com o ser extraterrestre, em dezembro de 1977, isso também chegou ao conhecimento do meio militar?
Apenas pouca gente ficou sabendo. Eu mesmo soube muito tempo depois, não no momento em que ocorreu. Quem comentou o fato comigo foi o brigadeiro Protásio. Na época em que ocorreu eu já era mais antigo na Aeronáutica do que o Hollanda, e só fui saber deste episódio específico, o tal contato, quando já ia ser brigadeiro. Mas, da Operação Prato eu tomei conhecimento logo quando fui trabalhar na inteligência, quando ainda era coronel. Eu fui diretor de planejamento da Força Aérea, e todos os arquivos estavam à minha disposição.
O senhor teve acesso a todos os documentos produzidos na Operação Prato?
Sim, a todos. Mas isso quando fui diretor de planejamento da Força Aérea, nos primeiros anos da década de 90.
E onde estavam os arquivos? Brasília?
Sim, em Brasília. Esses arquivos foram todos recolhidos, e parte deles foi distribuída para o antigo SNI [Serviço Nacional de Informações, órgão precursor da atual Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)]. Mas apenas parte. Eu só fui ter contato novamente com eles muitos anos depois, já exercendo outra função na Aeronáutica. Estes arquivos secretos me perseguem. Não apenas estes da Operação Prato, mas todos os arquivos secretos me perseguem…
Então o senhor chegou a ter os arquivos da operação à sua disposição. A informação que nós tínhamos, que foi passada pelo Hollanda, mas que nunca conseguimos confirmar satisfatoriamente, é de que ele e seus comandados produziram pelo menos 2.000 páginas de relatórios de avistamentos, que eram datilografadas pelo sargento Flávio Costa, uma espécie de secretário da missão, além de cerca de 500 fotografias e 16 horas de filmes em super 8 mm e super 16 mm. O senhor confirma?
Ah, sim, deve ser isso mesmo. Esses filmes, na época, era o que havia de melhor.
Imagens reveladoras
Quando a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) esteve no Comdabra, pudemos ver uma parte dessas páginas e fotos, pouco mais de uma centena de cada, alojadas em uma pasta. Onde está o resto deste material?
Veja bem, o Comdabra é o Comando Brasileiro de Defesa Aérea que lida com a questão aérea. Aqueles arquivos, em um determinado momento, foram distribuídos aos órgãos de acordo com suas áreas de atuação. Aqueles que foram para o Comdabra são os que dizem respeito imediatamente à defesa aérea, à visualização de objetos por radar, a caças perseguindo coisas etc. Outros tipos de operação continuam ainda no antigo SNI, a atual ABIN. Mas ela, na verdade, não chegou a se envolver. Hoje a ABIN é uma coisa muito mais ampla do que o então SNI.
Naquela ocasião e nos anos seguintes, alguns militares e civis selecionados, como um piloto da antiga Vasp que foi perseguido por um UFO em 1982, eram levados para uma sala do I COMAR, em Belém, e recebiam como uma espécie de prêmio de consolação a oportunidade de assistir aos filmes feitos na Operação Prato. Por exemplo, o comandante Gerson Maciel de Britto foi levado pelo Hollanda para vê-los. Dizem que são imagens espantosas de naves sobre o Rio Amazonas. O senhor os assistiu?
Não, não cheguei a ver este material. Mas eu sei que eles existem.
Mas onde estariam estes filmes hoje?
No Comdabra há aquilo que foi mostrado aos ufólogos. E no Sistema de Inteligência da Força Aérea, que também fica em Brasília, também há material.
Já havia um questionário para registro de casos de ‘tráfego hotel’, que os pesquisadores chamam de UFOs. E o atualizei e incluí informações adicionais. Veja, é diferente você julgar um caso de avistamento quando tem mais informações sobre ele.
Não ficou nada no 1o Comando Aéreo Regional (I COMAR), em Belém?
Não, não. Está tudo em Brasília. Não ficou nada em Belém nem em lugar algum.
O senhor não chegou a assistir aos filmes da Operação Prato, mas viu as fotos? Elas o impressionaram?
Sim, eu vi algumas fotos e elas me impressionaram. Mas veja bem, quando você vê uma foto antiga, você não acredita muito. Só que, por outro lado, naquela época não havia como fazer truques. Hoje há. Qualquer pessoa que faça um trabalho em Photoshop é capaz de sombrear ou alterar uma foto, por exemplo. Mas naquela época, não. Para alterar uma foto, o indivíduo precisaria ter um laboratório
gigantesco. E hoje você pega uma maquininha e faz com ela o que quiser.
Além dessas fotografias da Operação Prato, o senhor chegou a ver imagens obtidas em outras missões ou feitas de alguma outra maneira?
Não, o que eu vi foram essas fotos da Operação Prato. Algumas depois se tornaram públicas. Não houve outras missões, a Operação Prato foi única.
O senhor acredita que o encerramento dela deu-se por causa do contato que houve entre o Hollanda e o tripulante do UFO? Aquilo teria sido muito pesado?
É muito difícil sabermos hoje o que aconteceu. O brigadeiro Protásio, superior do Hollanda, era um homem muito cético, muito religioso, muito inteligente. Deixem-me falar um pouco dele. O Protásio foi um homem que dedicou sua vida à Amazônia e fez “loucuras” por ela. Por exemplo, em uma ocasião ele determinou que em todos os quartéis da região as frutas, como mamão, laranja, melancia etc, tivessem as sementes retiradas, secadas e reservadas. Não poderiam mais ir para o lixo. Depois, as sementes eram enviadas para o I COMAR, em Belém, e levadas nos voos que havia sobre a selva para os locais mais distantes. Elas eram simplesmente lançadas dos aviões, no meio da floresta, com a esperança de que florescessem. Um dia, quando eu ainda era novo lá, criei coragem e o questionei sobre isso, argumentando que a chance destas sementes germinarem era raríssima. Ele me disse: “Olha, um dia, se o sobrevivente de um acidente aéreo encontrar um mamoeiro e sobreviver porque comeu um mamão que resultou da semente que eu lancei, vou
me sentir realizado”.
Ele era um homem assim, que acreditava nas coisas.
Sim, um homem de fé. Tanto que, quando foi diagnosticado com câncer e desenganado, em vez de ficar no hospital, ele foi para casa e disse aos médicos: “Quando começar a doer muito eu volto para cá e vocês vão me parar. Eu não quero sentir dor. Usem morfina, anestesia, o que vocês quiserem, mas desliguem tudo e não me liguem a nada. Assim, eu morro no dia combinado”. Os médicos aceitaram e assim foi feito. Quando ele começou a sentir dor, foi possível calcular o dia e a hora que ele ia morrer, dando tempo para muitas comunidades ao longo do Rio Negro se prepararem para o velório. Sim, pois ele foi responsável por grande parte da civilização que hoje existe ao longo daquele rio. E no enterro dele estava todo mundo lá. Esse era o superior do Hollanda.
Falando de outro tema, vamos novamente abordar a visita da CBU ao Comdabra. Na ocasião, o brigadeiro Atheneu Azambuja, então comandante do órgão, relatou que era rotineiro os caças da Aeronáutica levantarem voo para identificar “alvos radares”, entre eles os “tráfegos hotel”. E a gente sabe que estes são termos usados para descrever várias coisas, inclusive discos voadores. Quantas destas interceptações ocorrem anualmente no país?
São várias, mas eu me lembro de uma no momento. Isso é tudo automatizado, os procedimentos são automáticos. Este fato ocorreu em Anápolis (GO) há alguns anos. Houve um contato do radar com alguma “coisa” e a defesa aérea determinou a decolagem de um caça Mirage da base aérea daquela cidade. O objeto não identificado estava bem perto, não estava longe não, quase na área de Goiânia. Mas o radar não estava conseguindo determinar a altimetria, sua altitude, apenas a posição em que estava. O Mirage subiu em sua direção até onde pôde, e quando chegou a 48 mil pés de altura [Cerca de 16 km], que é o teto de serviço dele, teve que abandonar a busca. O piloto falou: “Pô, estou a 48 mil pés e não vejo nada. O radar está dizendo que isto está aí na minha frente, mas eu não vejo nada”.
UFO no Rio Amazonas
O radar do solo detectava um ponto naquela posição do espaço aéreo e o de bordo do Mirage também?
Sim. Do avião a gente tinha altimetria, sabia em que altura estava. Mas não se podia determinar a altitude do outro contato, que aparecia em ambos os radares. Então, quando você não sabe onde está o alvo, fica difícil. O piloto tinha contato visual com o objeto, que era uma luz brilhando, em pleno Sol.
Era um objeto grande?
Bem, era um ponto luminoso, cujo tamanho era impossível de determinar, pois aí entra a questão da paralaxe [A medida da aparente mudança de posição de um objeto em relação a um segundo plano mais distante]. Você não consegue saber o tamanho de algo se não souber a distância que está. O piloto dizia que estava longe. “Eu estou vendo o ‘negócio’ aqui, mas está longe, muito longe”, ele dizia. E ele já estava no teto máximo de 48 mil pés. O Mirage pode ir até 50 mil pés, mas ficaria perigoso. Eu me lembro bem dessa decolagem.
Brigadeiro, quantos casos como este acontecem por ano e no que resultam?
Eu me lembro de uns três ou quatro casos. Eu não sei a média anual, mas talvez sejam dois ou três casos por ano.
Os pilotos civis sempre falam sobre UFOs. Eles não podem ver alguma coisa estranha que logo chamam o controle de tráfego aéreo. Porque eles têm uma responsabilidade muito séria e não querem perder o emprego se deixarem de relatar algo fora do comum.
Temos no acervo da Revista UFO outro caso envolvendo a detecção de um disco voador por radar e interceptação por caças em Anápolis, mas ocorrido em 28 de abril de 1982. O episódio foi registrado em documentos da Força Aérea Brasileira (FAB), que vazaram e chegaram até nós. Publicamos o material em nossa edição UFO 014, de janeiro de 1991. Interessante. Vocês têm algum caso ufológico envolvendo a Marinha Brasileira ocorrido no Rio Amazonas?
No Rio Amazonas temos apenas casos de embarcações civis. Da Marinha, temos um episódio ocorrido no Rio Paraguai, em 1962, envolvendo um navio comandado pelo então capitão de mar e guerra João Maria Romariz, já falecido. A embarcação foi seguida por um UFO próximo do Forte Coimbra, no que é hoje o estado de Mato Grosso do Sul.
O caso está registrado no livro UFOs: Arquivo Confidencial. O senhor tem algum caso ufológico específico ocorrido no Rio Amazonas?
Sim, e este caso ficou “fechado” na Marinha, nunca foi divulgado. Mas eu recebi a informação de que uma corveta, daquelas antigas, que navegavam muito bem, se envolveu em um avistamento. Aquele tipo de embarcação podia ir até as fronteiras mais distantes. Uma corveta destas, navegando à noite, foi abordada por um UFO que se aproximou por cima dela. A coisa foi feia, me disseram. A situação ficou complicada para o comandante do barco, porque houve pânico entre a tripulação em uma área muito isolada. Naquele tipo de lugar em que o índio mais perto está a mil quilômetros…
Como são tratados pela Aeronáutica os episódios ufológicos que envolvem tripulações civis, como o Caso Vasp, ocorrido em 08 de fevereiro de 1982, quando um Boeing 727 da extinta companhia aérea paulista foi seguido por um UFO por mais de três horas?
Normalmente, as tripulações civis em voo se comunicam com os órgãos de controle ligados à Aeronáutica. Qualquer coisa que envolva aeronaves civis era antes tratada pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), e hoje é incumbência da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Assim, na verdade, a Força Aérea praticamente não tem mais nenhum contato com pilotos civis, a não ser através do controle de tráfego aéreo.
Nova metodologia
Então, se hoje houvesse uma observação ufológica feita por um piloto da companhia aérea TAM em voo, por exemplo…
Ela seria comunicada à Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira (FAB) faria alguma coisa, considerando o voo. Isso está nas atribuições do Comando de Defesa Aérea. O fato é relatado para um controlador de voo e cai no sistema.
E qual é o tratamento que será dado àquele caso, usando o mesmo exemplo?
Um avião civil em voo está sempre sendo controlado por um órgão, um centro de controle, e todos os que existem no país são militares. Se um piloto diz “olha, está acontecendo alguma coisa aqui do meu lado”, se for qualquer coisa fora do normal, o centro de controle que está acompanhando o voo comunicará aquilo imediatamente ao centro de operações militares daquela área, que vai ter que tomar alguma atitude, fazer alguma coisa em relação àquele fato e se reportar ao Comando de Defesa Aérea (CODA), que é o órgão superior e tem visão nacional — é o único órgão que tem um panorama do país inteiro.
Brigadeiro, em 19 de janeiro de 2002 o senhor concedeu uma entrevista ao deputado Celso Russomanno, que foi bastante persistente nas perguntas que lhe fez. Naquela ocasião o senhor mostrou a ele um livro de ocorrências aéreas e disse que, apenas naquele ano, havia nele mais de 90 registros de fenômenos de “tráfego hotel”, como os UFOs são chamados pelos militares. O que aquele livro contém de tão importante?
Ele contém várias coisas, entre elas aqueles relatórios oficiais que podem ser preenchidos por qualquer pessoa que tenha feito uma observação de “tráfego hotel”. Alguns deles parecem vir de gente louca, como o de uma mulher drogada que saiu de uma boate em Sobradinho (DF) e disse ter visto algo. Mas este tipo de coisa você logo descarta. No entanto, o livro tem casos que não se consegue explicar, e quando algo não pode ser explicado, então vai para o livro [Que recebe o nome de Livro de Registro de Ocorrências, LRO]. Aqueles casos todos estão arquivados nos tais livros, e um dia os pesquisadores vão poder examiná-los. Neles há também relatos de pilotos, de controladores de voo etc. Enfim, tudo aquilo que não conseguimos explicar, que é dado como secreto, vai para tais livros.
Mas por que essas coisas são mantidas secretas? Por exemplo, como o senhor falou agora, como um pesquisador pode ter acesso a estes livros se eles são secretos? Nós gostaríamos de examinar tais livros. Quantos como aquele existem hoje?
Por isso é que eu defendo que essa coisa deve ser aberta. Gevaerd, eu penso igual a você. Tem que abrir tudo. Eu acredito que seja mais ou menos um livro por ano. Chega ao final do ano, tiramos tudo que está guardado nele e colocamos num arquivo. Hoje não guardamos mais [Os casos] em formato de livro, porque agora é tudo digital.
O senhor deve ter visto vários livros. Qual é o fato registrado neles que mais o surpreendeu, sejam casos relatados por pilotos civis ou militares?
Os relatos de pilotos, que normalmente são os mais consistentes, são os mais impressionantes. Porque eles não estão comandando um veículo, mas uma aeronave. Uma coisa é você estar passeando na rua e ver alguma coisa, e outra é um piloto em voo ver algo. Assim, relatos de pilotos são geralmente mais consistentes. Mas há casos em que o próprio piloto depois reconhece que se enganou. “Realmente, eu estava olhando para a esquerda e vi alguma coisa, mas era a refração do Sol”, diria a pessoa. Só que há casos em que ela estava olhando para o outro lado, onde não tem refração. As observações relatadas por pilotos são mais consistentes do que as feitas a partir do chão, por pessoas absolutamente leigas. Nestes casos, você não tem confiabilidade.
Até na Ufologia civil a gente não tem muito que fazer com certos relatos…
Por isso que, naquele questionário [Para registro de casos de tráfego hotel], eu mandei colocar uma espécie de interrogatório, entrando um pouco na intimidade da pessoa para saber qual é o seu conhecimento de meteorologia, se tem curso superior etc. Por que há uma diferença.
No caso de maio de 1986, um dos principais pontos da ocorrência foi que houve detecção pelos radares de bordo das aeronaves. E um contato com radar de bordo simultaneamente com o contato com radar de terra é a maior das confirmações.
Então o senhor participou da elaboração daquele questionário?
Sim, já havia o antigo e eu o atualizei. Inclusive com aquelas informações adicionais. Veja, é diferente você julgar um caso quando tem mais informações sobre ele. Não estou menosprezando o gari, não, mas é diferente quando se tem mais dados. Um engenheiro, por exemplo, consegue ter uma visão diferente de algo.
E esse questionário ainda está válido? Quantos o senhor estima que já tenham sido preenchidos?
Sim, está válido, mas não sei quantos foram preenchidos, porque depois que eu saí da Força Aérea, não tomei mais conhecimento. Mas eu acredito que sejam uns 10 por mês, mais ou menos, em todo o país. Essas informações estão centralizadas no Comando de Defesa Aeroespacial
Brasileiro (Comdabra).
Dilma tem a chave
O que o senhor acredita que os ufólogos precisam fazer para ter acesso às pastas que estão no Comdabra e quem hoje comanda estas coisas?
Eu acho que é uma mulher chamada Dilma Rousseff. Eu acho que ela é quem manda. Vocês devem chegar até ela para terem acesso aos dados [Na ocasião desta entrevista Dilma Rousseff tinha o cargo de ministra da Casa Civil e ainda não era presidente da República].
O senhor acha que, se hoje houvesse a perseguição de um UFO sobre o Território Nacional, seja por pilotos civis ou militares, principalmente por militares, Dilma Rousseff vai ficar sabendo?
Isso chegaria até ela?
Ao ministro da Defesa com certeza chega, pois isso faz parte da função dele. É automático, o telefone dele vai tocar. Agora, se ele vai passar essa informação para a Dilma, não sei. Dependendo da gravidade do caso, o ministro é obrigado a informar ao presidente da República. Funciona assim. Eu, quando fui comandante do Comdabra, tinha o telefone pessoal do presidente, mas não podia ligar para ele por qualquer coisa.
Como funciona a linha de comando que ocorre nestes casos específicos?
Se houvesse algo sério, eu teria que ligar para o comandante de operações aéreas, que informaria o fato ao comandante da Aeronáutica. Ele falaria com o ministro da Defesa, que, por sua vez, reportaria o assunto ao presidente. Mas se o elo fosse interrompido, eu tinha autonomia para saltar. Por exemplo, eu tenho que ligar para o meu comandante, mas se não consigo falar com ele, vou para o próximo. Eu estou autorizado a saltar para o seguinte. Mas se também não conseguir falar com o seguinte, vou em frente, até chegar ao presidente. E se ele não atender, eu assumo. Isso é legal, está escrito. Mas é claro que entra aí o bom-senso de cada um em relação à gravidade do problema. Não vou dar um passo desses se não for um assunto de extrema gravidade.
Quando o senhor foi comandante do Comdabra, todos esses casos que envolvem pilotos militares e detecção de UFOs por radar, ou pelo menos mais importantes, chegavam ao seu conhecimento?
Durante o período em que fui comandante do Comdabra, sim.
Com que frequência o senhor recebia relatórios sobre os casos?
Apenas uma vez por mês havia algum relato. Um controlador me falava algo do tipo “pô, estou há 10 minutos aqui acompanhando esse objeto no radar”, ou então “comandante, apareceu mais um tráfego hotel lá no Amazonas ou lá em Santa Catarina”. Mas são muito comuns os ecos falsos nos radares, também chamados de alvos falsos. Um alvo falso dá uma piscadinha na tela e quem é experiente já reconhece. Logo o ponto some do aparelho. Agora, quando o objeto detectado tem trajetória determinada e constante, esta é outra história. Estes casos ocorriam uma vez por mês, mais ou menos, e tinham curtíssima duração.
Houve confirmação, por exemplo, de pilotos civis relatando casos?
Sim, os pilotos civis sempre falam, botam a boca no trombone. Eles não podem ver alguma coisa estranha que chamam logo o controle de tráfego aéreo. Porque eles têm uma responsabilidade muito séria. Pilotos civis falam mesmo, e também porque não querem perder o emprego se deixarem de relatar algo fora do comum.
O medo dos pilotos civis
Mas eles não gostam muito de relatar suas experiências para a imprensa. Nós, com muito custo, temos conquistado a confiança de alguns deles…
Não falam porque é o emprego deles que está em jogo e seus patrões podem não gostar. Agora, tem outra questão aí. Tem a coisa de empresas aéreas terem aeronaves em dificuldades e não relatarem suas emergências para não parecerem mal perante a mídia. Isso é um crime. Eu já vi avião pousar em Congonhas em grandes dificuldades. Um “bicho” daquele tamanho, pousando “pendurado” num motor só, como se nada tivesse acontecido, sem bombeiros e sem ambulância. Sim, porque a companhia não quis parecer mal na imprensa. E se o piloto tivesse relatado o problema à torre, o cara poderia ser despedido. Isso não está certo.
Há pouco tempo a Revista UFO recebeu o relato de um piloto da Gol, que, indo de Fortaleza para Belém, observou um objeto enorme cruzando a frente do Boeing. Ele fotografou o aparelho e nos enviou. O comandante nos disse que, como outros pilotos também relataram, quando se comunicou com o Cindacta, recebeu um tratamento muito preciso, bem à altura do fenômeno. As informações que ele relatou ao controlador de voo também acabam no Comdabra?
Sim. Um fato como esse, relatado pelo piloto da Gol, deve ter resultado num relatório oficial, e certamente ele está guardado em algum lugar do Comdabra, aqui em Brasília.
Quando acontece isso, quem preenche o relatório reportando o tráfego hotel, o piloto ou o controlador de voo?
Qualquer um deles pode preencher. O piloto pode pousar e preencher. Ele pega o formulário em qualquer quartel da Força Aérea, em qualquer sala de tráfego aéreo de qualquer aeroporto do país. Os pilotos sabem onde encontrar e onde entregar preenchido o formulário, que é em qualquer quartel da Aeronáutica.
A atitude de abrir os arquivos por parte de alguns países é uma ação de reconhecimento de fatos. Nenhum deles é irresponsável. São todos sérios e de diferentes níveis de progresso. E quando admitem alguma coisa, têm que ser levados a sério.
E a partir daí, o que é feito com o formulário depois de ser preenchido?
É sempre feita uma investigação. Por exemplo, neste caso, o piloto viu algo e registrou aquilo. Ele precisa descrever em que direção, altitude e velocidade o objeto passou, tem que dar o máximo de detalhes. Precisamos também saber onde é que estava o Sol naquela hora, se à esquerda ou à direita da aeronave, se atrás ou na frente dela etc. A luminosidade do objeto também é importante, assim como que tipo de nuvens havia no local. Todas estas são informações preciosas. O controle do tráfego aéreo vai tentar descobrir se algum outro avião cruzou a frente dele, ou se naquela hora passou um caça supersônico por ali, tudo para explicar o fato. É feita uma diligência. Mas se for descoberto que não havia ali nenhum avião naquela hora, que o tempo estava nítido e não havia nada que justificasse o fenômeno, então a coisa muda de figura.
Aí o que acontece?
O relatório segue para o arquivo. Não há o que fazer com ele. Se o fato tem explicação, então ele é “deletado”. O controlador ou outra pessoa da Defesa Aérea avisa o piloto, dizendo: “Aquele negócio que você relatou, foi um avião que passou lá”. Agora, se não há explicação…
Então agora sabemos, finalmente, que o que está arquivado no Comdabra é o que já foi analisado e não se explicou. O senhor tem ideia de qual é a quantidade anual de casos em cada livro ou pasta daquelas?
Nestes três últimos anos eu não acompanhei o que ocorreu, mas antes era uma média de um a três casos por mês. Agora, também quero dizer uma coisa que considero importante. Pode ser “achismo” meu, mas creio que uns 90% das coisas que são vistas por aí não terminam em relatório algum, nunca são reportadas. E observe você justamente onde esses relatórios são preenchidos: onde há algum aeroporto ou quartel da Força Aérea, onde existem cidadãos conscientes. Então, eu não sei qual é o percentual de observações que foram feitas e terminaram em relatórios, mas acho que deve ser menos de meio por cento.
Se tudo o que há nos livros ou pastas do Comdabra for apenas meio por cento do que aconteceu por aí, como é sua opinião, então o total de casos deve passar de 200 por mês! Por exemplo, nem todos os pilotos que viram algo vão passar na sala de tráfego aéreo e pegar o formulário. Outro tanto pega, mas deixa de preencher, ou preenche e não entrega…
Pois é. Os pilotos não querem aparecer. E as demais pessoas nem sabem que esse relatório existe e está disponível no país inteiro. Assim, o que é relatado não representa quase nada. Do universo de casos que devem ter ocorrido, quase nada vem ao conhecimento dos militares.
Existe algum planejamento ou ordens superiores específicas para se acobertar estas informações contidas neste meio por cento?
Não, não existe ordem alguma para que se acoberte tal situação específica. O que existe é uma classificação de sigilo. Tais fatos têm que ficar confidenciais, mas não há uma ordem ou diretriz
que determine algo como isso.
O senhor já ouviu falar da Área 51, aquela base ultrassecreta que fica no Deserto de Nevada, ao norte de Las Vegas, para onde os ufólogos norte-americanos afirmam que são levados UFOs acidentados?
Sim, a área existe e nós fizemos exercícios por lá. Não na Área 51, mas sobre o Deserto de Nevada, onde existem inúmeras instalações militares. A Força Aérea Norte-Americana (USAF) realiza muitos exercícios em toda aquela localidade. Inclusive porque ela tem atuação internacional e assim convida muitas nações para enviarem seus militares para treinamento lá. Nós participamos de um programa assim e soubemos da Área 51, mas nela ninguém entra. A FAB já mandou dois esquadrões para lá e eu comandei uma dessas operações. O interessante é o planejamento das manobras, que evitam a Área 51, no centro de tudo.
Relatório de perigo
E não acontece de pilotos invadirem o espaço da área?
Sim, e o grande problema quando praticamos exercícios lá é fazer os pilotos estrangeiros realmente entenderem quais são os procedimentos a serem adotados, para não se aproximarem da Área 51 e nem passarem por cima dela. Nem os norte-americanos podem. Ninguém pode…
Voltando ao Brasil, brigadeiro, e levando em consideração as circunstâncias envolvidas em observações de tráfego hotel pelo país afora, inclusive com casos de UFOs interferindo em voos civis e militares, o senhor acredita que eles representem algum perigo para a aviação?
Olha, pelo menos que eu saiba, nós não tivemos até hoje nenhum relato de colisão ou de quase colisão de aviões com qualquer objeto voador não identificado. Pelo menos de pilotos que tivessem registrado tal fato em algum relatório de perigo [Um formulário diferente do usado para registrar casos de tráfego hotel].
O senhor acha que pode ter acontecido, mas não ter sido registrado?
Sim, porque o piloto ou controlador é obrigado a fazer um relatório de perigo sobre qualquer coisa que implique num risco aéreo. Precisa assinar e se identificar, e essa situação tem que ser averiguada. Que eu saiba, isso nunca foi feito. Agora, volto a dizer que o fato de alguma coisa nunca ter sido registrada não significa que ela nunca existiu. Só que eu não tenho conhecimento.
Minha posição é de abertura total de todos os arquivos. E quando eu digo total, eu digo fazer isso sem análise do material, até porque hoje já não há mais o que analisar. Mas como será feita a interpretação, como vai ser dirigida a abertura, é outra coisa.
O senhor acha que os militares brasileiros ou o Governo Federal veem os casos de tráfego hotel como um perigo para a segurança nacional?
Essa é uma questão extremamente delicada, porque, sob um ponto de vista puramente pragmático, a segurança nacional tem várias facetas a serem examinadas, mas não vejo qualquer ameaça a ela. Agora, durante o trato desta matéria, caso os acontecimentos ufológicos sejam revelados, poderão surgir junto informações militares que não podem ser divulgadas. Como as instalações e a frequência dos nossos radares, a velocidade que um caça pode decolar para apresentar uma reação a uma possível intrusão etc. Estes são dados militares sigilosos, que nada têm a ver com o evento em si. E na pesquisa de uma observação de UFO, um dado militar sigiloso pode aparecer acidentalmente, exigindo que toda a informação venha a ser bloqueada. Esse também é um padrão no mundo inteiro: quando você precisa bloquear um fato de uma operação, acaba bloqueando tudo, porque impede um agente de seguir um caminho.
O senhor conhece o documento NPA-09, instituído em 20 de agosto de 1990 e intitulado Procedimentos a Serem Adotados Pelos Órgãos ATS/ATC em Caso de Avistamento de Objetos Não Identificados? Este documento contém determinações que devem ser seguidas quando forem vistos UFOs. Ele está efetivo até hoje?
Se não saiu nenhum outro documento que o tenha anulado, então ele ainda está em vigor. Isso é de 1990? Então certamente ainda está em vigor. Mas este é um documento confidencial, para uso interno das Forças Armadas, não para uso externo. Eu não tenho certeza, mas creio que ele continua em vigor.
O senhor tem conhecimento se o Brasil participa ou participou de algum movimento junto a países estrangeiros para tratar dos discos voadores?
Hoje, não. Mas já tratamos do assunto, nos velhos tempos, com os Estados Unidos. Atualmente, não há mais isso.
Intromissão dos Estados Unidos
Na época da Operação Prato surgiu a informação de que parte da decisão de encerrá-la deu-se devido ao aconselhamento que os militares brasileiros receberam dos norte-americanos, que estariam acompanhando seus resultados continuamente. É verdade?
É bem possível que sim. Naquela época, os norte-americanos “metiam o bedelho” em tudo o que ocorria aqui. Até aconselhamento eles queriam nos dar.
Por exemplo, na questão da detecção de UFOs por radar ou de interceptações a eles feitas por caças, os norte-americanos nunca sugeriram que medidas os brasileiros deveriam tomar?
Não, nunca. Mas essa troca de informações [Com outros países] ocorre e é voluntária. No caso dos Estados Unidos, existe uma organização chamada Sistema de Cooperação entre as Forças Aéreas Americanas (Sicofaa). Seus integrantes se reúnem uma vez por ano, em algum dos países participantes, para tratar de todos os tipos de assunto, desde o combate a traficantes até normas de higiene. No âmbito do Sicofaa, que tem um sistema de comunicação próprio, que é só dele, as coisas são muitas vezes tratadas entre comandantes. Por exemplo, o comandante da Aeronáutica Brasileira pega o telefone e consegue falar direto com o comandante da Força Aérea Norte-Americana (USAF), ou com qualquer outro comandante daquele sistema. No Sicofaa existe ampla liberdade para se tratar de todo e qualquer assunto que existir [O Sicofaa foi criado em 1961 com o propósito de promover o apoio mútuo das Forças Aéreas dos países participantes].
Qualquer assunto, inclusive UFOs?
Eu presumo que sim. Hoje, naquele ambiente, creio que isso pode ser tratado sim. E não é só entre comandantes. O órgão tem várias comissões temáticas, como a de segurança de voo, de logística, de tudo quanto é assunto, enfim. É uma coisa fabulosa, mas que não afeta as relações entre os países membros. Por exemplo, nesta briga recente entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela, o sistema não foi afetado [A Colômbia teria atacado um acampamento de guerrilheiros das Farc, supostamente apoiados pelo Equador e pela Venezuela, em território equatoriano]. Os presidentes e políticos destes países se xingaram, se ofenderam, falaram isso e aquilo, mas os militares trataram do assunto no Sicofaa com profissionalismo e equilíbrio. É para isso que ele serve e eu o considero uma coisa importantíssima, uma espécie de seguro contra a guerra. Porque todo mundo acha que os militares gostam de fazer guerra, mas é o contrário. Os militares têm horror à guerra, porque são eles que morrem primeiro. Então, enquanto os presidentes e políticos se acusam, os militares trabalham pela paz, através de um diálogo garantido pelo Sicofaa.
Voltando àquela situação de 19 de maio de 1986, que os ufólogos chamam de “A Noite Oficial dos UFOs no Brasil”, os fatos que a envolveram foram considerados extremos pelos militares? Houve a detecção de uma “enxurrada” de objetos não identificados e todo o Sistema de Defesa Aérea ficou em alerta.
Sim, sem dúvida. Eu me lembro disso. O coronel Ozires Silva estava voando num Xingu já próximo de Poços de Caldas (MG), quando os radares apontavam os objetos sobre várias localidades. Os pilotos foram autorizados a dar uma entrevista coletiva à imprensa pelo próprio ministro da Aeronáutica na época, o brigadeiro Octávio Moreira Lima.
Porém, o ministro cometeu um pecado: ele prometeu um relatório oficial do fato para dali 30 dias, e ele nunca saiu. Sabemos que foi produzido, só que a decisão de torná-lo público foi anulada. Porém, fatos que ele conteria vazaram, como a informação de que eram de fato 21 UFOs de grandes proporções, de cerca de 100 m de diâmetro, que sobrevoaram o país.
Isso. Aquele relatório tinha mesmo que ser produzido, porque os aviões decolaram. Toda situação em que um avião decola fora do plano de ensino ou de treinamento da Força Aérea tem que gerar um relatório. E se aquela coisa aconteceu, você tem que prestar contas. Então, de qualquer forma tinha que haver um relatório. E realmente eu nunca tomei conhecimento dele, mas certamente ele foi produzido e por alguma razão o ministro decidiu não revelá-lo.
Confirmação decisiva
Naquela ocasião, nós obtivemos informações sobre o fato através de um piloto que viu esse relatório e “vazou” alguns detalhes. Houve algum boato ou rumor sobre ele nos quartéis?
Olha Gevaerd, com toda sinceridade, eu volto àquela questão inicial. Aconteceu? Sim. Os pilotos viram? Sim. Os radares detectaram? Sim. Ozires viu? Sim. Pilotos em aviões comerciais viram? Sim. Os horários coincidem? Sim. As trajetórias dos objetos observados coincidem? Sim. Tudo isso foi analisado tecnicamente. E então, aconteceu? Sim, aconteceu. Um dos principais pontos daquilo foi que houve detecção pelos radares de bordo das aeronaves. Sim, houve! E um contato com radar de bordo simultaneamente com o contato com radar de terra é a maior das confirmações. Os radares de bordo das aeronaves trabalham na faixa das micro-ondas, que é muito pequena, e os radares de terra trabalham numa faixa muito maior. Então, não há possibilidade de confusão ou de engano. Mas aí vem a pergunta de novo: e daí?
O que eram aqueles artefatos? Eram objetos voadores não identificados.
Mas o que aquele episódio representou para o meio militar? Alguns ufólogos chegaram a chamá-lo de invasão. Afinal, foram 21 UFOs de 100 m de diâmetro cada, ou seja, do tamanho de um Boeing ou maior. Isso não gerou um medo, um sinal de alerta?
Não, não. Talvez porque a cabeça dos militares funcione de outra forma. Na época, o que os militares disseram? Que aconteceu, sim. Mas qual foi a resposta da Defesa Aérea? A reação foi a de que os aviões decolaram e em menos de dois minutos estavam lá. Os aviões estavam armados? Estavam armados. Tinham mísseis? Tinham sim.
Eles estavam armados por alguma razão especial ou por ser de praxe?
Estavam armados por razões normais. Eles estão sempre armados, mas com apenas dois mísseis, coisa pequena. Os pilotos tinham treinamento adequado e os radares entraram em potência máxima, coisa que geralmente não ocorre. Nenhum radar trabalha em potência máxima, que é para economizar energia e o próprio aparelho. Então nós os mantemos em 70 ou 80%. Mas, naquela noite, após a decolagem dos caças, a potência foi aumentada para permitir melhor alcance. Assim, tudo o que estava previsto no regulamento militar foi cumprido.
Temos que garantir a manutenção de segredos militares, econômicos e estratégicos do país, que, se expostos, poderiam fazer com que o concorrente nos derrube, que a moeda caia ou que os militares percam um planejamento. Não havendo isso, revela tudo.
Por que aquele relatório não foi divulgado?
Provavelmente por alguma questão política daquela ocasião, aquele maldito medo do pânico. Se pensava assim na época: “E se a população souber disso? Todo mundo vai entrar em pânico!”
E mesmo assim, apenas no âmbito dos militares ou do Governo, não houve um questionamento sobre aquela invasão?
Não. Garanto a você que esse sentimento nunca surgiu. Agora, o sentimento de que fizemos a nossa parte, sim. E de que não houve falha em nossa reação, também. Se aqueles objetos fossem parte de aviação inimiga, ela teria levado “um pau” naquela noite. Ah, tinha. E você conseguir retardar um primeiro ataque é muito importante. Mas não era o caso, pois o país não estava sofrendo absolutamente ameaça alguma.
Brigadeiro, de três décadas para cá, várias nações têm admitido que os UFOs são reais e representam visitas de espécies inteligentes à Terra, e que devem ser tratadas seriamente. O primeiro país foi a França, em 1976, que acabou de publicar 100 mil páginas de documentos na internet. Depois, na América do Sul, o Uruguai admitiu os UFOs em 1979 e o Chile, em 1997. Agora, recentemente, o Peru e o Equador fizeram o mesmo. O que o senhor pensa sobre a atitude destes países?
Eu acho que tal atitude é uma ação pragmática, em reconhecimento de fatos. Nenhum dos países que você citou é irresponsável. São todos sérios e de diferentes níveis de progresso. E países sérios, quando admitem alguma coisa, têm que ser levados a sério. Soberanamente, ninguém os obrigou a reconhecer coisa alguma, e a comunidade internacional tem que aceitar isso.
Abertura gradativa
Além deles, Bélgica, Espanha, China e Rússia, inclusive durante o comunismo, e mais recentemente o México, em 2005, ensaiaram uma ab