Mesmo com o pesado e áspero ateísmo imposto por décadas pelo regime soviético, houve na extinta União Soviética, atual Rússia, um importante movimento filosófico-cultural conhecido como cosmismo, que expressava, em termos interessantes e estimulantes a espiritualidade de um povo bem além da religião ou de sua própria ausência forçada — a espiritualidade que pode se manifestar até em ateus declarados. De fato, as esferas do ultrassensível e do paranormal sempre foram aceitas na Rússia, onde, aliás, encontrou terreno fértil, especialmente com a psicotrônica e as suas diversas aplicações. A proibição soviética em relação à fé não chegou a arranhar a tradicional religiosidade do povo e atualmente o Patriarcado de Moscou e a Igreja Ortodoxa gozam de ótima saúde — e até do apoio do belicista presidente Vladimir Putin.
Hoje sabemos que na época da ditadura soviética o Ministério de Defesa estava trabalhando em um projeto secreto de pesquisa psíquica que visava criar uma espécie de super-homem com capacidades paranormais — e que, como efeito colateral do processo, no desenvolvimento dos estudos um grupo de cientistas teria conseguido entrar em contato com uma civilização alienígena. Em 2013, o responsável por aquele projeto secreto compartilhou, pela primeira vez, alguns detalhes com jornalistas. E este autor o encontrou pessoalmente, em Moscou, em 2015. Dois anos antes, em um dia normal de inverno na capital russa, a sensacional notícia fora lançada aos jornalistas russos: Alexey Savin, um alto oficial aposentado do Ministério da Defesa, tenente-general da reserva e membro da Academia das Ciências Naturais, declarava que no final dos anos 80 um grupo de pesquisadores da Unidade de Gestão de Peritos do Estado-Maior conseguiu efetuar um contato com representantes de uma civilização extraterrestre. É interessante notar que nenhum dos jornalistas ficou surpreso com essas afirmações e eles, ao contrário, pareceram confortáveis com a inusitada confissão de Savin.
Coletando informações
Vasily Yeremenko, professor de aplicações legais no campo da Defesa na Academia de Segurança do Estado e major-general da reserva da agência FSB — a estrutura de Inteligência que substituiu a KGB em 1991 —, foi o primeiro a falar com a imprensa. Décadas atrás, Yeremenko havia sido também supervisor da Aeronáutica Militar da União Soviética e de desenvolvimento da tecnologia aeronáutica. Entre seus vários encargos, um era o de coletar informações sobre incidentes relacionados a avistamentos de UFOs por parte da Força Aérea Soviética (FAS). Segundo Yeremenko, na época havia uma grande quantidade desses casos ufológicos sendo registrados. A Unidade de Gerenciamento de Lançamento de Mísseis da extinta União Soviética também fornecia diretriz no caso de detecção de UFOs e o objetivo principal do processo era não criar nenhuma circunstância que pudesse terminar em agressão mútua.
Nos anos de 1983 e 1984, no campo de provas da Academia de Ciências de Vladimirovka, o Ministério da Defesa e a KGB dirigiram um amplo estudo sobre fenômenos paranormais. O centro de formação militar não foi uma escolha casual — especialistas há muito haviam concluído que os UFO surgiam, inevitavelmente, em lugares onde eram testados equipamentos e armamentos militares, como aquele. “Podemos dizer que aprendemos a contatar os UFOs em Vladimirovka. Para fazer isso, aumentamos consideravelmente o número de voos militares, assim como o movimento de nossos equipamentos. Se a intensidade de nossa parte aumentava, os UFOs se manifestavam pontualmente com uma probabilidade de 100%”, explicou Yeremenko.
UFOs onipresentes
Após seis meses de experiências, a respeitável comissão chegou a três principais conclusões: (a) a ciência moderna ainda não era capaz de identificar os fenômenos ufológicos; (b) os objetos poderiam ser meios de reconhecimento dos Estados Unidos ou do Japão; (c) os UFOs também poderiam se tratar de manifestações de uma civilização extraterrestre. No entanto, “o assunto das manifestações ufológicas hoje é onipresente. Mas justamente por causa da perturbadora natureza dos objetos observados, respeitáveis cientistas não estão dispostos a definir sua posição sobre este tema. Frequentemente, pilotos de aviões veem esses objetos, mas são proibidos de falar sobre o assunto, assim como astronautas — de suas experiências de encontros com os UFOs eles falam apenas confidencialmente, mas nunca em público”, disse Yeremenko.
Super-homens
Segundo Vasily Yeremenko afirmou, o assunto requer uma abordagem séria porque se trata de um problema de segurança nacional. Aliás, trata-se de um assunto reservado tanto nos Estados Unidos como na Rússia. No entanto, o tenente-general Savin tomou providências inéditas e ousadas para revelar alguns aspectos do envolvimento do Ministério da Defesa com o tema. Afinal, ele conduziu a Unidade de Gestão de Peritos do Estado-Maior, cuja tarefa era a de examinar fenômenos incomuns. O principal projeto do grupo era desenvolver um programa estatal voltado à descoberta de recursos humanos de caráter intelectual. O objetivo da iniciativa era especificar maneiras para se fazer o cérebro humano funcionar de modo especial e específico, caracterizado pelo desenvolvimento de superpoderes e transformando, assim, uma pessoa comum em uma espécie de super-homem. O conselho científico do programa era conduzido por Natalya Bekhtereva, que atuou como diretora do Instituto para o Estudo do Cérebro Humano, na Academia de Ciências da Rússia, até a sua morte.
Mais de 200 profissionais altamente qualificados de todo o país participaram do projeto. “No processo de pesquisa, chegamos à conclusão de que o ser humano corresponde a uma espécie de conjunto energético, cujo sistema de informações recebe dados de fora. Justamente por este motivo, uma pessoa pode manifestar capacidades paranormais”, afirmou Savin. Para identificar qual era tal fonte externa de informações, foram criados três grupos — um deles formado por cientistas, o segundo de origem militar e o terceiro composto por mulheres.
Talvez porque tenham uma intuição naturalmente mais desenvolvida em comparação aos homens, o grupo das mulheres foi o que fez os progressos mais significativos na pesquisa. Savin explicou que “buscando-se um contato com representantes de outras civilizações, isso foi incrivelmente realizado”. Segundo ele, foi desenvolvido um mé
;todo especial que permitia sintonizar o cérebro humano durante a tentativa de contato. “Tivemos que sintonizar o contorno energético da mente humana baseando-nos em uma onda específica, semelhante a uma onda de rádio”,
explicou Savin.
Troca com aliens
Nenhuma hipnose, nenhum remédio ou quaisquer outros métodos similares foram utilizados no decorrer do experimento, e um sistema especial de testes foi desenvolvido para distinguir as informações derivadas de fases caracterizadas por alucinações e loucura, por parte dos participantes no experimento. Os resultados experimentais foram impressionantes: para seis dos participantes foi concedida a possibilidade de um contato físico com extraterrestres e dois deles até conseguiram visitar uma nave alienígena. Para Savin, representantes de outras espécies cósmicas revelaram-se gradualmente, liberando informações como achavam melhor. Em especial, falaram sobre sua estrutura de governo e sobre seu sistema de educação — mas não foi obtida nenhuma informação de caráter militar. A única coisa que os alienígenas resolveram compartilhar foi um esquema de aparelhos para diagnóstico e tratamento de várias doenças. Enfim, revelaram-se como benévolos seres celestes.
O responsável pelo experimento explicou, depois, que os humanos eram considerados por eles como crianças pequenas: “Nossa civilização é, de fato, muito jovem para que possa interessá-los como sujeito para um diálogo. Mas ela também faz parte do universo e pode prejudicar, por meio de nossas ações tolas, seus interesses e ainda de outras civilizações”. O programa de comunicação com inteligências extraterrestres foi desenvolvido por muitos anos, enquanto a política permitiu. Estávamos nos tempos da Glasnost, a política de transparência que objetivava a liberdade de expressão social, e da Perestroika, que era a tentativa de reconstrução da economia soviética do governo de Mikhail Gorbachev, e chegou-se até a se preparar, com instruções fornecidas pelos interlocutores alienígenas, um encontro com uma nave espacial. O objeto deveria aterrissar na Ásia Central, em 1990, e ser recebido oficialmente pelas autoridades. Só que o tão esperado evento não ocorreu.
Interrupção do projeto
Pouco tempo depois destas tentativas, houve o colapso e a dissolução da União Soviética e, por conseguinte, em 1993, o estudo foi interrompido e a unidade de pesquisas foi necessariamente dissolvida. Segundo Savin, apenas um número limitado de documentos a esse respeito foi conservado, enquanto a maior parte deles, incluindo relatórios fotográficos, ainda está nos arquivos do Ministério da Defesa. Aliás, o único método para o desenvolvimento de capacidades paranormais em humanos foi apelidado de Gagarin, em homenagem ao primeiro astronauta da história, e utilizado pela Academia até que foi formalmente dissolvido pelo ex-ministro da Defesa Alexei Serdyukov, há pouco tempo. Porém, o núcleo do grupo de pesquisas foi informalmente preservado, dada à sua importância. Considere-se que nos Estados Unidos até um órgão de imprensa popular, como a revista Newsweek, ressaltou, em 2015, os resultados positivos dos processos de espionagem psíquica conduzida pela Agência Central de Inteligência (CIA) com seus sensitivos, chamados de remote viewers [Observadores remotos]. São agentes militarizados altamente eficientes e capazes de visualizarem, a distância, dados e informações.
O objetivo da iniciativa era especificar maneiras para se fazer o cérebro humano funcionar de modo especial e específico, caracterizado pelo desenvolvimento de superpoderes e transformando, assim, uma pessoa comum em uma espécie de super-homem
“Quatro anos atrás, em 2009, procuramos repetir o experimento na Rússia, e tivemos sucesso”, disse Alexey Savin em 2013. De acordo com ele, o trabalho continua até hoje, mas como novo formato, mais secreto e respondendo a outros órgãos de governo, e “os cérebros e as pessoas de talento ainda estão presentes na indústria de Defesa”. Respondendo à questão sobre o motivo pelo qual decidiu anunciar tudo isto, Savin disse: “Por que esconder algo das pessoas? Ao contrário, as pessoas precisam se preparar para os novos desafios”.
Para qual finalidade?
Enfim, até hoje os russos, cheios de seus segredos, continuam tentando se superar quanto aos norte-americanos em áreas como a Ufologia e a parapsicologia, fora o resto. A quem garanta, entretanto, que em tempos passados ambos os países falavam a mesma língua quando o assunto era Fenômeno UFO — pois ambos temiam que uma ameaça externa à Terra só teria chance de ser contida com a ação militar conjunta de ambos os países e a somatória de seu arsenal militar. Um dos fatos que sustenta isso é que, ao tentar implantar seu sistema antimísseis, apelidado de Guerra nas Estrelas, o então presidente Ronald Regan, nos anos 80, foi primeiro apresentar e propor a ideia ao chanceler soviético no cargo naquela época, justamente Mikhail Gorbachev. Mas não chegaram a termo e, pelo menos aparentemente, tal ameaça externa ao planeta nunca se efetivou.
De qualquer forma, é interessante e oportuno notar que a extinta União Soviética, atual Rússia, mesmo envolvida em tantos conflitos, especialmente com ex-aliados do antigo Bloco Comunista rebeldes, esteja buscando um caminho seguro para contatar outras inteligências cósmicas. O que vimos neste texto, sobre o contato estabelecido, foi um incidente resultante de uma experiência que visava outro objetivo, mas os russos se animaram com vigor com os resultados e passaram a dedicar grande quantidade de esforços e de recursos para que esta tão desejada ponte entre a raça humana e espécies extraterrestres realmente se realize. Mas será que o fazem para o bem de toda a humanidade, ou para o seu próprio?