Facilmente confundidos com UFOs, os satélites do sistema de telefonia Iridium têm atrapalhado as pesquisas ufológicas e científicas. Há pouco mais de um ano, 72 desses aparelhos de última geração, com cerca de 640 kg e orbitando a Terra a 780 km de altitude, foram lançados para comporem a primeira rede global de telefonia celular e paging via satélite do mundo. Por emitirem um brilho rápido e forte, têm sido confundidos com objetos voadores não identificados e proporcionado um aumento na casuística ufológica noturna.
Proporcionalmente ao seu tamanho, o brilho dos satélites Iridium é mais forte que o da Lua: um aparelho da rede pode ter seu brilho medido na magnitude 9, considerado alto pelos ufólogos. Nesta escala, que representa a quantidade de luz que chega aos nossos olhos, quanto mais negativo o valor, maior é o brilho. Os satélites podem ser avistados com certa facilidade após o crepúsculo ou antes do alvorecer, em qualquer ponto do azimute. Têm elevação variada, podendo chegar ao zênite 90° perpendicular ao solo, acima de nossas cabeças. À oeste, os satélites são vistos no início da noite e, à leste, pouco antes do amanhecer – mas a maioria dos avistamentos são ao norte ou ao sul, no início e fim da noite.
Em raras oportunidades são avistados à luz do dia. Sua característica, além do intenso brilho, é a curta trajetória visível e o rápido tempo de duração em que ficam expostos – que dificilmente ultrapassa 10 segundos –, proporcionando um belo espetáculo visual. Viajando bem mais rápido do que um avião e bem mais lentamente do que uma estrela cadente, os satélites aparecem do nada, aumentam seu brilho até o pico máximo de reflexãoda luz solar, para então iniciarem seu apagamento e sumirem.
Tais aparelhos também brilham muito mais do que qualquer outro tipo de satélite, devido à reflexão da luz do Sol em uma de suas antenas, que são como espelhos de cerca de 1,5 m². Altamente polidas, de formato plano e revestidas de prata, as antenas diferem das dos demais satélites comuns de superfícies irregulares. Acompanhar as movimentações dos satélites também não é difícil. O site do The German Space Operations Centre [http://www2.gsoc.dlr.de/satvis/] traz informações precisas de suas posições. Mas é importante que se tenha as coordenadas com exatidão, pois pequenos erros no ângulo dos satélites em relação ao observador na Terra podem alterar bastante a luminosidade percebida, assim como apenas alguns quilômetros de diferença são suficientes para determinar o sucesso ou o fracasso da observação. Convém usar um GPS, embora o engenheiro Ricardo Varela, consultor de UFO e engenheiro do INPE, ache mais útil um programa de Astronomia.
Equipamento Útil – Também é possível fotografar os satélites com recursos simples. Porém, faz-se necessário o uso, além da previsão correta, de uma bússola, um relógio, um tripé e uma máquina com recurso de tempo de exposição, deixando o diafragma aberto por 1 ou 2 minutos na direção prevista. Uma boa dica é acertar seu relógio com um relógio atômico pela Internet, que pode ser feito baixando-se o programa AtomTime 98, disponível para download, ou sincronizando seu relógio com o relógio atômico de césio Serviço da Hora do Observatório Nacional.
Mesmo com a poluição luminosa de uma cidade como São Paulo – e este mau exemplo das metrópoles vem sendo seguido por prefeitos de cidades do interior, prejudicando até mesmo observatórios que lá já estavam instalados – é possível admirar o espetáculo proporcionado por um satélite Iridium. Por sinal, se não praticássemos este desperdício de energia elétrica, que hoje é uma questão ambiental – e conseqüentemente de dinheiro público – para iluminar o céu com luminárias inadequadas, que fazem um mau aproveitamento da fonte de luz, a observação do céu seria uma tarefa muito mais fácil e proveitosa.