A presença de uma enorme quantidade de bases militares, secretas ou não, nos arredores de Las Vegas sempre excitou a imaginação dos habitantes desta região. A perspectiva, sempre iminente, de um eventual aparecimento de objetos estranhos no céu da cidade, aliada às crescentes especulações sobre uma suposta conexão entre o governo e os extraterrestres, só fez atrair mais curiosos. No final da década de 80, atendendo aos apelos da audiência, a emissora KLAS-TV [Filiada da CBS em Las Vegas] passou a produzir alguns especiais sobre UFOs. Entrevistas e debates sobre o tema eram bem recebidos pelos telespectadores. Assim, John Lear e o próprio Milton Cooper apareceram diversas vezes nessa e em outras emissoras locais. Em maio de 1989, um misterioso personagem surgiu durante um desses programas.
Envolto em sombras, de modo que sua face não pudesse ser distinguida, e sob o pseudônimo de Dennis, o desconhecido confirmou o que Lear vinha insistentemente falando sobre a Área 51. “Para ser exato, haviam nove discos voadores de origem extraterrestre guardados lá”, declarou. Dentro da Ufologia, personagens obscuros, não identificados, que surgem do nada e saem fazendo revelações sensacionalistas sobre extraterrestres nunca foram propriamente novidades. Entretanto, levando-se em conta o clima reinante na região, essa entrevista teve o efeito equivalente ao de um galão de gasolina jogado na fogueira e, de fato – apesar da total impossibilidade de qualquer comprovação –, o relato de Dennis caiu como uma bomba sobre o público. A repercussão foi tamanha que até mesmo estações de TV estrangeiras, do Japão e da Europa, chegaram a retransmitir a entrevista e as supostas confirmações para a presença alienígena entre os militares de Nevada.
Segredos nunca antes divulgados — Animada com a resposta da audiência, a KLAS-TV encomendou a George Knapp, repórter especializado em casos sensacionalistas – que, não por acaso, era o contato de Dennis na emissora –, um programa especial contando a história dos UFOs e mostrando algumas evidências do fenômeno desde os seus primórdios. Knapp montou uma série de reportagens e, por força de um movimento agressivo do misterioso personagem, conseguiu até um pouco mais.
O último episódio da série apresentada em horário nobre, logo após o noticiário noturno, seria fechado com chave de ouro. Um cientista, ex-funcionário da Área 51, iria finalmente falar abertamente para o público, revelando segredos nunca antes divulgados sobre essa instalação militar tão secreta que não constava nem nos mapas. A repercussão superou novamente as expectativas. Ao final da série, a população de Las Vegas, os BBS da época [Precursores da internet] e, por extensão, toda a comunidade ufológica, não tinham outro assunto. O misterioso Dennis não só fez as tais revelações prometidas, como também se apresentou às claras, utilizando seu nome real: Bob Lazar. Naquela noite, 11 de novembro de 1989, mais uma lenda surgia no universo da Ufologia. Imediatamente, uma verdadeira peregrinação foi deflagrada em direção a um lugarejo desconhecido e abandonado bem no meio do deserto de Nevada. O pequeno povoado de Rachel, último vestígio de civilização antes da misteriosa base secreta, seria transformado na Meca da Ufologia Mundial, e a Área 51 entraria definitivamente nos mapas. O relato de Lazar, ainda que em muitos pontos incongruente, virou referência obrigatória.
Guardadas as devidas proporções, suas palavras para a Ufologia teriam um peso equivalente às de Moisés aos judeus, de Buda aos budistas, de Maomé aos muçulmanos, e de Cristo aos cristãos. Seu testemunho afigurava-se quase que como uma prova definitiva de que o Governo dos Estados Unidos encobria a presença extraterrestre na Terra, locupletando-se convenientemente dela. Uma unanimidade se formou em torno de Lazar. Afinal, sua aparência nerd – corpo franzino e óculos de grau enormes – e suas credenciais conferiam-lhe um ar de credibilidade. O deslumbramento inicial obnubilou o senso crítico dos ufólogos, que demoraram bastante tempo para que começassem a se dar conta de que a história não era tão boa assim e que ele não falava com todo esse conhecimento de causa.
De uma maneira geral, vários fatores depunham a favor de Lazar. Em primeiro lugar, a coerência interna de suas declarações. Praticamente em nenhum momento ele incorreu em contradições, perdeu-se em divagações ou demonstrou falta de segurança. Lazar era sempre claro, consistente e objetivo, como, acredita-se, todo cientista deveria ser. Também jamais teve o pudor de responder “não sei”, admitindo seu desconhecimento ou negando qualquer coisa que pudesse comprometer o que já havia dito.
Questão de sobrevivência — Diferentemente dos mentirosos mais óbvios, que costumam se empolgar com as próprias mentiras, a ponto de até acreditar nelas, Lazar em nenhum momento procurou fazer maiores acréscimos à sua história inicial. Em termos gerais, ele sempre repetiu as mesmas coisas sem alterá-las ao longo do tempo, apesar da grande quantidade de entrevistas concedidas. Além disso, a história de Lazar apenas acrescentava detalhes criativos às especulações levantadas por Cooper e Lear. Não havia nada nela que entrasse em conflito com as histórias que já circulavam na época sobre a Área 51. Tratava-se realmente de uma confirmação para tudo o que as pessoas já vinham dizendo desde antes.
Lazar, no entanto, jamais falou como físico. Um cientista de verdade não seria tão impreciso no uso de termos técnicos. Para o grande público, no entanto, ele falava do jeito que todos esperavam que um físico ou um cientista falasse, demonstrando segurança ao citar um monte de conceitos que as pessoas não compreendem direito. É por isso que sua imagem exerceu tanta atração nas pessoas. Para o cidadão médio, Lazar se parecia com um cientista e falava como um cientista. Mas para quem conhecia um pouco mais de ciência, ele nã
;o era nem um pouco convincente, muito pelo contrário, como veremos adiante. Apesar do imenso afluxo de convites para entrevistas e palestras, e do grande interesse demonstrado pelo público em geral, Lazar nunca procurou auferir lucros financeiros com a sua história, ao menos não aparentemente.
A principal justificativa apresentada por ele para evitar exposições públicas, é a de que estava protegendo a si mesmo, uma vez que supostamente vinha sendo ameaçado de morte por agentes governamentais, que o perseguiriam sem tréguas. Caso algo grave viesse a lhe acontecer, a sua história seria automaticamente confirmada – e era isso exatamente o que o governo menos queria. Portanto, falar em público, para ele, seria uma questão de sobrevivência. Após um período inicial de grande exposição, ele foi se tornando cada vez mais recluso, até o dia em que passou a se recusar terminantemente a falar sobre o assunto. Excepcionalmente, Lazar concedeu uma entrevista ao programa de rádio Coast to Coast, sob o comando de George Knapp – durante uma das ausências do titular do programa, Art Bell –, no dia 01 de abril deste ano, mas não acrescentou nada de novo e nem demonstrou nenhuma motivação em manter vivo o interesse pelo assunto.
Outro ponto que também é digno nota, ainda que pouco comentado, é o fato de Lazar sempre dizer o que as pessoas querem ouvir. Ou seja, após um longo período de boatos e especulações em torno de atividades secretas alienígenas, incentivados e espalhados principalmente por Cooper e Lear, Lazar veio a confirmar o que os teóricos da conspiração e os radicais de extrema-direita mais exaltados esperavam, sendo ele mesmo a “prova” de que algo realmente sinistro estava ocorrendo. Como era de se esperar, pouco tempo depois da entrevista inicial concedida, a história de Lazar começou a sofrer variações ao ser repetida de boca em boca. Em um esforço para manter a coerência e evitar críticas desnecessárias, em 1991 Lazar se juntou ao seu amigo e fiel escudeiro Gene Huff e gravou um depoimento em vídeo, que ele chamou de Versão Original. Mais tarde, Huff, já no papel de assessor ou porta-voz de Lazar e principal defensor de sua causa, escreveu um texto reproduzindo a Versão Original e o espalhou pelos diversos BBS da época, visando mais uma vez garantir a consistência do relato.
A “Versão Original” — O problema é que as pessoas, ao falarem de Lazar e da Área 51, geralmente não fazem nenhuma distinção entre versões ou fontes, deixando-se levar pelo fluxo descontrolado de especulações sem se preocupar com a coerência interna ou eventuais verossimilhanças. E isso acaba por desvalorizar totalmente o relato, embaralhando e confundindo qualquer informação útil que possa existir nele. Por conseguinte, as discussões em torno das alegações de Lazar raramente saem do óbvio ululante ou deixam de primar pelos extremos da aceitação ou refutação total.
Com vistas a posicionar o leitor de maneira adequada frente a este caso, mencionaremos a seguir alguns dados que constam da Versão Original divulgada por Lazar e reescrita por Huff. Além de ser considerada a melhor existente, é também a mais amplamente aceita e utilizada pelos pesquisadores. Robert Scott Lazar, conhecido como Bob Lazar, nascera em 26 de janeiro de 1959 e se apresentava como ex-cientista especializado em física nuclear que teria estudado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts [Massachusetts Institute of Technology, MIT] e no Instituto de Tecnologia da Califórnia [California Institute of Technology, Caltech]. Começou a carreira trabalhando no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, o famoso LANL, uma das referências mundiais em pesquisa de partículas atômicas e um dos principais centros de pesquisas para armas nucleares dos Estados Unidos. A instituição foi criada originalmente para abrigar o Projeto Manhattan, iniciativa supersecreta norte-americana que, utilizando alguns dos melhores cientistas da época, redundou na construção da primeira bomba atômica. Mas, depois de algum tempo trabalhando nessa instituição, Lazar teria se mudado para Las Vegas e abandonado a carreira científica, dedicando-se a gerenciar um negócio próprio, um pequeno laboratório para revelação de fotografias. Lazar passou vários anos cuidando da sua microempresa até que se cansou do seu trabalho e decidira retornar à comunidade científica.
Ele teria enviado seu currículo para diversas pessoas e instituições. Porém, foi graças a um rápido contato estabelecido durante uma palestra, que Lazar teria finalmente sido reconhecido e indicado para participar de um projeto secreto nos arredores de Las Vegas, e por ninguém menos que Edward Teller. Húngaro naturalizado norte-americano, falecido em 2003, Teller foi um dos físicos nucleares mais importantes, tendo participado do Projeto Manhattan. Considerado o pai da bomba de hidrogênio, foi também um grande incentivador e colaborador da política militar de segurança dos Estados Unidos. Além de sua grande capacidade científica, era muito conhecido pela dificuldade em se relacionar com as pessoas.
Pesquisa militar secreta — Mas a qualificação de Lazar foi considerada “alta demais” para a ocupação ofertada. Teriam lhe dito para que aguardasse um pouco mais, até que, enfim, fosse chamado para participar de uma pesquisa militar secreta. E ao se apresentar para o serviço – a contratação teria supostamente sido intermediada pela empresa EG&G – conhecera Mariani, um sujeito misterioso e de modos militares que o acompanhou durante todas as visitas à base. Segundo Lazar, foi esse personagem que inspirou o pseudônimo utilizado nas suas primeiras aparições públicas. Lazar teria tido suas credenciais de segurança renovadas e ampliadas, apesar de ele já as possuir devido ao seu trabalho no LANL. Ele teria então assinado um termo no qual abria mão dos seus direitos constitucionais em favor das normas de segurança, e recebera ameaças explícitas para não revelar qualquer coisa que visse no ambiente de trabalho e foi para casa. As instruções recebidas por ele diziam, entre outras coisas, que o contrato de trabalho era “por convo
cação”, e que o funcionário deveria se manter disponível para o momento em que fosse chamado, coisa que poderia ocorrer em qualquer dia da semana.
Transcorrido mais algum tempo, Lazar teria feito então suas primeiras visitas à Área 51, chegando lá de avião e embarcando em um ônibus com janelas totalmente escuras que o levava até o seu posto de trabalho, localizado em uma região um pouco afastada do Lago Groom, conhecida como S-4 [Site-4]. Segundo ele, o local seria uma base de radar. Durante todo o trajeto esteve sempre acompanhado pelo misterioso Mariani, que falava muito pouco e somente se mantinha por perto, como se estivesse a vigiá-lo. Uma vez lá, segundo conta, Lazar teria tido acesso a diversos materiais informativos que falavam da presença seres alienígenas na Terra desde tempos remotos, e viu várias fotos de discos voadores. Aos poucos, teria descoberto que, na verdade, sua função seria auxiliar nos trabalhos de engenharia reversa do sistema de propulsão de um disco voador.
Lazar dizia que, na primeira vez em que viu a aeronave, pensou ser algum tipo de avião secreto, mas mudou totalmente de idéia quando teve autorização para entrar nela. Ao observar o ambiente interno e os assentos, constatou, surpreso, que tudo era pequeno demais para um ser humano de estatura normal. Analisando o artefato em si, com a sua tecnologia superavançada, e associando-o com o que leu nos documentos secretos aos quais teve acesso, deduziu que a nave era pilotada por grays [Cinzas], extraterrestres de cerca de um metro de altura. Trabalhar naquele local, no entanto, não era nem um pouco agradável. Lazar conta que a estrutura de segurança na S-4 era opressiva, com os funcionários sendo vigiados o tempo todo, até mesmo quando iam ao banheiro. Guardas armados e a postos por toda parte, ameaçando atirar a qualquer movimento suspeito. Todas as portas eram trancadas após a entrada da pessoa, e o acesso só acontecia mediante identificação positiva. Bastava um crachá mal colocado para que os guardas, sob força das armas, retivessem imediatamente o funcionário, deixando-o à espera de maiores averiguações por parte dos superiores.
Monitoramento constantemente — Muita atenção também era dada à vida pessoal dos funcionários, que tinham as linhas telefônicas grampeadas e eram monitorados constantemente por agentes disfarçados, visando garantir que manteriam o segredo. Segundo a Versão Original apresentada por Huff – e confirmada por Lazar –, a estrutura opressiva de trabalho, o excesso de segredo e a vigilância constante começaram a incomodá-lo. Nesse momento, um fato inesperado piorou as coisas. Os agentes teriam descoberto que a esposa de Lazar, Tracy, estava traindo-o com seu instrutor de vôo. Ela fazia um curso para obter brevê de piloto civil. Huff imagina que este foi o motivo pelo qual os militares, temendo que uma súbita instabilidade emocional de Lazar pudesse afetá-lo de alguma maneira, reduziram drasticamente as chamadas para ele comparecer ao trabalho. A situação acabou por aborrecer Lazar de vez. Ele teria chegado perto dos discos voadores, estudado um sistema de propulsão incrível e, no momento em que ele começava a pegar gosto pela coisa, tudo lhe fora tirado subitamente.
Lazar vivia em constante conflito consigo mesmo por acreditar que tudo aquilo deveria ser revelado para o mundo
— Gene Huff, amigo de Bob Lazar
Nas palavras de Huff, “Lazar vivia em constante conflito consigo mesmo por acreditar que tudo aquilo deveria ser revelado para o mundo”. Instado pela insatisfação, resolvera então levar os amigos Gene Huff e John Lear para assistir – a distância – os testes de vôo de um dos discos. Lazar sabia o dia e o horário certo: todas as quartas-feiras à noite. Mas, na terceira visita, ele e seus companheiros são descobertos pelas forças de segurança que guardam o perímetro externo da base. Lazar foi identificado e os militares imediatamente informados de que o seu voto de segredo tinha sido violado. O trabalho de Lazar com os discos voadores na Área 51 estava definitivamente terminado. Severamente ameaçado por Mariani, constantemente perseguido pelos agentes de segurança e abandonado pela esposa, Lazar começa a temer pela sua própria vida. Teria sido nesse momento que, depois de contar tudo o que sabia a Huff, ambos decidiram que a melhor defesa era o ataque, e resolvem ir a público revelar toda a história. É quando o misterioso Dennis surge na programação da KLAS-TV. O que se segue é uma coletânea com os melhores momentos da entrevista concedida por Bob Lazar a George Knapp, nos estúdios da KLAS-TV, durante a histórica noite de 11 de novembro de 1989.
Knapp — Sua história, sob qualquer ponto de vista, fantástica. Você diz que a está contando para proteger a si mesmo. Diz que foi contratado para trabalhar numa área chamada S-4, que fica poucas milhas ao sul do Lago Groom, onde está a Área 51. É verdade que em S-4 estão guardados discos voadores, reatores de antimatéria e outros exemplos físicos de uma tecnologia que está aparentemente bem além das capacidades humanas?
Lazar — Correto. Essas coisas que estão em S-4 não são da Terra. Eu sei que é difícil de acreditar, mas estão lá e eu vi. Eu conheço a situação atual das pesquisas científicas e, por isso, sei que não pode ser feito.
Knapp — Você diz que nunca lhe explicaram exatamente em que iria trabalhar, mas imaginou que se tratasse de algo relacionado com sistemas avançados de propulsão. No seu primeiro dia de trabalho, teve acesso a diversos documentos e imediatamente percebeu o quão avançada essa tecnologia de propulsão era?
Lazar — A fonte de energia era um reator de antimatéria. E esse reator alimentava os amplificadores gravitacionais. Na realidade, há duas partes separadas no mecanismo de propulsão. É uma tecnologia totalmente estranha e não há nenhum tipo de conexão física entre os dois sistemas. Eles utilizam a gravidade como se fosse uma onda, e a direcionam com aparelhos que se parecem com fornos de microondas.
Knapp — Quanto tempo levou até que você pudesse ver um dos discos, se havia pistas da presença deles por toda parte?
Lazar — Correto. Eles tinham um pôster colado na parede, como se fosse um cartaz de propaganda ou uma litografia comum, dessas que podem ser compradas numa loja qualquer. O pôster mostrava um disco voador que eu passei a chamar de “modelo básico”, flutuando a cerca de um metro de altura sobre um lago seco. O título dizia: “Eles estão aqui”. Esses pôsteres estavam espalhados por todo o lugar.
Knapp — E como você chegou finalmente a ver o tal disco voador? Quando foi isso?
Lazar — Quando eu entrei no hangar, a primeira vez que vi foi o “modelo básico” pous
ado. Disseram-me que eu poderia ter passado por fora mas, propositalmente, quiseram que eu passasse por ali e o visse. Instruíram-me a não falar nada e olhar somente para frente enquanto passava ao lado dele, andando em direção ao escritório. E foi o que eu fiz. Mas quando cheguei perto do disco, permiti que minha mão esbarrasse na fuselagem, só para sentir como era o metal. Mais tarde, pude vê-lo levantando vôo e manobrando.
Knapp — Você viu mais de um disco?
Lazar — Sim. Os hangares estavam todos conectados entre si. Havia largas portas móveis entre cada um deles. No total, eu vi nove, um diferente do outro. Era como um pacote sortido, com várias opções.
Knapp — A segurança na Área S-4 era opressiva. Os seus superiores recorriam ao medo e à intimidação como ferramentas de lavagem cerebral?
Lazar — Eles fizeram quase tudo que puderam, exceto me bater. E apontaram uma arma para minha cabeça.
Knapp — Você está convencido de que a tecnologia que viu ser testada na base secreta no Deserto de Nevada era realmente alienígena? Por que o chamou de “modelo esportivo”?
Lazar — Costumo dar nomes para tudo. Havia o “chapéu alto”, o “molde de gelatina” e também o “modelo esportivo”, que voava suavemente e não tinha nenhum arranhão. Quero dizer, ele parecia novo em folha. Como se eu pudesse saber o aspecto de um disco voador novo… Entre os outros modelos havia um que foi atingido por algum tipo de projétil. Ele tinha um grande buraco no fundo e outro no topo, com o metal retorcido para dentro, como se algum tipo de bala com calibre de quatro ou 5 polegadas o tivesse atravessado.
Knapp — Mesmo depois de ter visto o “modelo esportivo” em funcionamento você já suspeitava que a nave não era daqui. A prova definitiva apareceu quando pôde olhar dentro dos discos pela primeira vez?
Lazar — Eu olhei dentro do disco e descobri que as cadeiras eram muito pequenas. Acho que foi a primeira confirmação que eu tive. Foi uma coisa chocante porque, até então, eu classificava aquilo somente como um projeto secreto. Era só um pequeno avanço tecnológico conseguido por um pequeno grupo de cientistas que, bem, queriam manter segredo. Eu pensava: sim, nós podemos construir um disco voador daqueles. Sim, não tem problema, nós podemos adaptá-lo para fazer com que voe. Mas por que os assentos são tão pequenos? Assim as coisas começaram a se encaixar bem rapidamente na minha cabeça.
Knapp — Você alega que alguns dos discos foram totalmente desmontados para que se tentasse descobrir como funcionavam, mas outros estavam completamente operacionais…
Lazar — O fundo desse disco emitia um brilho azulado e ele começava a zumbir como fazem as centelhas de alta voltagem sobre uma esfera. Imagino que o motivo pelo qual eles são arredondados, sem nenhuma ponta, é por causa da alta voltagem. Você já viu isoladores para sistemas de alta voltagem? Coisas que são arredondadas assim porque senão acontece uma descarga. De qualquer maneira, ele começou a zumbir como se estive carregado com alta voltagem e se ergueu sobre o solo muito silenciosamente, exceto pelo pequeno zumbido de fundo. O barulho parou após ele ter subido uns seis ou 10 m de altura.
Knapp — Você diz que o teste com o “modelo esportivo” foi rápido, e que a nave fez somente uns poucos movimentos antes de pousar de novo. Mas não viu quem a estava pilotando?
Lazar — Bem, não havia nenhum sistema de ação e reação nele. Não havia, como nos jatos, uma turbina ou um exaustor de gases. Não tinha hélices, não fazia barulho, nada! Para todos os fins, aquilo era uma mágica!
Knapp — Você diz que havia um cuidado excessivo com as naves e que isso, junto com o intenso segredo envolvendo o programa, estava atrapalhando o seu avanço. Esse foi um dos principais motivos pelo qual você ficou desencantado com as pesquisas?
Lazar — Sim. É injusto e ultrajante não colocar essas informações nas mãos da comunidade científica em geral. Existem pessoas muito mais capazes de lidar com esse tipo de coisas e que, a essa altura dos acontecimentos, já teriam chegado a um ponto muito mais avançado nos seus estudos do que esse pequeno e seleto grupo de pessoas trabalhando no meio do deserto. E eles não têm nem as instalações realmente adequadas para poder analisar as naves por completo.
Muitas inconsistências — As palavras de Lazar são, sem dúvida, sedutoras. A história é consistente, coerente, bem contada, e não se perde em divagações e detalhes comprometedores. Dessa mesma maneira ela foi repetida inúmeras vezes na época, reverberando de forma frenética na mente de pessoas inclinadas a aceitarem quaisquer tipos de alegações que soassem como “provas” para as teorias conspiratórias. Não é difícil, portanto, entender a razão do enorme e imediato sucesso alcançado por Lazar. Por outro lado, algumas poucas pessoas não estavam dispostas a engolir sua história assim tão facilmente, pelo menos não sem antes comprovar a veracidade de cada alegação. Aí é que começam os problemas para Lazar. A primeira coisa, que não deveria ser tão difícil assim de se comprovar, é a formação que Lazar garantiu ter. Cientistas não aparecem do nada. Uma pessoa com pós-graduação e um alto grau de especialização precisa passar por um processo de formação bastante longo que fica registrado e arquivado nas diversas instituições pelas quais ele passou. Haveria também o trabalho dos orientadores, as monografias de final de curso, os artigos e as teses publicadas etc. Pois bem, por mais que se procurasse, nenhum registro acadêmico de Lazar foi encontrado.
A justificat
iva apresentada por Lazar e por Knapp para esse fato surpreendente é que o governo, em um esforço para desacreditá-lo, fez com que todos os registros a seu respeito fossem destruídos, incluindo até mesmo a sua certidão de nascimento. Os agentes governamentais, já que não podiam matá-lo ou prendê-lo, estavam tentando transformá-lo em um homem sem passado, em um pária, em uma “não pessoa”, em alguém que estava vivo mas que oficialmente não existia. Os pesquisadores, entretanto, não se deixaram convencer por essa explicação fantástica e continuaram a perseguir os seus objetivos. Ignoraram completamente a suposta investigação de Knapp – obviamente ele estava por demais envolvido no caso para poder fazer uma avaliação imparcial – e partiram em busca de algum registro que atestasse algo da vida de Lazar. Mais uma vez, as descobertas foram surpreendentes. Só que revelavam uma história bem diferente daquela que Lazar havia contado.
Sem sustentação — Existiam sim registros sobre a vida de Lazar, vários até. Mas todos informavam que ele, além de não ter passado do curso técnico, levava uma vida errante e bastante atribulada, mudando-se de um lugar para outro devido a dificuldades financeiras. Para piorar a situação, quando a descrição que Lazar apresentou para o suposto funcionamento do sistema de propulsão do disco voador foi exibida para físicos de verdade, ela provocou um intenso ataque de risos. Quase nada do que Lazar falava, em meio a termos técnicos mal empregados, encontra verossimilhança naquilo que se sabe hoje em dia sobre gravidade, decaimento radioativo e elementos químicos superpesados.
Por si mesma, pelo menos no aspecto científico, a história não possui nenhuma sustentação, e seria motivo de chacota se fosse apresentada a um pesquisador do LANL, instituição na qual Lazar diz ter trabalhado como cientista. E por falar no Laboratório Nacional de Los Alamos, várias tentativas foram feitas para se localizar alguém por lá que conhecesse ou tivesse ouvido falar de Lazar. Dessa vez, de fato, foram encontradas algumas evidências da passagem de Lazar pelo LANL, só que não como um cientista envolvido em trabalho de pesquisa, e sim como técnico de manutenção, prestando serviço por meio de uma empresa terceirizada. Por fim, no que se refere à base S-4, o ufólogo e radialista Glenn Campbell, entre outros pesquisadores que passaram quase 10 anos investigando os arredores da Área 51, não encontraram nenhum indício de que aquele local fosse qualquer coisa além de uma simples estação de radar. Jacques Vallée, já citado, comenta em seu livro Revelations: Alien Contact and Human Deception [Revelações: Contatos com Aliens e Enganação Humana, Ballantine Books, 1991], que se realmente existissem instalações subterrâneas ou ocultas por lá, elas seriam facilmente detectáveis pelos satélites meteorológicos que operam na faixa do infravermelho, devido ao calor que elas emitem.
Entretanto, mais uma vez, e apesar das inúmeras fotos de satélites que existem da Área 51 e redondezas, não se encontrou nenhuma evidência para instalações subterrâneas ou hangares disfarçados na Área S-4.