Em 20 de janeiro de 1996, por volta das 15h30, as irmãs Liliane e Valquíria Silva, ainda adolescentes, tiveram uma experiência assustadora juntamente com a amiga Kátia Xavier, de 21 anos. O fato marcaria suas vidas para sempre. Tudo aconteceu ao atravessarem um terreno baldio do Jardim Andere, na cidade de Varginha, sul de Minas Gerais, com a finalidade de cortarem caminho para a residência das duas primeiras, onde Kátia fazia serviços domésticos. O fato, como é do conhecimento da Ufologia Brasileira e Mundial, é parte integrante e importante do chamado Caso Varginha. Segundo descrições fornecidas por estas testemunhas, próximo do muro de uma oficina mecânica estava uma criatura de aparência assustadora. Apesar de ter forma antropomórfica, apresentava detalhes que estavam longe de ser semelhantes aos padrões de nossa espécie.
Aquela “coisa” tinha cerca de um metro e meio de altura, cabeça desproporcional em relação ao corpo, mais volumosa. Sua pele foi descrita como sendo de cor marrom e o ser parecia estar untado com alguma coisa oleosa. Seus pés também eram desproporcionais, agigantados, com formato diferente dos humanos. As moças puderam reparar que a criatura, que estava agachada e mantinha os braços entre os joelhos, apresentava veias sobressaltadas principalmente nos ombros. Mas a parte que mais chamou a atenção das observadoras iniciais desse caso, sem dúvida, foi a cabeça da criatura, em cuja parte superior podiam ser observadas três ondulações, e seus grandes olhos vermelhos saltados para fora da cavidade ocular. Eram desprovidos de pálpebras, dispostos de maneira vertical e aparentemente também não tinham córnea ou íris. Estes detalhes foram percebidos não só devido ao seu tamanho, mas também pelo fato de as testemunhas terem chegado realmente muito próximas da estranha criatura.
O misterioso ser, que não apresentava vestimenta ou traje, segundo as moças, aparentava estar em dificuldades ou mesmo sofrendo por alguma circunstância adversa, não identificada por elas. A experiência de contato durou pouco tempo, e logo após alguns segundos a entidade dirigiu seu olhar diretamente para as testemunhas, voltando sua cabeça para elas — que, impressionadas e abaladas com aquela visão, fugiram correndo do local. Foram em disparada em direção à sua casa, aonde chegaram gritando e chorando muito, segundo os vizinhos, demonstrando evidente desequilíbrio emocional. A mãe de Liliane e Valquíria, depois de ouvir a história, voltou poucos minutos depois ao local do contato, ainda encontrando o sinal de uma misteriosa pegada e forte cheiro de amoníaco no ar.
O início das investigações
Como foi amplamente divulgado pela imprensa — assim como pela Revista UFO [Veja edições UFO 043 e 100, e UFO Especial 034, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br] —, após o incidente passaram a se espalhar pela cidade uma série de boatos que faziam menção a uma criatura que havia sido capturada por forças militares e transportada, ou retirada, de Varginha. Os rumores envolviam diretamente a captura e o transporte de um estranho ser por elementos do Corpo de Bombeiros do município, membros da Polícia Militar de Minas Gerais e militares do Exército Brasileiro — especificamente integrantes da Escola de Sargento das Armas (EsSA), localizada na vizinha cidade de Três Corações. Os boatos faziam menção até que a entidade capturada, ou recolhida, por estas forças havia passado por um dos hospitais varginhenses, antes de ser retirada da cidade — e ganharam força devido a uma inexplicável e singular movimentação de carros e viaturas militares ao longo de vários dias pela região, observada por inúmeras testemunhas e totalmente sem paralelo.
Apenas poucas horas depois do avistamento das meninas no Jardim Andere, o então já batizado Caso Varginha passou a ser investigado pelo advogado Ubirajara Rodrigues, na época co-editor da Revista UFO e um dos mais conceituados ufólogos do país. Em poucos dias também se juntou às investigações o pesquisador Vitório Pacaccini, membro do Centro de Investigação Civil de Objetos Aéreos Não Identificados (Cicoani), vindo de Belo Horizonte. Pacaccini, antes mesmo de procurar o ufólogo varginhense, já havia conseguido gravar uma fita de áudio contendo o primeiro depoimento militar confirmando que algo extraordinário e raro havia realmente acontecido na cidade. O depoimento dessa primeira fonte militar garantia que uma criatura de aparência exatamente igual à descrita por Liliane, Valquíria e Kátia, na tarde de 20 de janeiro, um sábado, havia sido localizada e capturada horas antes em um barranco abaixo da Rua Suécia, exatamente às 10h30 daquele mesmo dia, por um contingente do Corpo de Bombeiros da cidade. O local fica a poucas centenas de metros de onde ocorreu, mais tarde, o encontro das meninas.
Ainda segundo o depoimento do militar — do qual possuo cópia fornecida pelos dois mineiros, que, na época, lideraram as investigações —, o outro ser, após ter sido dominado por quatro bombeiros com uma rede de corda e couro, como a regularmente empregada na captura de animais selvagens e cachorros loucos, foi imediatamente colocado em uma caixa de madeira e repassado para o interior de um caminhão da citada EsSA, que o retirou da cidade. Mesmo antes de ter contato com esta gravação, depois de ter iniciado suas investigações e de ficar “profundamente impressionado com a sinceridade das primeiras testemunhas do caso”, segundo suas próprias declarações, o advogado mineiro já havia constatado e transmitido em vários pronunciamentos para a imprensa que havia sinais claros de que alguma coisa estava a ser realmente acobertada.
Fatos narrados por fonte do Exército
Naquela época, antes de minha primeira viagem para Varginha — ocorrida no início de maio de 1996, afim de me juntar aos investigadores mineiros —, eu estava longe de levar a sério a idéia de uma interpretação ufológica para o avistamento da estranha criatura por parte das meninas. Apesar da amizade com Rodrigues, na época, e de toda a sua insistência quanto à seriedade da história e sua provável conotação ufológica, eu sinceramente não estava convencido. Mas, quando comecei a participar efetivamente das pesquisas do Caso Varginha, a seu convite, minha visão dos fatos mudou por completo. Minha descrença inicial mudou progressivamente, em especial depois do contato com várias testemunhas civis e de meu primeiro encontro com uma fonte militar do Exército, diretamente envolvida com a história — isso ocorreu em min
ha primeira viagem à Varginha, oportunidade em que gravei em vídeo seu depoimento, durante uma entrevista realizada pelo ufólogo Vitório Pacaccini.
O referido militar, contrário às operações de acobertamento dos fatos pelas autoridades, e ignorando ordens superiores e a classificação altamente sigilosa das missões de que participou, resolveu confiar nos principais investigadores do Caso Varginha e revelar, entre outros detalhes, aqueles que envolveram a retirada de uma das criaturas recolhidas pelas forças militares, em 22 de janeiro, através de um comboio de três caminhões do Exército. O referido ser, que havia sido capturado dois dias antes, faleceu nas dependências do Hospital Humanitas, em Varginha, para onde foi levado e onde foi mantido por certo tempo. No mesmo dia em que gravei este depoimento, como já revelei em artigos anteriores e em alguns de meus livros [Entre eles UFOs: Arquivo Confidencial, código LIV-019 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br], houve uma memorável e histórica reunião em Varginha, que contou com a participação de ufólogos de várias partes do país e a cobertura massiva da imprensa nacional. Foi nessa ocasião, sob a liderança de Rodrigues e Pacaccini — tendo este último feito uma declaração pública dos fatos —, que pela primeira vez foram revelados os nomes dos integrantes do Exército Brasileiro diretamente envolvidos com
as operações relacionadas ao caso.
Outro aspecto marcante da reunião, ocorrida numa propriedade de Rodrigues, foi a presença das irmãs Liliane e Valquíria e a denúncia feita por dona Luiza Helena, mãe das meninas, sobre a tentativa de suborno que a família havia recebido para mudar o depoimento inicial prestado por suas filhas. Foi naquela época, e naquele ambiente explosivo, que estava para ser rompido de maneira definitiva o acobertamento imposto ao caso, que teve início dentro dos comandos militares como conseqüência e resposta, um processo ainda mais forte e decisivo para tentar manter longe da população a verdade sobre a queda de uma nave e o recolhimento de seus ocupantes. Pela primeira vez, o oficialato do Exército Brasileiro, principalmente, que havia exercido o controle das operações, percebeu que estava realmente havendo um processo de vazamento de informações e que o sigilo que havia sido ordenado aos contingentes envolvidos com a história não estava sendo cumprido — pelo menos por alguns de seus homens. Os ufólogos já tinham os fatos em mãos, com datas, horários e até os nomes de militares que haviam participado de várias das operações relativas ao caso.
A resposta do Exército veio rápida
Em 08 de maio de 1996, apenas quatro dias depois da histórica reunião e da denúncia dos fatos à imprensa, já dando como certo o caráter ufológico do caso, e com a menção da participação direta de militares da Escola de Sargento das Armas (EsSA) nas operações, o comandante da instituição, o então general de brigada Sérgio Pedro Coelho Lima, recebeu os jornalistas em seu quartel. Lendo uma nota oficial assinada por ele mesmo, desmentiu qualquer participação de sua instituição no episódio. Segundo ele, “nenhum elemento ou material da Escola de Sargento das Armas teve qualquer ligação com os aludidos acontecimentos, sendo inverídica toda e qualquer afirmação contrária”. Interpelado por um jornalista sobre onde estavam os militares mencionados pelos ufólogos nos dias e horários citados, limitou-se a dizer que estavam “trabalhando em prol do Exército, em prol da Nação”.
Dois dias depois, em 10 de maio, o mesmo general Coelho Lima, como parte de suas atribuições, dava início a uma sindicância oficial para apurar os fatos. No processo teriam sido ouvidos os militares que foram citados por Pacaccini na reunião de 04 de maio, incluindo o comandante das operações, tenente-coronel Olímpio Vanderlei Santos, segundo nossas fontes. Mas, apesar de Pacaccini ter dado um total de sete nomes à imprensa, mais de 10 militares e o funcionário civil da EsSA Orlando Siqueira Brasil foram questionados na sindicância. Em 21 de maio seguinte, o procedimento foi encerrado e arquivado, aparentemente sem que o comando da instituição tenha conseguido detectar quem eram nossas fontes militares. No entanto, como já havia informado em artigo anterior, quando denunciamos pela primeira vez a realização da sindicância — justamente quando começaram a surgir os primeiros sinais visando diminuir a importância do caso —, o procedimento tinha outros motivos além de tentar descobrir quem eram nossos informantes [Veja edição UFO 100, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Segundo um deles, havia a preocupação do comando da EsSA de que algum militar deixasse o Exército e revelasse os fatos relacionados ao Caso Varginha. Se isto acontecesse, pelo menos na visão limitada dos que conceberam e desenvolveram a sindicância, aquela Força Singular já teria preparada outra versão para a imprensa, uma nova tentativa de defender a “verdade oficial” do órgão — um depoimento desmentindo tudo, previamente prestado.
Minimizando falhas do Exército
Foi justamente na época da publicação desse artigo, no qual também denunciei ineditamente a existência de um Inquérito Policial Militar (IPM) sobre os fatos ocorridos em Varginha, que Ubirajara Franco Rodrigues e este autor começaram seu distanciamento definitivo, pois o advogado mineiro era contrário não apenas à divulgação da sindicância como do próprio IPM. Conforme já é de conhecimento da Comunidade Ufológica Brasileira, ele e Vitório Pacaccini foram intimados e ouvidos durante o procedimento da EsSA. E como ele próprio recentemente admitiu em um manifesto que fez circular na internet, respondendo a certas indagações, após seu depoimento aos militares, Rodrigues recebeu “um educado, simpático e justo pedido para que procurasse não provocar na imprensa um sensacionalismo em razão do IPM”.
Ora, de maneira indiscutível, a sindicância teve entre seus principais objetivos identificar os possíveis responsáveis pelas informações que estavam vazando para o grupo de ufó
;logos envolvidos nas investigações e manter a qualquer custo o sigilo sobre o Caso Varginha, e o Inquérito Policial Militar, do qual tomaram parte Rodrigues e Pacaccini, como testemunhas, seguiu exatamente as mesmas diretrizes, mas com um grau de aprofundamento ainda maior. Através do pedido de discrição feito ao nobre advogado mineiro, que foi repassado a este autor pelo próprio, os principais investigadores, começando por Rodrigues, manteriam sigilo também sobre este procedimento. Falando claramente, nós, os pesquisadores à frente do caso, ajudamos o Exército Brasileiro a manter as coisas sobre controle e a minimizar suas falhas de segurança. Foi esta situação absurda que passei a viver — e, porque não dizer, com a qual compactuei — como investigador convidado por Rodrigues, sempre em nome da ética que norteava minha relação com o antigo amigo.
No entanto, tal bizarra situação me fazia sentir cada vez pior. Até que, como expus em entrevista que prestei ao editor A. J. Gevaerd, Voltando à Ordem na Ufologia Brasileira [Veja edição UFO 156, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], rompi este processo e tornei público o pedido recebido por Ubirajara Franco Rodrigues dos militares da Escola de Sargentos da Armas, após seu depoimento, e o sigilo mantido em relação ao assunto pelos principais investigadores. Afinal, eu não tinha aceitado participar das investigações para depois ajudar justamente aqueles que só desejavam desmoralizar o caso e encobrir a verdade.
Mídia despreparada e desinteressada
Assim se entende que não foi à toa que Rodrigues recebeu aquela inusitada solicitação, que ele recentemente chamou de “educada, simpática e justa” em seu manifesto pela internet. A deflagração desse inquérito foi a última atitude questionável, digamos assim, do general de brigada Sérgio Pedro Coelho Lima, antes de deixar o comando da EsSA. Hoje se sabe que o referido IPM foi iniciado como uma resposta ao livro Incidente em Varginha, lançado por Pacaccini em co-autoria com Maxs Portes [Editora Cuatiara, 1996], antes mesmo do caso completar um ano. A obra, além de apresentar todos os detalhes do episódio até sua finalização, conclamava outros militares a procurarem os ufólogos para revelar a verdade — o que, claro, foi considerado um atentado à hierarquia e à base de comando do Exército.
Pois bem, este Inquérito Policial Militar finalmente se tornou disponível para acesso público como resultado da campanha UFOs: Liberdade de Informações Já, tendo sido entregue à entidade que lançou o movimento, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), através da Revista UFO. A documentação inclui a sindicância inicial e foi enviada para arquivamento no Superior Tribunal Militar (STM). O primeiro integrante da imprensa a ter acesso a ela foi o jornalista Rodrigo Cardoso, da revista Istoédepois de ter recebido orientações do ufólogo Fernando de Aragão Ramalho, co-editor da Revista UFO e coordenador da CBU. Mas tanto a matéria posteriormente veiculada na publicação de Cardoso como outras referências à sindicância e ao IPM, que ocuparam a imprensa em seguida, revelaram um total despreparo de expressiva parcela dos profissionais da área para perceber a realidade dos fatos. As matérias sobre a liberação desta documentação passaram a idéia equivocada de que a sindicância e o IPM foram procedimentos de uma investigação do Exército Brasileiro tendo como finalidade a apuração da realidade do Caso Varginha — ou seja, descobrir se uma nave alienígena realmente se acidentou em Minas Gerais e seus tripulantes foram mesmo recolhidos pelas forças militares. Ora, nada é mais equivocado do que isto!
A referida documentação tinha, ao contrário do que se pensou, o objetivo de apurar como, quando e quem eram os militares que vazaram informações aos ufólogos. Sendo assim, ao analisar o calhamaço de quase 400 páginas, contido em dois tomos entregues à Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), nada poderia surpreender quem conhece os fatos. Falando claramente, meu principal interesse e curiosidade quanto a esses papéis era verificar o que de fato o doutor Ubirajara Franco Rodrigues havia declarado em seu depoimento aos militares, e o quanto ele havia sido positivo na defesa daquilo que considerávamos a verdade sobre os acontecimentos de Varginha, que ele próprio antes defendera tão vigorosamente. Especialmente porque, após seu depoimento e o “educado, simpático e justo” pedido feito pelos militares, sua postura pública frente aos acontecimentos foi lenta e progressivamente sendo modificada, ao mesmo tempo em que insistia em manter sigilo sobre o IPM.
É óbvio também que, se a sindicância e principalmente o IPM desenvolvidos dentro das instalações da Escola de Sargento das Armas (EsSA) realmente representassem uma investigação séria para descobrir a verdade sobre tudo o que havia sido divulgado, inclusive perante a imprensa, com sua finalização o próprio Exército a teria convocado e revelado os resultados. Isso, claro, se as investigações de fato comprovassem a falta de seriedade e de credibilidade dos fatos divulgados pelos ufólogos. Mas o Inquérito Policial Militar foi concluído ainda no ano de 1997 e nada foi falado a seu respeito. Por quê? Não seria ele justamente uma versão que atendia aos interesses do Exército, a de que tudo não passou da divulgação de fatos inverídicos, como se referiu recentemente a Istoé em matéria do citado repórter Rodrigo Cardoso? Sim, isso é afirmado no documento.
Divulgação superficial pela imprensa
É evidente também, para qualquer pessoa que reflita um pouco sobre toda esta história, que o Exército Brasileiro seria a última instituição que precisaria fazer uma investigação para descobrir se havia ou não se envolvido com a captura e transporte de ETs no sul de Minas. Ou seja, de maneira surpreendente, a
liberação da documentação que contém a sindicância e o IPM e sua divulgação superficial pela imprensa não especializada é mais um exemplo de como a população é facilmente desinformada e dirigida para acreditar em coisas que estão longe de corresponder à realidade — e nesse caso a responsabilidade maior não é dos militares.
Na verdade o Inquérito Policial Militar sobre os fatos de Varginha, como pode ser comprovado por qualquer pessoa que realmente leia seu conteúdo, agora disponibilizado [Veja como obter cópia em box nestas páginas], teve a finalidade oficial de apurar a incidência de ilícito penal nas declarações contidas no citado livro de Vitório Pacaccini e Maxs Portes. Isso, obviamente, não só é vislumbrado na decisão do procedimento, apresentada na página 351, como desde seu início. Os autores da obra, conforme pode ser lido também em trecho da página 347, que integra a parte Solução do Inquérito Policial Militar da documentação, haviam supostamente “incitado, sobre o manto do anonimato, militares da EsSA a prestarem depoimentos reveladores de dados sigilosos sobre o funcionamento daquela organização militar, e também fizeram críticas a atos superiores hierárquicos, contrários à disciplina militar” etc. Foi com esse espírito, ou preocupação, que o procedimento foi iniciado.
Para sua “solução”, o Inquérito Policial Militar ouviu mais uma vez praticamente todos os militares que já haviam prestado depoimentos na sindicância anterior. Além de Rodrigues e Pacaccini, foram convocados ainda para dar esclarecimentos — pelo tenente-coronel Lúcio Carlos Finholdt Pereira, encarregado dos procedimentos — o major-bombeiro José Francisco Maciel Dias Ferreira e o tenente-coronel da Polícia Militar de Minas Gerais Maurício Antônio Santos. Ferreira comandava a guarnição do Corpo de Bombeiros de Varginha em 20 de janeiro de 1996, quando, segundo nossas fontes militares, quatro de seus comandados capturaram a primeira criatura, e Santos liderava o batalhão da PM na cidade, envolvido no recolhimento de uma segunda criatura, ocorrida na noite de 20 de janeiro de 1996 — que se acredita ser a mesma avistada à tarde pelas meninas.
Com exceção de Ubirajara Franco Rodrigues e Vitório Pacaccini, que em seus depoimentos realmente reafirmaram tudo que já havia sido divulgado pelos ufólogos, todas as demais testemunhas ouvidas negaram qualquer participação com os fatos, e mesmo terem conhecimento ou informações que dessem credibilidade aos principais detalhes do Caso Varginha. Mas devemos ressaltar que nenhuma das principais testemunhas civis foi ouvida nos procedimentos — o que é plenamente compreensível, já que não se tratava de um procedimento de investigação do caso, e sim algo para “consumo interno” do Exército, que deveria atingir objetivos bem mais específicos, já mencionados ao longo desse artigo. Um procedimento que provavelmente não teria sido da escolha da inteligência do Exército, mas que, depois de sua deflagração pelo general Coelho Lima, tinha que ter prosseguimento, e se possível da maneira mais discreta, até seu encerramento de forma adequada para os interesses envolvidos — a confirmação da ausência de crime militar. A “conclusão” seria alicerçada na idéia de que o principal autor do livro Incidente em Varginha, Pacaccini, não passava de um irresponsável que havia dado divulgação a fatos inverídicos e se baseado em fontes duvidosas, versão que certamente não é apoiada por este autor.
Documento que era para ser esquecido
Em sua conclusão, presente no relatório final, o tenente-coronel Finholdt Pereira declara textualmente, em relação ao livro de Pacaccini, que “podemos concluir que à obra não se pode atribuir cunho científico, restando apenas delegar-se o caráter de ficção. E, como tal, em que pesem as circunstâncias levantadas, diante da ingenuidade do tema da citada publicação, não há indícios de ter havido qualquer prática de crime — quer na esfera militar, quer na civil — dos autores da obra intitulada ‘Incidente em Varginha’”. E assim, o Inquérito Policial Militar foi encerrado antes que qualquer divulgação sobre sua existência chegasse ao conhecimento da imprensa, pelos motivos já mencionados, e foi encaminhado para ser arquivado no Superior Tribunal Militar em 31 de julho de 1997. Era para ser esquecido, mas acabou sendo localizado pela campanha UFOs: Liberdade de Informação Já [Nota do editor: Curiosamente, a campanha recebeu inúmeras críticas justamente do doutor Ubirajara Franco Rodrigues, que seguidamente duvidou de seus resultados].
Mesmo não tendo sido realizado para descobrir qualquer coisa sobre a realidade dos fatos divulgados pela Ufologia Brasileira, através dos principais investigadores do Caso Varginha, o IPM tinha que mostrar que tudo não passava de uma grande ficção. Nessa tentativa, entretanto, a exatidão e a verdadeira cronologia dos fatos e de uma série de circunstâncias que se manifestaram ao longo dos episódios foi literalmente abolida e esquecida. Isso para começar, pois há mais erros e divergências entre as apurações oficiais e o que de fato se sucedeu em Varginha, em 20 de janeiro de 1996 e nos dias seguintes. Por exemplo, o Inquérito Policial Militar insistiu em explicar, da mesma maneira que ocorreu na sindicância, toda a movimentação de veículos e caminhões militares, testemunhada por inúmeras pessoas entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1996, como sendo apenas resultante de um processo normal em que as viaturas foram levadas das instalações da EsSA, em Três Corações, para a empresa Automaco, concessionária Mercedes-Benz em Varginha, para realização de manutenção rotineira.
Os próprios depoimentos dos militares sobre esta questão, agora oficialmente disponibilizados [Veja como obter cópia em box nestas páginas], garantem que a manutenção realmente foi realizada, mas nos dias 25 e 26 de janeiro. Ou seja, de forma al
guma explicam a presença de comboios militares na cidade, principalmente em 22 de janeiro, quando a segunda criatura capturada foi retirada do Hospital Humanitas, já morta, como se apurou na época. Faz parte ainda da documentação do IPM relativa a este aspecto do caso uma nota fiscal de serviços realizados na já mencionada Automaco Comercial e Importadora Ltda., para onde foram levados os caminhões em 25 e 26 de janeiro. A nota, entretanto, é do dia 29 de janeiro e só reafirma a fragilidade dos documentos arrolados no procedimento para tentar apoiar as interpretações e suposições utilizadas para negar a verdade e o caráter ufológico do Caso Varginha.
Mudinho, alçado à condição de ET
Outro aspecto absurdo da referida documentação é a idéia de que o ser avistado por Liliane, Valquíria e a amiga Kátia Xavier não passaria de um morador da cidade, um sujeito de pequena estatura e com deficiência física conhecido como Mudinho. Em seu relatório, no final do IPM, o já citado tenente-coronel Lúcio Carlos Finholdt Pereira, encarregado dos procedimentos, escreveu que esta pessoa possivelmente apresentava algum desvio mental, segundo ele, “estando provavelmente sujo em decorrência das fortes chuvas, [sendo] visto agachado próximo de um muro e tendo sido confundido por três meninas aterrorizadas como uma ‘criatura do espaço’”. Essa “impressionante e reveladora” hipótese para explicar a experiência vivida pelas primeiras testemunhas do Caso Varginha chegou ao inquérito através do depoimento do tenente-coronel Maurício Antônio Santos, da Polícia Militar de Minas Gerais, que realmente declarou que podia ter havido, por parte das testemunhas, uma “confusão decorrente da situação de chuva, ventania e relâmpagos em um local pouco iluminado”. Santos informou ainda, em seu depoimento, que Mudinho vivia agachado e se distraindo com pequenas coisas, mexendo no lixo etc.
O tenente-coronel Santos foi ainda mais longe, afirmando textualmente que a estrutura física do sujeito, “salvo os olhos, chifres [As ondulações na cabeça] e outros pequenos detalhes, corresponde à descrição da criatura extraterrestre constante no livro de autoria do ufólogo Vitório Pacaccini”. O leitor acredita se quiser! Por isso, cabem aqui alguns questionamentos. Primeiro, de onde esses militares tiraram a idéia de que na hora da experiência vivida por Liliane, Valquíria e Kátia chovia e havia relâmpagos no céu? E a referência de que o local onde estava a criatura tinha pouca iluminação? Ora, uma forte tempestade, que atingiu a cidade derrubando árvores centenárias e destelhando casas, só aconteceu bem mais tarde. E o contato se deu em plena luz do dia, no meio da tarde! Parece que o zeloso encarregado do IPM e uma das principais testemunhas, justamente a utilizada para definir a explicação final para a experiência das meninas, estavam longe de primar pela observação exata dos detalhes da história.
Enfim, qualquer observador mais atento, e que conheça realmente os fatos que envolveram o Caso Varginha, verificará que o Inquérito Policial Militar, agora liberado por força da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, de forma alguma pode ser considerado uma prova ou mesmo evidência contra sua autenticidade e importância, como apresentado recentemente por uma imprensa desatenta e totalmente sem memória. A falta de interesse em encarar de frente certos aspectos da história, por parte do encarregado dos procedimentos, e o mascaramento de alguns dos detalhes fundamentais dos acontecimentos de janeiro de 1996, no sul de Minas Gerais, são evidências disso. E o que dizer do pedido de discrição feito por um dos militares ao doutor Ubirajara Franco Rodrigues, após seu depoimento na Escola de Sargento das Armas? O que temiam eles, na verdade? Por que a imprensa não deveria saber o que estava acontecendo dentro da instituição? E, por fim, que fatos relacionados ao incidente ainda não conhecemos?
BAIXE O IPM SOBRE VARGINHA
Você pode obter uma cópia gratuita do relatório final do IPM em formato digital no Portal da Ufologia Brasileira.
Acesse: ufo.com.br/documentos/ipm