Há pessoas na Ufologia Mundial que são diretamente responsáveis pelo seu desenvolvimento, sua maior aceitação pela sociedade e pela crescente credibilidade que os governos conferem ao Fenômeno UFO. Esses indivíduos não são meros figurantes da pesquisa ufológica, mas verdadeiros construtores que a edificam ininterruptamente através de ações concretas e visíveis. Uma dessas pessoas é o veterano ufólogo espanhol Vicente-Juan Ballester Olmos, reconhecido como principal articulador da abertura que seu país fez de arquivos ufológicos, na década passada, e um dos mais notáveis investigadores europeus.
Nascido em Valéncia, em 1948, Ballester Olmos é um estudioso pragmático que tem uma respeitável folha de serviços prestados à Ufologia. É um dos diretores da Fundación Anomalía [www.anomalia.org], uma entidade criada por ufólogos de vários países que se dedica à pesquisa multidisciplinar de alto nível de todas as faces da casuística ufológica. O pesquisador é também representante espanhol da Mutual UFO Network (MUFON) e de vários outros centros internacionais de pesquisas. Ballester Olmos acumula mais de três décadas de investigação de campo, é autor de cinco livros e centenas de artigos em revistas da área e de cunho científico, algumas com ampla penetração no universo acadêmico. Não é exagero dizer que é um dos grandes responsáveis pelo respeitável estado de desenvolvimento da Ufologia Espanhola.
Especialista em casuística avançada, o estudioso é uma das mentes mais brilhantes da Ufologia Mundial quando o assunto é abdução, tema que persegue com grande entusiasmo. Outras matérias de interesse de Ballester Olmos são os casos de contato de segundo grau – especialmente as aterrissagens de UFOs – e o envolvimento governamental com o assunto. Foi graças às suas persistentes diligências que o governo espanhol acabou liberando importantes documentos que revelam que o Ejército del Aire do país, uma espécie de Ministério da Aeronáutica, registrou casos de perseguição de UFOs por pilotos militares – e vice-versa. “Todos os governos minimamente informados do mundo sabem da realidade ufológica”, declara. A Fundación Anomalía publica regularmente a revista Cuadernos de Ufologia, uma referência mundial na área que aborda recentes avanços na investigação ufológica. A entidade detém também um dos maiores acervos mundiais de imagens de objetos voadores não identificados, o Fotocat, administrado pessoalmente por Ballester Olmos. O arquivo conta com milhares de imagens de UFOs obtidas desde a década de 40 até hoje, a maioria das quais sendo examinadas com variadas metodologias. O correspondente de UFO na Argentina Guillermo Gimenez, em sua recente visita à Espanha, conversou com Vicente-Juan Ballester Olmos e colheu a seguinte entrevista para a Revista UFO.
A Ufologia deve ser praticada sem radicalismos e com mente aberta às possibilidades. É importante aceitar que o que parece extraordinário, pode não sê-lo
O senhor é reconhecido como um dos maiores ufólogos do mundo. Desde quando se dedica a investigar o Fenômeno UFO? Desde 1964, quando li em um livro de astronomia algumas referências a UFOs supostamente perseguidos por pilotos de caça da Força Aérea Norte-Americana (USAF). Aquilo fascinou minha alma adolescente, e devo dizer que continua me fascinando no presente, ainda que devidamente ajustadas as idéias e as expectativas que tinha, com base nas realidades atuais.
Sendo um ufólogo científico, como o senhor definiria a casuística ufológica? Eu diria que se trata do conjunto de experiências reais e aparentes de fenômenos e objetos que se apresentam estranhos aos olhos do observador, mas que não o são necessariamente aos olhos do analista, o ufólogo. Globalmente, os UFOs são um fenômeno manipulável – e manipulado – tanto pelos meios de comunicação, como pelos governos.
Para o senhor é certo e definitivo que os chamados discos voadores têm origem extraterrestre e que estejam visitando nosso planeta a partir de pontos fora do Sistema Solar? Em termos. É preciso saber quem nos visita? Primeiro, é necessário dizer que várias décadas de investigação de avistamentos de UFOs nos levaram à conclusão de que uma pesquisa objetiva é capaz de esclarecer a imensa maioria deles em termos comuns. Resta uma porcentagem muito reduzida de acontecimentos que resistem à explicação, e que provavelmente têm uma origem extraordinária. Essa pode ser uma resposta fria, mas é bastante razoável sob o ponto de vista científico.
Sua resposta com certeza atende ao rigor que se espera da ala científica da Ufologia. O senhor está convencido de que há provas incontestáveis da presença de seres extraterrestres em nosso planeta? O que realmente ocorre é que há muitos exemplos de relatos que descrevem fatos extraordinários em nossa atmosfera, e se eles realmente se deram como são mostrados, certamente apresentam características exógenas a Terra. Obviamente, não são fenômenos conhecidos, e isso é o que me induz a seguir estudando esse enigma até hoje.
O senhor foi muitas vezes taxado de cético pelos ufólogos mais liberais. Como reage a tais acusações? Com naturalidade. Sou um homem que gosta de provar que existem os discos voadores, mas que se deu conta de que não se pode ter crença no assunto de forma racional. Sou um apaixonado pelo espaço e crente na existência de vida inteligente no universo. Mas também sou um racional que comprovou que tal vida não necessariamente se manifesta através desses curiosos fenômenos que denominamos de UFOs e que, melhor, têm a dinâmica dos mitos em formação.
Segundo suas investigações, por que ocorrem períodos em que há aumento no registro de fenômenos ufológicos? Bem, está comprovado que os meios de comunicação e o trabalho dos ufólogos aumenta o reporting de casos [Relatos por parte de testemunhas], assim como outros fenômenos naturais – tais como a proximidade do planeta Vênus e certos fenômenos atmosféricos e astronômicos etc. A maior parte dos casos vêm de testemunhas que confundem tais ocorrências e os relatam como avistamentos de supostas naves alienígenas. No centro dos acontecimentos, portanto, estão sempre as testemunhas.
Quais o senhor considera os melhores casos de ocorrências ufológicas em todo mundo? Quanto mais distante alguém está do lugar onde ocorreu um fato ufológico, menor é sua capacidade de raciocinar criticamente sobre ele. Os casos que mais me intrigam são os que ocorreram mais próximos de mim, aqui na Espanha, que são aqueles que posso “controlar” melhor em termos de informação. Há registros de fenômenos anômalos bastante interessantes em minhas obras Investigación OVNI [Investigação UFO, Editoral Plaza y Janes, 1984] e Enciclopédia de los Encuentros Cercanos com OVNIs [Enciclopédia de Encontros Imediatos com UFOs, idem, 1987]. Recentemente, nos anos que me dediquei a estudar os registros ufológicos do Ejército del Aire [Ministério da Aeronáutica espanhol], que foram liberados graças às minhas gestões pessoais, encontrei alguns casos que resultaram não identificados após intensa investigação – como o sobrevôo de um UFO sobre o polígono de tiro de Bárdenas Reales, em 01 de janeiro de 1975. Há muitos outros também inusitados, naturalmente. Por isso prossigo em minha dedicação ao estudo deste fenômeno.
Tendo sido a pessoa que conseguiu obter de seu governo certos documentos secretos sobre UFOs, com o senhor vê a situação da Ufologia hoje na Espanha? Intelectualmente, está pobre. Ao contrário do que eu esperava, a Ufologia não avançou. E ainda se percebe até mesmo um retrocesso em seu desenvolvimento, patrocinado por revistas comerciais e livros sem nenhum valor. Infelizmente, já não existe no país o furor dos grupos de pesquisa de antes, e só se destacam escassas organizações sérias – cujos produtos mais visíveis são páginas da internet – e as testemunhas dos mistérios. De nossa parte, cremos que a Fundación Anomalía, com suas publicações, livros e prêmios, ajudou a realizar uma mudança qualitativa na forma de enfocar o estudo do Fenômeno UFO e outros assuntos próprios do “universo do insólito”, como diriam os antropólogos.
O senhor acredita que a atitude do governo espanhol, de liberar documentos oficiais à comunidade ufológica, foi um passo importante? Esse foi um processo que vivi muito de perto porque, como assinalei anteriormente, fui eu quem conseguiu que o Ejército del Aire desarquivasse quase a totalidade de suas pastas secretas sobre UFO no país, que mantinha ocultos e afastados da opinião pública desde 1962. Para mim, portanto, foi uma atitude muito positiva e deve ser comemorada. O processo de liberação, que supervisionei diretamente, durou quase oito anos e resultou na publicação de 122 informes. Esse foi um fato histórico com repercussão em outros países, que seguiram um exemplo semelhante.
Os ufólogos espanhóis e o senhor contam agora com apoio oficial por parte do governo para investigar a manifestação do Fenômeno UFO na Espanha? Não. Uma razão do desarquivamento por parte dos militares é porque eles julgam – e estão certos – que o assunto UFO não é de sua competência. Por isso, liberando as informações, as autoridades as colocam nas mãos dos estudiosos, que é a quem compete investigar o Fenômeno UFO. Em princípio, qualquer objeto voador não identificado detectado sobre a Espanha se enquadra dentro da responsabilidade do Ejército del Aire, até que se demonstre que não se trata de aeronave que configure ameaça para a segurança nacional – que é o caso dos UFOs. Durante o desarquivamento dos documentos desenvolvemos também uma metodologia para a pesquisa oficial de fenômenos ufológicos no país, sem segredos, e ela é aplicada pelas autoridades aéreas cada vez que objetos voadores não identificados forem detectados novamente sobre o país.
O senhor considera importante receber apoio militar para investigar casos ufológicos? Não necessariamente. O importante é o apoio científico. O apoio militar serve ocasionalmente quando os fatos tenham ocorrido em ambientes governamentais ou para solicitar informação exata de registros de radar etc.
Independentemente da abertura governamental aos UFOs em seu país, o que significa para o senhor ser um investigador deste fenômeno? Esta é uma excelente pergunta, e a resposta é: depende da motivação do indivíduo. Para mim, ufólogo é aquela pessoa, cujo modus vivendi e objetivos na vida nada têm, necessariamente, a ver com o mistério dos UFOs – mas sim com uma inclinação intelectual, científica, naturalista etc para rastrear as propriedades desse fenômeno social contemporâneo na sociedade e suprir respostas que precisamos a seu respeito.
O senhor crê que a Ufologia está em mãos de pessoas experientes para compreender a grandiosidade do Fenômeno UFO? Normalmente, a Ufologia tem estado nas mãos de pessoas incompetentes, de gente crédula e de indivíduos que pretendem aparecer às custas do enigma. Mas ter um título de doutorado também não quer dizer que a pessoa terá as qualidades que se espera de um ufólogo. Em absoluto! No entanto, felizmente, há muitas pessoas dedicadas ao Fenômeno UFO com seriedade, inteligência e competência, que estão explorando o mistério com métodos válidos. E uma boa coisa é que a internet agora pode unir todos esses indivíduos num ambiente coletivo que reúna seus esforços em prol da dignificação da Ufologia.
Houve uma época em que fiquei tão cético quanto ao Fenômeno UFO que cheguei a estimar que a possibilidade dele ter origem extraterrestre era próxima de zero
O que o senhor acha que teria que ser mudado na Ufologia para que ela fosse mais reconhecida pela sociedade e pelos segmentos científicos? A atitude dos ufólogos, principalmente. Em inglês, o termo que melhor os descreve é publicity seeker, que significa pessoa orientada para a autopromoção, para a fútil e efêmera fama que um par de golpes de efeito na imprensa ou na TV pode conseguir. E o Fenômeno UFO tem o condão de dar notoriedade às pessoas, transformá-las em celebridades, embora essa condição não dure muito. Em nosso campo de estudo há muita intromissão de gente que tem esse estilo, que infelizmente acaba depreciando a Ufologia.
Tendo escrito vários livros, alguns dos quais best sellers, qual deles foi o de maior impacto sobre a Comunidade Ufológica Espanhola? Bem, na verdade, as críticas que recebi a todos os meus trabalhos deixaram-me mais que satisfeito. Acho que todas as obras foram muito bem recebidas. Mas OVNIs: El Fenómeno Aterrizaje [UFOs: O Fenômeno Aterrissagem, Editorial Plaza y Janes, 1978], que teve diversas edições, apresentou impacto maior, talvez porque nunca se tinha feito nada parecido na literatura espanhola dedicada à questão dos pousos de discos voadores. Los OVNIs y la Ciência [Os UFOs e a Ciência, idem, 1981], que escrevi com o físico Miguel Guasp, teve também bastante repercussão pela profundidade de seu conteúdo. Minha Enciclopédia de los Encuentros Cercanos com OVNIs [Enciclopédia de Encontros Imediatos com UFOs, idem, 1987], lançada em parceria com Fernández Peris, também teve muito sucesso porque apresentou uma completa análise dessa classe de casuística ufológica – os contatos de graus elevados, em que testemunhas, UFOs e seres extraterrestres estão relativamente próximos entre si.
Desde o início de suas atividades na área até essa data, com dezenas de casos investigados, livros editados, conferências em congressos etc, o que o senhor acha que mudou no Fenômeno UFO? Tenho que admitir que, pelo fato de investigar casos e mais casos, de estudar e ler tudo o que ocorre na área, meu ceticismo natural cresceu notavelmente. Mas essa é uma postura empírica, resultado de anos de investigação e de aprimoramento. Teve momentos que cheguei a estimar que a possibilidade de os UFOs representarem uma visita extraterrestre estaria próxima de zero. E ainda que fosse de 0,0001%, isso já seria uma coisa extraordinária.
Que função cumpre a Fundación Anomalía, da qual o senhor é chefe de investigações, na mudança desse cenário? As finalidades da entidade, como constam oficialmente, não se restringem à questão ufológica. Elas visam o estudo da influência na cultura popular dos avanços da ciência e da tecnologia, assim como das anomalias científicas e dos chamados “universo insólito”. Também nos dedicamos à preservação de arquivos científicos, à divulgação da ciência e da paraciência de nossas publicações, além da concessão de prêmios e bolsas de estudo para a investigação nesses campos. Trata-se de uma organização sem finalidade lucrativa, que reúne o mais numeroso grupo de experimentados investigadores espanhóis jamais visto numa organização ufológica. Nossa página na internet é considerada o site ufológico mais visitado em língua espanhola.
Uma de suas principais atividades na Fundación Anomalía é a manutenção do sistema Fotocat. O senhor poderia explicar exatamente em que consiste esse programa? O Fotocat é um catálogo internacional de imagens de UFOs, um compêndio de todos os casos ufológicos em que foram feitas fotografias, filmes ou gravações em vídeo do fenômeno. Minha pretensão é disponibilizá-lo livre e gratuitamente à comunidade mundial de investigadores, pela internet, sem quaisquer restrições. Atualmente, o arquivo alcança quase 5.000 registros e continua crescendo graças a uma considerável colaboração internacional, que pode ser vista em nosso site [www.anomalia.org/fotocat1.htm].
Para finalizar, que mensagem o senhor daria aos ufólogos que estão iniciando nessa carreira? Bem, creio que seria presunçoso de minha parte dar mensagens desse calibre, mas pediria a todos que enfocassem o estudo do Fenômeno UFO de maneira desapaixonada e, sobretudo, sem idéias preconcebidas. Sugiro aos ufólogos, iniciantes ou veteranos, que tenham mente aberta – mas não para crer no incrível, e sim para admitir que o que parece extraordinário, pode não sê-lo. Enfim, que sigam estudando o tema sempre em contato com outros estudiosos e trocando experiências que beneficiem a todos. Espero, com esta entrevista, ter mostrado um pouco dos avanços que existem na disciplina e contribuído com meu grãozinho de areia para a elucidação do enigma.