“Não peço que creiam em mim, mas peço que reflitam sobre o que estou falando”. Dentre todas as frases da longa entrevista concedida por Jan Val Ellam à Revista UFO, esta é, creio, aquela a qual primordialmente devemos nos ater. Refletir é a única forma de se formar uma opinião sobre algo, de se avaliar a coerência e o embasamento de idéias e “revelações”. Partindo deste princípio, apontado pelo próprio entrevistado, convido os leitores para, juntos, refletirmos sobre suas palavras. Antes de começarmos, entretanto, uma ressalva deverá ser feita e é fundamental que a tenhamos em mente durante todo o tempo: não vamos refletir sobre a pessoa de Ellam, e muito menos sobre o quanto de tudo que ele diz ser realmente inspirado por habitantes de outros mundos ou apenas fruto da criatividade de sua alma. Fazer isso seria no mínimo prepotente e antiético. A prepotência, deixaremos aos que dizem possuir a verdade. A falta de ética, aos políticos.
Quanto ao entrevistado, cabe dizer que se trata de pessoa cuja cultura e conhecimentos estão acima de dúvidas, que tem excepcionais qualidades como orador, extrema simpatia e cordialidade como ser humano e que, em momento algum, estes atributos serão colocados em dúvida. Isso posto, vamos à analise de sua entrevista. Justamente por ser Ellam uma pessoa culta e de vasto conteúdo pessoal, podemos encontrar nas suas respostas muito material para reflexões de ordem filosófica e religiosa, mas tampouco é este o escopo do presente texto. Vamos ficar apenas com a parte, digamos, ufológica da entrevista. Aquela que diz respeito às revelações supostamente feitas por ETs sobre nosso futuro e o deles. E é neste ponto que, infelizmente, Ellam envereda pela mesma trilha de George Adamski e de tantos outros depois dele.
Novamente, agora na narrativa de Ellam, surge à nossa frente o perigo nuclear ameaçando a humanidade, desta feita, também aliado à guerra química e bacteriológica, coisas que nos tempos de Adamski não andavam em voga, e portanto não foram consideradas em suas profecias. E lá vêm, segundo Ellam, os nossos “irmãozinhos cósmicos” sempre alertas, tentando enfiar um pouco de juízo em nossas cabeças ocas. Dizer que uma bomba atômica explodirá na Palestina é, no mínimo, irresponsável. Que bem fará isso a alguém? Já não basta o pânico generalizado do mundo? Já não há suficientes fontes alimentando a sede macabra dos catastrofistas? E por que na Palestina, onde o único país da região que possui o artefato nuclear é Israel? O que busca alguém que divulga algo desta natureza? Dizer, caso aconteça, que estava certo?
Apreensão, medo e irresponsabilidade — “Nunca quis nem quero aparecer, e trabalho para divulgar informações que recebo por julgá-las importantes para muitas pessoas. Agora, o que comecei a receber desde março passado tem sido tão pesado e tão contundente que precisarei revelar a tantos quantos queiram me ouvir”. Eis mais uma afirmação de nosso entrevistado. Volto a perguntar: qual a relevância de se anunciar tal catástrofe, se não a vaidade pessoal de ver – ou não ver, como foi o caso, por não ter ocorrido a tragédia vaticinada entre 03 e 05 de outubro – sua profecia realizada? Teria pensado Jan Val Ellam que há pessoas que aceitam o que lêem sem refletir e que esse tipo de declaração, em vez de construir, poderia trazer apreensão e medo a alguns? Quem fala a muitos jamais deve perder o foco, jamais deve deixar-se levar pela empolgação, jamais deve ser irresponsável, pois está ajudando a formar opiniões. Mas que tipo de opinião se ajuda a formar quando se divulga o pânico?
Vou poupar o leitor de analisar alguns desgastados chavões da Ufologia, como o conceito de nossos “irmãos cósmicos” e a expressão bíblica “a casa de meu Pai tem muitas moradas”. Faço-o por respeitar a inteligência das pessoas, mas não posso me furtar a comentar outros trechos da referida entrevista, ainda sobre a tal bomba na Palestina, que são por demais relevantes. A primeira consideração é a de que ela poderia explodir ou não. Caso tivesse explodido – o que já sabemos que não ocorreu – teria sido porque algum ser humano descontrolado se deixou levar pela loucura e sede de poder. Não tendo ocorrido a tragédia, a resposta estará certamente na ação de ETs que, com alguma “procuração divina”, a impediram. Guardadas as devidas proporções, isto se parece um pouco com um caso acontecido com uma conhecida, que, ao tropeçar na rua, ouviu de uma transeunte a seguinte pérola: “Só tropeçou porque seu Deus não é o mesmo que o meu. O meu Deus jamais deixaria você tropeçar”. É preciso dizer mais?
Perante a ótica humana? — Mas vamos em frente. Quanto à chegada maciça de seres extraterrestres, declara o entrevistado: “Será algo para ninguém duvidar. Nem a mídia, nem os cientistas e nem mesmo os governos. Não haverá como alguém contestar. E depois disso, eles voltarão algumas outras vezes, sempre a preencherem os céus com seus veículos gigantescos, mas não pousando nem interagindo conosco até que chegue o momento certo”. Novamente, pergunto: se eles vêm, com bomba ou sem bomba, com desgraça ou sem desgraça, qual seria sua necessidade de se propagarem antes, se estarão pairando em nossa atmosfera para quem quiser ver? Qualquer um que levante o pescoço e olhe para cima poderá enxergá-los! Dizer que esses fatos são anunciados para preparar a humanidade pode até elevar a circulação da Revista UFO a parâmetros que certamente fariam feliz seu editor, mas que não são realidade. Evidentemente, a UFO publicou aquilo que julgou ser interessante a seus leitores, pois, afinal, é esta a lógica de qualquer revista. Mas é preciso manter os pés no chão. Será mesmo que a intenção de Ellam é alertar, ou haverá algo mais nas entrelinhas de suas declarações? Enfim, até que ponto, ainda que de forma inconsciente, o entrevistado não busca novamente a satisfação de poder dizer, quando e se suas previsões de concretizarem, “eu avisei”? Obviamente, cada indivíduo, cada leitor, tem o direito irrevogável de pensar e acreditar no que quiser. Em uma democracia, isto agrega também o direito de divulgar o que se pensa e se acredita.
Mas não é isso que se está discutindo. O que se questiona é a utilidade e principalmente a intenção de quem o faz. Já que estamos refletindo – a pedido do próprio entrevistado –, que tal refletirmos tamb&ea
cute;m sobre isso? Em outra de suas respostas, ao ser perguntado se temia expor-se daquela forma, divulgando datas e locais com precisão, Ellam diz: “Estou agindo assim porque não encontro outro modo para conviver com esses fatos. Seria cômodo, até mesmo uma boa estratégia perante a ótica humana [Grifo da autora] permanecer calado, sem me expor, registrando essa data de algum modo e depois confirmar que ela já era do meu conhecimento. Se dependesse somente das minhas conveniências, não tenha dúvida de que essa seria minha atitude”.
Realidade cósmica — Diante desta afirmação, pergunto: de que outra ótica dispomos, senão a humana? Ou o entrevistado já se vê como não humano? Quem somos nós, incluindo Jan Val Ellam, para arriscarmos sondar a ótica que nos transcende? Sim, ele se arriscou, sem dúvidas. Novamente, peço aos leitores que se perguntem por que o fez? Ainda na mesma resposta, acima, lemos: “É como se todas as opções por eles [Idem] planejadas tivessem falhado e o apelo vindo ‘do outro lado’ tivesse como objetivo criar uma outra opção que antes não existia, já que eles [Idem] insistem em me informar que eu teria assumido um compromisso com o processo”. Outro compromisso? Que compromisso? Isso o entrevistado não sabe, porque “eles”, seus alegados orientadores espirituais e extraterrestres, não lhe disseram. Não há muito o que discutir quando o assunto entra na esfera das crenças pessoais de cada um. Apenas há que se respeitar.
Teria pensado Ellam que há pessoas que aceitam o que lêem sem refletir e que esse tipo de declaração, em vez de construir, poderia trazer apreensão e medo a alguns? Quem fala a muitos jamais deve perder o foco, deixar-se levar pela empolgação, ser irresponsável, pois está ajudando a formar opiniões
Porém, há – e muito – o que se dizer quando estas crenças passam a influenciar outros seres humanos. Cansamos de ver desgraças acontecerem todos os dias, mundo afora, apenas porque pessoas apregoam suas crenças e influenciam comportamentos de terceiros, sem, entretanto, assumirem, mais tarde, sua parcela de responsabilidade. Que a humanidade trilha com firmeza o caminho da extinção, não há dúvidas. Como também não há quando se trata das vilanias que conspurcam nossas almas de todas as formas, ou quando nossos olhos e ouvidos são bombardeados por venenos mentais através dos meios de comunicação, ou ainda que há uma indústria da desgraça vivendo da podridão humana. Todos são fatos inegáveis. Precisamos criar juízo, sim. Necessitamos crescer, sim. É urgente pararmos de nos esconder atrás de religiões e bandeiras, interromper a cultura da morte e da desgraça e passarmos a construir o mundo para nossos netos e bisnetos com firmeza e dedicação – ou não haverá nem mundo, nem bisnetos.
Porém, isso é trabalho nosso, não de seres extraterrestres. Amadurecer para a realidade cósmica é começar a entender que somos só um planetinha entre trilhões ou mais, e que o universo existe tanto nas medidas astronômicas quanto entre o número 1 e o número 2. É compreender que vida é algo que vai muito além do nascer, crescer, multiplicar, envelhecer e morrer. Mas isso é tarefa nossa, é responsabilidade nossa, é escolha nossa. E nem todos os ETs do universo poderão nos fazer criar vergonha ou juízo, se não quisermos.
Por fim, deixo aos leitores mais uma frase sobre a qual gostaria que refletissem profundamente: “O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem”. Eis aí, a chave da questão.
Análise da relação entre o custo e o benefício das afirmações de Jan Val Ellam
Em que pese o fato de conhecer pessoalmente Jan Val Ellam, pseudônimo espiritual de Rogério de Almeida Freitas, e admirar seu vasto conhecimento histórico e excelentes qualidades como orador, não posso me furtar fazer alguns comentários e críticas em relação à sua entrevista concedida à Revista UFO, edição 126. Devido ao tamanho da matéria veiculada – 13 páginas e a capa – e a contundência das declarações feitas pelo entrevistado nesta e em outras oportunidades, deter-me-ei em dois pontos que creio serem cruciais para minha análise, além de terem sido os que mais repercutiram no meio ufológico: a detonação de um artefato de destruição em massa no Oriente Médio, que ocorreria, segundo Ellam, entre 03 e 05 de outubro, e a definitiva aproximação de seres não terrestres a este orbe, também previsto por ele para alguma data entre a segunda quinzena de novembro a abril do ano que vem. Talvez influenciado pela minha formação em administração de empresas, sempre tive em mente – seja aplicado ao mundo empresarial, seja ao das relações humanas – o conceito da análise do custo versus benefício de qualquer empreitada. E por aí peço a atenção dos leitores. Se não vejamos: Jan Val Ellam afirma ter recebido informações de “fontes não ortodoxas” que uma arma – nuclear, química ou biológica – seria detonada no Oriente Médio, muito provavelmente na Palestina, dentro do período já citado. Tal fato talvez não ocorresse se as mesmas fontes tivessem sucesso em evitar o desastre que elas próprias anunciaram.
Questionamento e avaliação — Ora, pergunto-me então, qual é a vantagem de anunciar tal possível evento se ele pode ou não ocorrer?! Mais que isso, pergunto quanto dano uma notícia como esta poderia causar a pessoas suscetíveis, no sentido de as terem deixado mais angustiadas que o necessário, fazendo a receita de farmácias aumentarem com a venda de antidepressivos ou remédios contra hipertensão. Ganhamos algo com isso? Se não, quanto perdemos? A previsão de Ellam, neste caso, ajudou de alguma forma na melhora de nossa consciência como integrantes de um universo incomensurável?
O outro ponto que questiono é o tal “contato inequívoco”, também segundo o entrevistado, um grande encontro com seres cósmicos a se dar nos próximos meses. Esta previsão também me causa incômodo. Mesmo sendo eu um entusiasta do assunto e por também esperar que tal contato um dia ocorra, pergunto o quanto um vaticínio deste porte pode ajudar as pessoas de forma objetiva, já que, conforme o próprio entrevistado, o fato se dará independente de nossa vontade. Não estaria ele criando um anticlímax que, caso não se realize o anunciado, poderia levar muitas pessoas a caírem em caminhos obscuros da tão segmentada Ufologia? Deixo a resposta a cargo dos leitores.
Vanderlei D\’Agostino, consultor da Revista UFO