Uma das questões mais palpitantes da Ufologia diz respeito à eventual hostilidade que poderiam ter alguns de nossos visitantes. De fato, não são poucos os casos em que ETs atacaram seres humanos deliberadamente, sem que tivesse havido uma ação inicial contra eles. No Nordeste brasileiro, por exemplo, pode se ver essa situação de forma particularmente aterradora, com centenas de casos já pesquisados de violência extraterrestre a seres humanos – foi por causa dela que surgiu, em setembro de 1977, a Operação Prato. Felizmente, apesar de numerosos, esses casos são minoria. As estatísticas indicam que a maioria das visitas alienígenas à Terra se dão com uma demonstração de neutralidade por parte de nossos visitantes – os casos de seres benevolentes também são minoria.
Mas se esses são os dados concretos que a Ufologia tem a apresentar, Hollywood parece ser o grande propagador da idéia de que os seres extraterrestres sejam invasores inimigos prestes a dominar a Terra e a exterminar nossa humanidade. São inúmeros os filmes que tratam exatamente disso, desde a série V – A Batalha Final, dos anos 80, até o estrondoso Independence Day, de 1996. Entre uma produção e outra, centenas mostraram os ETs como sendo criaturas que vão de devoradores de carne humana a impiedosos dominadores cibernéticos. Mas nada disso tem reflexo na realidade, felizmente. Quem inaugurou essa idéia, por sinal foi também um norte-americano, o escritor H. G. Wells, quando escreveu a novela A Guerra dos Mundos, transformada num programa de rádio em 1938. O locutor, Orson Wells, deu dramaticidade ao texto e levou os Estados Unidos à beira do pânico com a idéia de que marcianos estavam tomando a Terra de assalto.
Hoje, 67 anos depois, a idéia do filme volta à grande tela com a mega produção A Guerra dos Mundos, estrelada pelo astro Tom Cruise e dirigida por ninguém menos que Steven Spielberg. Tendo estreado em 29 de junho passado, em escala mundial, o filme já atraiu milhões de espectadores para a trama, que, mais uma vez, mostra ETs maléficos detonando nosso planeta. O curioso, desde que a idéia do filme foi lançada, quase quatro anos atrás, é ter Spielberg em sua direção, justamente ele que, com seus excelentes filmes em que o tema UFO é invocado – de Contatos Imediatos do Terceiro Grau [1977] a ET [1982] – mostrou um lado totalmente oposto daquele que Hollywood sabe que é lucro certo. Spielberg mostrou que os discos voadores são uma realidade incontestável e que não têm, como se imagina, intenção destrutiva. Em seu recente trabalho Taken [2002]¸ o diretor mostra ainda que esses seres interagem pacificamente com a humanidade há décadas.
A Guerra dos Mundos é entretenimento, mas também serve para abrir os olhos das pessoas quanto à realidade da vida extraterrestre
– Steven Spielberg, diretor
Cruise, por sua vez, nunca teve participação em qualquer filme que trate de Ufologia. “Foi fascinante trabalhar em A Guerra dos Mundos e pensar a respeito dessa idéia de que estamos sendo visitados por seres mais evoluídos, de outros mundos”, declarou recentemente à revista alemã Der Spiegel. A publicação divulgou uma longa entrevista que fez com o astro, adepto de uma seita milionária norte-americana chamada Cientologia, e com Spielberg, que reproduzimos nestas páginas. Der Spiegel mostra que ambos os personagens do diálogo são pessoas antenadas com a realidade ufológica, e que esperam que seu filme abra os olhos de muita gente que ainda não acordou para esta realidade. “Sempre quis dirigir um filme que mostrasse uma invasão realmente terrível de seres vindos do espaço”, declarou Spielberg. Mas Cruise insiste: “Eu só quero ajudar as pessoas”.
Nenhum outro diretor de cinema já fez mais filmes sobre alienígenas do que o senhor. Nos seus filmes Contatos Imediatos do Terceiro Grau e ET o senhor os descreve como criaturas pacíficas. Mas em A Guerra dos Mundos eles são mostrados como alienígenas terríveis atacando nosso mundo. Quais são os motivos por trás desta mudança? Spielberg — Eu provavelmente me tornei mais… [Tom Cruise o interrompe e responde por ele: “Mais ousado, estou certo?” E Spielberg retoma a resposta]. Sim, realmente me tornei mais ousado. Costumava ser o “embaixador da boa vontade” entre as civilizações alienígenas e a nossa. Fiz tudo o que pude para preparar o terreno, visando um encontro pacífico entre ambas. Mas isso me cansou. Eu cresci assistindo a filmes de ficção científica das décadas de 50 e 60, nos quais os discos voadores atacavam a Terra e as pessoas tinham que resistir a eles de todas as maneiras que pudessem. Eu cansei e decidi que, antes de me aposentar, tinha que dirigir uma invasão realmente terrível de seres vindos do espaço. Foi o que fiz em A Guerra dos Mundos.
O senhor acredita em seres extraterrestres? Cruise — Sim, claro. Seria realmente muita arrogância de nossa parte acharmos que estamos sós no universo. Há muitas coisas por aí afora, nós somente não sabemos ainda.
Como foi feita a criação e os efeitos especiais dos alienígenas que aparecem em A Guerra dos Mundos? Spielberg — As cenas de efeitos especiais foram trabalhadas desde o início da pré-produção, através de um processo chamado pré-visualização, onde os tradicionais storyboards são animados em seqüências digitais em três dimensões (3D). Tentamos imaginar em 3D como os Tripods, os alienígenas e o mundo que eles habitam deveriam ser. Foi muito importante fazer dessa forma, e não do jeito que faço há mais de 30 anos, em duas dimensões. Em 3D e com inúmeras cores e tons o filme fica muito mais rico. Acho que fizemos de 20 a 30 desenhos de aliens, dos mais sublimes aos mais ridículos. Foi um processo interessante e, às vezes, acabávamos fazendo uma mistura de elementos.
A Guerra dos Mundos foi inspirado no livro homônimo de H. G. Wells, escrito em 1898. No final do livro, Wells diz que a Terra “não é mais um território protegido e nem um lugar seguro para se viver”. Será que esta frase não descreve exatamente o que norte-americanos têm sentido depois dos ataques de 11 de setembro? Spielberg — Nós queríamos fazer um filme no qual as pessoas unissem as forças e, apesar de todas as diferenças, atravessassem as fronteiras para poder lutar contra um inimigo que não é humano. Queria que o personagem de Cruise fosse bem parecido com muitas pessoas, porque ele tem que representar a todos nós. Ele e sua família estão representando os nossos próprios medos, as nossas próprias dificuldades em sobreviver.
Cruise — O filme descreve o sentimento que temos tido sobre a vida no mundo todo. Vivemos num planeta onde somos capazes de nos comunicar rapidamente e de muitas maneiras diferentes, mas, mesmo assim, a comunicação entre nós está se tornando cada vez mais difícil. É nesse momento que realmente precisamos nos comunicar, e com mais urgência do que nunca, porque os nossos inimigos são universais. Drogas, analfabetismo, fome, crimes etc – precisamos lutar contra esses problemas juntos. O filme é uma metáfora dessa batalha.
Mas o filme se passa quase exclusivamente nos EUA. Será que ele realmente é capaz de descrever uma catástrofe global? Spielberg — Sim, ele descreve uma tragédia global de um ponto de vista subjetivo. Os espectadores verão a guerra a partir da perspectiva do personagem de Tom Cruise, do ponto de vista de um operário norte-americano. Mas nós não deixamos dúvidas, em A Guerra dos Mundos, de que toda a Terra está ameaçada.
Cruise — É claro que platéias em outras partes do mundo verão o filme com outros olhos. Isso porque elas trazem consigo diferentes visões e outras posições políticas. Mas eu acho que os sentimentos de medo e ameaça ficarão claros em qualquer lugar em que o filme for exibido.
Vocês não temem que platéias de alguns países aplaudam o filme ao ver os norte-americanos sendo derrotados, algo que é hoje estimulado por um forte sentimento antiamericano? Spielberg — Eu não gostaria de especular sobre isso. Nós, do cinema, não somos responsáveis pelo fato das pessoas terem visões diferentes do filme por causa das suas ideologias ou da aversão ao nosso país.
Cruise — Como integrantes da indústria do cinema, estamos trabalhando exatamente contra este estreitamento de visão, que pode levar ao ódio por um país inteiro. Trabalhamos contra esta paranóia xenofóbica. Nós estamos preocupados principalmente com os indivíduos e com suas ações. Por exemplo, acho que não se deveria falar sobre o governo dos EUA como se costuma fazer, mas sim, sobre as pessoas que estão nesse governo. Não devemos generalizar, mas se algumas pessoas realmente odeiam os norte-americanos, então verão exatamente o que elas querem ver no nosso filme.
Senhor Spielberg, os seus planos de fazer A Guerra dos Mundos vêm ainda do início dos anos 90. O senhor teria feito este filme se os ataques de 11 de setembro não tivessem acontecido? Spielberg — Provavelmente, não. O livro de Wells foi adaptado para o cinema diversas vezes, principalmente em momentos de crise internacional. Veja, a Segunda Guerra Mundial tinha acabado de começar quando Orson Wells aterrorizou milhões de norte-americanos com sua lendária versão do ataque naquele programa de rádio. Ora, era um momento no qual as manchetes dos jornais eram dominadas pelos relatos das invasões de Hitler à Polônia e à Hungria. E quando a primeira versão de um ataque alienígena à Terra surgiu para o cinema, em 1953, os norte-americanos estavam morrendo de medo de um conflito nuclear com a União Soviética. A nossa versão do livro de Wells também aparece no momento em que os Estados Unidos se sentem profundamente vulneráveis.
Seu filme não aumenta este sentimento de vulnerabilidade? Spielberg — Provavelmente, sim. Mas, por outro lado, é difícil imaginarmos como seria nos sentir mais vulneráveis do que nós já estamos…
O senhor acha correto que um cineasta faça uso não apenas dos medos reais da platéia, mas também ajude a aumentá-los? Spielberg — Inicialmente, é importante que se diga que o cineasta precisa usar os seus próprios medos. Quando filmei Tubarão [1975], tive que encarar o meu próprio medo de mar e de tubarões. E isso acabou por me dar uma excelente receita de sucesso em repetidas vezes. Eu vejo assim: o que me assusta, normalmente assusta a platéia também.
Cruise — É verdade. Depois de ver A Guerra dos Mundos, nós passamos a sentir medo até mesmo dentro de uma banheira…
No filme Tubarão o senhor tirou a alegria de tomar banho de mar de milhões de pessoas. Nunca se sentiu culpado por causa disso? Spielberg — De maneira alguma! Pelo contrário, eu achei muito divertido. As reações do público mostraram que o filme funcionou e que ele estava tocando nos medos primitivos da platéia. A melhor coisa que um diretor pode conseguir é que um filme seu “funcione” num nível mais básico. Além do mais, eu também aumentei o prazer de entrar no mar para muitas pessoas que, após verem o filme, passaram a organizar pequenas competições nas praias para ver quem tinha coragem de ir mais longe.
Cruise — Meus filhos assoviam a música tema do filme quando vão para as aulas de mergulho. E olha que eles nunca viram Tubarão!
Quando o diretor mais poderoso de Hollywood e a sua maior estrela se juntam para fazer um dos mais elaborados filmes de todos os tempos, todo mundo espera um enorme sucesso. Isso representa um fardo para vocês? Cruise — De forma alguma.
Spielberg — Esse é um fato real, mas nós dormimos tranqüilos apesar dele. Desde Tubarão eu tenho convivido com a pressão causada pela expectativa das pessoas. Mas se não fosse capaz de enfrentá-la, nunca teria feito filmes como A Lista de Schindler [1993]. Porque eu teria medo de desapontar meu público. Eu saí das grandes produções voltadas para as massas e fui até os pequenos projetos, mais pessoais e esotéricos, e depois voltei para as grandes produções. Gostaria de continuar a oscilar entre esses diferentes mundos do cinema e continuar a desafiar a mim mesmo e às minhas platéias muitas e muitas vezes.
Nosso filme tem ingredientes muito parecido aos de outros filmes de terror, com a diferença de que nele o terror tem origem num ataque alienígena ao nosso planeta. Claro, totalmente hipotético
O senhor acha que seria uma grande decepção se A Guerra dos Mundos faturasse menos do que Titanic [1998], o mais bem sucedido filme de todos os tempos? Spielberg — Não, seria uma honra. Não me preocupo muito com as finanças.
Cruise — Nós fizemos este filme porque nós nos sentimos motivados para isso. É claro que ele deve render o dinheiro que foi gasto na sua produção. Mas nós, no final das contas, temos uma influência limitada no quanto A Guerra dos Mundos será bem sucedido. Talvez existam algumas pessoas na indústria cinematográfica que multipliquem os nossos nomes e tentem calcular os rendimentos do filme a partir disso. Mas nós não nos preocupamos com isso.
Em uma das locações de A Guerra dos Mundos, próxima a Los Angeles, era mantida uma barraca da organização chamada Cientologia plenamente equipada, bem ao lado das demais barracas de alimentação dos jornalistas e funcionários do estúdio. Por quê? Cruise — Mas o que foi que os surpreendeu nisso?
Cientologia é uma forma de religião considerada como uma seita por muita gente, e o senhor a pratica. Por que o senhor exibe publicamente as suas convicções pessoais? Cruise — Eu acredito em liberdade de expressão. Eu me senti honrado em ter membros voluntários da Cientologia no set de filmagem, pois até ajudaram a equipe de gravação. Quando estou trabalhando num filme, faço tudo o que posso para ajudar as pessoas que estão junto de mim. Acredito na comunicação entre as pessoas.
A barraca de uma seita colocada abertamente num local de trabalho é uma coisa estranha, o senhor há de concordar. Senhor Spielberg, esta barraca não lhe parece uma coisa incomum? Spielberg — Eu a vi como uma barraca de informações. Ninguém era obrigado a freqüentá-la, mas ela estava aberta a qualquer um que tenha uma mente aberta e curiosidade em conhecer as crenças de outras pessoas.
Cruise — Os membros voluntários da Cientologia estavam lá para ajudar os doentes e os feridos. As pessoas no set gostaram disso. Eu não tenho absolutamente nada contra falar das minhas crenças, e faço isso cada vez mais. Nós vivemos num mundo onde as pessoas estão eternamente presas às drogas, onde até mesmo as crianças se drogam e crimes contra a humanidade são intensos. Essas são coisas com as quais eu me preocupo. Eu não me importo com o que as outras pessoas pensem sobre minha religião, não me importo com a nacionalidade das pessoas. Mas se alguém quiser se livrar das drogas, eu posso ajudar, se alguém quiser aprender a ler, também. Enfim, se alguém quer deixar de ser um criminoso, como integrante da Cientologia eu posso dar a essa pessoa ferramentas para melhorar a sua vida. Você não tem idéia da quantidade de gente que quer conhecer a Cientologia.
O senhor considera como sendo o seu trabalho recrutar novos seguidores para sua religião? Cruise — Eu sou um auxiliar. Por exemplo, eu mesmo já ajudei centenas de pessoas a se livrarem das drogas. Na Cientologia, nós temos o único programa bem sucedido para a reabilitação de drogados no mundo inteiro. É chamado Narconon.
Mas esse programa de reabilitação de drogados não é sequer mencionado entre os processos de desintoxicação reconhecidos pelas entidades mundiais de saúde pública. E há especialistas que têm muitas restrições a ele porque é baseado numa pseudociência, uma seita. Cruise — Você não está entendendo o que eu estou dizendo. Está estatisticamente provado que há somente um programa bem sucedido para a reabilitação de drogados no mundo, o Narconon. Ponto final.
O senhor levou executivos da Paramount Pictures para conhecerem o que chama de “centro de celebridades” da Cientologia em Hollywood. O senhor está tentando ampliar a influência de sua religião? Cruise — Não, eu só quero ajudar as pessoas. Quero que todos vivam bem.
Spielberg — Muitas vezes me fazem perguntas similares sobre a minha fundação, Shoa. As pessoas indagam por que eu estou tentando disseminar a crença de que o ensino da história do holocausto nas escolas públicas trará maior tolerância à humanidade. Bem, o fato é que eu acredito que ninguém deveria chegar à universidade sem passar por um curso de tolerância. Isso deveria ser uma parte importante do currículo de estudos sociais de todo mundo.
O senhor está comparando o trabalho educacional da sua fundação Shoa com o que a Cientologia faz? Spielberg — Não, não estou. Tom Cruise lhe falou sobre o que ele acredita, e eu estou falando sobre o que eu acredito. Isso não é uma comparação entre a igreja da Cientologia e a fundação Shoa, nem quanto ao holocausto. Estou somente tentando lhe mostrar que alguns de nós, em Hollywood, fazemos mais do que sermos apenas atores ou diretores. Alguns de nós têm objetivos bem pessoais. No caso de Tom Cruise, é a sua igreja. No meu caso, é a fundação Shoa, onde estou tentando ajudar outras pessoas a aprender sobre os perigos mortais do ódio puro.
E como exatamente o senhor faz isso? Spielberg — Eu penso que a única maneira de ensinarmos os jovens a não matarem uns aos outros é mostrar a eles os relatos dos sobreviventes do holocausto, deixando-os falar diretamente, com as suas próprias palavras, como é a desumanidade do homem contra o próprio homem. Como eles foram odiados e como foram arrancados de suas casas. Como suas famílias foram destruídas e como, por milagre, conseguiram sobreviver a isso tudo.
Cruise — Como começou o holocausto? As pessoas não nasceram para ser intolerantes umas com as outras. As pessoas não nasceram invejosas ou racistas. Isso foi incutido nelas.
Senhor Cruise, como sabe, a Cientologia está sob vigilância federal na Alemanha. Ela não é considerada uma religião no país, mas sim um culto que visa a exploração das pessoas, além de apresentar tendências totalitárias. O que o senhor tem a dizer sobre isso? Cruise — Essa vigilância é uma formalidade. Porque os investigadores nunca encontraram nada lá, pois nunca houve nada para ser encontrado. A Cientologia ganhou mais de 50 processos judiciais na Alemanha, e não é verdade que todos no país apóiam as opiniões que manifestam contra ela. Sempre que vou à Alemanha tenho experiências incríveis, encontro pessoas incríveis e muito generosas. Mas se uma minoria quer odiar, o que posso fazer?
O senhor não crê que haja uma diferença entre ódio e perspectiva crítica? Cruise — Para mim, essas atitudes estão ligadas à intolerância das pessoas hoje em dia.
No passado, por exemplo, quando o filme Missão Impossível [1996] foi lançado, os políticos alemães pediram que fosse feito um boicote a ele. O senhor tem alguma preocupação no sentido de que seu apoio à Cientologia possa prejudicar a sua carreira? Cruise — Nenhum. Eu sempre fui muito honesto. Já faço parte da Cientologia há 20 anos. Se alguém é tão intolerante, que não assista aos filmes que seus membros fazem. Eu não me importo. Aqui nos Estados Unidos, a Cientologia é uma religião.
Vocês acham que A Guerra dos Mundos é um filme religioso? H. G. Wells rendeu glórias à sabedoria do Criador por ter gerado até mesmo as bactérias. Isso porque, em seu livro, são os micróbios que conseguem finalmente destruir os alienígenas. Na versão de 1953, o filme termina dentro de uma igreja. Spielberg — Eu acho que as pessoas podem ter suas crenças pessoais confirmadas ou não com o filme. Esta não é sua intenção. Mas de qualquer maneira elas vão ficar assustadas, vão ter vontade de se esconder debaixo das cadeiras. E no final do filme, dirão que foi uma grande experiência. Nós dois, conscientemente, decidimos não terminar A Guerra dos Mundos dentro de uma igreja, sinagoga ou mesquita.
Cruise — Simplesmente, não é esse tipo de história que queremos mostrar no filme. Ele tem a intenção básica de ser um entretenimento e, em segundo lugar, mostrar uma possibilidade real – a de que há vida noutros mundos. Se ela é hostil ou pacífica, essa é outra questão.