O escritor Whitley Strieber e o diretor de cinema Philippe Mora se conheceram no fim dos anos 60, na Escola de Cinema de Londres. Vinte anos mais tarde, num trabalho conjunto, os dois produziram a versão para o cinema do livro Comunhão, de Strieber. Surgiram inúmeros boatos e expectativas nos meios cinematográficos. Segundo o vernáculo hollywoodiano, o filme estaria com problemas técnicos — e ideológicos —, tendo assim uma grande necessidade de ajustes. Para os especialistas, os efeitos especiais usados no filme chegavam a ser desinteressantes. A única virtude da obra, diziam, era o desempenho arrebatador do ator Christopher Walken como personagem principal. Comentava-se até que Estranhos Visitantes estaria tendo uma distribuição limitada na Europa.
Contudo, apesar das inúmeras críticas, o filme finalmente teve sua premiére mundial em 21 de outubro de 1990, no Cine Stage II, em Aspen, Colorado, sem dar importância aos boatos que surgiram. Para o lançamento mundial, aproveitou-se a ocasião do Fórum dos Contatos Imediatos de 4º Grau, realizado no Instituto Givens e presidido por Larry Koss. A conferência teve participação de pelo menos 100 pessoas, incluindo 7 abduzidos. Curiosamente, a estréia do filme esteve ameaçada de um cancelamento de última hora pelo próprio Strieber, por razões que só ele sabe…
UMA RARA PERSONALIDADE, UM RARO FILME
Quanto ao elenco. Estranhos Visitantes tem o ator Christopher Walken no papei do contatado Strieber, a atriz Lindsay Crouse como sua esposa, e Joel Carlson como o jovem Andrew. Frances Sternhagen faz uma pequena ponta como a psiquiatra a quem Strieber recorre para tentar compreender sua estranha experiência. O diretor Mora contou com a ajuda de Strieber no roteiro, detalhe importante para o andamento da trama, inegavelmente, o estrelismo de Walken roubou a cena do filme. Mas apesar disso, é difícil imaginar qualquer outro ator interpretando Strieber. Depois de muitos estudos, com gestos detalhadamente analisados, transformados em expressões evasivas e cheias de maneirismos, Walken conseguiu interpretar a rara personalidade de Strieber. O personagem deveria expressar o difícil momento de um escritor de sucesso de Nova York, à beira de um esgotamento nervoso em virtude da falta de inspiração para escrever um livro.
No filme, Strieber deveria aparecer como um ser humano justificavelmente confuso, imerso numa anarquia mental em razão de um contato com seres alienígenas. Seria desnecessário dizer que os eventos conseqüentes colocam seu casamento de pernas para o ar. Sua esposa, Anne Strieber, sente-se confusa e preocupada com seu casamento e a saúde mental do marido, resolvendo apoiá-lo, ainda que compreensivelmente sua participação no filme seja menor. A performance de Walken, evidentemente, é digna de uma indicação para o Oscar, embora todos saibam que isto é algo difícil de acontecer por razões além do seu controle. A Academia de Cinema, historicamente, não considera e tampouco valoriza produções independentes como as do estilo de Estranhos Visitantes. Além do mais, Walken é um ator que vai crescendo gradativamente. Algumas falhas aqui e ali no filme, acrescidas do tema considerado insólito, fazem com que as chances de Walken ser reconhecido pareçam muito remotas. O jovem ator Joel Carlson como o filho de Strieber, também se sai bem, e quase rouba várias cenas. Philippe Mora, evidentemente, sabe trabalhar bem por trás das câmeras.
Há a nítida sensação de que ele influiu consideravelmente no ritmo do texto de Strieber durante toda a filmagem. Mora também realizou um bom trabalho no que diz respeito aos efeitos especiais, ombreando a produção às maiores do gênero dentro do padrão hollywoodiano dos mega orçamentos. Tudo bem que certos efeitos, incluindo os próprios extraterrestres que aparecem no filme, poderiam ter sido mais convincentes… Assim, algumas trucagens chegam a se sobressair. Um exemplo são os momentos em que o diretor fotografa Walken em duas câmeras, uma com alimentador para filmagem e outra com lentes de ângulo aberto não deformativa, de plano horizontal, para afastar o ator enquanto o segundo plano vem à cena. Essa técnica dá a sensação simultânea de isolamento físico e “comunhão” espiritual.
UMA REALIDADE QUASE INTOCÁVEL
Quanto à trama em si alguns leitores do livro hão de concordar — há brechas suficientes para fazer um imenso UFO atravessá-las, bem como várias situações não propriamente concluídas… Não só estas deficiências não são sanadas, como o filme revela outras bem sérias. A psiquiatra, por exemplo, a quem Strieber é indicado logo no início, por acaso sabe de um grupo de pessoas com experiências similares que reúnem-se regularmente em Nova York. Coincidentemente, ela revela-se a responsável por este mesmo grupo de apoio.
No filme, Strieber distancia-se rapidamente do grupo de abdução, quando, na realidade, realizou várias reuniões em sua casa, aparentemente aliviado e emocionado em ter conhecido pessoas com casos similares ao seu. Em Estranhos Visitantes, porém, Strieber é abruptamente afastado de tais reuniões. Deslizes cinematográficos como este não cansam de ocorrer e, obviamente, há muitas pessoas que não concordam com a forma como as coisas foram conduzidas no filme. Os que esperam ver um filme fiel ao livro, também ficarão desapontados. O homenzinho de armadura no quarto de Strieber, apresentado de uma forma assustadora no livro, é tratado no cinema como uma caricatura grotesca de cartum. O filme simplesmente não mostra que Strieber teve uma grande coragem para seguir em frente com a busca da verdade sobre suas abduções.
Quanto à crua e embaraçosa intimidade da cena de abdução, o filme soube explorar bem: a cena do exame retal a que Strieber foi submetido, é muito mais forte na linguagem visual do cinema que na página impressa do livro. Contudo, Estranhos Visitantes consegue surpreender em alguns momentos de rara beleza cinematográfica. É um filme que mostra mais do que cenas de emoção e causou-me sensações incomuns. Há outros momentos do filme em que Philippe Mora, devido ao exagero, deveria ter refreado um pouco a situação. O humor que se pretendia num dos pontos altos da projeção, na qual Strieber e seus captores encontram-se frente a frente, grande demais para uma simples gesticulação, tornou-se apenas cômico quando um deles, numa comunicação gestual, bate nas palmas das mãos de Strieber, à semelhança de um certo jogo de crianças. Isto estava no livro, ou será que pulei alguma página?
Ficha Técnica
Estranhos Visitantes
Direção — Philippe Mora
Produção — Philippe Mora, Whitley Strieber e Dan Allinghan
Diretor de fotografia — Louis Irving
Roteirista — Strieber, baseado em seu livro
Música — Eric Clapton e Alan Zavod
Ano — 1990, EUA
Duração — 107 minutos
Elenco — Christopher Walken, Lindsay Crouse e Joel Carlson
Resenha: No dia 26 de dezembro, Whitley Strieber foi esquiar com sua família, comeu as sobras do jantar de Natal e foi para a cama cedo. Seis horas depois, acordou e nada era como antes. Começa assim uma das mais impressionantes histórias verdadeiras já contadas — a experiência de um homem com visitantes de outro mundo. Como eles o encontraram, onde o levaram, o que fizeram com ele e por quê? Uma experiência que irá aterrorizar mesmo o mais precavido dos ufófilos. O caso de Strieber foi transposto para o cinema por desejo do próprio contatado em ter sua experiência analisada.