A narrativa de José C. Higgins, apenas um mês depois do início da Era Moderna dos Discos Voadores, nos Estados Unidos, antecipou-se as do mesmo gênero que seriam registradas com profusão no Brasil e no mundo daí por diante. O assunto ainda não despertava atenção, que só viria com as fotos dos repórteres de O Cruzeiro Ed Keffel e João Martins feitas na Barra da Tijuca, em maio de 1952, e só anos mais tarde, ao ser resgatado e revisto, foi reconhecido como um dos primeiros casos de caráter marcadamente ufológico ocorridos em território nacional. Trata-se, para aplicar um termo, de um “protocaso” clássico de contatismo, como que prenunciando ou fornecendo vários dos elementos que se tornariam típicos e seriam apropriados pelos contatados, a começar por George Adamski, elementos esses já presentes nas narrativas de ficção científica desde pelo menos o início do século.
Higgins era agrimensor e relatou aos jornais da época que em 23 de julho de 1947 realizava trabalhos topográficos próximo da Colônia Goio-Bang, a nordeste da cidade de Pitanga e a sudoeste de Campo Mourão, no centro geométrico do estado do Paraná. Ao atravessar um dos descampados da região, um silvo profundo, porém baixo, o fez erguer os olhos para o céu. Viu, então, “uma estranha nave aérea circular, com rebordos absolutamente iguais aos de uma cápsula de remédio”, conforme relatou. Seus homens, todos caboclos simples, se assustaram e fugiram em disparada — mas Higgins não soube explicar o que o levou a não correr também. O estranho aparelho percorreu um círculo fechado sobre o terreno e aterrou mansamente a uns 50 m de onde se encontrava.
Criaturas de mais de dois metros
Era algo surpreendente, um disco voador com cerca de 30 m de diâmetro e 5 m de altura, atravessado por tubos em diversas direções, seis dos quais deixavam ouvir o citado ronco, sem, entretanto, fazer fumaça. A parte que pousou no solo tinha hastes curvas, que pareciam ser feitas de um metal branco-cinza. Enquanto Higgins examinava o seu conjunto, verificou, ainda, uma parede com uma janela de vidro ou coisa semelhante. Duas pessoas altas, com pouco mais de dois metros de altura, surgiram de repente e passaram a examinar Higgins com ar de curiosidade. Decorridos alguns segundos, uma delas voltou-se para o interior do aparelho e, ao que lhe pareceu, falou com alguém. Imediatamente, Higgins ouviu um barulho vindo do seu interior e uma porta, por baixo do rebordo, se abriu dando passagem a três pessoas, metidas dentro de uma espécie de macacão transparente que as envolvia completamente, inchado como uma câmara de ar de automóvel. Presa às costas havia uma mochila de metal, que lhe pareceu ser parte integrante da vestimenta.
Os seres tinham olhos grandes e redondos com cílios, mas sem sobrancelhas. Suas cabeças grandes e redondas não tinham cabelos nem barbas. As pernas eram compridas. O mais interessante é que pareciam irmãos gêmeos, tanto os de macacão quanto os que não usavam e que se encontravam atrás dos vidros das janelas — um deles trazia na mão, apontado para Higgins, um pequeno tubo do mesmo metal do aparelho. Apesar do seu avantajado porte, moviam-se com incrível agilidade e leveza, formando um triângulo à volta de Higgins. Começaram a falar entre si em um idioma que Higgins não entendia. O que empunhava o tubo fez gestos para que ele entrasse no aparelho. Obedecendo ao comando, aproximou-se da porta e viu um pequeno cubículo limitado por outra porta interior e a ponta de um cano que vinha de dentro. Notou ainda diversas janelas redondas na base da saliência ou do rebordo. Gesticulando, perguntou para aonde queriam levá-lo.
Convidado para um passeio
O que lhe pareceu ser o chefe desenhou no chão um ponto redondo cercado de sete círculos. Apontando para o Sol, disse “Álamo”, e indicando-lhe o sétimo círculo, disse “Orque”. Higgins ficou mudo de espanto. Deixar a Terra, nem pensar. Diante disso, refletiu. Lutar era impossível, pois eram mais fortes no físico e estavam em maior número. Teve então uma ideia. Havia notado que eles evitavam ficar ao Sol. Assim, encaminhou-se para a sombra e, tirando do bolso a carteira, mostrou-lhes o retrato de sua esposa, dizendo-lhes que iria buscá-la. Os seres concordaram, e nisso Higgins saiu dando graças a Deus. Escondeu-se no meio do mato, onde ficou a espreitá-los.
Curiosamente, os estranhos seres brincavam como se fossem crianças em um pátio, dando saltos e atirando longe pedras de tamanho descomunal — como se elas nem sequer tivessem peso. Meia hora depois, olharam os arredores e vendo que Higgins não retornava, entraram novamente no aparelho que decolou com o mesmo ronco, subindo até desaparecer nas nuvens, na direção norte. “Teria sido um sonho? Teria sido realidade? Às vezes duvido que isso tenha realmente acontecido, pois tudo poderia não ter passado de um estranho e belo sonho”, indagava-se Higgins. Muito provavelmente obra de seu imaginário, em um misto de alucinação, invenção e sonho, como ele próprio cogitou, a experiência de Higgins, de qualquer forma, ajudou a moldar muitas outras histórias que
depois surgiriam em vários pontos do globo.