A estranha aparência de Jápeto, a lua de duas cores de Saturno, tem atormentado os astrônomos desde a sua descoberta por Jean-Dominique Cassini no final do século XVII. Ninguém conseguia explicar satisfatoriamente por que Jápeto tem uma face bem mais escura que a outra. Agora este mistério parece que chegou ao fim, com as novas imagens em alta resolução obtidas pela sonda Cassini.
Estas imagens mostram que na face clara, o material escuro se acumula nas encostas de elevações ou no fundo e/ou nas paredes de crateras que estão voltadas para a direção do equador. Isso acontece em especial nas regiões mais próximas do equador de Jápeto. Esta descoberta indica que a ação do calor do Sol remove o gelo claro dessas superfícies que estão voltadas na sua direção. Com a evaporação desse gelo, sobra o material escuro que normalmente compõe a mistura que cobre a superfície de Jápeto. Com esta remoção do gelo, o solo escuro parece deslizar e preenche o fundo de algumas crateras.
Esse mecanismo parece estar em ação também em outra lua de Saturno, Hipérion. Em Hipérion, a superfície é tão enrugada que neste caso o deslizamento de material escuro deve ser mais intenso, o que explicaria a quantidade de crateras escuras. Esta hipótese de segregação térmica tem uma parte que remonta a uma idéia de 30 anos atrás. Há muito tempo atrás, a deposição de uma fina camada de material escuro sobre o solo iniciou a evaporação do gelo. Esta evaporação foi ficando cada vez mais eficiente, conforme mais material escuro era depositado e mais calor ele retinha. Isso aconteceu em toda a superfície que vai à frente durante uma órbita de Jápeto. Isto porque Jápeto sempre mostra a mesma face para Saturno, tal como a Lua mostra sempre a mesma face para a Terra.
Esta face perdeu quase todo o gelo (restando apenas um pouco nas altas latitudes) e acabou mais escura. Já a outa face (aquela que fica “de costas” na órbita) mostra partes escuras apenas nas regiões de maior insolação, justamente onde há mais evaporação.Além de resolver este mistério das cores de Jápeto, a Cassini mostrou também que a estrutura geológica que mais se parece uma longa montanha que cruza toda a pequena lua bem na faixa do equador tem origem tectônica.
Esta longa montanha que dá a Jápeto a forma de uma noz era outro mistério que os astrônomos não conseguiam resolver. As duas hipóteses possíveis eram a de origem tectônica, sem precedentes no nosso Sistema Solar, ou originária de um choque com um corpo externo. As imagens agora mostram que a primeira é muito mais provável.