Era 09 de dezembro de 1996, uma segunda-feira, por volta das 18h30, quando o marceneiro semianalfabeto Plínio Bragatto teve uma experiência de outro mundo. Então com 74 anos e pai de dois filhos, ele retornava ao sítio no qual era caseiro, no Pico do Ibituruna, o morro mais alto do município de Governador Valadares, em Minas Gerais, quando algo mudaria sua vida. Antes, no caminho, parou no bar e mercearia de Carlos Andrade e comprou quatro latas de cerveja. Interrompendo a subida, sentou-se em uma pedra à beira da estrada e bebeu duas delas.
Já estava escuro quando Bragatto divisou um objeto ovalado descer do céu e pousar próximo a ele liberando várias “pernas”, conforme declarou. Uma porta se abriu e uma “escada de borracha com corrimão” se estendeu até o solo. Do interior do disco, um homem com mais de dois metros de altura acenou convidando-o a embarcar. Sem hesitar, adentrou admirando-se com o conforto. “Era tudo muito bonito. Havia mesas, cadeiras e bebidas. Tudo era aveludado e em tom azulado”, disse. Junto com o comandante, havia uma mulher e outro tripulante que se comunicavam falando “castelhano”.
Os ETs vestiam uma roupa colante cheio de “medalhões dourados”, também segundo o mineiro. Sua pele era acinzentada e o cabelo nascia da metade da cabeça para trás. Os olhos e a boca eram enormes, e as orelhas e o nariz compridos. As veias eram muito grossas, salientes sobre a pele. Bragatto achou-os feios, mas em nenhum momento temeu que lhe fizessem mal. “Eu vi que eram gente boa. Eles também rezam, mas diferente, colocando as mãos juntas próximas ao rosto”, afirmou.
Explorando Martiolo e Bacha
Às 19h30, o disco partiu com o marceneiro dentro. Submeteram-no a um exame médico em que teriam lhe colocado uma espécie de colete para coletar dados sobre seu organismo e apalpado a sua barriga com pontas de borracha. Para que se desinibisse, um dos seres também tirou a roupa. “O corpo deles é igual ao nosso, até mesmo naquelas partes”, brincou Bragatto, achando graça. Deram-lhe de beber e comer uma bebida de cor clara e gosto parecido com o do aperitivo italiano Campari, uma fruta chamada pico, parecida com mamão, e uma empadinha gigante.
Em menos de uma hora o UFO chegava a Martiolo, “a capital de Marte”, sempre segundo sua descrição dos fatos. A nave aterrissou em um local aberto, semelhante a um estádio de futebol. “Lá tinha mais gente me esperando do que quando o papa João Paulo II veio visitar o Brasil”. Uma multidão recepcionou carinhosamente o visitante do planeta Bacha, como os marcianos chamaram a Terra. O tráfego de naves no céu daquele planeta era intenso. Havia um grande rio, em volta do qual se erguiam milhares de prédios. As pontes eram feitas de borracha.
Depois de cerca de oito horas, um dos seres perguntou-lhe se sentia saudades de casa. Bragatto respondeu que gostava muito dali, mas preferia a Terra. Pouco antes da partida, sorrateiramente, apanhou uma pedra no chão, semelhante à brita, porém com as superfícies mais lisas, como se tivesse sofrido um processo de envernização, e escondeu-a no bolso. Na viagem de volta, viu um tipo de televisão em que “as imagens flutuavam no ar” — entre elas havia animais parecidos com dinossauros. Bragatto indagou se os seres o procurariam de novo. O comandante prometeu que voltariam em maio de 1997 ou quando as tempestades fossem menos intensas, pois “cinco naves já haviam sofrido acidentes por causa dos relâmpagos”.
Marcas circulares no solo
Eram por volta das 04h30 de terça-feira, dia 10 de dezembro, quando os marcianos deixaram Bragatto em um pasto. “Pensei que eles tinham me abandonado em outro planeta”. Para sua felicidade, porém, avistou um caminhão das indústrias Sadia passando ao longe. Esperou o dia clarear mais um pouco e andou até a estrada, pegando carona com um caminhoneiro. Este o certificou de que estava em Montes Claros, norte de Minas, a 870 km de distância de Governador Valadares, e o levou até a Polícia Civil, aonde só chegaram por volta das 15h00. O delegado de Montes Claros, Castelar Carvalho Leite, a quem Bragatto contou sua história, tratou logo de iniciar as investigações. Telefonou para Governador Valadares e conversou com o investigador André Luiz. O mesmo, a pedido do delegado, deslocou-se ao Pico do Ibituruna onde localizou o improvável: marcas circulares com três metros de diâmetro e pequenos furos na terra, em forma convexa, com cerca de 10 riscos em cada lateral e dois outros furos à frente, como se fossem os pés de sustentação da parte dianteira da nave.
O ufólogo Paulo Henrique Baraky Werner, presidente do Centro de Investigação e Pesquisa de Fenômenos Aéreos Não Identificados (Cipfani) e consultor da Revista UFO, que investigou o caso, ponderou que, apesar da idade avançada, Bragatto era uma pessoa ativa e lúcida — carismático, acreditava piamente no que dizia. Não se contradisse em nenhum momento. Mas, semianalfabeto, não conseguiu ler a credencial do Cipfani que lhe foi mostrada. “Em sua simplicidade, teria dificuldades em inventar uma história tão mirabolante e rica em detalhes”, disse Werner.
Fato fabricado ou real?
A pedra que Plínio Bragatto alegou ter trazido de Marte foi trancada em um cofre da TV Rio Doce. A redatora e apresentadora do noticiário local não permitiu que Werner ou membros de seu grupo a examinassem. Em conversa com o detetive André Luiz, da Polícia Civil, Werner obteve boas referências acerca de Bragatto. Luiz fez um croqui das marcas deixadas pelo objeto na estrada de terra. Ao descrever uma “televisão com imagens que flutuam no ar”, Bragatto referiu-se à técnica holográfica. “Como pôde Bragatto ter sumido de Governador Valadares, leste de Minas Gerais, e reaparecido no dia seguinte em Montes Claros, distante mais de 800 km?”, perguntou Werner.
O comerciante Carlos Andrade foi um dos que afirmaram ter visto Bragatto na tarde de 09 de dezembro, poucas horas antes de viajar a Marte. “Apesar dos pontos positivos, no entanto, a narrativa não é inteiramente digna de crédito”, avaliou Werner. Por sua vez, o ufólogo Márcio Teixeira desconfiava que Bragatto tivesse sido pago pela TV Rio Doce — onde, aliás, trabalhava — para inventar o caso e levado de avião do local de seu sumiço até Montes Claros, no norte de Minas Gerais.