A Ufologia, tal como tem sido veiculada nas páginas da Revista Ufo e, num certo sentido, divulgada para o grande público, divide-se basicamente em duas vertentes – a científica e a não-científica, termo aqui empregado para evitar a restritiva denominação de “mística”. Contudo, ela é bem mais que isso. O Fenômeno UFO está além das fronteiras do nosso entendimento, da nossa percepção de realidade, do raciocínio e dos nossos mais sinceros esforços em tentar apreendê-lo. Na concepção de muitos estudiosos, a Ufologia não se restringe a naves e seres extraterrestres. Ao contrário, muito provavelmente coloca esses elementos em segundo plano, porque tudo nela simplesmente transcende a nossa imaginação.
Se assim é – e de fato é mesmo –, como podemos penetrar em sua natureza? Como ampliar nossa grade de conhecimento dos UFOs? Qual caminho seguir se o que temos percorrido não nos tem levado a lugar algum? Só quem pode responder a essas e outras questões é o nosso entrevistado desta edição, Ademar Eugênio de Mello. Ademar, mesmo com a saúde debilitada, não se furtou em receber o ombudsman de Ufo, Carlos Alberto Reis, e conceder-lhe essa entrevista, numa demonstração inequívoca de sua paixão e compromisso para com o conhecimento.
Ademar Eugênio de Mello é um personagem extraordinário e raro dentro do limitado elenco de pensadores da atualidade. Possuidor de uma inteligência brilhante e uma notável capacidade de síntese, alia tudo isso a um invejável conhecimento em física, matemática, astronomia, astrologia, religiões, civilizações antigas, cabala e vários outros assuntos, o que o torna um dos mais completos estudiosos nesses temas. Ao ser indagado sobre como consegue conciliar uma bagagem científica, racional e analítica a uma formação transcendental, respondeu: “Acho que captei o espírito do que se chama de filósofo natural, um pesquisador aberto a qualquer estudo. Nós não podemos ficar restritos nem ao campo das ciências nem aos conceitos puramente filosóficos ou religiosos”. Com essa postura, ele construiu, desenvolveu, aprimorou e estabeleceu seu conceito de síntese, que o permite navegar pelo imponderável com total domínio e extrema habilidade. Sendo um contemplador do universo, um buscador em permanente aprendizado, Ademar está convencido de que a chave dos grandes mistérios está em nós mesmos – e só a introspecção e o autoconhecimento poderá nos revelar alguns desses enigmas, ou parte deles. Nesta entrevista, ele expõe os princípios que norteiam seus atuais estudos e quais as perspectivas para o assunto que nos traz aqui, a Ufologia. Este é um legado espiritual do mais alto valor.
Em sua opinião, qual é a realidade ufológica hoje? Você ousaria dizer que ela continua sendo um descomunal banco de dados sem resultados efetivamente práticos, um caldeirão de ideologias, dogmas, fanatismo e proselitismo, ou que podemos tirar algum proveito para nossa própria evolução? Sim. A Ufologia é um caldeirão de informações sem nenhum valor prático. Não obstante o fato de ela deixar claro que não estamos sozinhos, que alguém nos observa e até mesmo nos controla. É uma conseqüência inevitável de que recuamos Deus para um pouco mais longe de nós. Com relação à nossa evolução, esse é o aspecto sutil, quase que invisível, que permitiu que as nossas consciências – pelo menos de uma parte pequena da população – evoluíssem no sentido de nos sentirmos seres cósmicos, com uma enorme responsabilidade sobre este planeta.
Que valores mudaram em você que o fariam ver a Ufologia com outros olhos? No começo da minha carreira na área, eu via a Ufologia como uma atividade quase que policial, pois se tinha que provar fatos, conectar tudo e desenvolver teorias sobre as intenções desses seres. Como a maioria dos ufólogos, passei por crises de crença no fenômeno, exceto pelo fato de que eu, minha esposa e filhos fomos testemunhas de alguns avistamentos, que sem dúvida eram de UFOs. As pessoas que me fizeram mudar o foco sobre o fenômeno foram o doutor Leonard Sprinkle [Cientista social dos Estados Unidos e ex-conselheiro da Universidade do Wyoming] e a doutora Gilda Moura [Psicóloga carioca a autora do livro Os Transformadores de Consciência, da Editora Nova Era, 1992]. Isso numa época em que sincronizadamente percebi que a humanidade estava passando por uma grande mudança de mentalidade, e que incorporava fenômenos psíquicos de alto nível. Foi quando separei o que chamo de “Ufologia do tipo Gray” dos contatos ultradimensionais, em que trabalho até hoje. Recentemente, em 2001, consegui sintetizar um pensamento único a respeito da nossa interação com extraterrestres. Descobri que eles sempre estiveram entre nós, em todas as culturas, disfarçados com diferentes nomes.
Vinte anos atrás você defendia uma postura de cautela ao associar a dialética à Ufologia. Você sustenta esses pensamentos ou admite que hoje ela é fundamental para se estabelecer bases mais concretas de estudo? Como disse anteriormente, apesar da Ufologia ultradimensional ser quase que essencialmente intuitiva, não abro mão da lógica, do raciocínio e da dialética nos meus estudos. Eu sempre procuro me basear na Ciência em meus trabalhos atuais, mas nem sempre isso é possível. Nem tudo é redutível ao processo dialético, pois vários temas são multifacetados e disso surge o problema para se fazer a antítese. De certa forma, não importa a forma de pesquisa ou procura que se faz já que todos nós temos um “algoritmo interior”, um programa de solução ou do “sentir” do problema. Na falta de uma expressão adequada ao raciocínio científico, diria que estaríamos diante de uma síntese talvez especulativa, mas conveniente ao nosso atual estágio de inteligência.
Você disse certa vez que o que determina as dimensões divinas é a limitação do nosso equipamento psíquico. O que poderia ampliar as dimensões ufológicas, se continuamos ignorantes no assunto? Não mudei meu pensamento a respeito. Continuo afirmando isso, mas existe uma possibilidade de darmos um salto quântico em nossas consciências, se nos unirmos na tentativa de buscar essas respostas ou na formulação de uma grande síntese. É como ligar várias memórias de computador num único programa, potencializando muito a capacidade informática dessa operação. Acredito que no futuro poderemos ter uma comunicação direta com extraterrestres, a partir do advento do computador quântico, que trabalharia com programas tais como teologia quântica, entre outros.
O comentado matemático e ufólogo franco-americano Jacques Vallée preconiza que nossa atenção deveria se ater antes às origens que aos efeitos do fenômeno. Para você, em qual direção devemos olhar? Em ambas as direções, sem dúvida. Vallée tem toda razão em seu raciocínio, mas temos que aprender também com as mentiras, as fraudes, as pseudoconclusões e até com as mistificações. Mas nunca podemos perder de vista as origens oficiais do Fenômeno UFO, em 1947, que deve ter algo co-relacionado com o grau de evolução que tínhamos na época. Podemos mencionar a fissão do átomo, o uso da bomba atômica, o término da construção do Observatório Monte Palomar (o maior do mundo na época), a quebra da barreira do som pelo avião Bell X-1, o advento do computador por Norberto Winner, a decodificação do DNA por James Watson etc. São todos fatos que mudaram o mundo. E hoje, em que grau estamos?
A necessidade atávica que o homem tem de ligar-se aos deuses teria exercido influência na percepção do Fenômeno UFO, desviando-o da rota original e, em conseqüência, distorcendo sua compreensão dos fatos? Sim, em princípio isso nos parece óbvio, principalmente aqueles que cultuam ufolatria. Mas eu pergunto: E se esse despertar para seres superiores cósmicos já não estava em nossa programação genética e deveria estar ocorrendo por essa época? Eu sou simpático a essa idéia, embora reconheça a complexidade da resposta. Algo parecido com o que aconteceu com você, Reis, como citado no seu livro [Os Portais do Santuário, Biblioteca Esotera 2002].
Creio que a grande identificação da atual geração, dentro dessa fase histórica da humanidade em contato com o Fenômeno UFO, vem ao encontro de um anseio profundo, que está dentro dela e que pode ter uma estrutura arquetípica exatamente como Jung tinha nos prevenido
Seus trabalhos versam muito sobre a chamada “hierarquia celeste”. Existe de fato uma relação direta dela com a “Ufologia do tipo Gray”, como você descreve, ou se trata de planos totalmente distintos? Na minha opinião, são planos totalmente distintos. Os seres que provavelmente estão estruturados numa hierarquia, como são citados na cabala hebraica e noutros escritos sagrados, como os dos gnósticos, são invisíveis, mas atuantes. Eles intervêm em momentos específicos da história humana, em função do que alcançamos no inconsciente coletivo. Deixando de lado o aspecto cultural, não há provas de tal hierarquia, embora eu acredite nela. Penso que a hierarquia e a ética são as únicas formas de se atingir uma longevidade planetária e estelar.
Explique melhor o que você quis dizer com “intervindo na história humana”. Veja bem, eu imagino que essa responsabilidade exista, mas não tenho provas. Seguindo o modelo cultural que temos da humanidade, que por sucessivas vezes foi contactada por inteligências não necessariamente extraterrestres, as quais nos mostraram determinados caminhos ou padrões de conduta modernamente interpretados como religião, creio que essa responsabilidade é mútua. A soma de todas as religiões no quadro das esperanças alimentadas com relação ao homem é, no meu entender, uma equação final, uma vez que todas propagam a libertação do homem do primitivismo e da ilusão, mostrando-nos o potencial divino que há em nós. Potencial esse que se renova e se aprimora cada vez mais. Essa evolução acaba desembocando nessa estrutura hierarquizada. A nossa responsabilidade consiste em caminhar rumo ao centro dessa hierarquia.
Como adepto da linha junguiana, que valor você atribui ao testemunho ufológico? O depoimento ufológico é uma coisa extremamente delicada, pois a experiência nesse campo demonstrou que nem sempre o que se observa é o que de fato acontece. O homem ainda é um ser altamente instintivo, em nível inconsciente. E é diante do misterioso que ele mais se atemoriza, justamente quando toda a sua programação emocional fica alterada, passando por uma súbita e profunda reavaliação em questão de segundos. Creio que a grande identificação da atual geração, dentro dessa fase histórica da humanidade em contato com o Fenômeno UFO, vem ao encontro de um anseio profundo, que está dentro dela e que pode ter uma estrutura arquetípica exatamente como Jung tinha nos prevenido.