Stephen Michalak fora ao Lago Falcon, em Manitoba (Canadá), no dia 1º de maio de 1967, para realizar pequenos trabalhos de prospecção mineral. Dormiu no local e, na manhã seguinte, pôs-se a caminho da área florestal ao norte do lugarejo. Mais tarde, enquanto comia seu lanche, ao lado de um pequeno afloramento de quartzo, de onde avistava um dique feito por castores em um vale, assustou-se com uma revoada de gansos que faziam muito barulho. Olhou para cima e viu dois objetos em forma de disco, com uma estrutura que aparentava ser côncava na parte superior e emitindo uma luz avermelhada. O objeto que se encontrava mais distante parou em pleno ar e, com uma manobra aérea velocíssima, voou em direção oeste. O outro objeto, por sua vez, veio na direção de Michalak, pousando sobre uma rocha levemente inclinada e permanecendo quase oculto a cerca de 45 metros de distância. A nave não possuía os tão conhecidos trens de pouso, mas pairava no ar imóvel. Sua coloração avermelhada passou a cinza metálica, como se estivesse “esfriando os motores”, segundo a testemunha. Fachos de luz de cor púrpura saiam de pequenas frestas na parte superior do objeto, obrigando Michalak a usar seus óculos protetores.
UM CASO SURPREENDENTE – A observação durou cerca de trinta minutos, tempo suficiente para que Michalak fizesse desenhos do UFO em seu caderno de anotações. Ondas de ar quente e um certo cheiro de enxofre amainavam da aeronave, podendo se também ouvir o ruído de um motor e uma espécie de assovio vindo de sua direção, como se o ar estivesse sendo expelido ou mesmo sugado pelo objeto. Uma porta se abriu e Michalak aproximou-se cuidadosamente do aparelho, a uma distancia de 20 metros. Algo parecido com o som de vozes humanas vinha de seu interior, onde havia luzes dispostas como um “painel de computador”, segundo recorda a testemunha. Pensando tratar-se de um projeto experimental americano com defeito. Michalak gritou a seus ocupantes ainda que sem vê-los se precisavam de ajuda. Não houve resposta. Perguntou novamente em outras línguas, e então as vozes cessaram. Aproximou-se um pouco mais, ficando bem de frente daquilo que lhe pareceu uma escotilha. focou a superfície da nave com as mãos protegidas por luvas e notou que não havia sinais de soldas ou rebites como nas fuselagens convencionais que conhecia até então. Ao tirar a mão, sua luva havia quase derretido devido ao calor intenso do objeto. A porta do mesmo imediatamente se fechou e pequenos filetes caíram de vãos ocultos, vedando a abertura. O objeto elevou-se ligeiramente no ar e girou, assim que grades parecidas com tubos de descarga de combustível ficaram sobre sua cabeça.
O objeto decolou rapidamente e, com um jato de gás quente, atingiu Michalak no rosto. O ato da decolagem atirou-o violentamente ao solo, com a roupa em chamas. Rasgando sua camisa para se livrar do fogo, viu o UFO elevar se no céu ate desaparecer. Sentiu ânsia de vômito e uma forte dor de cabeça em seguida. Assim, achou melhor voltar para casa. pois passava muito mal. Começou a longa caminhada de volta ao Lago Falcon e. alcançando a auto-estrada, seguiu a até a cidade. Enquanto caminhava cambaleando, um carro da Policia Montada canadense parou para socorrê-lo. Ao relatar o incidente, o policial disse lhe que tinha outros casos para resolver e não lhe deu muita atenção. Mais tarde, de volta ao seu quarto de hotel, necessitava de cuidados médicos e. a noite, tomou um ônibus de volta a Winnipeg, quando foi levado a um hospital, onde médicos avaliaram seu quadro clínico. O repórter de um jornal ouviu falar do caso e as investigações tiveram então início.
PROCURANDO A VERDADE – O caso Michalak pode ser considerado uma fraude? Procurando um perito para poder responder a essa pergunta encontrei o Dr. Ed Barker. adido cultural do Planetário de Maniloba e considerado uma autoridade local em assuntos ufológicos Barker era membro da ( APRO. a famosa e hoje extinta Canadian UFO Research Association (Associação de Pesquisas Ufológicas do Canadá), que publicava um periódico especializado em objetos voadores não identificados que atingia milhares de leitores, o Canadian UFO Repórter. A CAPRO tinha correspondentes por quase toda a pradaria canadense, sendo assim um recipiendário de informações sobre avistamentos de grande importância no país.
Ed Barktr. Brian Cannon e Barry Thompson fundaram o grupo na época do caso Michalak. mas nos fins dos anos 60 o grupo se desfez devido a conflitos pessoais e a dificuldades no decorrer das investigações, que alimentaram desde então. Nos anos 70, resolvi pessoalmente continuar as investigações. Barker ajudou-me cedendo uma copia de um livreto supostamente ditado por Michalak e escrito por um repórter de origem polonesa. Publicado pelas Edições Osnova, de Winnipeg. o livreto foi incluído em uma lista de publicações recentes, mas ao chegar ao possível endereço da editora, em 1975, ninguém jamais ou vira falar da mesma. Perguntei a Barker sobre os arquivos da CAPRO a respeito do caso e a resposta foi que Cannon e Thompsom levaram a maior parte deles ao deixar o grupo. Era preciso um desfecho para o caso. Assim sendo, Barker convidou-me para uma expedição ao local do avistamento. Fomos em uma velha perua emprestada do Museu Nacional e estacionamos próximo ao hotel onde Michalak hospedara-se anos antes. Embrenhamos-nos através de moitas, pântanos, trilhas pedregosas e uma densa floresta até chegarmos a uma colina, de onde avistamos um riacho. Em uma pequena represa construída por castores, o grasnar de gansos protestavam contra nossa presença.
Havia uma rocha ao lado do local do avistamento, que chamou imediatamente nossa atenção. A rocha formava um leve declive em direção ao vale e correspondia às dimensões descritas por Michalak. Recolhemos algumas amostras do solo e examinamos toda a área. Uma torre da Polícia Florestal elevava-se a algumas centenas de metros e, sendo o objeto tão luminoso quanto descrito, ficamos curiosos em saber se tinha sido observado pelo guarda em serviço. Arquivos contendo entrevistas com o guarda de plantão naquela data desapareceram e. ao tentar entrevistá-lo pessoalmente, seu nome não pode ser revelado. Os guardas florestais às vezes adormecem durante o turno, portanto não pode servir de relatório final para um testemunho ufológico,
AS DIFICULDADES DA PESQUISA – A falta de arquivos tem sido a dificuldade principal de minhas investigações. Alguns anos antes consegui cópias do pouco-conhecido arquivo do NRC – National Research Çouneil (Conselho Nacional de Pesquisas), incluindo um enorme volume de documentos pertencentes a Polícia Montada e à Real Força Aérea Canadense. Entre os artigos coletados estão estudos de Brian Cannon relatando o incidente na revista \’\’Canadian UFO Report”. a revista da CAPRO (hoje está extinta). As análises feitas nas amostras de solo na Universidade de Manitoba revelaram alto índice de radioatividade. Algumas amostras foram enviadas à APRO, similar organização ufológica existente desde os anos 50 nos Estados Unidos e uma espécie de matriz da CAPRO canadense. Lá obtiveram os mesmos r
esultados. Na Universidade, porém, ninguém sabia onde estavam os resultados das análises.
Durante uma nova visita ao Planetário de Manitoba, Barker cedeu-me mais alguns recipientes com amostras, após ter sugerido que um novo teste fosse realizado. Levei-as a um amigo que examinava materiais com um contador (detector) de cintilações. Medimos a radioatividade das amostras e comparamos os resultados aos já conhecidos. Nossos exames indicaram atividade normal de um derivado de urânio, em ínfima quantidade. O caso tornou-se ainda mais confuso quando documentos em mãos provavam a presença do elemento químico rádio nas amostras e, por conseguinte, implicava na imediata evacuação do Parque Whiteshell, onde fica o local de pouso. Denunciou-se, posteriormente, a introdução de partículas de rádio nas amostras, prejudicando o resultado das análises seguintes.
Alguns fragmentos de metal eram outro caso a ser resolvido. Em 1968. Michalak voltaria novamente ao local, desta vez com Gerald Hart, morador de Winnipeg. Vários fragmentos de metal foram encontrados numa enorme vala logo abaixo do local da suposta aterrissagem do UFO e pareciam fundidos pelo calor. Devolta a Winnipeg, Michalak descobriu que eram radioativos (devemos nos recordar que o terreno fora completamente examinado em 1967, mas nada de incomum havia sido encontrado). Documentos obtidos da Companhia de Energia Atômica do Canada indicavam alta quantidade de minério de prata com partículas de urânio na superfície dos fragmentos, ligados por uma substância glutinosa. Em outras palavras, não havia nada de relevante neles.
A BUSCA POR PROVAS – Em 1968, quando investigadores da Real Força Aérea Canadense foram chamados à casa de Michalak para que examinassem as amostras, o relatório oficial continha o seguinte comentário: “Se houvesse alguma fraude neste caso, um enorme esforço teria obrigatoriamente sido perpetrado para se igualá-lo à realidade”. Todos apontaram Hart como sendo o falsificador, mas não havia provas concretas. Os efeitos fisiológicos manifestados em Michalak eram outro enigma. As marcas das queimaduras de segundo grau em seu rosto e pernas ainda são visíveis até hoje. Suas pernas estão aparentemente curadas, deixando uma mancha rosada, sem pêlos, salpicada de pontos escuros sobre o tornozelo. Barry Thompson conduziu Michalak a um centro de pesquisas nucleares para um exame corporal.
As queimaduras, porém, eram (felizmente) de origem mais química do que totalmente radioativa, corroborando sua descrição de um gás quente que teria saído das ventas do aparelho. Os efeitos fisiológicos foram mais além: além das manchas e queimaduras, erupções na pele e a exalação de gases intestinais. Esses sintomas obrigaram Michalak a procurar a Clínica Mayo, em Rochcster, Minesota (EUA). Internou-se no hospital por alguns dias e voltou para casa, aguardando os resultados dos testes. Estes resultados que nunca foram vistos. Em 1969, Brian Cannon recrutou o auxílio de John Magor, editor da revista “Canadian UFO Report”. Magor, por sua vez, contratou o Dr. Berthold Schwarz, renomado ufólogo e psiquiatra, para apurar informações dos arquivos do hospital. Disseram-lhe. no entanto, que não havia resultados dos exames de Michalak em seus arquivos. O sinistro desaparecimento desses arquivos tornou-se popularmente conhecido em Winnipeg e, além disso, os membros da CAPRO acabaram se separando, prejudicando as pesquisas.
OCULTAÇÃO DAS PROVAS – No excelente livre “UFOs and the Behavioral Scientists”, de Richard Haines, descobri artigos de Schwarz mencionando os testes da Clinica Mayo. Segundo eles, o hospital não foi capaz de determinar um laudo médico para os sintomas de Michalak, não se conhece a razão porque tais resultados foram ocultados. Assim, tomei a iniciativa de indagar Cannon sobre alguns temas específicos. As questões eram; primeiro, onde estariam os arquivos das investigações ou, segundo, quem teria realizado as análises das amostras no laboratório de Manitoba? Essas eram apenas parte das indagações e várias hipóteses surgiram sobre o caso Michalak, variando entre a fraude e a sugestão de que o mesmo teria entrado acidentalmente em uma outra dimensão… Essas explicações, entretanto, não eram baseadas em pesquisas. Assim, é evidente que a hipótese extraterrestre ganhou peso, mas. mesmo assim, muitos ainda acreditavam na possibilidade do suposto UFO ser apenas um projeto governamental secreto. O Dr. Sunil Sen, médico da Universidade de Manitoba, era um dos céticos no assunto. Em um seminário em 1976, declarou que Michalak teria se queimado ao tentar construir um foguete caseiro no meio da floresta. A respeito da radiação, sugeriu a utilização indevida de compostos químicos para construir uma pilha atômica.
É muito difícil crer no envolvimento de Michalak em tal empreendimento, mesmo com todo seu conhecimento geológico, e mais difícil ainda era crer que as informações do Dr. Sen, provenientes do Relatório Condon, levassem a tão fictícia hipótese. Os relatos mais estranhos, porém, pertencem ao principal investigador da Real Força Aérea Canadense, o sargento Bissky. cujos relatórios existem aos montes nos arquivos da NRC. Diziam que uma testemunha, de fonte fidedigna, afirmava ler visto Michalak bater à porta de uma cabana perto do lago Falcon na noite anterior ao incidente. Ele estaria, segundo revelou a testemunha, alcoolizado e caíra por sobre uma grelha ardente, entorpecido. No entanto, caso isso tivesse realmente acontecido, as queimaduras em seu corpo não seriam manchas escurecidas, mas sinais de formatos mais ou menos perpendiculares.
NOVOS RUMOS DA PESQUISA – Lembrei-me do encontro de Michalak com um oficiai da Polícia Montada. Visto que o incidente ocorrera à tarde, a versão de Bissky torna-se refutável. Fui até o lago Falcon novamente, na tentativa de encontrar o policial, mas ele já havia trocado de posto e ninguém sabia informar quem no estaria destacamento naquele ano de 1967, uma vez que não haviam registros, pois os arquivos eram eliminados a cada sete anos. Isso é verdadeiro, porém registros desse tipo deviam ser mantidos por um período maior de tempo. Outras possíveis entrevistas com testemunhas tiveram o mesmo destino
A questão da hipnose é também uma incógnita. Barker possui uma fita cassete da sessão hipnótica realizada com Michalak por um especialista. Ao inter- rogá-lo, entretanto, disse, incoerentemente, que jamais havia hipnotizado alguém com o nome de Michalak. E, finalmente, vamos ao falo do manuscrito do livro sobre ocorrido. Este foi escrito em polonês e existe uma grande possibilidade de que a tradução esteja incorreta. A editora, bem como o tradutor e o manuscrito, desapareceram. As investigações seguiram um rumo diferente, pois ficamos às voltas com um emaranhado de informações que não nos levavam à conclusão alguma. É provável que as investigações em si foram malfadadas pela ausência de cooperação entre os menino da CAPRO ou mesmo incompetência. Conversei com Michalak e seus familiares inú
meras vezes e não acredito que ele esteja criando fantasias, a julgar-se pelas evidências que apresenta: seus ferimentos físicos são reais; os vestígios de um possível UFO foram encontrados; vários representantes do governo participaram das investigações; tudo isso além dos documentos que continuam desaparecidos nos arquivos oficiais.
Parece que jamais saberemos ao certo o que aconteceu com este polaco-canadense que se tornou conhecido em todo o mundo como uma das principais e mais célebres vítimas dos nossos visitantes extraterrestres. O caso, de uma só testemunha, é considerado um dos mais intrigantes da Ufologia, sendo que até mesmo o obscuro e suspeito Relatório Condon classificou-o como “não explicado”, e não se furtou, surpreendentemente, de comentar: “Se o caso Michalak for real. ele comprovaria a existência de extraterrestres em nosso meio”. Que dúvida!