Os símbolos não têm nada de estranho. Eles não surgiram do relato de um abduzido por extraterrestres nem foram vistos gravados na superfície de uma nave alienígena. São representações matemáticas que significam contém, está contido e não contém, aqui da nossa ciência terrena mesmo. Uma revisão destes simples conceitos matemáticos talvez pudesse ajudar a pôr um pouco de ordem nessa verdadeira Caixa de Pandora em que a Ufologia se tornou ultimamente.
Este artigo havia sido escrito inicialmente para integrar o 3º Concurso Nacional de Ufologia, que a Revista UFO lançou no ano passado. Mas, ao me informar de seu regulamento, vi que o texto não havia atingido o número de páginas exigido, e por isso o engavetei. No entanto, após ler a edição 128 da UFO, de dezembro passado, resolvi desengavetá-lo e encaminhá-lo ao editor. Minha intenção é oferecer uma outra perspectiva para debates que se tornaram comuns na Ufologia Brasileira, e o faço como leitora sincera e admiradora da postura desta publicação, abrangente e não sectarista. Também espero que o texto auxilie outras pessoas que, como eu, interessadas pela pesquisa da presença alienígena na Terra, buscam respostas para o enigma dos UFOs – que muito provavelmente morreremos sem alcançar.
O que me motivou a redigir estas linhas foi a polêmica – a meu ver totalmente desnecessária – criada em torno das declarações do médium e escritor Jan Val Ellam, pseudônimo literário do empresário potiguar Rogério de Almeida Freitas, em entrevista à UFO 126, quando afirmou que estaríamos no processo iminente de um contato oficial e definitivo com civilizações cósmicas. Suas afirmações funcionaram como uma gota d’água no parco equilíbrio entre as correntes ideológicas que coexistem na Comunidade Ufológica Brasileira, que variam entre as polaridades negação x hiper-aceitação, ceticismo x misticismo, ETs grays x mestres ascencionados, enfim, desconfiança x esperança. Como vimos no decorrer da polêmica causada por Ellam, ainda estamos debatendo a dicotomia razão x fé – como faziam os agentes Fox Mulder e Dana Scully do extinto seriado Arquivo X – para definirmos o que a Ufologia contém e o que ela não contém.
Acredito que penso como a maioria dos leitores da UFO quando digo que pouco me importa o que cada ufólogo, particularmente, pense ou ache a respeito da fenomenologia ufológica. Estou, sim, muito mais preocupada em que aja um local – um fórum, uma lista de discussão na internet ou uma revista de natureza verdadeiramente imparcial – onde os pensamentos de todos possam coexistir harmonicamente, serem acessados, compartilhados, apoiados com interesse por uns e refutados com respeito por outros. Enfim, um espaço onde a “massa pensante” da Ufologia, composta de ufólogos e ufófilos – entusiastas não pesquisadores –, possa exercitar seus neurônios. Sem isso, nada nos espera além da estagnação.
O Tao da Ufologia — O próprio fato de que vertentes se criaram dentro da Ufologia à semelhança das ramificações comuns às religiões já traduz o caráter multifacetado – e, portanto, ambíguo – do Fenômeno UFO e a essência do que compõe a base daquilo que chamamos de Ufologia. Mas, sendo ela uma espécie de “terra de ninguém”, muitos se arvoram como seus donos, detentores da palavra final e das respostas aos o quês, por quês e comos que assaltam todas as mentes confrontadas com a estranheza da manifestação extraterrestre em nosso planeta, em tantos casos até hoje documentados. Em decorrência da existência de divergentes pontos de vistas, “cabos de guerra” ideológicos podem acabar levando a dissensões que enfraquecem as chances de avanço do movimento ufológico.
Isso pode ser comprovado quando se constata, por exemplo, quanto tempo já se passou desde que houve a entrega, em Brasília, do Manifesto da Ufologia Brasileira às autoridades federais, entre elas o próprio presidente da República. O ato ocorreu há dois longos anos, em 20 de maio de 2005, e o documento que deveria ter sido entregue aos seus destinatários pelos militares, que o receberam da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), ainda não surtiu efeito. Com isso, percebe-se que muito já se sabe sobre Ufologia, mas pouco se faz e menos ainda se avança na área, em termos práticos.
Nesse momento em que a união da Comunidade Ufológica Brasileira se faz necessária para que cheguemos a meios mais efetivos de pesquisa, não podemos nos dar ao luxo de enveredar por disputas partidárias e inimizades pessoais, como ocorreu após a divulgação das declarações de Jan Val Ellam. Caso contrário, a exemplo do referido manifesto, chegará o dia em que teremos uma espécie de PUFO (Partido da Ufologia) contra o POVNI (Partido da Pesquisa dos Objetos Voadores Não Identificados) disputando o maior número de cérebros no setor, como fazem os partidos políticos ao se lançarem à cata de votos de credibilidade entre as consciências humanas. Seguindo este exemplo, a experiência política brasileira nos autoriza a elocubrar que veremos um dia surgir uma “CPI da Fraternidade Branca”, ou que o escândalo das conspirações governamentais contra a Ufologia acabará em pizza, ou quiçá até testemunharemos uma inusitada “dancinha dos homens de preto”, em comemoração à não-cassação de um correligionário…
O caminho do meio precisa ser evocado aqui. Não se trata do caminho dos indecisos nem tampouco da utopia harmônica, mas sim do caminho da reserva, da análise imparcial, da ponderação, situações que facultam – na impossibilidade de obtermos respostas definitivas para o Fenômeno UFO – a chance de não incorrermos em julgamentos precipitados. Estes, além de resultarem em conclusões equivocadas, têm a infelicidade de dar origem a “escolas de pensamento”, que segregam em vez de unir. A partir daí o erro se cristaliza, ganha adeptos e seu esclarecimento torna-se muito mais difícil.
Fobias ufológicas — O procedimento cauteloso que a Ufologia deve ter, como qualquer ciência, se evidencia ao constatarmos o caos em que a humanidade vive. Sem falarmos do flagelo das pragas e doenças, basta nos atermos à escravidão do sistema, ao qual o homem se submete a fim de sobreviver, e dentro do qual nasce, cresce, reproduz e morre, à semelhança do gado, sem questionamentos mais expressivos. A angústia desta aparente ausência de sentido para a existência leva à alienação. A dor humana se traduz, especialmente hoje, em violência urbana e na busca inconsciente da cessação pela autodestruição. Por isso o messianismo, fenômeno tão desagradável na visão de qualquer mente racional, é absolutamente previsível numa humanidade que acalenta o desejo de ser sa
lva de si mesma e sonha com o dia em que verá uma justiça divina se manifestar através de seres mais poderosos.
No entanto, se por um lado talvez fosse mais fácil pesquisar Ufologia sem a problemática que surge sempre que se incorre em questões de ordem religiosa, por outro não podemos ignorar que o apelo de uma “ética cósmica” vem bem a calhar numa época em que ONGs se proliferam a fim de promover a implantação de valores mais justos na sociedade. A Ufologia, muitas vezes, é vista com fascinação mórbida ou como última tábua de salvação. Seja um governo que vise avanços tecnológicos ou uma fé que adquire contornos intergalácticos, os temores apocalípticos que a palavra Ufologia evoca produzem sentimentos de incerteza que levam à busca da autopreservação e autoperpetuação. Nem mesmo os ufólogos, archotes dessa mudança, estão livres de tais mecanismos de defesa quanto aos seus próprios sistemas de valores, como vemos ao tentarem adequar a casuística ufológica a parâmetros por eles mesmos definidos.
Jornadas na incerteza — O que se pode afirmar com certeza é que a Ufologia, comprove ela o que quer que seja o Fenômeno UFO, vai abalar o conhecimento estabelecido. E como toda mudança que não pode ser evitada, será protelada ao máximo. Essa nova aurora que desponta no horizonte desafia nossa compreensão e obviamente interferirá na evolução humana, cabendo ao ufólogo, hoje desacreditado bandeirante do desconhecido, a abertura de caminhos que possibilitarão chegarmos a uma verdade mais abrangente. Nessas “caçadas do improvável”, o caçador que volta para casa sem sequer ter visto sinal da caça será também o responsável por traduzir suas descobertas para uma linguagem capaz de ser compreendida por uma massa humana mais quantitativa.
Já tendo sobre seus ombros tantas responsabilidades, não é papel do ufólogo definir o que contém ou não contém a Ufologia. É sua função buscar dados, correlacioná-los e expor o resultado de sua pesquisa ao maior número possível de pessoas. Não a fim de convencê-las, mas de provocá-las, de instigar sua inteligência, de suscitar dúvidas quanto aos seus saberes e incomodar o sossego de suas mentes adormecidas. Revela-se aí a importância do ufólogo como aquele que compila, analisa e classifica os dados, o que originará novas teorias. Em última instância, ele é agente do descobrimento das respostas que a Ufologia contém, e dentro da qual nossa realidade e nós mesmos estamos contidos, e não o contrário.