as últimas semanas de março e durante todo o mês de abril, o Governo se viu novamente envolvido com uma pendenga política, a divulgação ilegal de informações sigilosas dos gastos da administração de Fernando Henrique Cardoso com cartões corporativos. Foi montado e vazado para a oposição um dossiê sobre o assunto, que tem causado muito mais calafrios nos servidores palacianos do que outro dossiê, aquele que toda a Comunidade Ufológica Brasileira já conhece, o Dossiê UFO Brasil, protocolado pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) em dezembro do ano passado, como passo decisivo na implantação da segunda fase do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, iniciado em 2004.
O dossiê sobre o governo FHC contém informações que jamais deveriam se tornar públicas. E seu vazamento, pelo Palácio do Planalto, foi como um tiro que saiu pela culatra, comprometendo o atual Governo de tal forma que ele teve que agir rapidamente, criando uma operação de abafamento e blindagem do foco da contenda, a Casa Civil, o mais estratégico ministério da Presidência da República. Em razão deste erro, agora uma ameaça paira sobre a cabeça da ministra chefe daquele órgão, Dilma Rousseff, que, segundo o brigadeiro José Carlos Pereira, em entrevista exclusiva à Revista UFO, é quem de fato tem acesso aos arquivos sigilosos sobre discos voadores no país. Estes arquivos, como se sabe, são o alvo do Dossiê UFO Brasil. Dilma, provável candidata do Partido dos Trabalhadores às próximas eleições presidenciais, é quem tem a palavra final sobre a liberação dos documentos sigilosos, à frente da Comissão de Averiguação e Análise de Assuntos Sigilosos (CAAIS).
Atenta aos desdobramentos desta nova crise política, e acompanhando o andamento do Dossiê UFO Brasil nas instituições em que foi protocolado, a CBU aguardou o melhor momento para aumentar a pressão junto ao governo, utilizando agora outro artifício legal para chegar aos seus objetivos. O sinal verde para a nova ação dos ufólogos veio através de uma correspondência da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) a este autor. A SEDH é uma das sete instituições onde o Dossiê foi protocolado, e em sua carta, um assessor direto do secretário Paulo de Tarso Vanucchi confirmou aquilo que os integrantes da CBU já haviam detectado por meio de constantes contatos telefônicos mantidos com outro servidor público, um assessor da Casa Civil. Ou seja, que o “tratamento administrativo” com relação ao cumprimento da Lei 11.111/2005 “está sendo ultimado” no âmbito da Presidência da República. Esta lei fundamenta o Dossiê, pois estabelece prazos menores para resguardo de documentos sigilosos no país, categoria em que estão os arquivos ufológicos, permitindo legalmente que os ufólogos tenham acesso a muitos deles.
Já estava tudo pronto para a próxima ação da CBU, que se efetivara com três requerimentos de audiência com as principais autoridades responsáveis pela liberação dos documentos ufológicos sigilosos, o ministro da Defesa Nelson Jobim, a chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, e a autoridade máxima do Executivo, o presidente Lula [Veja nestas páginas]. Em tais audiências iríamos mostrar de maneira ainda mais incisiva que a referida Lei 11.111/2005 deve ser cumprida, nada mais do que isso, e que os documentos ufológicos secretos devem ser liberados à sociedade.
Mas a crise atual acabou levando a duas situações novas para a CBU. A primeira é a que relaciona o assunto de ambos os dossiês em questão – o Dossiê UFO Brasil e o dos gastos de FHC – ao mesmo tipo de informação, ou seja, aquelas que são consideradas sigilosas. Este fato ajuda na medida em que a crise põe a disputa em evidência, levantando a questão do que pode e do que não pode ser revelado à sociedade, ou ainda, do que pode e do que não pode sair de dentro dos arquivos governamentais. Esta situação chama a atenção para a necessidade da transparência nos atos do Governo, questionando quais são suas intenções em manter arquivados e sob total sigilo documentos de interesse da Nação. O vazamento do dossiê dos gastos de FHC provocou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, disputada por forças políticas dentro e fora do órgão, em franca oposição entre si, alardeando aos gritos a necessidade de convocação das autoridades envolvidas no escândalo. A crise vem da pressão, a favor ou contra, para que estas testemunhas deponham e revelem a verdade sobre o assunto.
Encadeamento de fatos
Então, aparece no cenário a segunda situação para a CBU atingir seus objetivos. Ora, sabemos que duas das autoridades na mira dos parlamentares oposicionistas são os ministros Jorge Armando Félix, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Ambos fazem parte da Presidência da República, além de comporem a CAAIS, entidade acionada através do Dossiê UFO Brasil. Rousseff é, inclusive, a coordenadora da entidade, enquanto que o general Félix é o segundo em sua hierarquia. Não é difícil se inferir que há um importante encadeamento de fatos aqui, que pode muito bem auxiliar no alcance dos objetivos traçados pela campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Assim como, também, pode atrasar o andamento dos papéis, devido à importância que o Governo dá a um ou outro dossiê, aquele dos gastos de FHC e o dos ufólogos brasileiros.
Certamente, esta administração dará prioridade absoluta ao assunto onde lhe aperta o calo. E este, de longe, não é o Dossiê UFO Brasil, insignificante na ótica dos leigos, se comparado ao vazamento dos gastos de FHC. Portanto, as ações dos ufólogos têm que ser muito bem coordenadas, para que, não sendo prioridade, se procure aproveitar da situação vigente. E assim estamos fazendo. Ainda tendo em vista a citada conjuntura política, este autor e o ufólogo Roberto Affonso Beck, integrantes da Revista UFO representantes da CBU em Brasília, protocolaram no dia 08 de abril requerimentos de audiências que visam, sobretudo, discutir com as autoridades a demora no cumprimento daquela lei, aproveitando o momento oportuno em que o assunto está em alta.
Este é um ano de eleições municipais, o terceiro do último mandato do Governo Lula e estamos há pouco mais de um ano e meio das próximas eleições presidenciais. Qualquer governante que se encontre neste estágio e nas circunstâncias políticas atuais, quando não está desempenhando funções administrativas que viabilizem projetos vistosos e tragam mais popularidade à sua administração, dedica boa parte do seu tempo ao fechamento de acordos políticos com o Congresso. Além de ter que defender seus quadros
políticos e projetos dos constantes ataques da oposição. Somem-se a isso os compromissos diplomáticos do presidente, as viagens para inaugurações e o constante assédio de parlamentares, entre outras autoridades, solicitando audiência para tratar de interesses coletivos ou individuais.
Assim, não restam dúvidas de que o encontro com o presidente, solicitado em requerimento, seria o mais difícil. O pedido de audiência foi feito e protocolado, e a resposta veio em uma semana, negando a possibilidade de Lula receber os integrantes da CBU, como já era esperado. Desta forma, nosso pedido foi encaminhado por sua assessoria para que o general Félix pudesse tratar do assunto com os ufólogos, em nome do presidente. Até o fechamento desta edição, respostas aos dois outros requerimentos, à Casa Civil e ao Ministério da Defesa, ainda não haviam chegado, ou seja, as solicitações continuam em aberto. No Ministério da Defesa, a falta de resposta foi justificada pelo excesso de viagens do ministro Nelson Jobim. Na Casa Civil, a desculpa alegada foi a de que, diante da recente crise, todos os esforços da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) – órgão onde estão sendo providenciadas as diligências do Dossiê UFO Brasil – estão concentrados na solução do imbróglio causado pelo vazamento de informações.
Já no GSI, detectamos movimentação no sentido de atendimento à solicitação de audiência com o general Félix, em substituição à marcada com Lula. Um telefonema e a troca de e-mails com os responsáveis pela agenda do chefe do órgão acertaram os detalhes sobre o possível encontro da CBU com um dos membros da CAAIS. E esta é a situação atual do Dossiê, que aguarda resoluções e decisões de nossas autoridades.
A desorganização também é um fator de atraso no trato e no atendimento aos nossos pleitos. Um exemplo dela foi a resposta negativa sobre outra informação solicitada, crucial para o andamento do Dossiê, dada por um dos assessores da ministra Dilma Rousseff, em 23 de abril, quando fizemos um último contato antes do fechamento desta matéria. Perguntamos se a Casa Civil já recebera alguma comunicação do Ministério da Defesa em resposta aos seus questionamentos sobre a existência dos arquivos ufológicos, feitos ainda em janeiro. Sabíamos, desde o início de abril, que um ofício daquele ministério, registrado sob o número 3206/GAB, havia sido emitido à Presidência da República em 31 de março. Como até aquela altura dos acontecimentos, os principais responsáveis pela tramitação do Dossiê UFO Brasil não sabiam daquele documento? Seria cômico, se não fosse lamentável, o fato da SAJ informar a este autor que “iria procurar o ofício”, uma vez que só faltaria essa confirmação para a CAAIS ser convocada pela ministra Rousseff.
Por outro lado, enquanto aguardamos respostas neste moroso processo burocrático, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) não está parada. Concomitantemente aos momentos finais da tramitação do Dossiê UFO Brasil, o co-editor Marco Antônio Petit forneceu subsídios à repórter Fátima Sá, do O Globo, para a veiculação de reportagem onde o movimento UFOs: Liberdade de Informação Já fosse mostrado com clareza num dos veículos de maior circulação nacional. O intento teve sucesso, a matéria intitulada Arquivo X: Ufólogos Cobram do Governo Documentos Secretos Sobre Aparições de Óvnis foi publicada dia 20 de abril na Revista O Globo, um dos destaques no principal encarte daquele domingo. A matéria chamou a atenção para a demora nas respostas do Governo e citou, em primeira mão, os pedidos de audiências protocolados no Executivo. Aumentava a pressão sobre a Casa Civil, uma vez que mais pessoas se inteiraram do assunto e os mais interessados passaram a cobrar respostas.