Através do depoimento de um guarani do município catarinense de São Carlos, o pesquisador José Hauser tomou conhecimento da lenda indígena do pergaminho, que se revelaria, anos depois, um manancial de significativas informações arqueológicas. Mais tarde, por informação de Antônio de Matos, seu amigo na juventude, Hauser passou a se interessar e a estudar arqueologia e história, buscando mais informações sobre o roteiro de atividades dos padres jesuítas no Brasil, em especial em seu estado. Ele deixou um legado para as gerações seguintes.
O pergaminho que deu origem à lenda existe e foi subtraído dos porões do Vaticano. Ele relata a existência de um enorme objeto misterioso e brilhante guardado nos subterrâneos dos “quarenta marcos de pedra-ferro” da localidade conhecida como Volta Grande, à margem do cânion do Rio Uruguai, no município de Caxambu do Sul, extremo oeste de Santa Catarina. A lenda guarani menciona um quadrado de pedras, onde só se pode chegar através de uma taipa, também de pedras, que parte da cabeceira da ilha de Nonoai, na divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo a lenda, naquele quadrado estaria enterrado o “maior tesouro das Américas”, de acordo com as palavras do guarani Kaiuón, último guardião do local considerado sagrado. É importante esclarecer, entretanto, que um tesouro, para a cultura indígena, nem sempre corresponde a metais ou pedras preciosas, mas sim a algo que uma tribo considera verdadeiramente valioso. Desta forma, o objeto descrito pela lenda poderia ser uma peça de antigos cerimoniais e que possua poderes incomuns.
Ouro e diamantes — O roteiro jesuítico, mais preciso que a lenda indígena, registra que “…na margem do Gôio-En [Assim era conhecido o Rio Uruguai] , no cerro do Gato Preto, existe uma sanga seca, por nome de Sanga Sangaço. Na sua cabeceira existe uma lagoazinha. A 54 passos à mão esquerda desta pequena lagoa estão quarenta marcos de pedra-ferro fincados no chão puro. Debaixo dos quarenta marcos de pedra existem 30 cm de tabatinga socado com mão de pilão de pedra. Debaixo, há uma lousa da altura de um homem e, abaixo, há uma tina redonda, cheia de barras de ouro e cravada de diamantes…” No roteiro jesuítico percebe-se claramente a referência a um objeto redondo – a tina – de imenso valor, por ser “cheia de barras de ouro e cravada de diamantes”. É importante ter em mente que os jesuítas apenas registraram informações que os guaranis lhes passaram através da sua tradição oral.
No início de dezembro de 1987, quando este autor começou suas escavações no quadrado de pedras referido na lenda – conhecido pelos moradores da região como “Local dos Quarenta Marcos” ou “Morada do Arco-Íris” – não tinha a menor noção do mistério e da estranha energia daquela área. Mas, à medida que se aprofundava nas entranhas da terra, partindo do cume do morro batizado de Cerro do Gato Preto, foi desenterrando estruturas e muralhas feitas com milhares de marcos de pedra. Foi uma descoberta extraordinária! Brotaram do chão puro uma pirâmide, um portal imenso e uma grande muralha, além de sinalizações em forma de meia lua, ferradura e de um estranho animal. Todo esse trabalho foi acompanhado pelos colonos da região, e realizado com autorização do Governo do estado de Santa Catarina. No entanto, “forças ocultas” agiram para afastar-me e a minha equipe do local dos acontecimentos, e para que os trabalhos sofressem problemas de continuidade.
Escavando o passado — Derrames de basalto, originados da cristalização de magma vulcânico, são comuns na região Sul do país. Ao se resfriar, o magma forma marcos de pedra misturada com ferro derretido com formatos específicos, de três a oito lados, sendo o mais encontrado o hexagonal. Espalhados por imensas regiões de todo o planeta, existem derrames basálticos que chamam a atenção por suas curiosas formas geométricas.
Como exemplo, pode-se citar o rochedo vulcânico de Mallias, perto de Saint-Jean-le-Noir, na França, e a Calçada dos Gigantes, na Irlanda. Muitas civilizações desconhecidas usaram as colunas de basalto para levantar estranhos templos e palácios, como é o caso das ruínas de Nan Madol, na ilha de Temuen, nas Carolinas. As ruínas de Nan Madol existem desde tempos remotíssimos. No entanto, a época da origem dessas obras pré-históricas está para ser determinada, e da mesma forma continuam incógnitos aqueles que as levantaram. Sobre esse fascinante assunto, vejamos o que nos informa o escritor Erich von Däniken, após sua visita a tais estruturas nos mares do sul do Oceano Pacífico: “Em companhia de dois insulanos, passei por muitas daquelas ilhotas, até chegar a Nan Madol, igual a todas as demais, das quais se destaca somente pelas estranhas obras de arte implantadas em seu solo. Naquela minúscula ilha tropical do tamanho de um campo de futebol, encontra-se o panteão, a pequena cidade de basalto, o retiro de visitantes pré-históricos”. Estudando bem as linhas tortuosas e confusas do campo de ruínas, Däniken descobriu o esquema original daquelas obras. Um bom exemplo é o jogo de micado, com inúmeros pauzinhos colocados uns sobre os outros. “Naquele lugar, os pauzinhos do micado se encontram ordenadamente dispostos. O jogo, por certo, não era nada simples, pois os pauzinhos são colunas, blocos de basalto que pesam toneladas”, descreveu em sua obra Semeadura e Cosmo [Editora Melhoramentos, 1973].
Lava enrijecida — A pesquisa feita pelo autor suíço constatou que as colunas de Nan Madol são feitas de basalto de lava resfriada e endurecida. Ele achou estranho que a lava tenha enrijecido exatamente na forma de elementos geometricamente sextavados e oitavados, quase feitos sob medida, todos apresentando comprimento uniforme. “Como no litoral norte da ilha de Ponape foi extraído basalto para colunas, prontifico-me até a deixar passar tal explicação simplista da lava enrijecida, sob medida, aceitando a hipótese de que esse material de construção, de primeira qualidade, tenha sido lavrado e trabalhado no local”, concluiu. Suas investigações sobre Nan Madol, e outros locais misteriosos, são tão pertinentes que mantive contato com ele para que pudesse tecer comentários ou fazer avaliações a respeito da descoberta em Volta Grande. Däniken se mostrou interessado em conhecer o local, mas nunca chegou a ir até aquela região.
As peculiaridades de Volta Grande não são diferentes das de Nan Madol, pois as estruturas encontradas naquela área de Santa Catarina são igualmente construídas com pedra-ferro lavrada, e sua maioria tem geometria pentagonal. Para atiçar ainda mais minha curiosidade e espanto, encontrei em minhas escavações peças de cristal lapidadas em forma de T dentro de vasos de cerâmica guarani, conhecidas como tambetás e utilizadas para guardar restos mortais ou objetos considerados sagrados. Aquelas peças em T são conhecidas pelos índios co
mo tembetás e são feitas geralmente de madeira, osso, resina e até de cristal. Porém, sua utilidade ainda é desconhecida pelos pesquisadores. Uma peça específica, feita de cristal e com a textura da pele humana, me chamou a atenção pela sua perfeição. Nenhum nativo teria condições de lapidar aquela pedra de forma tão aprimorada, com acabamento tão perfeito.
Sabe-se que os índios guaranis costumavam usar tembetás em furos na boca, mas quase nada além disso se conhece sobre sua finalidade. Segundo o indigenista João Américo Peret, diretor do Museu Etno-Arqueológico do Instituto Superior de Cultura Brasileira, esses objetos de cristal são de origem desconhecida. Peret declarou na edição de novembro de 1992 da revista Geográfica Universal que “os tembetás de quartzo hialino são usados em furos artificiais no lábio inferior pelos carajás e caiapós há séculos. Os índios atuais ignoram como eram confeccionados, mas sabem por tradição que fazem parte da sua cultura”.
Em Volta Grande, os construtores do misterioso quadrado de pedras confeccionaram e usaram tembetás de cristal, mas para qual utilidade? Imagina-se que, por serem de cristal, serviriam como um minúsculo armazém de informações ou de irradiação de mensagens para lugares distantes, pois uma das propriedades desse material é justamente ampliar as vibrações energéticas e sensoriais. A menina Verônica Galindo, ao acariciar um dos tembetás encontrados na escavação, simplesmente desmaiou. Mas uma surpresa ainda maior aconteceria na noite de 21 de dezembro de 1987, confirmando a natureza inusitada daquela peça arqueológica.
Uma sonda ufológica — Naquela data, saindo da área das escavações, eu e o motorista Nelson Lopes nos dirigíamos a outra localidade do estado quando, vindo de longe, surgindo do nada no escuro da noite, aproximou-se rapidamente de nosso carro uma esfera branca. Ordenei ao motorista que parasse o automóvel e apagasse as luzes. Descemos e fomos à frente do veículo, quando vimos melhor uma grande bola branca parada no céu. Ela não irradiava brilho ou luz, era opaca como uma hóstia suspensa no ar. De repente, como num passe de mágica, sumiu e uma tênue massa de claridade nos cobriu. Até hoje procuro me lembrar exatamente de tudo o que aconteceu, buscando explicação. Passado algum tempo dessa estranha ocorrência, percebi em meu corpo, na altura onde começa o couro cabeludo, três pontos salientes formando um pequeno triângulo. Também passei a sofrer de derrame pelo nariz de um líquido incolor, entre outros pequenos distúrbios físicos e psíquicos.
Ocorrências misteriosas — Está claro para mim que a observação daquela sonda ufológica e as conseqüências posteriores estavam relacionadas com minhas atividades naquele sítio arqueológico. Mas outros fatos inusitados também aconteceram na área, como que a validar a hipótese, como o caso do caçador Guerino Machado. Eram aproximadamente 02h00 de 07 de janeiro de 1989, o céu estava estrelado, limpo e o ar estava fresco quando o caçador se movimentava nas imediações do enorme vale das escavações, perto da pirâmide. Foi quando parou sobressaltado, pois começou a ouvir uma seqüência ritmada de sons. “Era como se alguém arrastasse uma pesada e grande corrente sobre as pedras”, descreveu.
Esgueirando-se pelo meio do mato, Machado chegou à 10 m da estrutura, que daquele lado da mata continuava soterrada. Espantado, avistou uma esfera avermelhada, que definiu como um pouco maior que a Lua cheia. O objeto subia e descia, provocando o tal ruído que chamou sua atenção. O caçador permaneceu tão entretido com o fenômeno que, só depois de alguns minutos, percebeu que havia dois homens abaixados que pareciam realizar alguma atividade no quadrado de pedras. Os seres se aproximaram de Machado deixando-o em pânico. Eles usavam macacões escuros, tinham cabelos compridos e suas cabeças eram maiores que o normal, além de parecerem gêmeos. Apavorado, o rapaz fugiu para o cume do monte, de onde continuou a observar no céu a esfera vermelha, que fez uma longa curva e sumiu em direção à cidade de Alpestre (RS).
Cavalo branco voador — Outros relatos de estranhas aparições surgiram e foram registrados ao longo dos meses e anos seguintes. Os casos são interessantes e receberam interpretações curiosas por parte dos moradores do local. Uns descrevem um cavalo branco que voa pelo céu, outros falam de uma mulher que aparece em certas ocasiões, que recebeu até o apelido folclórico de “Noiva”. Há pessoas que se referem aos objetos voadores não identificados como bolas de fogo, que surgem do chão e vão iluminando a mata em direção aos “quarenta marcos de pedra-ferro” de Volta Grande, para depois mergulharem e desaparecerem nas escavações, como se lá fosse a sua guarida.
Porém, o mais estranho – e trágico – acontecimento se deu na manhã de 25 de outubro de 1989, ao dar início às minhas pesquisas na área. A escavadeira limpava a área onde aparecia o terceiro degrau do que se revelaria depois uma escada em frente ao imenso portal, quando, de repente, meu amigo e sócio Jairo Guerini levou a mão à cabeça como se tivesse recebido uma forte pancada. No mesmo instante fui tomado por uma sensação de grande perigo, como se daquele local fosse se irradiar um intenso calor capaz de derreter a própria máquina. Guerini me fez um sinal para que saíssemos do buraco e conversássemos na entrada, e aos gritos informou-me que iria abandonar os trabalhos de escavação. Por alguma razão misteriosa, ele ficou muito perturbado e não conseguia controlar o pavor de que fora tomado.
Pés
enormes e mãos pequenas — Para dar prosseguimento aos trabalhos, tive que afastar Guerini imediatamente da área. Pouco tempo depois ele morreu carbonizado dentro do próprio carro, que capotou e pegou fogo num terrível acidente. Teria o calor intenso que eu pressenti sido um presságio da tragédia que viria a ocorrer? Mas quem me teria enviado essa mensagem? Não sei responder, mas a partir de então iniciei um novo período de pesquisa na área, com o objetivo de penetrar definitivamente no imenso portal de pedras que se abriu. Ao fazê-lo, examinei uma laje onde estão impressas marcas de pés enormes e mãos pequenas, estranhos símbolos em forma de tesoura e muito mais.
Mas, afinal, qual será o mistério do estranho e poderoso objeto redondo guardado nas entranhas do Cerro do Gato Preto? Qual seria sua ligação com a bola branca que pairou sobre nossas cabeças? Após muitos anos de árduo trabalho e muitas reflexões, finalmente tive uma resposta mais satisfatória do que as fantásticas lendas que cercam aquele quadrado de pedras. É impossível não se sentir atraído pelos mistérios de tais locais, que guardam muitas das respostas que o ser humano vem buscando há milhares de anos. Será que a realidade é ainda mais fantástica do que as lendas? Minha inquietação quanto a esse enigma levou-me a escrever, ainda nos anos 80, a obra A Morada do Arco-Íris, que acabo de reeditar. Nela penetro profundamente nas entranhas daquele que seria o “maior tesouro das Américas”, emprestando as palavras do índio Kaiuón, último guardião daquele local sagrado do oeste de Santa Catarina.