
Há quatro anos o país foi sacudido por uma revelação bombástica que alteraria o rumo da Ufologia Brasileira. Em janeiro de 1996, um ufólogo de Minas Gerais denunciava que o Exército e uma corporação do Corpo de Bombeiros de Varginha, no sul daquele Estado, haviam capturado pelo menos duas criaturas alienígenas. O caso gerou repercussão nacional imediata, tendo a Imprensa divulgado o fato aos quatro cantos. Isso fez com que estudiosos de várias partes do país acorressem à cidade para auxiliar na investigação do episódio – que tornou-se o mais importante de nossa rica casuística. Hoje a ocorrência é conhecida mundialmente como o “Caso Roswell brasileiro”.
Pois foi o advogado Ubirajara Franco Rodrigues o ufólogo que desencadeou toda essa movimentação, após descobrir o que se passara naquele sábado de 1996. Dono de um extenso currículo de boas investigações e intensa participação no cenário ufológico nacional, com seu afiado faro, Ubirajara apurou todos os fatos relativos às complexas operações de captura, transporte e contenção das criaturas de Varginha. Esse foi, com certeza, um dos mais expressivos momentos de nossa Ufologia, mas o ufólogo mineiro tem outros feitos dos quais se orgulhar. Durante sua carreira de mais de três décadas dedicadas à pesquisa ufológica, investigou dezenas de casos de observações e aterrissagens de UFOs, além de inúmeras abduções de seus conterrâneos por seres extraterrestres.
Ubirajara é um ufólogo que entende a necessidade de se dominar várias áreas do conhecimento para aplicá-las às pesquisas. É em função disso que usou seus conhecimentos de hipnose regressiva para investigar casos como o do ex-soldado Geraldo Simão Bichara [Veja UFO 07] e do agricultor Arlindo Gabriel dos Santos [Veja UFO 68]. Hoje, estuda Psicanálise Clínica na Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil, para aplicar tais conhecimentos aos seus métodos ufológicos. Sua última contribuição à Ufologia Brasileira aconteceu mês passado, quando teve sua obra Na Pista dos UFOs publicada pela Biblioteca UFO. O livro reúne suas melhores pesquisas, apresentadas em detalhes, além de capítulos em que discorre sobre sistemática e instruções de investigação.
Para completar, Ubirajara também apresenta na obra um interessante capítulo em que expõe a situação que levou ufólogos brasileiros a defenderem sua postura ética na Justiça – fato inédito em todo mundo. O autor é nosso entrevistado desta edição, tendo recebido a Equipe UFO para uma rápida conversa em que pôde mostrar-nos mais um pouco de sua posição quanto ao Fenômeno UFO e sua exposição nos dias de hoje. “Acho que ainda devemos ter muito cuidado com o assunto. Por estarmos no ano 2000, há muita gente acreditando que já temos todas as respostas para o problema”, disse o advogado, com sua habitual cautela mineira. “Ainda temos muito o que pesquisar e muito mais ainda para crescer internamente, antes de podermos compreender ao certo o que pretendem nossos discutíveis visitantes extraterrestres”, concluiu.
Ubirajara, todos conhecem sua seriedade e a firmeza de seu método de investigação ufológica. Mas sua busca por respostas dentro da Ufologia levou-o a encontrar o que queria? Certamente não. A grande busca de um ufólogo é compreender o fenômeno, e ainda estamos longe disso! Estamos dando os primeiros passos, mesmo que 50 anos já nos tenham permitido concluir a existência dos UFOs. Mas o que são e de onde vêm são questões cada vez mais complicadas, à medida em que nos aprofundamos na tentativa de entender essas manifestações. A Ufologia tem permitido uma satisfação de ordem intelectual e filosófica, pois a própria complexidade do fenômeno já nos inspira a continuar em seu encalço. Veja o exemplo da movimentação de objetos em órbita da Terra, que recentemente vazou para os meios ufológicos através das cenas gravadas a partir dos ônibus espaciais – fatos que a NASA não conseguiu manter em sigilo. Se forem realmente UFOs, podemos continuar acreditando que os centros de rastreamento desconhecem algo verdadeiramente estarrecedor, que periodicamente ocorre nas altas camadas atmosféricas? E até que ponto esses eventos guardam em si uma total desvinculação das organizações e sistemas de defesa das grandes potências?
O Caso Varginha está encerrado, como muita gente pensa, ou ainda faltam detalhes a serem esclarecidos? O caso é raro em termos de descobertas. Acho que jamais a Ufologia andou tão rápido no país. Na pesquisa de Roswell, por exemplo, mais de 30 anos se passaram até que os investigadores pudessem afirmar os acontecimentos básicos da história. Mas aqui, em duas semanas, a Ufologia Brasileira já sabia de alguns dos principais pontos das ocorrências de Varginha. Se estas estivessem sendo divulgadas aos poucos, as pessoas diriam que o caso estaria em plena efervescência. Mas sabemos apenas alguns fatos acontecidos dentro de um grande e complicado contexto – e ele jamais estará encerrado! Continuamos à cata de informações e comparando detalhes que constantemente nos chegam. De minha parte, não estou preocupado em ficar divulgando informações complementares, que confirmam apenas o que já sabemos. Tudo o que chega ao ápice em comentários e agitação pública tende a cair. A divulgação inicial tinha por objetivo firmar um evento sem precedentes para a Ufologia, e firmou. Ainda precisamos saber do rumo que tomou o “material” de Varginha – um cadáver e um organismo vivo. Também, precisamos saber o que teria ocorrido com a primeira criatura capturada e levada para a Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações (MG), sem passar pelos hospitais de Varginha. Dentre outros detalhes…
Você acha que um dia estas informações sobre o Caso Varginha poderão ser efetivamente divulgadas e a população poderá então saber detalhes de tudo o que se passou? Particularmente, doravante, só procurarei a Imprensa quando puder afirmar algo de definitivo, esclarecedor e comprobatório, além do que já foi dito. Estou impressionado com a quantidade de pessoas – das mais diversas qualificações intelectuais, científicas e sociais – que nos procuram para prestar-nos tais informações complementares. Espero que um dia os interessados possam ver divulgados aspectos ainda mais convincentes do caso. E também me coloco na mesma expectativa de todos, aguardando que isso ocorra. O ideal seria que as Forças Armadas e certos setores científicos envolvidos confirmassem tudo, oficialmente. Este é o sonho dos ufólogos e uma exigência do público em geral.
Devemos ter muito cuidado com Ufologia. Por estarmos no ano 2000, há muita gente pensando que já temos todas as respostas para o Fenômeno UFO
Quanto aos outros casos mineiros que você investigou, qual deles foi o que mais contribuiu para que você formasse sua atual idéia de Ufologia? Ainda sou à moda antiga, à la Hynek: prefiro os aspectos físicos do fenômeno. As chamadas sondas me intrigam cada vez mais. É extraordinário que aparentes artefatos com tecnologia avançadíssima estejam cada vez mais fazendo incursões no meio rural e nas cidades. Isso é algo que segue um possível plano de observação e talvez de atos da maior implicação sociológica parecem estar ocorrendo. Os contatos imediatos de graus elevados me permitem ter uma postura cautelosa da Ufologia. O Caso Baependi é um evento em que estão mesclados a sinceridade da testemunha, suas deficiências culturais, limitações de percepção sensorial e, ao mesmo tempo, detalhes que não seria possível ter vindo dessa mesma singeleza. Isto nos obriga a consultar várias áreas do conhecimento humano, para análises mais profundas. O caso de Simão Bichara, envolvido numa abdução dentro de uma instalação militar, é também uma inesgotável fonte de discussões em torno de fatos concretos, tendo como protagonistas muitas pessoas e atos de estratégia militar. Minha idéia atual de Ufologia é a de que estamos trabalhando com um embrionário sistema de estudos que precisa urgentemente se organizar em termos de metodologia, para receber a atenção da Ciência.
Você crê que estejamos próximos de uma resposta final sobre o Fenômeno UFO, ou de um contato oficial com seres extraterrestres? Ainda sequer creio que um contato oficial com ETs seja possível ou mesmo tenha razão para ocorrer. Sou um observador que tem a visão nublada pelas dificuldades que o Fenômeno UFO apresenta. É certo que os eventos ufológicos vêm se multiplicando e tornando-se cada vez mais importantes em termos de manifestação. Não creio que isto seja apenas devido ao aumento do interesse do público ou da tendência das pessoas por coisas estranhas, devida ao misticismo desenfreado que hoje impera – mas estes são fatores altamente relevantes. Ainda assim, atribuir tudo apenas a estes fatores é um radicalismo que parece superado pelas evidências. Digo que ainda aguardo ser convencido de que o contato oficial possa acontecer, em termos sociológicos e até tecnológicos. Acho que ainda não temos dados para saber se há interesse de civilizações muito superiores nesse contato – apenas nossas suposições fundadas em uma lógica muito subjetiva e pessoal.
Quanto ao atual estado da Ufologia Brasileira, o que você acha que está faltando para que a mesma tenha mais credibilidade e seja mais respeitada? Precisamos estudar, aprender a raciocinar, ter mais afinidade com estudos filosóficos, tudo isso para argumentarmos, falarmos e pensarmos. Necessitamos de uma visão mais realista da nossa própria condição de estudiosos, ou seja, de que temos métodos precários e estamos envolvidos num emaranhado de suposições, fundamentadas em um ainda insatisfatório conjunto de aquisições sérias. Penso que a Ufologia Brasileira precisa atentar para o infinito campo de estudos que tem em mãos, pois o Brasil é o maior cenário do mundo nesses acontecimentos. E nós, ufólogos brasileiros, precisamos fazer uma constante e salutar auto-análise, para melhor aproveitamento do potencial dessas centenas de excelentes estudiosos que a Ufologia de nosso país possui. Devemos buscar na metodologia científica nosso amparo. Mostrar aos homens de Ciência que procuramos ter maior critério. E mais do que tudo: fazermos sempre autocrítica, para aprendermos a aceitar críticas alheias. Assim poderemos, também, criticar com ética e embasamento os negadores sistemáticos do fenômeno, os arautos do misticismo descompromissado e os nefastos farsantes que estarão sempre presentes enquanto o fenômeno não se tornar oficialmente aceito.