
Quem for assistir a Estranhos Visitantes imaginando ver um filme cheio de efeitos visuais e naves coloridas, vai se decepcionar. Comunhão, que é o nome original do livro de Whitley Strieber, onde narra sua própria experiência de contato constante com seres dc outros planetas, é um título mais sugestivo que o do filme. Comungar com o interior, com os próprios medos, sonhos, uma viagem às sensações escondidas do inconsciente. No início, a Ufologia precisou derrubar leis físicas. Agora, barreiras do consciente?
Uma criança é capaz de viajar dentro de sua mente com maior naturalidade: não precisa de uma explicação racional para o que vê, como mostra Andy (Joel Carlson), o filho do casal Whitley e Anne Strieber, quando diz calmamente: “Nós estamos sós, exceto pelos médicos azuis”, referindo-se aos lis que passeavam pelo seu quarto e o examinavam. Ou quando desabafa ao pai: “Eles são feios e dão medo, mas por dentro são suaves e perfeitos conto este poema”. A música de Eric Clapton, que toca repetidamente durante o filme, acentua o clima de introspecção.
Muito aplaudida foi a atuação de Christopher Walken, conseguindo caracterizar toda a perturbação de Strieber, a dificuldade de uma pessoa racional em aceitar a existência de um fato totalmente inexplicável. Até quanto uma presença misteriosa e aterrorizante pode desestruturar a vida de um ser humano? Strieber tentou negar a si mesmo o fato de estar tendo contatos com seres não humanos. Consultou médicos, fez hipnose regressiva e tudo o mais que pôde pensar. No entanto, a única forma de resolver foi acreditar e se deixar levar para onde queriam os extraterrestres. Ou para onde queria sua mente?
“Eles dominaram minha mente”, diz Strieber quando vê que tem que aceitar o fato e chega à conclusão de que as respostas devem ser conseguidas diretamente com eles. Sai, então, à busca de suas respostas e atravessa a dimensão terrestre levando consigo, inclusive, uma câmera filmadora. Seria essa passagem um portal, onde foi encontrar seres diferentes de nossa espécie que o fizeram mergulhar em seu próprio inconsciente? Ou os portais seriam uma forma de abdução? Ou as viagens intergalácticas só são possíveis através de portais, onde se pode driblar simultaneamente o tempo e o espaço? Dentro do nosso inconsciente estão guardadas informações escandalosamente inusitadas, vidas passadas, experiências em outras dimensões conhecimentos que só podemos usar se tivermos a coragem de buscá-los.
E quando Whitley se encontra consigo mesmo, realiza uma comunhão — a comunhão com outros mundos. A universalização desse momento do encontro é representada pelos diversos cumprimentos usados pelo ET anão que o recebe: o Nemastê, (o mesmo usado por Miguel Falabela no Vídeo Show) que significa “o deus que está em mim saúda o deus que está em você”. Ou a alusão feita ao cumprimento árabe que simboliza a abertura do coração e do pensamento ao outro. Ou mesmo o cumprimento informal de espalmar as mãos e dançar uma rumba. Se não houver barreira espacial, não haverá barreira cultural ou religiosa.
Encontrar-se; entender sua missão nesta vida, ser escolhido. Strieber foi escolhido (como tantos o são) e aceitou sua tarefa: escrever sobre o inusitado. O casal atinge o âmago de toda a busca a que se propuseram juntos, quando Anne, a esposa, diz a Whitley: “Isto é Deus! Existem muitas formas de Deus se manifestar e, esta pode ser uma. São as máscaras de Deus”. Ou quando diz: “Você foi e voltou diferente. Acho que lhe deram uma dádiva. Use-a”. Não seria a busca de Deus uma busca de nosso íntimo? Esse é mais um motivo pelo qual governos e igreja escondem a 7 chaves todo seu conhecimento ufológico. Você já imaginou o quanto mudaremos cada um de nós e toda a Humanidade, filosoficamente falando, quando a pluralidade dos mundos habitados for aceita sem mais contestações? Quando o homem for, definitivamente, obrigado a jogar por terra a teoria do antropocentrismo?