Os principais estudos na área da Ufologia são baseados nos testemunhos de pessoas que foram protagonistas de experiências com naves de origem extraterrestre – e não é diferente em se tratando de buscar uma classificação da tipologia humanóide. Sendo assim, a testemunha passa a ter importância fundamental para toda e qualquer investigação da casuística, merecendo atenção especial. Num primeiro momento, o grande esforço dos pesquisadores para tentar validar e classificar a casuística passava por uma averiguação se as testemunhas padeciam de alguma doença mental, se ansiavam pela fama ou necessitavam de dinheiro. Se esses três elementos não estivessem interferindo diretamente em seu relato, ele seria considerado autêntico.
Mas com o passar do tempo, os ufólogos perceberam que estes fundamentos não eram suficientes para se classificar os relatos das testemunhas, pois, além da estabilidade mental e de suas intenções, percebeu-se que outras variáveis interferiam diretamente em seus relatos. Os moldes culturais em que vivem, seus valores e meio. Deve-se ter em vista que, salvo um eremita, ninguém é completamente refratário à satisfação que a fama produz. Qualquer ser humano que seja alheio ao entusiasmo, à especulação, ao medo e à fantasia é, sem dúvida, uma pessoa fora da normalidade, de acordo com a média da população. Assim, fica a questão: é realmente possível haver qualquer relato ufológico isento de distorção? Não, realmente não existe! Então, cabe ao pesquisador ufológico estudar essas possíveis variáveis para que fique habilitado a “filtrar” o melhor possível estas aberrações.
Variáveis Importantes — Para tentar entender um pouco estas possíveis distorções que um caso ufológico sofre, desde o momento em que acontece efetivamente até quando fica modelado na descrição de uma testemunha, muitas variáveis precisam ser conhecidas. A observação de um UFO tem ação direta e indireta sobre a percepção da testemunha, física e psicologicamente. Por exemplo, ela tem incapacidade para ver cores infravermelhas ou para perceber sons ultra-sônicos. Assim, podemos afirmar que o que apreendemos no ato do avistamento está diretamente relacionado com as limitações de nossos órgãos sensoriais. E para se somar a essas limitações estão as variáveis circunstanciais do fato: localização da testemunha, possíveis obstruções de seu campo visual, seu estado de ânimo, cansaço ou sono e, principalmente, suas deficiências oculares e auditivas.
Tendo todas essas variáveis agindo diretamente na percepção de um caso ufológico, podemos afirmar que o evento é, na verdade, um avistamento percebido e não um avistamento de fato, e que pode ser bem diferente do fenômeno efetivamente manifestado. O avistamento percebido é aprendido e sofre, inevitavelmente, uma filtragem pela bagagem cultural e mental da testemunha, constituída pelas suas crenças, tabus e hábitos de racionalismo. Por exemplo, uma pessoa que more na selva africana tende a equiparar o objeto observado com elementos extraídos do seu habitat natural, enquanto que uma testemunha de um país desenvolvido o compara com símbolos do seu universo técnico. Uma testemunha determinada pode chamar de paus ao que a outra chamaria de pés articulados. Alguém pode fazer comparações com materiais rudimentares – “parecia um tronco voador” – e outros com símbolos mais modernos – “parecia um foguete”.
Também, de acordo com as disposições mentais da testemunha no ato do avistamento, ela pode prender sua atenção no conjunto do avistamento, enquanto outra pode ser atraída por algumas partes isoladas do conjunto. Tudo isso faz com que o avistamento percebido sofra novas distorções ao ser aprendido pela testemunha e se transforme em um avistamento interiorizado. Esse evento também sofre modificações de acordo com a transmissão dos elementos relativos ao fato em si, desde a ausência de vocabulário apropriado por parte da testemunha até o “recolhimento” deste conteúdo por um outro meio de comunicação. Não é a mesma coisa uma declaração de uma pessoa acostumada a utilizar expressões mais ou menos científicas, ou cultas, que a de uma pessoa limitada pela sua situação cultural e de vocabulário simples e escasso. Da mesma forma não é a mesma coisa que a declaração seja gravada em fita cassete e publicada, do que se é escrita por um divulgador sensacionalista e publicada com ênfase em alguns poucos aspectos – geralmente as partes mais misteriosas e subjugantes do evento.
A contemplação de todo o processo pelo qual uma ocorrência chega a ser divulgada pela imprensa – aqui já denominado de avistamento descrito –, nos leva necessariamente a uma constatação de suma importância: não podemos conceber que o que lemos ou conhecemos de um avistamento ufológico é um registro fiel do fenômeno em si. Na verdade, estamos lidando com uma observação, sua interpretação e consecutiva descrição, impregnada de distorções de um fenômeno avistado. Isso não representa questionar a honestidade da testemunha.
Variáveis Importantes — Para melhor compreensão, vamos ilustrar o que foi aqui colocado com um exemplo da casuística de nosso país. No chamado Caso Bete e Débora, registrado no livro Seqüestros Alienígenas. Investigando Ufologia com e sem Hipnose, de Mário Rangel [Coleção Biblioteca Ufo, código LV-07], os testemunhos das envolvidas foram concordantes. No entanto, como o próprio Rangel comentou, houve pequenas diferenças que não comprometem a validade do caso. Bete descreveu a luz do UFO como sendo branca, enquanto Débora relatou-a como sendo de cor alaranjada e coberta de névoa. Também há uma pequena diferença de formato nos desenhos que ambas fizeram do objeto observado. Tudo isso pode ser justificado, em parte, pelo impacto emocional que as testemunhas sofreram ao se depararem com um fenômeno dessa magnitude, ao foco de atenção que cada uma teve individualmente, seus conteúdos internos etc.
Com essas variáveis atuando, podem acontecer aberrações no avistamento percebido (a observação), no avistamento interiorizado (a interpretação) e no avistamento descrito (a descrição) por cada uma das testemunhas em separado, resultando em algumas narrativas diferenciadas de um mesmo fenômeno observado.