Praticantes do espiritismo, os irmãos Jorge e Napy Duclout alegaram ter mantido contato mediúnico com uma entidade extraterrestre ao longo de sete sessões, a primeira delas realizada em 09 de julho e a última em 06 de setembro de 1952. Transcreveram as mensagens em um livro ao mesmo tempo fascinante e inacreditável, editado em Buenos Aires em dezembro do mesmo ano com o título de Origen, Estructura y Destino de los Platos Voladores [Edição particular do autor]. O subtítulo, já em português e enorme, era Transcrição das Gravações Registradas Durante Experimentos Psíquicos em que se Estabeleceu Contato com um Disco Voador em Data Prestabelecida.
Quem desempenhou o papel de médium foi o mais velho dos dois, Jorge Alberto, então com 50 anos. Engenheiro de vasto currículo, inventou um processo simplificado de terceira dimensão para o cinema, fabricou e instalou os primeiros radiotransmissores da Argentina, a primeira estação de TV — em 1928 — e o primeiro gravador de som com película de 35 mm. Escreveu 25 livros técnicos, ministrou aulas na Faculdade de Engenharia de Buenos Aires e de Sorbonne e foi o primeiro diretor de Navegação e Portos de seu país. Napy, então com 43 anos, era jornalista. Escreveu programas para o rádio e para a televisão, roteirizou 12 películas cinematográficas e dirigiu filmes. No livro começam tecendo considerações sobre coisas além do conhecimento humano e logo fazem uma série de revelações fantásticas.
Segundo a entidade comunicante, os discos voadores que visitavam a Terra com relativa frequência se originavam de Ganímedes, o maior dos quatro satélites principais de Júpiter: “Temos os satélites de Júpiter que são: Io, Europa, Ganímedes e Calisto. Os dois primeiros são pequenos e quase não têm atmosfera. Calisto é quase nebuloso, muito leve. É uma esponja. E Ganímedes é o mais interessante porque não é frio como dizem, mas tem uma atmosfera densa, de 100 km de espessura. E é daí que vêm os discos voadores. Junto com Terra e Marte, é um dos três únicos corpos habitados do nosso Sistema Solar”. Seguem-se tópicos extraídos e resumidos do livro.
Anões extraterrestres e boa vida
Segundo a obra, os supostos seres ganimedianos medem cerca de 30 cm de altura e enxergam em infravermelho. Alimentam-se de bactérias cultivadas em grande escala, mas, em aspecto físico, pouco diferem dos humanos — a não ser pelo cérebro mais avantajado. A Terra para eles é inabitável, principalmente por causa da gravidade, pois aqui pesariam quatro vezes mais. Atingiram um alto grau de progresso técnico, o que lhes permite controlar os átomos a distância. Principiaram a viajar pelo espaço três mil anos antes de nós. No início tentaram com enormes foguetes, muitos dos quais saíram da rota e, atraídos pelo Sol, transformaram-se em cometas chamejantes. Aboliram nações, governos, guerras e problemas sociais. Dividem-se em diferentes raças, geradas por mutações [Alterações nas células reprodutoras]. Vivem em média 200 anos terrestres — um ano, para eles, corresponde a 12 dos nossos. Eliminaram todas as toxinas das suas células. A população total chega a dois bilhões de habitantes.
As cidades dos ganimedianos, também segundo a mesma referência, não são construídas sobre a superfície, que é ocupada por imensos campos agrícolas, e sim a 30 km de profundidade, no interior de gigantescas galerias repletas de lagos subterrâneos. Eles moram em prédios com centenas de metros de altura. Os transportes são elétricos e correm por túneis onde choques e descarrilamentos são automaticamente evitados. Em Ganímedes haveria uma utopia realizada na forma que as nações se unificaram — superaram o ódio racial, a rivalidade, a competição, a miséria, o analfabetismo e todos os males humanos. O assombroso progresso científico, material e social do planeta proporciona um mundo pleno de felicidades. Assim, os ganimedianos adotaram o que chamam de religião universal: “Eles creem em Deus, que predomina sobre todo o universo, muito mais além do que nós cremos”.
Estes enigmáticos anões também se referem aos planetas ao redor. Para os ganimedianos, a temperatura do maior planeta do Sistema Solar, Júpiter, seria de 132º abaixo de zero — muito mais alta do que os astrônomos supunham: “A atmosfera de 600 a 800 km de espessura não deixa o calor irradiar, porque é como um forno revestido de material refratário. Isso foi comprovado pelas fotos que tiramos em infravermelho”. Já Marte seria habitado, porém não está civilizado. “Um formigueiro pode ser considerado civilizado? Há um rei, há muitos operários, há uma rainha. Mas isso não é uma civilização”.
Características dos discos
Quando trataram com os protagonistas a respeito de discos voadores, os ganimedianos disseram ser feitos de uma mistura de lítio, magnésio, alumínio e sódio. Alegam que medem em média 40 m de diâmetro e 6 m de altura. Os bordos podem ser estendidos ou recolhidos, como um diafragma de máquina fotográfica — são recolhidos no espaço e estendidos nas atmosferas dos planetas. As janelas são revestidas de cristal vermelho, que não permite que se enxergue de fora para dentro. Suprimida a gravidade, os tripulantes não sentem as acelerações. Cada disco comporta cerca de 200 ganimedianos, entre tripulantes, passageiros e turistas. Eles carregam um disco menor, uma espécie de sonda que comporta no máximo quatro tripulantes.
Sobre a propulsão destas naves, dizem os ganimedianos que elas aproveitam a gravidade dos astros — na Terra, por exemplo, um objeto livre da força de atração dispararia pelo espaço à velocidade de 106 mil km/h [A mesma velocidade da Terra ao redor do Sol]. O controle de velocidade na atmosfera seria feito graduando a atração exercida pelo planeta. A energia elétrica seria usada, sempre segundo os ganimedianos, para gerar campos eletromagnéticos como os dos ímãs, mas muito mais intensos. A propósito, eles disseram que, no dia em que conseguisse libertar os elétrons, o homem obteria toda a eletricidade de que necessita para suas aplicações.
Os supostos ganimedianos medem cerca de 30 cm de altura e enxergam em infravermelho. Alimentam-se de bactérias cultivadas em grande escala, mas, em aspecto físico, pouco diferem dos humanos, a não ser pelo cérebro mais avantajado
Tais minúsculos seres também falaram dos efeitos luminosos
causados pelos UFOs. Informaram que se separam os elétrons dos átomos e estes produzem uma carga ao redor — uma carga enorme, elétrica, e então ocorre a repulsão. “Ao passar por certas zonas da atmosfera ou da estratosfera, ionizam as partículas e deixam um rastro luminoso. Mudam as cores devido às partículas de diversos gases que se ionizam em distintas matizes. As luzes que as pessoas observam são produtos dessa ionização que os rodeia”. Já quanto aos objetivos das viagens interplanetárias, alegaram que a cada 50 anos realizam um levantamento completo da Terra, examinando nossos progressos, guerras, cidades, invenções etc — em um mapa de três dimensões eles marcariam as zonas contaminadas por radioatividade. De Marte extraem urânio, elemento usado em suas usinas elétricas, enquanto a Terra também lhes serve de circo, com o qual se divertem em suas viagens. A aparência física e os hábitos dos terrenos os tornam personagens fantásticos e selvagens aos olhos dos ganimedianos.
Destruição da Terra
O livro termina com uma profecia e uma promessa que não se cumpriram — a de que a Terra mergulharia em um novo e derradeiro conflito mundial em 1967 e que eles interviriam para salvar a humanidade da inevitável destruição. Como se isso não bastasse, a entidade comunicante anunciou que “dentro de dois anos, no mesmo dia e hora de hoje — 06 de setembro de 1952, entre 22h35 e 24h00 — um disco voador passará sobre Buenos Aires”. Bem, não ocorreu. Mesmo assim, na edição de 09 de outubro de 1954 da revista O Cruzeiro, João Martins publicou uma ampla reportagem sobre os irmãos Duclout, entre eles Na Esteira dos Discos Voadores, na edição de 09 de outubro daquele ano.
Obcecado com as revelações do livro desde que o lera, Martins decidiu ir a Buenos Aires no dia previsto: “Era o caso de vermos o que poderia acontecer. Se isso acontecesse estariam confirmadas todas as outras afirmações enfeixadas no volume”, afirmou. Sua primeira providência foi a de colher informações sobre os autores. Podia ser que se tratassem de irresponsáveis, visionários, ou mesmo de simples pseudônimos encobrindo uma publicação inconsequente. Seu colega Ed Keffel era amigo pessoal do comandante Cesar Ruhl, um dos maiores ases da aviação comercial brasileira, fundador e um dos diretores da Varig, homem equilibrado e de absoluta confiança — Keffel expôs-lhe o caso e pediu-lhe que, em uma das suas viagens a Buenos Aires, procurasse entrar em contato com os autores do livro e lhes trouxesse as suas impressões.
O comandante Ruhl, depois de algum tempo, comunicou o resultado de suas investigações. Encontrara Jorge e Napy Duclout, que, de fato, existiam e, segundo ele, eram homens cultos, responsáveis e em plena posse de suas faculdades mentais — tão bem relacionados que só poderiam sair prejudicados caso estivessem fazendo uma afirmação dessa natureza sem nenhuma base. E, o que é mais importante, o comandante voltou absolutamente certo de que os dois homens eram sinceros e, pessoalmente, ficara convencido de que aquela afirmação se realizaria. Ruhl combinou com Edição Keffel que os acompanharia. Mas, dois meses antes de setembro, foi vítima de um acidente fatal ao levantar voo pilotando um avião cargueiro no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. E assim, os homens de O Cruzeiro tiveram de ir sozinhos à Argentina.
Absoluta calma e convicção
Dois dias antes da data fixada, lá estavam Martins e Keffel. “Na pior das hipóteses, passaríamos alguns dias na capital argentina. Se não acontecesse nada, teríamos nos transformado em simples turistas, o que afinal não é nada desagradável. Mas, uma probabilidade em mil, mesmo somente uma em um milhão, valeria a viagem. Afinal, não é todos os dias que se sabe de alguém com um encontro marcado com um disco voador”, ponderou Martins. Naquela noite os Duclout demonstravam absoluta calma e convicção. Na véspera, Jorge tentara obter uma confirmação, na presença de Martins e Keffel. Entrou em transe e proferiu: “A passagem não será tão espetacular como vocês desejam e imaginam, mas valerá como uma prova. E levem bússolas para o local da observação”.
Aquilo tudo ganhava ares de comédia burlesca. Às 21h00, Jorge ainda continuava em seu apartamento. Ao lhe perguntarem se não convinha se apressarem, tranquilizou: “Temos ainda mais de uma hora. ‘Ele’ só virá depois das 22h30”. Às 22h00, Martins e Keffel se encontravam no Edifício Kavanagh, o mais alto de Buenos Aires, no apartamento do major Mariano Smith, tentando convencer a polícia a liberar o terraço acima do 32o andar — que estava bloqueado por questões de segurança, pois alguns ameaçavam cometer suicídio pulando espetacularmente de lá. Graças ao major, franquearam-lhes o terraço apenas 10 minutos antes do horário. Contou Martins: “Lá em cima, no alto, a Lua cheia clareava tudo. Lá embaixo se estendiam as luzes de Buenos Aires. Nas ruas e nas praças, muitos olhos também vigiavam o céu. No terraço, além de mim, de Keffel e dos irmãos, também se achavam o cinegrafista Oscar Villa, o fotógrafo Milo Dietrich, a estudante de arte Marta Green e o repórter Juan González Ormedilla, do jornal La Critica, além de Juan Carlos Maré, alto funcionário do governo”.
Aparece um disco luminoso
Martins prossegue contando que, “às 20h55 e às 22h59, Jorge Duclout e Juan Carlos Maré assinalaram no zênite um corpo que a enorme altura deixava um traço amarelo. Duração de dois segundos, de leste para oeste. As bússolas andavam meio loucas, o ponteiro se deslocando para lá e para cá. Não me perguntem a razão, pois eu também não sei”. Às 00h30, quando a vigília já começava a ser abandonada, com certa melancolia dos Duclout, estes anotaram em seu relatório que viram aparecer repentinamente, quase ao zênite, um disco que emitia luz branca — de tubo catódico — e que baixava vertiginosamente para logo, a altura de uns 1.000 ou 800 m, fazer uma curva e sair horizontalmente em direção sudeste e se afastar apagando-se subitamente sobre o Rio da Prata. A luminosidade era intensa, porém não iluminava os arredores. A duração do trajeto foi de três a quatro segundos, durante os quais percorreu uns 15 km. As testemunhas ouvira
m o som de um sopro suave que pareceu ter vindo do disco, algo assim como o ar escapando de uma válvula. Tudo foi tão rápido que não os permitiu acionar suas câmeras fotográficas ou filmadoras. O tamanho do disco correspondia a cerca da metade da Lua naquele momento, sendo que sua cor era mais amarela.
Ao passar por certas zonas da atmosfera ou da estratosfera, os discos voadores ionizam as partículas e deixam um rastro luminoso. Mudam suas cores devido às partículas de diversos gases que se ionizam em distintas matizes
De sua parte, Martins confirmou que ouviu a gritaria do “lá vem ele”, mas só teve tempo de ver, por uns dois segundos, algo que descia em velocidade, do tamanho de uma bola de bilhar, brilhando contra o céu, sem deixar rastro. Não parecia um aerólito. Também não pôde afirmar com segurança o que era em uma observação tão breve. Outro grupo — do qual fazia parte o engenheiro José S. Fernandez, professor de física, cosmografia e matemática —, postado no teto de uma casa na Rua Hidalgo, a sete quilômetros do Edifício Kavanagh, também avistou os corpos no zênite que deixavam um traço retilíneo. Às 23h05, anotou-se a passagem espetacular de um disco luminoso com o tamanho da metade da Lua, a 1.000 ou 2.500 m de altura, que seguiu horizontalmente por uns 20 km, de oeste a leste. Ouviu-se o mesmo som e se notou bruscas variações nas bússolas. Os testemunhos mais impressionantes partiram de um grupo de 10 trabalhadores residentes no subúrbio de San Martín.
Eles disseram ter visto por mais de meio minuto, um disco luminoso — mais claro no centro do que nas bordas — que voou de oeste para leste interferindo nos aparelhos de rádio das redondezas. Com um prenúncio que viraria lugar comum de ufólogos e contatados, Martins encerrava a reportagem: “Através desta e de outras histórias aparentemente fantásticas, vai-se firmando a convicção de que algo está para acontecer”. E completou: “De Ganímedes ou seja lá de onde forem, os discos voadores constituem a mais fascinante aventura dos tempos modernos. E talvez estejamos realmente prestes a iniciar uma nova era na história da humanidade”.