Como todos os leitores da Revista UFO já sabem, desde 2008 o Brasil entrou de vez na rota dos misteriosos sinais nas plantações, os agroglifos. São imponentes e impressionantes figuras que surgem de uma hora para outra em colheitas de grãos, em geral trigo. Mas enquanto o fato aqui é novo, em países europeus — em especial a Inglaterra, onde o fenômeno teve origem — já ocorre quase quatro décadas, atraindo, além de ufólogos, uma infinidade de estudiosos que se dividem entre legitimar os agroglifos autênticos, separando-os dos falsos, e tentar entender seu significado. No primeiro caso, o problema se agrava porque grupos de pessoas com as mais variadas motivações reproduzem as figuras nas plantações, embora os especialistas consigam identificar com facilidade as fraudes. E, se no segundo, porque os sinais são óbvias mensagens em linguagem matemática, expressas nos elementos geométricos que contêm.
No Brasil, o tema vem sendo acompanhado com bastante intensidade pela Revista UFO e alguns poucos ufólogos e interessados fora dela. Infelizmente, aqui o fenômeno não despertou tanta atenção. Neste ano, o primeiro agroglifo surgiu ineditamente no Paraná, encontrado na Chácara Santini, bem à beira da estrada que liga a BR-277 a Prudentópolis, e a não mais do que um quilômetro da cidade, de onde podia ser visto com clareza. Estima-se que tenha sido produzido da noite de segunda-feira, 05 de outubro, para terça-feira, 06 de outubro. Em geral, os fenômenos ocorrem mais no final deste mês e podem se manifestar até a primeira quinzena de novembro. O surgimento desta majestosa figura no interior do Paraná indica uma mudança clara no padrão do fenômeno, que até então só ocorria no oeste de Santa Catarina, precisamente na cidade e no entorno de Ipuaçu, na citada época. Não se SABE a razão de a cidade ter sido “escolhida”.
De volta a Ipuaçu
Três semanas depois, o fenômeno voltou às suas características originais e finalmente surgiu na Fazenda Romani, do senhor Moacir Luis Romani, na manhã de 31 de outubro, às 07h00. O local exato fica na Linha Vista Alegre, praticamente ao lado da Hidrelétrica Quebra-Queixo e a 10 km do centro de Ipuaçu. A descoberta foi feita pela equipe da produtora Novelo Filmes, de Florianópolis, que está produzindo o documentário Círculos, para o History Channel, baseado inteiramente nos agroglifos brasileiros [Veja box]. Este editor esteve em Ipuaçu no final de semana anterior ao da descoberta gravando para a produção, mas não apareceu nenhuma figura naquele momento — a expectativa era de que ocorresse algo no final de semana seguinte, Finados, época estatisticamente mais provável e quando, em anos anteriores, tivemos manifestações. E foi o que se deu.
A espetacular figura podia ser vista da rodovia SC 479, pois surgiu a não mais do que 30 m dela. O agroglifo, que foi colhido no final daquele dia, tinha 80 m de diâmetro. Formavam-no um anel ovalado que se expandia nas áreas opostas da imagem, indo até 6 m de largura em suas extremidades maiores [Veja croqui]. As partes contrárias, laterais, tinham menos de um metro e por elas só podia passar uma pessoa por vez. Dentro da figura havia quatro elipses quase idênticas, mas de tamanhos ligeiramente diferentes. Formando um eixo, duas delas, as maiores, tinham 30 m de comprimento por 8,5 m de largura. As que estavam em sentido oposto, também em um eixo que cruzava o anterior, eram 2 m menores no comprimento e 50 cm na largura.
“Cortando” as quatro elipses a uma distância de 6 m de suas partes mais externas havia um círculo de mais de 40 m de diâmetro e cerca de 2 m de espessura. Ao passo que este tinha as plantas dobradas em sentido anti-horário, as elipses — que foram chamadas de “pétalas” pelos pesquisadores e pela equipe da Novelo, por suas características — foram feitas antes e suas plantas estavam em sentido horário. O agroglifo foi descoberto simultaneamente por um vizinho do senhor Romani, que o avisou, e pelos integrantes da Novelo, que naquela manhã, bem cedo, faziam uma busca ao redor da pequena Ipuaçu à procura de algum eventual sinal. Eles percorriam as poucas fazendas que ainda tinham trigo plantado no oeste de Santa Catarina, e se depararam com a incrível imagem.
Sondas?
Também digno de nota é que outros vizinhos do senhor Romani, que residem nas imediações e pescavam em um açude a 200 m de onde surgiu a figura, em um declive, viram na noite anterior, por volta das 23h00, uma luz de cor neon intensa iluminar a plantação e refletir-se na água do açude. Isso é muito comum de ocorrer nas noites anteriores à descoberta de agroglifos e são vários os casos relatados no Brasil e no exterior. Desde 2008, quando as primeiras figuras surgiram nas plantações de Inézio Trentin e Nílson Biazzotto, vizinhos que voltavam tarde da noite para suas casas, na área rural de Ipuaçu, também observaram as tais estranhas luzes. Inclusive em Prudentópolis houve o mesmo fato.
Algumas pessoas que viram as fotos e vídeos com filmagens aéreas imediatamente postadas na internet, comentaram que o agroglifo tinha uma conformação irregular e que as plantas não estavam dobradas tão harmonicamente como em outros casos. Eles têm razão, mas isso tem uma explicação clara. Como a colheita do senhor Romani estava em seus últimos momentos, ou seja, bem madura e naturalmente seca, já estava fragilizada, o que é natural na plantação de trigo — quanto mais maduras as plantas, mas fáceis de serem danificadas pelas intempéries. E a plantação foi toda muito afetada pelas intensas chuvas que caíram na região nos dias anteriores, estando com áreas bem irregulares. E assim, obviamente, um agroglifo que surgisse ali também teria estas irregularidades, exatamente como ocorreu.
Ademais, é um erro muito comum se imaginar que as figuras sejam milimetricamente perfeitas. Isso nunca ocorre, aparentemente por duas razões. A primeira, e mais simples, é justamente o fato de que as plantações nunca são impecavelmente regulares e o terreno abaixo delas também não. E, a segunda, mais muito importante, está no fato de que as inteligências por trás do fenômeno parecem testar as habilidades dos investigadores de campo que pesquisam os sinais, produzindo-os com algum tipo de detalhe ou falha. O agroglifo de 31 de outubro em Ipuaçu é um exemplo típico: à vista destreinada, as quatro “pétalas” têm os mesmos tamanhos, mas isso não ocorre porque duas são ligeiramente maiores que a
s demais. Apenas se percebe a diferença nas filmagens aéreas.
Ceticismo irresponsável
Logicamente, como nos casos anteriores, houve certo ceticismo em torno das figuras descobertas em 2015, expressadas por pessoas aqui e ali, mas em um tom muito mais comedido do que nos anos anteriores — porque, certamente, a persistência do fenômeno, o aumento em seu tamanho e características devem ter acabado por convencer os até então céticos de sua legitimidade, ou, ao contrário, podem ter causado constrangimento a estes assim autoproclamados racionalistas. A Revista UFO, no entanto, mantém sua sustentação argumentativa de que os agroglifos brasileiros, desde o primeiro até estes de 2015, são absolutamente legítimos. Eles não foram feitos por mãos humanas, não são obra da natureza e nem um capricho exótico da vegetação.
O único cético que recebeu alguma pouca atenção ao falar dos agroglifos, em especial o de Prudentópolis, foi o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jorge Quillfeldt. “Esta é a ‘prova’ de existência mais patética que já vi”, disse. Segundo ele, o caso não se trata de um agroglifo e, sim, de “agrodepredação”. O professor perdeu uma boa chance de ficar calado. Criticado por seus próprios alunos e colegas, assim como por milhares de pessoas do país, o professor foi imediatamente lembrado por este editor que o mínimo que deveria ter feito, antes de emitir sua opinião, seria ter ido a Prudentópolis e, depois, a Ipuaçu, ver com seus próprios olhos o que ocorria lá. Ao contrário, jogando no lixo o mais básico princípio da ciência, e com isso demonstrando ter desprezo pelo método de investigação científica — que exige que se conheça e se analise algo antes de se emitir opinião —, Quillfeldt entrou para a história dos agroglifos. Mas pela porta dos fundos.
Surge um filme brasileiro sobre os agroglifos
O segundo agroglifo de 2015 foi uma descoberta da Novelo Filmes, de Florianópolis, que já estava há algumas semanas em Ipuaçu para a produção de um documentário de longa-metragem sobre o fenômeno no Brasil. Seu nome será Círculos e deve ser lançado no primeiro semestre de 2016. Os integrantes da Novelo faziam uma ronda nos arredores da pequena localidade no oeste catarinense, especialmente em busca das poucas plantações de trigo que lá restavam, quando, na manhã de 31 de outubro, um sábado, descobriram a figura quase que por acaso.
Círculos é uma obra original da Novelo produzido por Ana Paula Mendes e Cíntia Domit Bittar, e dirigido por Cíntia Domit Bittar. Sua realização conta com o apoio da Revista UFO e do History Channel, ao qual o projeto foi vendido e que abraçou a ideia desde sua fase inicial, garantindo sua viabilização. O documentário também será veiculado pela rede de TV Record, filial em Santa Catarina. Entre os personagens do título está o editor da Revista UFO, A. J. Gevaerd.
Este será o primeiro trabalho genuinamente brasileiro sobre Ufologia a ser veiculado pelo History, que se especializou em difundir programas sobre a presença alienígena na Terra. E também o primeiro documentário nacional sobre os agroglifos. “Há quatro anos acompanho os agroglifos de Ipuaçu. Em março deste ano, eu e mais três colegas saímos em uma viagem de pesquisa a fim de reconhecer personagens e locais para formatar o projeto do filme. Um dos meus objetivos é transmitir ao espectador aquilo que sentimos durante esse reconhecimento”, diz Cíntia.
Ela conta que, quando descobriram a figura, na plantação à beira da estrada do senhor Moacir Luis Romani, todos os integrantes da Novelo tiveram um estado de êxtase. “Imediatamente sentimos uma enorme emoção”, revela Cíntia. “Naquela mesma hora já havíamos decidido: é autêntico. Enfim, viramos ufólogos naquele instante”, disse Ana Paula.