Não são poucos os pesquisadores que enquadram a Missão Rama na categoria de seita. Suas atividades, consideradas de alta periculosidade na Espanha, foram causa de investigações policiais. Lá, a deputada democrata-cristã Pilar Salarrullana classificou-a dessa maneira em sua obra Las sectas, de 1990. Hão obstante, cometeu um erro ao misturar Rama e o Comando Ashtar, uma vez que eles nado têm a ver entre si (a não ser quando um pega elementos emprestados do outro, como fez Carlos Paz ao dizer que se encontrara com Ashtar Sheran…).
Já o ufólogo espanhol Bruno Cardeñosa, que conheceu Sixto em 1991 e conviveu com vários dos membros da Rama, acha que ela não representa qualquer tipo de perigo, em discordância direta com o ufólogo espanhol Javier Sierra, que afirma: “Os métodos de contato utilizados (escrita psicografada, tábua ouija etc) podem acarretar, por si mesmos, dependência em seus praticantes, como ficou evidenciado no estudo de experiências espíritas. Não há dúvida de que os supostos contatos psicográficos causaram, em algumas pessoas, graves problemas de estabilidade emocional”.
Além disso, o sectarismo é uma característica comum aos grupos dissidentes da Rama, e Sierra adverte: “A Hermandad Rama de Oviedo, por exemplo, liderada por Miguel Copa, tinha comportamentos perigosos. Chegou ao ponto de anular a personalidade dos seus adeptos e arruinar relações familiares. O próprio Benítez (que nunca quis se envolver pessoalmente com a Rama) manifestou recentemente que às vezes se arrepende de ter escrito os livros: \’Creio que criei problemas. Ainda hoje, quando recebo uma carta perguntando-me sobre a Rama, atiro-a no lixo\’, confessou”.
De qualquer maneira, ao conceder total crédito às alegações daqueles aprendizes de contatados, em 1974, o jornalista tornou-se o principal difusor da seita, estimulando milhares de outros a estabelecerem algum tipo de contato similar com alienígenas. De fato, seus integrantes são principalmente jovens que crêem na eficácia dos encontros, através dos quais colocar-se-ão diretamente em ligação com um ET. Trata-se de uma formulação religiosa calcada em valores modernos.
Da mesma forma que aconteceu com Eugênio Siragusa, Paz captava a atenção das pessoas e suas palavras levavam o ouvinte a praticar a nova “filosofia do contatado”, pregando o novo evangelho de Oxalc. E, tal como se sucedeu com Siragusa, o processo de contato também levou as pessoas vinculadas à missão aos tribunais de justiça. Num dos casos em especial, uma mulher em Gerona, sul da Espanha, deixou o marido e os filhos induzida pelo grupo local da Rama.
Olga Caballé Bosch aderiu à seita após receber seu “nome cósmico” em 1987, na cidade de León. Um enviado foi buscá-la para levá-la ao centro de Gerona. “Cristo te chama, agora”, teria dito à mulher, na presença de seus próprios familiares. A partir daí, ela abandonou tudo e seguiu o movimento. Algum tempo depois, Olga regressou à sua casa, provavelmente motivada por problemas econômicos.
MOVIMENTO DESENFREADO – Casos semelhantes têm ocorrido em vários pontos do país, em conexão com a ação de seitas congêneres. Em outubro de 1989, o próprio Sixto Paz confessou, numa entrevista a Javier Sierra, que na Espanha há duas missões Rama: uma (a autêntica) que em momento algum procuraria causar a dissolução da família, e outra (criada por fanáticos, que a Rama original não pôde controlar) que usa o nome da missão em benefício próprio. Apesar disso, e ante essa ambigüidade de fatos, convém estar alerta aos acontecimentos, evitando aproximar-se de tais seitas, pois nem mesmo a chamada original inspira confiança (afinal, foi ela que começou tudo).
Logo no início, as circunstâncias fizeram com que as lideranças estabelecessem uma hierarquia que coordenasse uma série de cerimônias, todas com características específicas, criadas para eventualmente diferenciá-las das mensagens divulgadas antes de 1974, por outras pessoas. Um regime alimentício severo foi imposto aos participantes de determinados grupos. Segundo seus proponentes, este seria o fator fundamental que propiciaria uma boa meditação e uma conexão mais pura com os extraterrestres.
Sierra, no excelente trabalho intitulado Extraterrestres: deuses de uma nova religião?, disse acertadamente que “sob a luz da Psicologia e da razão, não há dúvidas de que o regime alimentar empregado (de baixíssima caloria), somado a outros tipos de restrições físicas, pode provocar um estado alterado de consciência nos presentes, canalizando seus anseios de ter uma experiência mística com os extraterrestres. No entanto, isso não desabilita a organização e os procedimentos da nova doutrina religiosa, em que a fenomenologia adquire uma importância decisiva (talvez exatamente com a mesma intensidade que os milagres e os fenômenos não ordinários no processo de evangelização de todas as grandes religiões)”.