Um pouco antes que o estrondo supersônico sacudisse o seu trailer, o receptor de rádio UHF de Joerg Arnu deu sinal de vida. “Cylon 1, você está no meu radar”, disse uma voz indistinta em meio à estática. E então, com um estrondo, o trailer todo sacudiu em uma onda de choque, Arnu deu um pulo de susto e a grande janela de plexiglass reverberou enquanto um jato zunia velozmente pelo céu sobre sua cabeça. “Isso era provavelmente um F-16”, disse Arnu, olhando pela janela, fechando os olhos um pouco contra o clarão do sol. Ele tinha uma câmera equipada com teleobjetiva ao alcance da mão. “Estão testando uma arma nova, recentemente, e um sistema de laser para derrubar mísseis”, conta.
No seu trailer, na cidade de Rachel, Nevada, Arnu está a cerca de 15 km de uma fronteira militar não demarcada, para além da qual a base altamente secreta da força aérea norte-americana conhecida como Área 51 repousa sobre uma vasta planície salgada, cercada por montanhas áridas e deserto inclemente. A leste, passando por Rachel, a Rodovia Estadual 375 de Nevada, uma estrada asfaltada, de duas faixas, corta uma larga bacia, e faz uma curva ao norte antes de desaparecer no nada mais adiante. Estamos em território alienígena, uma região em que mais UFOs são avistados a cada ano do que em qualquer outro local do planeta, pelo menos de acordo com Larry Friedman, da Comissão Turística de Nevada.
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Uma placa na entrada de Rachel declara que a Rodovia Estadual 375 de Nevada é a “estrada extraterrestre”, um apelido oficializado em 1996. Ao rebatizar a rodovia, a comissão de turismo esperava, na época, atrair viajantes às regiões remotas e austeras do sul e centro do Estado, onde antigos locais de teste de armas nucleares, pistas de pouso secretas do Departamento de Defesa e imensos terrenos isolados e controlados pelos militares criaram um clima de mistério passível de exploração comercial. Para não falar dos discos voadores. “Hoje em dia, vem gente até do Japão para ver o que esse lugar tem a oferecer”, disse Friedman.
De fato, em uma recente tarde de quarta-feira, depois de duas horas de viagem de carro iniciada em Las Vegas e através do deserto completamente vazio do condado de Lincoln, o primeiro turista que encontrei na rodovia extraterrestre vinha da prefeitura de Yamaguchi, no sudoeste do Japão.”Nós viemos à procura de lembranças dos alienígenas”, disse Shihgo Miyamoto, 29, que estava abraçado à mulher, Yoko, os dois trêmulos diante do vento forte do deserto. Tirei uma foto dos dois diante da placa oficial do Departamento de Trânsito de Nevada para a rodovia extraterrestre, tendo ao fundo uma comunidade residencial formada por trailers. “Tão frio, tão vazio”, disse Miyamoto, olhando para o deserto que se estendia para além de seu carro alugado.
A região centro-sul do Nevada é uma terra árida e vazia, despovoada e marcada por leitos de lagos secos, picos rochosos, ravinas e largas planícies aluviais. O governo controla boa parte das terras na região. Nas rodovias desertas, os obstáculos para travessia de gado machucam os pneus, em meio a um cenário que mistura areia e pastos ralos. Dirigir pela rodovia extraterrestre, que serpenteia por 157 km de nada e não cruza qualquer outra estrada importante no caminho, representa uma viagem por uma das regiões mais desoladas do país.
Não existe um posto de gasolina ao longo do percurso. As casas móveis e trailers não encontram estacionamento com pontos de eletricidade em Rachel, a única cidade localizada na estrada. De acordo com o Departamento dos Transportes de Nevada, em média 200 carros transitam em pelo menos um trecho da rodovia a cada dia, o que a torna uma das rotas menos percorridas do Estado. Em minha viagem vespertina pela estrada, em fevereiro, só avistei seis outros veículos. Vindo do norte, da cidade de Alamo, onde passei a noite em uma cabana, a rodovia extraterrestre começa como uma estrada inócua, plana, atravessando o deserto marcado por arbustos espinhosos.
A menos de 2 km do começo da rodovia, um grande galpão prateado ao estilo da Segunda Guerra Mundial se anuncia como Novo Centro de Pesquisa Alienígena, mas a entrada estava fechada por um portão e por isso segui adiante. A estrada corta uma paisagem marciana, vales avermelhados marcados por sulcos, longas depressões repletas de cascalho e arbustos mortos, tudo isso em meio a um círculo de montanhas de rocha estratificada. Bem alto no céu voava um falcão, árvores mirradas procuravam o sol, os galhos tortos cintilando como se iluminados por uma luz interna. Mas eu não demorei a esquecer sobre a natureza e a começar a procurar por OVNIs. Uma placa alertava sobre aviões em vôo baixo. Trilhas de motores a jato marcavam o azul do céu a meia-distância.
Em Rachel, depois de cerca de 40 minutos ao volante, parei no Little A¿Le¿Inn (pronuncia-se “little alien”), um bar e restaurante que vende coquetéis de temática espacial e livros escritos por moradores locais como o “The Area 51 & S-4 Handbook”. As paredes do restaurante estão cobertas de fotos desbotadas pelo sol que mostram alienígenas, discos cintilantes e obeliscos voando entre as nuvens. Antes de deixar a cidade, eu procurei Arnu, 45 anos, engenheiro de software de Las Vegas que mantém um trailer em um terreno que adquiriu em 2003, para descansar da vida de cidade.
Arnu, nascido na Alemanha, opera o site www.dreamlandresort.com, fonte popular de informação sobre a Área 51, diz que a cada ano solicita informações aos militares sobre as datas e horários de grandes exercícios militares, sob a Lei de Liberdade de Informação. Minha visita coincidiu com o exercício chamado Red Flag, em fevereiro, período no qual dezenas de jatos militares ocupam os céus. Arnu disse que “mais cedo, vi Tornados britânicos, F-22s norte-americanos e um F-111 da Austrália”. Para ele, a fixação da comissão de turismo quanto a alienígenas é meio tola. “Gosto de ver aviões”, disse. “Não acredito de verdade em alienígenas”.