V. A. era uma pacata senhora católica, até que um dia começou a ouvir vozes que lhe pediam para que parasse de rezar. Supostamente, eram de extraterrestres, cuja denominação correta, segundo ela, seria “Individualidades Cósmicas Superiores”. Nas mensagens, os ETs anunciavam o fim dos tempos e diziam que só os que seguissem seus ensinamentos se salvariam, resgatados por naves espaciais. Em 1984, V. A. fundou na cidade de La Plata, Argentina, a seita Lineamento Universal Superior (LUS), assegurando ser a única detentora do chamado conhecimento universal. Como chefe e coordenadora do movimento que chegou a congregar cerca de 300 fiéis no Brasil, Argentina e Uruguai, circulava à vontade em congressos esotéricos, místicos e ufológicos disseminando suas idéias pretensamente “iluminadas”.
Entidades cósmicas — Em O Universo de Zuíta, impresso artesanalmente às expensas próprias em 1982, na cidade de Londrina, Paraná, V. A. compilou seus ensinamentos sobre os “conhecimentos universais”, além de diversas mensagens das individualidades e de outros tipos de entidades cósmicas. Ela sustentava que “todos temos sido bonecos, robôs mal programados. E de tal forma que não existem meios ou condições de uma reestruturação. Tudo, absolutamente tudo, foi deturpado. Os valores foram invertidos, os inteligentes careceV. A.ndo de meio ambiente que lhes permita expandir suas inteligências. Os que nasceram com possibilidades, as jogam fora”. Para V. A., o poder e a riqueza estão catalogados como corruptos, quando na verdade são limpos. “Corruptas são as mãos que manuseiam e intencionalmente usam aqueles fatores para corromper. Nossas vidas estiveram à mercê de um corrupto. Antes de virmos a este núcleo, já estávamos, como energia que somos, com nossas programações deterioradas. Ocupamos, neste planeta, um espaço. Mas as pessoas não se mostraram e nem se mostram dignas desta ocupação. Todos se deixam levar mecanicamente. Ninguém luta conscientemente, ou pára a fim de questionar em profundidade: De onde vim? Por que vim? Para que vim? E finalmente para onde estou caminhando? Muito se fala em conscientização, mas não se conscientizam de nada”.
O deus das religiões monoteístas é anatematizado por V. A.: “Desde que nascemos, marcam em nossas mentes que devemos amar a Deus, temê-lo e fugirmos apavorados de sua ira. Este seria nosso pai? Um pai todo amor, mas pronto a fustigar com guerras, fome, doenças, desespero, catástrofes, mentiras? Não as criaturas, pois algumas delas são consideradas inocentes, mas como já foi condenado a um plasma nefasto e corrupto, que violando todas as leis universais constituídas dilacerou energias que não lhe pertenciam. Como o fez há milhares de anos com aquele que realmente existiu e que foi massacrado sem pena pela humanidade, enquanto outros lavavam as mãos, pelo simples fato de querer trazer uma mensagem de amor a um núcleo que não estava preparado para recebê-la”. E conclui que “no final dos tempos as energias que passarem haverão de ver escrito em um cartaz universal as seguintes palavras: ‘Aqui foi um núcleo onde um plasma nefasto fez experiências que o universo condena e condenará’ ”.
Ataques as religiões — Deus, a Grande Farsa: Verdades Universais Transmitidas por Consciências Superiores, publicado em 1985, também de forma artesanal e improvisada, constituía a “bíblia” da seita, misturando esoterismo, espiritismo e Ufologia com violentos ataques ao cristianismo e todas as demais religiões. Nele, a vidente afirma ser Maria Madalena e diz que acompanhou Jesus ao longo de toda a “via dolorosa”: “Se fui ‘escolhida’ para a missão mais árdua e difícil após a passagem de Jesus, isso não se deve ao acaso, mas sim a direitos conquistados desde o princípio”. Manifestando megalomania no mais alto grau, conforme diagnosticou o pesquisador de seitas e religiões Ari Nicácio Moreira, chega a ponto de querer equiparar-se a ela: “Quero ser o que tu és. Não mais do que serás”. V. A. explica que os seres humanos estão governados por um ser nefando chamado Deus, que em breve, segundo vaticina, será destruído, pois “é iminente o choque de um sol apagado que traz a marca da Besta e destruirá esta experiência cósmica malograda”. Em certo trecho, alerta que as crianças nascidas depois de 1981 seriam criaturas do mal, verdadeiras encarnações do demônio: “Acautelem-se com as crianças, elas são instrumentos inconscientes da grande farsa denominada Deus e de seus nefandos colaboradores”.
Sacrifícios de crianças — V. A. e sua seita tornaram-se nacionalmente conhecidas em 1992, devido a fatos que geraram celeuma, comoção e revolta. No dia 06 de abril daquele ano, o menino Evandro Ramos Caetano, de 6 anos, desapareceu no trajeto entre sua casa e a escola, na cidade balneária de Guaratuba, estado do Paraná. No dia 11, seu corpo foi encontrado mutilado em um matagal, sem cabelos, mãos, dedos dos pés e órgãos internos. Segundo denúncias, ele foi sacrificado num ritual macabro de magia negra na serraria do então prefeito da cidade, Aldo Abagge, um dia depois de ter sido seqüestrado. Sete pessoas foram detidas acusadas de participar do crime. Entre elas, a mulher do prefeito, Celina, de 59 anos, e sua filha, Beatriz, de 34. As duas confessaram ter encomendado o ritual, sob orientação de V. A. e do segundo marido dela, o argentino José Alfredo Teruggi, para trazer “justiça” e aumentar a fortuna da família. Revoltada, a população tentou depredar o prédio da Prefeitura.
O sacrifício, feito com requintes de sadismo e crueldade, foi levado a cabo com a ajuda dos pais-de-santo Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula, e de seus auxiliares, o artesão Davi dos Santos, o comerciante Francisco Sérgio Cristofolini e o contador Airton Bardelli dos Santos. A polícia apurou que V. A. e Teruggi estiveram em Guaratuba no dia do desaparecimento de Evandro. Uma fita de vídeo apreendida posteriormente mostra Teruggi, aparentemente incorporado, dizendo à sua mulher: “Mate a criancinha”. Ambos também foram implicados no desaparecimento de Leandro Bossi, de 8 anos, na mesma cidade, mas fugiram ao terem as prisões preventivas decretadas.
As autoridades responsáveis pelos casos concluíram que os crimes foram cometidos por V. A. De acordo com a Associação American Family Foundation [Fundação da Família Americana], que estuda os crimes cometidos em nome de crenças religiosas, os seguidores da seita de V. A. praticam magia negra e, dur
ante os rituais satânicos, usam roupas inspiradas na Ku Klux Klan, maior símbolo da intolerância racial da história dos Estados Unidos.
Além disso, V. A. foi acusada pela Superintendência do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicridi), da Polícia do Paraná, de chefiar um grupo de exterminadores de crianças em Altamira, sudoeste do Pará, e no Maranhão. V. A. estabeleceu-se em um sítio em Buenos Aires, onde continuou a ser seguida por alguns fiéis e a coordenar a seita à distância, sendo apontada como responsável por uma série de seqüestros e sacrifícios brutais de meninos e meninas de até 10 anos, principalmente no Nordeste. Sacrifícios esses que ainda continuam ocorrendo de tempos em tempos, como se outros grupos, antes ligados a V. A., tivessem passado a operar independentemente. Muitas das crianças raptadas nas regiões Sul e Nordeste também eram levadas para serem sacrificadas na Argentina. Por conta disso, a exploração dessas crianças em rituais de magia negra virou um negócio rentável em várias regiões do país. Em dezembro de 2001, três brasileiros residentes em Buenos Aires foram presos suspeitos de envolvimento com o grupo que seqüestrou, em 14 de outubro, Leonardo de Mello Silva, de 8 anos, no Paraná. Luiz Fernandes da Rosa, 46 anos, e seus filhos Gilberto Fernandes, 25, e Sebastian Fernandes da Rosa, 27, foram detidos por suspeita de pertencerem a uma quadrilha, com cerca de 28 integrantes, chefiada por V. A.
Para Deus e para os ETs — Sobre V. A. e sua seita pesam ainda outras suspeitas que se revestem de aspectos bizarros, singulares e aterradores, condizentes com o tipo de ocultismo que se praticava nos círculos mais secretos do nazismo. Em seu alarmante artigo “Mutilações de seres humanos: ETs já têm seus representantes aqui no Brasil”, o pesquisador Tarcísio Ivo Franco de Araújo afirma que “os membros dessa organização, com sede em Londrina e representantes até na Argentina e Uruguai, dizem receber orientações dos extraterrestres. Alguns membros da seita já moraram em Altamira por alguns meses, período em que, segundo eles, realizaram um processo de aproximação dos extraterrestres. Depois, voltaram à Londrina e continuaram lá suas operações. Mas, pelo que se sabe, alguns deles ainda retornaram à Altamira em 1987, justamente um ano antes de começarem as mortes dos meninos naquele município”. Tarcísio conta que o falecido ufólogo Osni Schwarz encontrou V. A. num vôo da Varig para Belém. Na ocasião, ela teria dito a Osni que trabalhava “para os extraterrestres e para Deus”. Garantiu também que era no Pará, em uma fazenda próxima à Altamira, o local onde os ETs iriam descer à Terra para contatar seu grupo [Veja UFO 31, de julho de 1994].
A imprensa reportou algo semelhante à seita de V. A. em 1995. A notícia dizia que “uma pessoa gorda e de aspecto inofensivo, conhecida por Edward Mielnik, espalhou o pânico na Polônia como chefe de uma seita pseudocientífica chamada Antrovis, que supostamente extrai órgãos humanos para doá-los a extraterrestres. A imprensa polonesa dedica sua atenção há uma semana aos assassinatos de dois homens, relacionados com esta organização, que foram torturados e mutilados como castigo por sua deserção”. Mielnik apregoava que quem conseguisse chegar em 1999 com um “valor universal cósmico” seria evacuado da Terra por discos voadores. O problema é que os salvadores extraterrestres necessitavam de órgãos humanos para sobreviver. A dúvida, portanto, era com relação a quem seriam os doadores e quem cairia nas graças da seita. O fato de há muito já termos ultrapassado essa data e nada disso ter acontecido é mais do que suficiente para avaliarmos o grau de insanidade de Mielnik.
De nossa parte, preferimos pensar que os únicos responsáveis por todas essas atrocidades são seres bem terrenos, embora pouco humanos. Cumpre asseverar que o surgimento de seitas como a de V. A. e de Mielnik deve-se aos mesmos fatores que propiciam o crescimento do esoterismo e das mais variadas e esdrúxulas seitas religiosas. Os resquícios dos temores em torno da virada do milênio, reforçados pelo caos em que a humanidade se encontrava mergulhada, fertilizaram o terreno em que vicejaram gurus, pseudoprofetas e demais exploradores da fé alheia.
“Satanismo inculto” — A ideologia neoliberal em voga, caracterizada pela competição desenfreada – lei do mais forte –, pela ostentação de riquezas – status – e consumismo exacerbado – materialismo –, gerou um clima favorável a uma espécie de salvacionismo individual, em detrimento de projetos coletivos de transformação social. Como assinalou o historiador especialista em bruxaria Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, é o “salve-se quem puder” aplicado ao campo místico-religioso. Nogueira postulou ainda que o que foi perpetrado por V. A., Teruggi e seus amigos ignaros não se filia a nenhuma tradição cultural, e sim a uma vulgarização do horror e da violência tal qual o cinema e a televisão vinham empreendendo. Tais procedimentos derivam-se mais do “satanismo inculto” surgido nos anos 70, que se alimentava de uma literatura esotérica de segunda mão. Por conta disso, qualquer um podia proclamar-se esotérico e fundar uma seita. “O que assusta no crime de Guaratuba é o fato da violência se voltar contra uma criança, vista na civilização ocidental como um ser inocente a ser amparado. Quando se passa por cima de um valor assim tão arraigado, é sinal de que a crise é mesmo muito grave”, completa Nogueira.
Jovens morrem em ritual satânico
por CTS
A descoberta, no início de junho de 2004, da seita Animais de Satanás, que assassinou pelo menos três jovens desde 1998, na província de Varese, causou grande comoção na Itália e reacendeu a preocupação com a proliferação de organizações de fanáticos. A polícia prendeu quatro pessoas pela suposta participação no assassinato de dois jovens, de 19 e 16 anos, em rituais satânicos realizados em janeiro de 1998, e de uma mulher de 27 anos, em janeiro de 2004. Os restos mortais das primeiras vítimas, assassinadas com vários golpes, foram encontrados depois da confissão dos detidos, em uma mata em Varese, onde tinham sido enterrados pelos membros da seita, formada por cerca de 10 jovens e à qual as vítimas também pertenciam. “Eles tinham vindo participar de um ritual sat&
acirc;nico, mas não sabiam que eram as vítimas”, disse à polícia um dos detidos, conforme publicado na edição de domingo, 06 de junho de 2004, do jornal La Repubblica.
Magia negra — A terceira vítima foi Mariangela Pezzotta, de 27 anos, assassinada em janeiro com um tiro na cabeça e enterrada no jardim de um chalé nos arredores de Varese. A polícia prendeu o namorado da jovem, Andrea Volpe, de 27 anos, e um amigo de ambos, Nicola Sapone, de 26, que confessaram a autoria do assassinato e colocaram as autoridades a par do acontecido em 1998. As investigações levaram à prisão de outras duas pessoas pertencentes à seita Animais de Satanás, assim como à descoberta dos cadáveres das vítimas.
Os dois primeiros assassinatos aconteceram no local de um ritual satânico dessa seita, como explicou o procurador Antonio Pizzi, ao passo que tudo apontava que a terceira jovem teria sido morta por ter ameaçado denunciar algum fato à polícia. As autoridades não descartaram que o grupo satânico, que se reunia regularmente para celebrar rituais de magia negra, tivesse induzido duas pessoas ao suicídio, bem como raptado um casal de jovens da região. Os crimes causaram grande comoção na Itália e fizeram soar o alarme em relação à multiplicação de seitas satânicas, especialmente com a chegada da internet, onde o “satanismo juvenil encontrou uma casa de ressonância planetária”, segundo avaliou Massimo Introvigne, um dos principais especialistas italianos em seitas. Na Itália, havia registros de cerca de 250 membros de grupos satânicos organizados, embora o número de seguidores pudesse ultrapassar cinco mil, segundo os especialistas.