
O Mato Grosso é um dos lugares mais misteriosos do Brasil, com uma grande quantidade de mitos e histórias verdadeiras relacionadas à presença alienígena na Terra. Entre essas últimas está um caso espantoso de queda de um artefato voador não identificado nos arredores da cidade de Nova Brasilândia — onde expressões como UFO, nave alienígena ou disco voador são termos comuns. O município, com sete mil habitantes e distante 210 km de Cuiabá, é palco de acontecimentos regulares, e por isso a popularização da Ufologia na região tem mesmo razão de ser. O fato inusitado ocorreu às 20h00 de 01 de junho de 1997, um domingo, e surpreendeu os moradores do distrito de Teresópolis, próximo a Nova Brasilândia, mudando a rotina pacata da cidade. Muitas pessoas estavam sentadas à frente de suas casas, conversando, quando uma bola de fogo cruzou inesperadamente os céus da cidade. Os atônitos moradores observaram em seguida um imenso clarão, que transformou a noite em dia e durou cerca de um minuto.
Instantes mais tarde, um enorme estrondo foi ouvido em um perímetro de 100 km. A agricultora Benedita Pereira ficou tão assustada que afirmou ser impossível se esquecer daquela noite. “Estava deitada e vi o clarão, logo depois o barulho e a minha casa sacudiu”, declarou. Principalmente devido a distância da cidade à capital do estado, naquela época, a notícia não teve repercussão imediata. As informações foram colhidas, então, gradualmente — e em alguns casos eram até desencontradas.
Queda em fazenda distante
Assim que a notícia chegou a Cuiabá, imediatamente a Associação Matogrossense de Pesquisas Ufológicas e Parapsicológicas (Ampup) foi contatada. Em assembleia geral, todos os membros foram informados do ocorrido e, na madrugada da mesma noite, uma equipe seguiu para Nova Brasilândia para constatar os fatos.
Com os noticiários, que se tornaram frequentes, a cidade adquiriu fama repentina e a equipe de investigação logo já estava a postos para a coleta de dados. Dez dias após a queda, a imprensa literalmente invadiu a cidade em busca de mais detalhes sobre o ocorrido. Conforme depoimento do então prefeito do município, Sérgio Benetti, os comentários eram muitos: “As pessoas dizem ter realmente visto um clarão no céu, há uns 10 dias, por volta das 20h00. Depois disso, houve uma pequena explosão, que chegou a fazer um buraco no chão, queimando a terra. Comenta-se que o artefato caiu próximo à localidade de Teresópolis, na Fazenda Volta Rica, de Divino Fogoió, que fica às margens do Rio Manso”.
Mesmo após várias buscas por terra e ar, realizadas pelos investigadores e jornalistas que também apuravam o fato, infelizmente nada foi encontrado. Isso tornava a ocorrência ainda mais misteriosa, pois, apesar de não terem sido encontradas provas, era certo que um objeto de origem não esclarecida havia caído ali. É importante ressaltar que Nova Brasilândia está localizada entre a Chapada dos Guimarães e a cidade de Barra do Garças, locais que recebem anualmente centenas de místicos, esotéricos e estudiosos em busca de avistamentos ufológicos e contatos com seres extraterrestres. São locais ricos em relatos ufológicos, com muitas filmagens e histórias — entre as quais a do misterioso desaparecimento do explorador inglês Percy Fawcett, nos anos 20, que tentou provar que ali estavam algumas entradas para o continente perdido de Atlântida.
“Escondida a sete chaves”
Os dados se acumulavam rapidamente — ainda que se tivesse o objeto acidentado em mãos. De acordo com o jornal cuiabano Folha do Estado, de 09 de julho de 1997, o sargento Paulo Gomes, do Centro Integrado de Defesa e Controle do Tráfico Aéreo (Cindacta), que tem uma base na Chapada dos Guimarães, comentou que informações sobre movimentações aéreas ali registradas eram repassadas para Brasília, local em que é realizada a leitura dos dados — ele não quis confirmar e nem desmentiu a queda do objeto voador não identificado. Entretanto, o comandante do Cindacta em Mato Grosso, capitão Assis Santos, logo declarou que “o radar não captou qualquer tipo de aeronave suspeita na data e local citados”. Em seguida, ratificando a si mesmo, afirmou que não tinha conhecimento se o radar conseguira ou não captar a presença ou a passagem de um meteorito…
Como era de se esperar, os órgãos federais e estaduais demonstraram quase total descaso quanto ao episódio, como comprova a afirmação do secretário de administração de Nova Brasilândia. Em depoimento a um jornal, Jamil da Silva Lima disse: “Simplesmente alguma coisa está sendo escondida a sete chaves”. Para o Jornal do Brasil, o ocorrido chegou a ser considerado uma “versão brasileira do Caso Roswell”. Em matéria de 09 de julho de 1997, o jornalista José Calixto de Alencar descreveu os fatos a que teve acesso: “O vaqueiro Gilberto Braga, que mora em Nova Brasilândia, foi o único a ter coragem de tocar o objeto. ‘Parecia uma bola de ferro, maior do que um trator, e soltava um cheiro esquisito’. Moradores da região estão preocupados com uma possível contaminação de rebanhos ou da população ribeirinha pelo UFO, já que o local onde o objeto caiu fica às margens do Rio Manso”.
Diante desses fatos, é interessante também retratar alguns depoimentos de pessoas que garantiram ter assistido ao incidente. Morador de Nova Brasilândia há 25 anos, o frentista Miguel Darli Gonçalves é um dos que conta que estava sentado em frente a sua casa quando viu o clarão e ouviu o barulho. “Muita gente presenciou a cena e, conforme Gonçalves, algumas pessoas chegaram a cair no chão devido ao tremor da terra”, saiu no Jornal do Brasil. O citado vaqueiro Gilberto Braga, então com 26 anos e empregado da Fazenda Bela Vista, foi mais longe. Ele contou em detalhes que não apenas viu, mas também que tocou no objeto. Segundo Braga, o artefato tinha a forma de uma bacia caseira, o tamanho de uma casa pequena, era preto, composto de ferro ou rocha. Ele garante ainda que o objeto ficou lá por algum tempo, fincado no morro, exalando um cheiro ruim e provocando a queimada de uma área de aproximadamente 100 m quadrados ao redor de onde caiu. “Eu acho que é disco voador”, avaliou.
Leandro Paula da Silva também disse que viu o UFO antes de ele tocar no chão, e garante que tinha luzes coloridas, azuis e verdes. Vaqueiro da Fazenda Campo Verde, ele acredita realmente ter visto um legítimo disco voador. Na fazenda do igualmente citado Divino Fogoió não foi diferente, e ele e o filho também viram o fenômeno de luzes coloridas — mas Fogoió não soube precisar onde o objeto poderia ter caído. O fazendeiro contou que observou o artefato no céu durante uns seis minutos, e que foi depois disso que ele caíra. Segundo o proprietário rural, no momento em que a bola de fogo se espatifou no chão, a terra tremeu. “Tive que segurar os quadros da parede, senão caía tudo”.
Cerceamento das investigações
Com algum resultado positivo no processo de coleta de dados pelos membros da Ampup, e também levando em conta o trabalho de um batalhão de repórteres que estava no local, passou-se a trabalhar com a hipótese de que era necessário chegar até o objeto cedo ou tarde, onde quer que ele realmente estivesse — o que não seria fácil. Mas, misteriosamente, as coisas começaram a mudar. Ninguém mais falava do assunto, absolutamente ninguém mais queria se envolver com os investigadores. O intuito de ir à fazenda de Divino Fogoió, às margens do Rio Manso, onde o objeto teria caído, foi completamente frustrado, pois o fazendeiro impediu a entrada de pesquisadores em sua propriedade. “Só permitirei que entrem em minhas terras pessoas autorizadas pelo Governo Federal”.
Depois de exaustivas buscas, a equipe de investigação de campo foi até a vizinha Fazenda Ferrão de Ouro, onde conheceu o jornalista José Calixto de Alencar — que também havia chegado à região para apurar os detalhes do caso e de seu acobertamento. Após troca de informações, decidiu-se trabalhar em conjunto. Tentou-se, então, convencer o vaqueiro Gilberto Braga a ir até o local da suposta queda do objeto — ou, pelo menos, dar uma indicação de sua localização. Segundo informações do ex-deputado estadual Isaías Rezende, o homem já estava muito assustado, e cada vez que alguém chegava à sua casa, ele se escondia ou mandava sua esposa atender e dizer que não estava. Rezende alertou ainda quanto ao fato de que o vaqueiro não estava mais disposto a falar sobre o assunto com ninguém. Por quê?
Quem o pressionou a calar-se?
Diante disso, a estratégia de aproximação foi mudada. Agora, um dos ufólogos iria na frente até a casa do vaqueiro, em uma motocicleta, acompanhado por uma pessoa conhecida dele — o que teoricamente facilitaria um contato. De início houve sorte, pois Braga estava na entrada da propriedade conversando com três pessoas em uma suspeita caminhonete D-20, com placa de Londrina, quando o pesquisador chegou na moto. Braga e os homens no veículo combinavam uma visita à fazenda de Divino Fogoió, distante uns 30 km dali. Enquanto pensaram que fôssemos pessoas da região, a conversa foi tranquila com eles. Mas, lamentavelmente, quando José Calixto se apresentou como jornalista, o clima ficou hostil, com discussões e os homens se dissipando.
Um tremendo mentiroso
Em seguida, já com a presença de mais membros da imprensa no local, teve início uma bateria de questionamentos ao vaqueiro, que relutava em responder às perguntas. Ele e outras pessoas se empenharam em não revelar nomes nem aparecer diante das câmeras. “Somente um indivíduo acabou se traindo, ao revelar que ele, o vaqueiro Braga e outras duas pessoas já haviam estado dias antes na fazenda do senhor Fogoió, ocasião em que teriam não apenas visto, mas até tocado no objeto”, afirmou o jornalista em nota divulgada no semanário Correio de Mato Grosso, em julho de 1997. O sujeito disse ainda que, diante da imprensa, todos preferiam negar os fatos, afirmando que tudo não passava de boatos e comentários. Claramente, ele estava sendo pressionado para não falar mais nada sobre o assunto. Mas por quem?
Uma coisa que ficou bastante clara em toda essa história é que os moradores da região passaram a ter medo de se expor. Mesmo assim, o entusiasmo da equipe de investigação de campo aumentava à medida que novos e valiosos relatos eram detalhados. Segundo depoimento de um rapaz conhecido como Manito, seu cunhado Heleno Souza sabia o local exato da queda do objeto. “Ele sabe onde está aquele negócio esquisito, pois ficou a uns 200 m dele. Só não chegou mais perto por causa da forte catinga. Ele disse que era redondo, do tamanho de uma caminhonete e de cor prateada”. Manito informou ainda que seu cunhado encontrou o artefato com a metade de sua fuselagem enterrada no solo. Mas, quando procurado pela Ampup, Souza negou-se a dar informações.
Com o passar do tempo, as críticas da imprensa desabaram sobre o senhor Divino Fogoió, por sua atitude de negar acesso ao local da queda — ele chegou a ser rotulado de tremendo mentiroso, como se tivesse inventado a história por alguma razão. Certamente, não era esse o caso — tanto que, pouco depois, a cidade recebeu visitas no mínimo curiosas. Engenheiros e técnicos da NASA estiveram em Nova Brasilândia com a justificativa de acompanhar o trabalho de combate às queimadas na região da Chapada dos Guimarães. Realmente, em julho daquele ano o fogo havia consumido muitos hectares — mas, ainda assim, a presença deles era alvo de diversas especulações, algumas relacionadas ao episódio do dia 01 de junho. Vinte dias depois também estiveram na cidade representantes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com vários equipamentos e um avião, e o propósito de averiguar o acontecido na data da suposta queda.
O Mistério de Nova Brasilândia
Quase cinco anos após a queda do objeto misterioso, em 2002, a Revista do Mercoeste, em seu número 20, trouxe à tona surpreendentes descobertas do que ficou conhecido como “O Mistério de Nova Brasilândia”. A publicação revela um intrigante depoimento de Divino Fogoió, em que afirma que em novembro daquele ano, quando já não havia mais jornalistas rondando o local, um helicóptero e um avião sem identificação vasculharam toda
sua propriedade em busca da tal “pedra”, como ficou conhecida a bola de fogo que lá se espatifou. Dona Maria, esposa de Fogoió, ainda comentou: “Vocês sabem que depois que a poeira abaixou vieram aqui uns agentes do governo? Não? Pois eles vieram buscar a pedra. Desceram de avião direto na fazenda vizinha à nossa”. Segundo ela, eram quatro homens vestidos com roupas semelhantes a de astronautas. Eles teriam vindo de Brasília e estariam equipados com detectores de metal — com a ajuda de funcionários da fazenda, abriram um atalho certeiro em direção ao local da queda.
Com relação às críticas a Divino Fogoió, Maria o defende contando que a fama de mentiroso recaiu sobre seu marido porque ele foi um dos poucos moradores que manteve a palavra quanto ao fato. “Quando a história estava quente, todo mundo falava que tinha visto, cheirado e até tocado o UFO. Mas depois que ninguém achou nada, porque aquilo fora retirado dali pelo governo, ficou só o Divino falando sozinho e afirmando tudo o que se passou. Que motivos ele teria para mentir?” De fato, e a intrigante casuística ufológica da região reforça ainda mais os argumentos de Fogoió.
Dois dias antes da queda, em 29 de junho, no intervalo de um jogo de futebol entre Brasil e Bolívia, o empresário e secretário municipal de Indústria e Comércio de Barra do Garças, Cláudio Picci, o comerciante Luiz Cancilieri, o estudante Fabiano Ficagna e o fazendeiro Júlio Marchesi avistaram um estranho objeto, que classificaram como um UFO. “Ele tinha formato discoide com uma luz intensa e colorida nas extremidades. Parecia uma árvore de natal. Ficou cerca de 20 minutos parado e depois desapareceu”, disse Picci. Como vimos, fenômenos ufológicos são muito comuns para os moradores do interior do Mato Grosso. Embora muitas vezes a casuística local não seja devidamente divulgada, é certamente uma das mais ricas e fascinantes do país. Continuamos pesquisando.