Os fatos envolvendo a cidade de Campinas (SP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o médico legista Fortunato Badan Palhares no desenrolar do Caso Varginha já foram bem discutidos em artigos anteriores da Revista UFO e no livro O Caso Varginha, do advogado e professor universitário Ubirajara Franco Rodrigues [Coleção Biblioteca UFO, volume 08], que foi durante 10 anos co-editor da publicação e hoje atua como seu consultor jurídico. Agora, com o debate na Rádio CBN naquela cidade, é possível esmiuçar um pouco mais essa situação e esclarecer fatos que ainda não são de amplo conhecimento público.
Primeiro, é importante que se diga que o envolvimento da Unicamp e do legista Badan Palhares no caso foi descoberto a partir de investigações feitas por vários ufólogos brasileiros. Após a retirada do Hospital Humanitas do corpo de uma das criaturas capturadas em Varginha, logo na manhã seguinte um comboio militar composto por viaturas da Escola de Sargento das Armas (ESA) partiu para aquela cidade paulista, indo parar na Unicamp. Veja abaixo a seqüência dos fatos obtida pelo cruzamento de dados fornecidos por informantes e testemunhas, presenciais e indiretas.
Resumo cronológico — Em 23 de janeiro de 1996, às 04h00, horário de Brasília (DF), o comboio militar da ESA – do qual faziam parte três caminhões de transporte de tropas e alguns automóveis civis sem identificação – saiu daquela unidade e se dirigiu a Campinas, no norte de São Paulo. No mesmo dia, por volta de 09h00, os veículos adentraram a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, naquela cidade, e, cerca de meia hora depois, apenas um deles seguiu para as instalações do Hospital das Clínicas (HC), da Unicamp. Ele transportava um corpo devidamente acondicionado e algo ainda vivo, dentro de uma espécie de pequeno container com furos laterais, possivelmente destinados a entrada de ar.
O material supostamente biológico, segundo fontes, foi encaminhado a uma das geladeiras pertencentes ao Instituto Médico Legal (IML), instalada num local do Cemitério dos Amarais. Tudo parece indicar que se tratava da criatura capturada ao anoitecer de 20 de janeiro de 1996, por uma dupla de soldados do serviço reservado da Polícia Militar de Minas Gerais (P-2). Dessa equipe fazia parte o policial Marco Eli Chereze, posteriormente falecido em circunstâncias inesperadas, dadas a um raríssimo quadro infecciono [Veja edição 102]. Ainda de acordo com informações recebidas e verificadas, alguma coisa ainda viva é levada para um laboratório restrito, no subsolo do HC. Nos meses de fevereiro, março e abril de 1996, informantes garantem que jamais presenciaram tamanho aparato militar nas instalações da Unicamp, notadamente nos locais citados. O que se passava lá?
Por que Campinas — Os fatos envolvendo Campinas no Caso Varginha foram curiosamente acompanhados de uma série de informações que muito interessam às investigações em torno da ocorrência. Trata-se de uma cidade importante em termos estratégicos militares, que possui instituições das mais bem aparelhadas e conceituadas da América Latina. É o caso da Unicamp, escolhida pelos militares responsáveis pela guarda do material biológico apanhado em Varginha, por diversas razões. A universidade foi criada e suas principais instalações se deram ainda sob o regime militar.
O HC da Unicamp foi construído a partir de 1974, é bem equipado e tem instrumental médico e biológico avançado. Segundo fontes, ele teria dois andares no subsolo. Essas instalações, de acesso restrito, não se destinam a exames, tratamentos ou análises de casos e materiais comuns, e menos ainda ao atendimento público. Tudo indica que sua existência tem sido mantida sob a mais cuidadosa discrição. Mas, negados por alguns e confirmados por outros, os andares do subsolo do hospital – e o que se passou neles – são temas que envolvem diretamente as criaturas capturadas em Varginha.
Este foi um dos pontos de discussão no debate promovido pela Rádio CBN de Campinas, entre Rodrigues e Badan Palhares. Negando a existência daquelas instalações no subsolo do HC, o legista confirmou, entretanto, que existiam recursos técnicos apropriados num andar inferior daquela instituição. Soube-se, ainda na época das primeiras investigações em torno do Caso Varginha, que lá existiria câmaras de necrotério e equipamentos com os quais se pode fazer qualquer necrópsia – o que dispensaria o IML do Cemitério dos Amarais e qualquer outro local. Por ali, salas bem equipadas possibilitariam ainda pesquisas discretas e até mesmo secretas. Tal como também haveria no Instituto de Biologia, Química e Física da Unicamp laboratórios igualmente ocultos, construídos desde o início da universidade.
Plantas arquitetônicas sumidas — Investigando este ponto, ufólogos descobriram que o mapeamento da Unicamp ficava, em 1996, a cargo da Secretaria de Arquitetura, da Reitoria e do Arquivo Geral da universidade. Assim, um ufólogo dirigiu-se, na época, ao tal Arquivo Geral para tentar acesso a plantas de vários prédios, inclusive do HC. Caixas foram exibidas a ele, porém aquela destinada ao hospital encontrava-se vazia. A funcionária que atendeu o ufólogo mostrou-se surpresa. Uma arquiteta, presente na ocasião, disse que, na última semana de novembro de 1996, “um pessoal da Unicamp havia solicitado as cópias de volta”.
O que os ufólogos descobriram é muito intrigante: ao mesmo tempo em que o ser supostamente morto era levado para uma das geladeiras do IML, uma caixa contendo algo vivo era conduzido por três militares ao HC. Os militares carregando a carga chegaram apenas até o início de um corredor e foram barrados por um homem – que seria um dos cientistas encarregados dos estudos na criatura. O material foi então levado por ele para o interior do laboratório. Naquele setor, foi ordenado a todos os funcionários que se retirassem – algo que os deixara surpresos, já que isso nunca antes ocorrera.
Por vários dias, uma verdadeira equipe de médicos e pesquisadores instalou-se naquele setor da Unicamp, lá permanecendo por períodos de até 24 horas. Dentre eles estava Fortunato Badan Palhares, profissional que era o mais solicitado entre os legistas brasileiros para a peritagem e elaboração de laudos envolvendo casos de grande repercussão e de difícil solução. Ainda que por esta razão o nome de Badan Palhares tenha sido sempre o mais comentado nas discussões em torno do Caso Varginha, consta que ele não teria trabalhado sozinho, mas com uma equipe de profissionais em diversas áreas da patologia, medicina e da biologia. Durante o debate com Ubirajara Rodrigues pela CBN de Campinas, quando o ufólogo mencionou tal equipe, o Palhares adiantou-se e
citou espontaneamente o nome de um dos integrantes da equipe, que já era conhecido da Ufologia. Trata-se do doutor Konradin Metze, que na época dos fatos constava dos cadastros da Unicamp como ligado ao Departamento de Anatomia Patológica – o que também foi adiantado e confirmado por Badan Palhares no debate. Esse cientista seria especialista em parasitologia, trabalhando com doenças no Instituto de Biologia da Unicamp. Comentários cogitavam, na época, que a referida equipe solicitava diversos tipos de amostras de alimentos e diferentes gêneros para possível teste em algum organismo vivo.
O destaque a Badan Palhares — De qualquer forma, alguns dados indicaram o envolvimento de Badan Palhares de forma crucial no Caso Varginha. Desde janeiro de 1996, ele comentou breve e rapidamente o fato de seu nome ter sido envolvido nas investigações, mas não com a veemência demonstrada durante o debate pela CBN [Veja matéria e box]. Uma das coisas mais intrigantes é que, após uma palestra que proferiu numa faculdade de Campinas, um estudante indagou Palhares sobre sua participação na necrópsia das criaturas capturadas pelo Exército. Sua reação foi no mínimo curiosa. Ele respondeu que talvez um dia pudesse revelar o que se passou. “Se você fizer esta pergunta dentro de alguns anos talvez eu possa respondê-la”, disse.
Esta frase de Badan Palhares permaneceu nos registros do Caso Varginha sem uma interpretação definitiva, mas tal comportamento teria se repetido com o passar do tempo. O ufólogo Wallacy Albino, consultor de UFO, ouviu de um médico que, questionando Palhares sobre a autenticidade do caso, teria recebido a resposta de que ele só se manifestaria sobre o que de fato ocorreu “quando completasse 70 anos”. Todos esses fatos, no entanto, estão sujeitos a muitas interpretações, sem nenhuma confirmação clara e objetiva. Apesar da grande comoção da imprensa em torno da atuação do legista em casos rumorosos, seu envolvimento nos acontecimentos de Varginha é algo que muitos ufólogos suspeitam, principalmente por causa de atitudes como as descritas acima.
É sintomático que Badan Palhares, durante o debate, tenha demonstrado um curioso esquecimento do nome do grande e respeitado repórter Goulart de Andrade – que tornou célebre o jargão da TV “vem comigo” – comentando que pouca gente da imprensa o havia procurado para se manifestar. Ora, Andrade apresentou um excelente documentário sobre o Caso Varginha, quando as investigações dos ufólogos começavam a gerar frutos. Ele entrevistou Badan em Campinas, mostrando as instalações do IML onde, segundo o legista, só se lidava com as ossadas de Perus [Veja matéria nesta edição]. Andrade iniciou a entrevista referindo-se a ele como “meu amigo, doutor Fortunato Badan Palhares”, pois já havia realizado outras matérias com o legista.
Autópsia de alienígenas — Como se sabe através da imprensa, Palhares teria sido objeto de inquérito por causa da divulgação antecipada de fotos, até então sigilosas, do cenário em que estavam mortos PC Farias e Suzana Marcolino. Comentou-se na época que as imagens haviam sido divulgadas exatamente por Goulart de Andrade. Conta o jornalista Luiz Petry, hoje editor-chefe do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, que Palhares demonstrara um inusitado interesse pelo filme de Ray Santilli, da controvertida autópsia de Roswell, divulgada no Brasil pela Globo e constante como bônus do último lançamento em DVD da Videoteca UFO [Código DV-06 da seção Suprimentos de Ufologia]. Mas a informação mais curiosa, também vinda de Petry, é de que Palhares, perguntado sobre as alegações a respeito dos fatos de Varginha, respondera que, “se isto tivesse sido verdade, os militares teriam me informado”. Isso ele confirmou no debate pela CBN.