Em 13 de novembro de 1.996, Juan José Benítez esteve em Varginha acompanhado de familiares e duas representantes da Editora Mercuryo, responsável por seus livros no Brasil. Isso ocorreu 11 meses após o já bastante conhecido Caso Varginha, fartamente divulgado. Seu interesse na cidade mineira era justamente o de avaliar os fatos envolvendo o episódio. Mas Benítez fez tal avaliação de forma bastante curiosa. Lá o escritor procurou um literato local para dirigir-se ao terreno em que as três garotas protagonistas do caso avistaram uma das criaturas, em 20 de janeiro de 1.996, às 15:30 h. Como se sabe, horas antes de tal observação, o Exército, juntamente com o Corpo de Bombeiros da cidade, capturou uma criatura alienígena. Portanto, a que as moças Liliane, Valquíria e Kátia observaram teria obrigatoriamente que ser uma segunda entidade.
Benítez acompanhou detidamente os fatos relativos ao Caso Varginha desde seus primórdios. Antes dessa visita à cidade, em setembro do mesmo ano, o escritor também esteve no Brasil para lançar outro livro e concedeu entrevista à Revista UFO [Veja edição 47]. Nessa ocasião, recebeu de seu editor A. J. Gevaerd e seu co-editor Claudeir Covo fartas e detalhadas informações sobre todas as etapas da extraordinária ocorrência. Isso teria aguçado seu interesse em examinar de perto aquele que é considerado mundialmente como uma espécie de “Caso Roswell Brasileiro.” E Benítez o fez em novembro, indo ao sul de Minas Gerais examinar os fatos pessoalmente. Seu cicerone em Varginha o levou a vários lugares onde tudo ocorreu.
A visita do festejado escritor chegou ao conhecimento deste autor apenas no dia seguinte à sua ida a Varginha, pois, curiosa e estranhamente, nenhum pesquisador local fora procurado por ele para eventualmente poder oferecer-lhe subsídios às suas análises. Sua estada no sul de Minas durou apenas algumas horas, após o que retornou à sua agenda noutras cidades onde tinha compromissos editoriais. Ao voltar para São Paulo, mesmo estando tão pouco tempo em Varginha, Benítez deu declarações bombásticas à Imprensa, acendendo o estopim de um novo burburinho em torno do Caso Varginha. O ufólogo espanhol declarara a certos veículos de comunicação, entre outras coisas, que encontrou três marcas muito interessantes no solo, bastante profundas, no local onde imaginava que tivesse havido o pouso de um UFO.
Pouso que Nunca Houve – Ignorando todos os meses de pesquisa que os ufólogos brasileiros investiram no Caso Varginha, em que se descobriu que pelo menos duas criaturas alienígenas foram capturadas no local chamado Jardim Andere, naquela cidade, Benítez afirmara à Imprensa que sua visita de apenas poucas horas a um dos locais envolvidos nos episódios resultara em achados espetaculares [Veja UFO Especial 13 e 17]. “As marcas que encontrei formam um triângulo retângulo… Alguma coisa aconteceu lá. Houve o pouso de uma nave e as marcas são uma novidade no caso. Ninguém as havia encontrado ainda, ninguém sabia delas… Com tal descoberta, fiquei completamente seguro de que houve o pouso de uma nave.” Estas foram algumas das alegações que fez o escritor, transformadas em notícia e veiculadas pela Agência Estado em um texto do jornalista Eduardo Castor Borgonovi, publicado inclusive na revista Veja e em outros periódicos, além de rádios e tevês.
Benítez quis fazer-nos crer ter realizado uma descoberta espetacular e importantíssima no contexto do Caso Varginha. E enfatizou o fato de que, apesar de suas poucas horas de estada na cidade, fez tais descobertas num local em que vários ufólogos brasileiros haviam por vezes realizado uma verdadeira operação pente fino, sem nada ter sido percebido que pudesse denotar algo de incomum, tais como evidências físicas do pouso ou da aproximação de um UFO. O local em que o escritor fez tamanho achado é um pasto que se inicia logo após uma linha férrea, ao final do Jardim Andere, região onde fora capturada a primeira criatura alienígena. O local exato onde estavam as tais marcas de Benítez fica a centenas de metros de onde a captura ocorreu.
Ao que tudo indica, Benítez cuidou para que tanto sua visita quanto sua descoberta permanecessem longe das vistas dos ufólogos que cuidavam das investigações básicas do Caso, por razões pessoais suas que neste texto não comportam qualquer questionamento. As marcas a que o escritor se referiu são duas cavidades cilíndricas e, uma terceira, rasa – “retangular,” segundo ele. Mas uma análise de tais evidências logo à primeira vista mostra surpresas. Nitidamente, as duas cavidades cilíndricas não passavam de dois buracos abertos sabe-se lá por quem com algum objeto perfurante, como uma pequena pá, ou talvez uma faca. Isso é tão óbvio que provoca estarrecimento. Como Benítez pôde confundir buracos feitos com uma pá com eventuais marcas do trem de pouso de um UFO?
No entanto, mesmo que em algumas situações certas providências sejam absolutamente desnecessárias, costumamos respaldar nossos estudos ufológicos com a opinião abalizada de quem seja realmente credenciado em certas áreas técnicas. Ao nosso ver, este é o único modo de se fazer uma Ufologia responsável. Por isso, levamos ao local em que Benítez fez suas surpreendentes descobertas o agricultor Dáurio do Monte Lima Silva, dos mais prósperos da região, que além de possuir larga experiência no campo, é físico licenciado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No dia seguinte, levamos também o engenheiro civil José Bíscaro Jonas, acostumado às lides no meio rural. Diante das marcas, ambos forneceram depoimentos gravados ali mesmo e posteriormente transcritos como laudo. Além disto, o físico Dáurio achou por bem elaborar outro relatório contando mais detalhes técnicos de suas análises.
A conclusão a que ambos os especialistas chegaram é exatamente aquela que se supunha: as duas cavidades cilíndricas de Benítez não passavam de buracos abertos por alguém que se utilizara de uma cavadeira! Para quem não sabe, esta é uma ferramenta de cabo duplo, com lâminas em formato de colher, também duplas, própria à abertura de buracos para a instalação de mourões de cerca ou plantio de pequenas árvores. E a terceira marca, mais rasa, nada mais é do que a depressão deixada pela retirada de um cupinzeiro. Eis que estavam decifradas as fantásticas marcas de pouso de um UFO descobertas pelo renomado ufólogo e escritor espanhol. Cumpre nesse ponto salientar que Benítez, quando perguntado sobre o Caso Varginha pe
la Imprensa ou seus leitores, sempre afirmou não crer que um UFO tivesse de fato se acidentado na cidade, e muito menos que seus ocupantes pudessem ter sido capturados pelas autoridades. Ora, sendo essas as descobertas feitas e documentadas pelos ufólogos que investigaram o caso, o escritor simplesmente as julgava como falsas ou incorretas.
Para completar, ao ir a Varginha 11 meses após o caso, sem comunicar-se com ninguém diretamente envolvido com a investigação dos fatos, Benítez cumpriu uma agenda no mínimo suspeita. E, em seguida, ao alegar ter descoberto marcas de pouso de um UFO no lugar onde havia apenas etão somente buracos de cavadeiras, lançou ainda mais polêmica no ar. Para se ter idéia da obviedade dos buracos que encontrou, ao lado dos mesmos estavam bem visíveis as bases dos montes da terra retirada para abertura dos mesmos, lá depositados. Tais bases ainda continham folhas de grama abaixo, de idade antiga e amassadas pelo peso da terra que foi depositada no local.
A fim de acentuar a excentricidade das descobertas de Benítez, a notícia veiculada com base em suas declarações ainda dava conta de que ele colhera no interior do triângulo formado pela disposição das marcas alguns insetos calcinados, queimados, bem como pedras enegrecidas pela ação de intenso calor. Quando examinamos o local com os mencionados especialistas, os tais insetos já não estavam mais lá, pois na semana que se seguiu as chuvas foram intensas e ininterruptas. Mas pedras, galhos, grama e plantas queimadas realmente lá existiam em grande número. Com um pequeno porém: este material está amplamente espalhado por quase todo o pasto, e não unicamente no interior do triângulo formado pela disposição das marcas descobertas pelo estudioso. E estar este material calcinado não é nenhum fato extraordinário, pois queimadas acidentais ou provocadas são uma constante naquele pasto, que literalmente fica dentro da cidade, praticamente cercado de bairros por todos os lados. É um local de intenso trânsito de pedestres, cujo acesso se dá por uma trilha muito utilizada.
Incontestável Evidência – Assim, analisando as descobertas de Benítez, nossa surpresa aumentava a cada momento, mormente diante do fato de que o escritor, ao fazer suas declarações, insistiu mais um vez em afirmar que ainda estava cético quanto à captura dos seres no Jardim Andere, “…porém certo de que algo ocorrera em Varginha, diante de sua descoberta do pouso de uma nave espacial, que ninguém conhecia e nem sabia.” Segundo as mesmas notícias, outra incontestável evidência do pouso de uma nave tinha sido registrada pelo escritor: uma árvore próxima a um dos vértices do triângulo estaria “totalmente desidratada e seca,” segundo ele. Mais uma vez checamos as informações e verificamos que de fato a árvore lá se encontra. Está doente, já velha e com trechos do tronco carcomidos. Porém encontra-se viçosa, em plena floração, viva e não tem nada de desidratada…
Diante de tudo isto, por mais uma vez uma notícia ufológica trazia efeitos sociológicos evidentes, como só acontece em casos assim – como a comoção que se iniciou pela Imprensa, logo estancada. Também causou espanto o comentário de um dos cicerones do escritor em Varginha, o dizer em carta que apressamo-nos em rebater as descobertas de Benítez afirmando que eram meros buracos de cavadeira “a prova incontestável do pouso da nave espacial que trouxera os ETs de Varginha.” Saliente-se aqui que um dos técnicos levados até as marcas identificou inclusive os tipos de plantinhas que se encontravam no interior da marca rasa, para afirmar que a idade desta seria de mais de um ano, enquanto as outras duas – ou melhor, os buracos de cavadeira – teriam sido abertas recentemente. Mesmo assim, diante de tanta obviedade, houve quem insistisse na tese de Benítez – principalmente ele próprio. Um dos cicerones do escritor em Varginha chegou a alegar que a similaridade entre as marcas encontradas e buracos de cavadeiras se deu porque “…as hastes de apoio de uma nave extraterrestre são telescópicas!”
Esse é mais um dos inúmeros absurdos que já foram ditos sobre o Caso Varginha. Alguns deles chegam a impressionar até veteranos ufólogos. Houve quem ousou elocubrar que os ETs de Varginha seriam seres intraterrestres que, ao saírem de seu mundo subterrâneo, teriam sido imediatamente capturados pelas autoridades. Outros chegaram a identificar suas origens cósmicas, dando coordenadas exatas de estrelas e constelações de onde vêm os UFOs. Nos Estados Unidos, ufólogos do Miami UFO Center, chefiados pelo advogado Virgílio Sanchéz-Ocejo, iniciaram uma campanha que teve grande repercussão internacional. Alegavam que Benítez estava certo ao expor que houvera apenas o pouso de uma nave em Varginha, uma vez que nunca foram encontrados os corpos dos ETs e do UFO acidentado. Ora, como poderiam ser descobertos, se foram resgatados pelos soldados do Exército? Enfim, um caso como esse, de tamanha envergadura, evidentemente causaria muita polêmica.
Mas contra fatos não há argumentos. Logo no dia seguinte à vinda de Benítez à Varginha, quando de volta a São Paulo este exibiu a Claudeir Covo as fotos dos locais que visitou, ficou claro que seus cicerones o levaram a uma região já conhecida e examinada pelos pesquisadores logo nos primeiros dias de investigação do Caso Varginha. O local fica a exatos 800 metros do muro em que as três garotas avistaram uma das criaturas, dando início a toda a trama do caso. Portanto, a pessoa que conduziu o escritor espanhol pela cidade é alguém que sequer conhece o ponto exato dos principais acontecimentos.
Buracos de Enxada – Ainda diante de tantas adversidades para consolidar suas supostas descobertas, Benítez usou a Internet para comentar os resultados das observações dos dois técnicos que convidamos para fazer a análise de suas marcas: “Deixei passar intencionalmente um tempo antes de responder às muito pouco rigorosas manifestações de alguns ufólogos brasileiros sobre as já famosas marcas por mim encontradas em novembro passado nas proximidades da cidade de Varginha. Segundo os peritos consultados, as ditas marcas ‘são só buracos de enxadas’. Não vou me estender demasiadamente sobre o assunto, entre outras razões, porque espero os resultados das análises de laboratório que estão sendo feitas em várias universidades espanholas sobre as amostras de terra, pedras, insetos e plantas que recolhemos no triângulo formado pelas marcas. Qu
ero declarar, contudo, que duas das três marcas encontradas apresentavam estreitas formas cilíndricas, quase perfeitas, com 20 e 24 cm de diâmetro exterior, respectivamente.
“A primeira tinha 20 cm de diâmetro exterior e profundidade máxima de 18 cm. A marca seguinte apresentava uma profundidade total de 24 cm com uma forma claramente cônica. Curiosamente, a face norte desta segunda marca seguia a direção do terreno, uma ladeira com um desnível que oscila entre 6 e 8 por cento. A terceira marca, por outro lado, tinha um diâmetro de 40 cm, com uma profundidade máxima de 10. Minha pergunta elementar é: quem pode fazer orifícios cilíndricos, quase perfeitos, com uma enxada? Quem pretendia se cercar num triângulo retângulo de 9 por 11 metros num terreno com um declive tão pronunciado? A cerca mais próxima para gado, situada a uns 30 metros das marcas, foi construída com estacas e orifícios que oscilam entre os 6 e 8 cm de diâmetro, que é o normal. É lógico cavar buracos de semelhantes diâmetros e profundidades para colocar estacas? Se fosse assim, onde estavam as ditas estacas?
“Resulta claramente tendencioso, para não utilizar uma palavra mais grosseira, afirmar que ‘eram visíveis os montes de terra, ao lado dos buracos, prova de que a mesma foi tirada e deixada ali mesmo’. Nenhum dos presentes ao exame das marcas viu os citados montes de terra (entre as sete testemunhas se encontravam dois investigadores). Os ufólogos brasileiros tampouco mencionam que na terceira marca, de 40 cm de diâmetro, não fora encontrado resto algum de cupins. Quanto às amostras recolhidas, prefiro que sejam os peritos das universidades quem se pronunciem a respeito. Só desejo adiantar que eu nunca disse que a árvore próxima das marcas aparecera queimada, e sim que apresentava claros sinais de descascamento, o que não é a mesma coisa. Aqueles que me conhecem sabem muito bem que não é meu costume desprezar ninguém. E menos ainda os investigadores do Brasil. A prova é que, ao voltar para São Paulo, coloquei o senhor Covo a par do assunto. Desde já peço perdão por haver descoberto algo que aos outros passou desapercebido. São os ossos do ofício.”
Estes parágrafos da nota do respeitado escritor deixam transparecer, entre outros aspectos, uma espécie de inconformismo com a inconteste falta de aceitação de que sua descoberta fosse a prova do pouso de uma nave espacial. Além de tentar mudanças em suas declarações originais, que até então não haviam sido alteradas depois de publicadas em diversos órgãos de comunicação brasileiros, produziu nitidamente uma deturpação do que os ufólogos brasileiros, seus contraditores, afirmavam. Por exemplo, ninguém dissera que ao lado das duas marcas cilíndricas havia montes de terra, mas tão somente que havia incontestáveis evidências de que porções da terra retirada dos buracos ainda se encontravam lá, por meio de restolhos acumulados, após o arrastamento pela chuva. Por que Benítez insistia com sua tese absurda e arriscava o descrédito ante algo tão óbvio?
Quanto à enxada mencionada, na verdade o que se afirmou foi a utilização de uma cavadeira, ferramenta bem distinta daquela. Cavadeira é um instrumento rudimentar que, apesar de bastante usado na abertura de bases em construções, muitos fizeram questão de chamá-la de escavadeira em suas publicações ufológicas e da Imprensa em geral, ao noticiarem as discussões acerca da descoberta de Benítez.
Problemas de Tradução? – Também parece que, para o descobridor das marcas, as nuances de nosso idioma não impediram que o verdadeiro tipo de instrumento usado para abri-las fosse confundido com um outro artefato, de pá e gume completamente diferentes. Tentar achar justificativas devidas a um duvidoso problema de tradução, confundindo cavadeira com enxada, talvez seja tão incongruente quanto tentar convencer alguém de uma realidade inspirada em escritos bíblicos interpretando-os estritamente ao pé da letra. De qualquer forma, jornais noticiaram detalhes bem incisivos das afirmativas do ufólogo espanhol. Em A Tribuna de Santos de 19 de novembro de 1.996, Benítez afirma que, “onde se diz que testemunhas viram o Exército e os bombeiros capturando a segunda criatura, encontrei três marcas muito interessantes no solo, bastante profundas e num terreno difícil de perfurar.”
O habilidoso escritor alegava que tais buracos não podiam ter sido feitos por nenhum animal. “As marcas formam um triângulo retângulo com dois lados de 9 metros e, um maior, com 11 metros. No centro dele encontrei pedras queimadas, insetos calcinados e uma árvore próxima completamente seca, desidratada.” Em outro trecho Benítez declara ainda aquilo que já havia feito a outros veículos de comunicação pelo Brasil afora: “Alguma coisa aconteceu lá. Quando me disseram que o Exército havia capturado algumas criaturas, fiquei muito cético. Mas com a descoberta das marcas, fiquei completamente seguro de que houve o pouso de uma nave…”
A análise das descobertas do renomado bestseller é simples e sem complicação, como se viu até aqui. Para completar, os pesquisadores brasileiros envolvidos no Caso Varginha possuem cópias de nove fotos obtidas pela equipe de Benítez no dia de sua visita à cidade, quando ele demarcava o literalmente imaginário triângulo formado pelas três marcas que somente ele descobriu. Em duas delas, tendo como primeiro plano a marca cilíndrica da parte superior do declive, está visível o sinal deixado por um monte de terra logo à esquerda da suposta sapata. Pelo visto, Benítez e sua equipe foram os que não viram o que deveria ser visto. Ou, na preferência de suas próprias expressões, ele que se perdoe por não ter descoberto o que a todos passou bem percebido…
Conforme ele havia prometido em sua nota à Imprensa, finalmente, em abril de 1.998, chegou aos ufólogos brasileiros o tão esperado – e, ao que tudo indica, muito custoso – laudo encomendado pelo escritor a empresas espanholas especializadas em análise de solos. Datado de 12 de novembro de 1.997, o laudo foi emitido pela firma Vorsevi S. A. Ingenieria y Control de Calidad e tinha o título “Análises de Assentamen
tos e Marcas de OVNIs no Brasil.” O documento já se inicia com a preocupação de seus emissores em esclarecer que o mesmo tema finalidade de estabelecer de forma aproximada a carga que provocou o assentamento ou marca medida pelo próprio Benítez em Varginha. O laudo informa que foram realizados um ensaio de identificação (granulometria e limites de Atterbert) e um ensaio edométrico remodelado sobre a amostra do material apresentado. “Temos de indicar que a amostra empregada não é inalterada e que, com toda probabilidade, foram tomadas da superfície, pelo que não constitui um referente adequado para se calcular o assentamento [Peso] induzido.” Isso já se sabia, pois um dos cicerones do escritor enviou-lhe um quilo de terra muitos dias depois de sua ida à cidade – tendo extraído tal amostra das proximidades das marcas, com receio evidente de estragá-las, conforme confirmou pessoalmente a este autor.
Toneladas Demais… – Sendo assim, o que se estava analisando, para começo de conversa, é diverso do material eventualmente existente dentro das marcas. De qualquer forma, o procedimento seguinte adotado pela Vorsevi foi o de associar o afundamento medido com uma carga (peso) aplicada, considerando-se o assentamento instantâneo. Ou seja: foi uma tentativa de se descobrir que peso seria capaz de provocar, instantaneamente, aquele afundamento. Ora, qualquer que fosse o resultado ele seria mais do que evidente, pois a empresa recebera dados da profundidade de uma das marcas para tentar determinar a resistência do solo. E não nos esqueçamos de que a amostra de terra apresentada para análise não era propícia para tanto. Para se ter idéia do que se tenta descobrir aqui, usando um raciocínio tão grosseiro e absurdo quanto o que usou Benítez, imaginemos encontrar um buraco profundo no asfalto, provocado pelo trânsito de caminhões e pela chuva, que tenha profundidade “x,” considerando-se o material utilizado para sua compactação. Se elocubrarmos propositalmente que tal depressão tenha sido causada por uma nave espacial, o trabalho da Vorsevi seria o de realizar um estudo para descobrir seu peso.
Os dados oferecidos para análise, desprezando-se qualquer outra hipótese, vão concluir que o peso necessário para causar tal estrago será de um determinado número de toneladas. No caso da empresa espanhola, a descoberta foi de que o peso da suposta nave extraterrestre de Benítez teria 26,5 toneladas por ponto apoio – trem de pouso, sapatas, haste de sustentação ou o que o valha… Sem desejar desviar a presente discussão para um nível não apropriado, cabe aqui descrever o desabafo de um respeitadíssimo ufólogo e cientista brasileiro, quando do acirramento das discussões sobre a polêmica criada por Benítez: “Desse jeito, até eu provo que pousou um disco voador em qualquer parte do mundo…”
Em entrevista concedida ao consultor de UFO Pablo Villarubia, veiculada no Brasil através da Agência Estado, Benítez afirmou que possui laudos das Universidades de Madri e Granada com os primeiros resultados de análises das amostras colhidas em Varginha, no local em que, segundo ele, há marcas de pouso de um disco voador. Os testes teriam concluído que uma árvore encontrada desidratada foi submetida à incrível temperatura de mais de mil graus centígrados. Suas flores foram parcialmente queimadas, mas as folhas nada sofreram. O escritor afirmara que “…dezenas de insetos morreram no local, de causa completamente desconhecida. Não foram mortos por agrotóxicos, nem inseticidas e quase dez meses depois das mortes não apresentavam sinais de putrefação.”
No entanto, apesar de suas alegações, o bestseller não apresenta os laudos das tais universidades. Onde estão os resultados das análises feitas nos insetos, plantas, pedras e materiais similares encontrados por Benítez? O único laudo que conhecemos foi o emitido pela Vorsevi, que ainda assim só chegou às mãos dos ufólogos brasileiros com um ano de atraso! Na nota que divulgou, o escritor afirma complementarmente que “não há possibilidade de as flores terem sofrido ação de incêndio” pelos sinais que apresentariam. Que sinais? Quem os analisou? Com que base se faz tal afirmação? Ora, a casca de uma árvore que se encontre em meio a uma queimada no pasto – que lá comprovadamente ocorre sempre – não sofreria a ação direta do fogo? A que temperatura?
E há ainda muitas outras indagações que Benítez não responde quando faz suas fantásticas e descabidas afirmações. Por exemplo, a ação da propalada e “incrível temperatura,” segundo ele, incidiu nas folhas e flores daquela árvore de baixo para cima ou de cima para baixo? O laudo das universidades mencionadas, que ninguém jamais viu, tratou deste importante aspecto? Os insetos carbonizados e desidratados por ação das queimadas naquele pasto, e depois deixados expostos por dias ao Sol, devem necessariamente apresentar sinais de decomposição orgânica gradativa e natural? Benítez não explica nada disso, como também não deverá explicar que a tal árvore que ele e sua equipe encontraram “completamente desidratada” pode perfeitamente, neste exato momento, ser encontrada florando e com folhas absolutamente viçosas, vivas e perfeitamente hidratadas. Onde está a terrível ação da nave extraterrestre que imagina o escritor espanhol ter pousado naquele local de Varginha?
Interesses Obscuros – Enfim, o que se vê é que o Caso Varginha foi mais uma vez vítima de oportunismo. Agora de um renomado escritor de ficção científica – gênero de seus livros, em especial a série Operação Cavalo de Tróia – que foi àquela cidade do sul de Minas com interesses no mínimo obscuros. Sua atitude de não procurar os ufólogos locais, que estiveram desenvolvendo incessantes pesquisas sobre o caso durante todos os 11 meses anteriores à sua visita, é muito peculiar. Especialmente quando se leva em consideração que ufólogos de todo o Brasil e de muitas outras nações os procuraram, assim como a Imprensa nacional e internacional, e todos foram muito bem recebidos e tratados na hospitaleira Varginha. Quando indagado durante um debate online pela Internet, em dezembro passado, Benítez falou que foi àquela cidade por curiosidade, e não para pesquisar. “Meu critério é não me intrometer na investigação de outras pessoas. Em segundo lugar, acredito que este é um país livre e que qualquer um pode fazer o que acredite oportuno.” Além de ter sido evasivo, cometeu uma grosseria com os estudiosos do caso ao dizer que “…agora, me alegro de não ter conversado com estes supostos investigadores.”
;ão do terreno onde sonha que pousou um UFO
Ainda em dezembro passado, durante a palestra que realizou em São Paulo em virtude do lançamento da sexta edição dos Cavalos, Benítez se contradisse novamente quando, logo no início, teceu elogios aos ufólogos brasileiros e reverenciou a ampla casuística de nosso território. O correspondente de UFO Carlos Alberto Millan esteve na localidade e informou que o escritor disse ter sido muito mal interpretado. “Nunca tive intenção de me intrometer na pesquisa alheia e nunca havia pensado em escrever um livro sobre o Caso Varginha,” disse.No entanto, garante que, depois da onda de críticas que recebeu por sua intromissão, voltou atrás e agora pretende fazê-lo, pois crê que muita coisa ainda falta ser esclarecida. Resta saber onde encontrará mais buracos de cavadeiras, insetos carbonizados ou grama torrada para sustentar suas elocubrações.
Curiosamente, durante a tal apresentação, concorridíssima por ufólogos que queriam questioná-lo e fãs que só queriam admirá-lo, apresentou informações técnicas que esclareceu terem sido extraídas de laudos das já mencionadas universidades espanholas. Quando questionado pelo biólogo Paulo Aníbal sobre a metodologia empregada na análise do material, Benítez disse que o laudo seria deixado com a platéia para consultas. Mas, ao final da conferência, nem Paulo nem ninguém mais conseguiu ver os laudos, mediante negativa do escritor. Ainda assim, os ufólogos brasileiros continuam esperançosos de ver, quem sabe um dia, J. J. Benítez explicar porquê insiste que descobriu que um UFO pousou em Varginha, quando se recusa em aceitar as descobertas dos estudiosos locais – que documentaram a captura de seres desconhecidos.