Bem no fundo do porão de uma empoeirada biblioteca em Edinburgh está uma caixa preta. Mais ou menos do tamanho de dois maços de cigarro colocados um ao lado do outro, e que mostra continuamente números aleatórios. À primeira vista é um equipamento notável. Encapsulada em metal, contém no seu coração um microchip que não é mais complexo do qualquer outro chip encontrado nas calculadoras de bolso modernas. Entretanto, de acordo com um crescente número de cientistas, esta caixa possui poderes extraordinários.
Ela é, eles dizem, o \’olho\’ de uma máquina que parece ser capaz de ver o futuro e prever o acontecimento de grandes eventos mundiais.Aparentemente, a máquina pressentiu o ataque de 11 de setembro ao World Trade Center quatro horas antes dele acontecer. Mas em meio às diversas teorias conspiracionistas que se sucederam ao acontecimento essa afirmação foi rapidamente descartada pelos céticos. Mas, neste último mês de dezembro de 2004, parece que ela foi capaz de nos prevenir sobre o Tsunami na Ásia um pouco antes de acontecer o terremoto submarino que gerou o fenômeno.
Agora, até mesmo os céticos estão reconhecendo a pequenina caixa tem poderes que são, aparentemente, inexplicáveis.”É uma coisa destruidora”, diz o doutor Roger Nelson, pesquisador emérito da Universidade de Princeton nos Estados Unidos, e que está coordenando o projeto de pesquisa que tenta compreender o Fenômeno Caixa Preta. Nós estamos ainda bem no início do processo de tentar imaginar o que está acontecendo por aqui. No momento, nós estamos apenas tateando no escuro. As investigações do doutor Nelson, chamadas Projeto Consciência Global, foi inicialmente feito pela Universidade de Princeton e está centrado num dos mais extraordinários experimentos de todos os tempos.
O foco é descobrir se existe uma sub-consciência única, compartilhada por toda a humanidade, e com a qual nós interagimos sem perceber.E máquinas, como esta caixa preta de Edinburgh, lançaram uma possibilidade: os cientistas podem, quase sem perceber, ter descoberto uma maneira de prever o futuro. Apesar de muitos consideraram o objetivo do projeto como uma espécie de “ouro de tolos”, ele já conseguiu atrair 75 cientistas respeitáveis de 41 países diferentes. Pesquisadores de Princeton – na qual Einstein passou a maior parte de sua carreira – trabalham junto com cientistas de universidades da Inglaterra, Holanda, Suíça e Alemanha. Esse projeto é também uma das mais rigorosas e longa investigação já feita nos poderes paranormais em potencial.
“É comum os poderes paranormais evaporarem se você estuda-los por um tempo suficientemente grande”, diz o físico Dick Bierman da Universidade de Amsterdam. “Mas isto não está acontecendo com o projeto consciência global. O efeito é real. A única dúvida é sobre o que ele significa”. O projeto tem as suas raízes no extraordinário trabalho do professor Robert Jahn, da Princeton, durante os anos 70. Ele foi um dos primeiros cientistas modernos a levar o fenômeno paranormal a sério. Intrigado com coisas como telepatia, telecinese – o suposto poder psíquico de mover objetos sem utilizar a força física – e percepção extrasensorial, ele estava determinado a estudar o fenômeno utilizando a mais alta tecnologia disponível no momento.Uma dessas novas tecnologias era uma humilde caixa preta conhecida como gerador de eventos aleatórios [REG em inglês].
Ela utiliza tecnologia computacional para gerar dois números – um ou zero – numa seqüência totalmente aleatória, como se fosse um cara ou coroa eletrônico. O padrão de uns ou zeros obtidos – caras ou coroas se preferir – poderia ser impresso como um gráfico. As leis da probabilidade dizem que o gerador deveria emitir uma quantidade igual de uns e zeros aolongo do tempo, o que seria representado por uma linha reta no gráfico. Qualquer desvio desse comportamento seria mostrado como uma suave curva ascendente.Durante os anos 70, o professor Jahn decidiu investigar se o poder do pensamento humano poderia interferir de alguma maneira no comportamento da máquina. Ele convocava os transeuntes e os pedia para concentrar as suas mentes no gerador. Depois, ele pedia que a pessoa tentasse fazer com que a máquina emitisse mais caras do que coroas. O teste foi considerado uma coisa ridícula na época. Mas os resultados, entretanto, foram impressionantes e nunca satisfatoriamente explicados. Por repetidas vezes, pessoas totalmente comuns conseguiam provar que as suas mentes podiam influenciar a máquina e força-la a gerar flutuações significativas no gráfico.
Ou seja, “força-la” a gerar uma quantidade desigual de caras ou coroas.De acordo com todas as leis conhecidas da ciências, isso nunca poderia ter acontecido. Mas aconteceu. E continua acontecendo. O doutor Nelson, que também trabalha na Universidade de Princeton, ampliou o trabalho do professor Jahn levando a máquina de números aleatórios paragrupos de meditação, que eram muito populares nos Estados Unidos naquele tempo. De novo, os resultados foram notáveis. Os grupos eram capazes de causar mudanças dramáticas nos padrões numéricos. Utilizando a internet, ele conectou até 40 geradores de eventos aleatórios, localizados em várias partes do mundo, ao computador do seu laboratório em Princeton. Eles trabalhavam continuamente, todo o dia, gerando milhões de pedaços diferentes de dados. Na maior parte dotempo, o gráfico resultante se parecia mais ou menos com uma linha reta.
Mas, em 06 de setembro de 1997, uma coisa extraordinária aconteceu: o gráfico deu um pulo para cima, mostrando uma repentina e enorme mudança a medida que as máquinas ao redor do mundo começaram a gerar imensos desvios do seu comportamento normal. Esse dia teve uma importância histórica por uma outra razão também: foi o mesmo dia no qual uma quantidade estimada em 1 bilhão de pessoas, em todos os pontos do mundo, assistiram ao funeral da princesa Diana, na abadia de Westminster.O doutor Nelson ficou convencido de que os dois eventos estavam relacionados de alguma maneira. Poderia ele ter detectado um fenômeno totalmente novo? Poderia a energia emocional emitida por milhões de pessoas ser capaz de influenciar as suas máquinas? Se isso era verdade, como explicar? Nelson não sabia como. Então, em 1998, ele reuniu cientistas de todas as partes do mundo para analisar as suas descobertas. Eles também ficaram impressionados, e resolveram expandir e aprofundar o trabalho dos dois pesquisadores.
Nascia o projeto consciência global. Desde então o projeto tem se expandido enormemente. Um total de 65 “ovos” – a maneira como os geradores passaram a ser chamados – em 41 países diferentes foram recrutados para agir como os “olhos” do projeto.E os resultado tem sido assustador e inexplicável na mesma proporção. Isso porque, durante o experimento, os ovos “sentiram” uma série de grandes eventos mundiais a medida que eles estavam acontecendo. Do bombardeio à Iuguslávia, realizado pelas nações unidas, à tragédia do submarino Kursk e
as eleições americanas de 2000 – quando foi “eleito” o atual George W.Bush. Os ovos também detectaram as grandes celebrações mundiais com regularidade, como a véspera de ano novo. Mas o projeto lançou um dos seus maiores enigmas em 11 de setembro de 2001. A medida que o mundo parava e observava, cheio de terror, o desdobramento do ataque terrorista em Nova York, alguma coisa estranha aconteceu com os ovos.
Eles não só registraram os ataques na medida em que eles estavam acontecendo, mas também, com quatro horas de antecedência, antes dos aviões atingirem as torres, iniciou-se a mudança característica nos padrões numéricos. Ao que parece, os ovos foram capazes de detectar que um evento de histórica importância estava prestes a acontecer. E isso antes mesmo dos terroristasentrarem nos aviões. As implicações disto, não apenas para a segurança ocidental que monitora constantemente o tráfego eletrônico, é enorme. “Foi quando eu percebi que nós tínhamos uma grande quantidade de trabalho pela frente”, disse o doutor Nelson. O que poderia estar acontecendo? Poderia isto ter sido uma coincidência maluca talvez? Aparentemente não. E nas últimas semanas de dezembro do ano passado as máquinas enlouqueceram novamente. Cerca de 24 horas depois, um terremoto no fundo do oceano índico iniciou a Tsunami que acabou por devastar o sudoeste da Ásia e causou a morte de um número estimado em um quarto de milhão de pessoas.
Então, poderia o projeto consciência global realmente ser capaz de prever o futuro? Os cínicos dirão, quase que imediatamente, que sempre há algum evento global que pode ser utilizado para “explicar” os momentos em que os ovos se comportam de maneira errática. Afinal de contas, o nosso mundo é cheio de guerras, desastres e atentados terroristas. E da mesma maneira temoscelebrações globais de tempos em tempos. Estariam os cientistas simplesmente exagerando na busca de padrões irregulares nos seus dados? A equipe que mantém o projeto insiste que não. Eles dizem que, utilizando técnicas científicas rigorosas e uma matemática poderosa, é possível excluir dos resultados qualquer flutuação aleatória dos dados. “Nós estamos perfeitamente interessados em encontrar qualquer erro no nosso trabalho”, diz o doutor Nelson. “Mas nós não conseguimos encontrar nenhum até agora, e nem os outros pesquisadores. Nossos cálculos mostram claramente que as chances de se obter uma variação dessa magnitude por acaso é de um milhão contra um. Isso é enormemente significativo”.
Mas muitos se mantém céticos. O professor Chris French, um psicólogo e conhecido cético da Universidade de Goldsmiths, em Londres, diz: “O projeto consciência global obteve alguns resultados muito intrigantes e que não podem ser desprezados à primeira vista. Estou envolvido num trabalho similar para ver se nós conseguimos obter os mesmos resultados. Nós ainda não conseguimos mas estas são apenas as primeiras tentativas. Os julgamento ainda não começou”. Isso pode até parecer estranho mas não há nada nas leis da física que nos impeça de prever o futuro. É possível, em teoria, que o tempo não se mova somente para frente ou para trás. E, se o tempo sofre variações e flui como as marés no oceano, é possível que possamos realmente prever os principais eventos do nosso futuro.
“Há muitas evidências de que o tempo pode correr para trás”, diz o professor Bierman da Universidade de Amsterdam. “Se é possível que isso aconteça na física, então, isso pode acontecer nas nossas mentes também”. Em outras palavras, ele acredita que nós somos todos capazes de ver o nosso futuro, se nós formos capazes de interagir com os poderes ocultos da nossa mente. E há um corpo enorme de evidências que apóiam esta teoria. O doutor John Hartwell, que trabalha na Universidade de Utrecht, na Holanda, foi o primeiro a revelar as evidências de que as pessoas poderiam prever o futuro. No meio da década de 70 ele levava diversos tipos de pessoas ao hospital, para as máquinas de escaneamento cerebral, de maneira que ele pudesse estudar os seus padrões de onda cerebral.Ele começava mostrando uma seqüência de desenhos provocativos. Enquanto as figuras eram mostradas as máquinas registravam as ondas cerebrais do sujeito no momento em que ele reagia fortemente às imagens. Isso era esperado. Muito mais difícil de explicar era o fato de que, em muitos casos, essas alterações drásticas começavam a ser registradas poucos segundos antesaté das figuras serem mostradas.
Imaginava-se que os pessoas estudadas pelo doutor Harwells estavam, de alguma maneira, prevendo o futuro, e detectando quando a próxima imagem chocante seria mostrada. Era extraordinário e, aparentemente, inexplicável. Mas foram necessário outros 15 anos antes que alguma outra pessoa tentasse levar o trabalho de Hartwell adiante. Dean Radin, um pesquisador americano, conectou pessoas a um máquina capaz de medir a resistência elétrica da pele. É sabido que esta característica flutua junto com as nossas emoções e, de fato, esse é o princípio de funcionamento de muitos detectores de mentiras. Randin repetiu o experimento de Hartwell enquanto media a resistência da pele da pessoa. De novo, as pessoas começaram a reagir uns poucos segundos antes de ver as imagens provocativas. Isso era claramente impossível e, pensando desta maneira, ele continuou repetindo as experiências. E continuou obtendo os mesmos resultados. “Eu não acredito nisso também”, disse Bierman. “Então, eu também repeti a experiência e obtive os mesmos resultados. Fiquei chocado. Depois disso comecei a pensar mais profundamente na natureza do tempo”.
E para fazer com que as coisas ficassem ainda mais intrigantes, Bierman diz que outros grandes laboratórios obtiveram resultados semelhantes que ainda estão para ser divulgados.”Eles não querem ser ridicularizados e, por isso, não querem liberar as suas descobertas”, disse. “Então, estou tentando persuadi-los a liberar todos os seus resultados ao mesmo tempo. Isso, pelo menos, iria espalhar o ridículo por uma área muito grande e fazer com que ele fique mais raso!” Mas, se Bierman estiver certo, essas experiências não são assunto para risadas. Elas podem ajudar a fornecer uma sólida base científica para fenômenos estranhos como o deja vu, intuição e várias outras manifestações curiosas que nós experimentamos de vez em quando. Elas também podem levantar uma possibilidade muito interessante. Um dia poderemos ser capazes de ampliar os nossos poderes psíquicos utilizando máquinas capazes de “sintonizar” com o nosso subconsciente. Máquinas como a pequena caixa preta de Edinburgh.
Da mesma maneira que nós construímos máquinas mecânicas para substituir o poder muscular, poderemos, um dia, ser capazes de construir máquinas para melhorar e interpretar as nossas habilidades psíquicas desconhecidas. O doutor Nelson é otimista, mas não a curto prazo. “Nós talvez sejamos
capazes de prever que um grande evento mundial irá ocorrer. Mas nós não sabemos exatamente o que irá ocorrer e nem aonde irá ocorrer”, revela. “Coloque desta maneira: Nós ainda não temos uma máquina que nós possamos vender para a CIA”. Mas para Nelson, falar destas máquinas psíquicas, com o potencial de detectar catástrofes globais ou ataques terroristas, é muito menos importante do que as implicações do seu trabalho em termos de raça humana. O que este experimento parece demonstrar é que, enquanto nós todos vivemos como indivíduos, nós também compartilhamos algo maior, muito maior. Uma consciência global. Alguns podem até chama-la de a mente de Deus. “Somos ensinados a ser monstros individualistas. Ensinados pela sociedade a nos separar uns dos outros. Isso não é correto”, conclui. “Nós podemos estar conectados uns ao outros de uma maneira muito mais forte do que podemos imaginar”.