Pessal, o nosso entrevistado da semana é o ufólogo Fernando Ramalho. Ele é geógrafo e funcionário público na Câmara dos Deputados de Brasília (DF), vice-presidente da Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET) e conselheiro especial da Revista UFO.
1- Qual a importância da campanha “UFOS Liberdade de Informação Já” para a ufologia brasileira e mundial?
Sou suspeito para falar da importância da campanha, enquanto membro e atual coordenador da Comissão Brasileira de Ufólogos, que é a entidade autora e gestora desta iniciativa. Mas, modéstia à parte, UFOs, Liberdade de Informação Já é, sem sombra de dúvidas, o maior e mais organizado movimento por abertura de documentos ufológicos governamentais da Ufologia Brasileira. E me arrisco a dizer que, pelo seu ineditismo, forma de atuação e resultados concretos que já surgiram e ainda estão por surgir, esta campanha talvez venha a se tornar a maior de todo o mundo, em todos os tempos, não só em números de adesão e influência em outros países, mas principalmente em quantidade e qualidade de documentos conseguidos. Não tenho a menor dúvida que nosso movimento pode se configurar no mais importante ato histórico da Ufologia Mundial, justamente porque está servindo como exemplo a ser seguido por outras nações.
2 – Quais as maiores dificuldades para se conseguir a liberação desses documentos?
As maiores dificuldades são, primeiro, a indisposição das autoridades governamentais em realmente abrirem tudo o que possuem, por motivos que variam de nação para nação. Se os governos realmente tivessem interesse em esclarecer a questão dos UFOs, já o teriam feito, independentemente dos meandros burocráticos e legais de cada nação. E não tenho dúvidas que esse esclarecimento viria a confirmar o que a maioria dos ufólogos dizem há décadas, de que estamos sendo visitados por inteligências provenientes de outros planetas. A segunda maior dificuldade surge exatamente desta questão legal, que de certa forma é uma conseqüência da primeira. São os obstáculos encontrados nas leis, muito bem utilizados pelas autoridades, que representam o maior fator de atraso na abertura dos documentos. Poucas são as democracias que possuem, mesmo que relativamente, corpo legal capaz de abrir seus arquivos sobre os discos voadores. Diria até que, de fato e na prática, não existe em nenhum lugar lei tão poderosa a ponto de obrigar uma nação a informar os seus cidadão sobre as atividades alienígenas inteligente em seu território. Depois de tudo o que vivemos nessa árdua batalha, descobrimos que os interesses que estão por trás do acobertamento são muito mais poderosos do que qualquer ação governamental em sentido contrário.
3 – De todos os documentos liberados, qual na sua opinião seria o mais importante?
Dos documentos que surgiram após o protocolo do Dossiê UFO Brasil na Casa Civil da Presidência da República, e que já se encontram no Arquivo Nacional, vários trouxeram gratas surpresas em seus papéis, sendo difícil eleger um mais importante que os demais, até porque eles fazem parte de uma complexa estrutura, e não devem ser desassociados das conjunturas temporais em que foram criados, para poder se dizer que um é mais importante que o outro. Eu diria que em cada década de registros, alguns casos se destacam mais que outros, mas o conjunto deles acabou dando sustentação e maior importância àqueles casos que foram citados e cobrados no Manifesto da Ufologia Brasileira, entregue ao Comando da Aeronáutica no dia em que a CBU visitou o COMDABRA, 20 de maio de 2005. Como todos sabem, em virtude desta visita foram parar no Arquivo Nacional vários casos registrados pelas Forças Armadas, a maior parte da Aeronáutica. Nesses imensos lotes de papéis, especificamente podemos dizer que os documentos mais importantes, e por isso mais cobrados em seus conteúdos faltantes, são aqueles que confirmaram suas veracidades e a hipótese mais aceita para sua origem. Qual seja, a extraterrestre. São eles os vários casos do SIOANI, dos anos 60, a Operação Prato, da década de 1970, e a Noite Oficial dos UFOs, da década de 1980.
Adiantando-nos à abertura oficial dos anos 90, a CBU enviou mais dois documentos ao Arquivo Nacional, os quais comprovam outros dois casos: o Caso Papuda, de 1991, e o Caso Varginha, de 1996. Ambos de imensa importância para a Ufologia Brasileira. O primeiro porque, além de ter sido confirmado pela Aeronáutica, foi o único de que se saiba tenha sido estudado por uma Universidade Federal, a Universidade de Brasília. E o segundo – que dispensa comentários pois foi muito investigado à época – ainda que não tenha nenhum documento liberado até agora, teve os primeiros indícios de existência de papéis confirmados na recente manifestação oficial do Ministério da Defesa sobre o assunto, enviada à Câmara dos Deputados.
4 – O meio ufológico brasileiro tem dado a importância devida às conquistas da campanha?
Sim, a comunidade ufológica brasileira tem dado grande importância a estes fatos, mas não tanto quanto deveria. Por incrível que possa parecer, a importância e repercussão é muito maior lá fora, no exterior. Um exemplo disto é que o nosso amigo Ademar Gevaerd, um dos carros chefes da CBU, tem sido convidado a dar mais palestras para explicar a campanha no exterior do que aqui no Brasil, onde nós da CBU dividimos as apresentações sobre a abertura brasileira. Gevaerd já foi a cinco continentes falar do assunto, enquanto que no Brasil, apenas alguns ufólogos mais interessados e engajados no processo tem dedicado tempo e trabalho para divulgação do assunto em palestras. Penso que, em parte, isto se deve mais a estrutura organizacional da Ufologia Brasileira, esfacelada em alguns grupos e com pouca disponibilidade de recursos para promover encontros, do que o propriamente dito interesse pela campanha e seus resultados.
5 – Quais são os próximos passos da campanha?
A campanha está para entrar no seu momento mais crucial, desde que foi lançada em 2004. Mas para isso, precisamos entender rapidamente o que ocorreu até o ponto onde nos encontramos.
A grosso modo, até agora podemos dividir a campanha em quatro fases, cada uma mais importante que sua antecessora. A primeira fase configurou-se na reestruturação da CBU, em fevereiro de 2004, com a saída de um dos membros e a inclusão e novos integrantes. Logo em seguida, no final de março e início da abril, teve início a campanha e a coleta de assinaturas, através da adesão de simpatizantes ao Manifesto da Ufologia Brasileira. Foram recolhidas mais de 70.000 assinaturas. Essa fase terminou com o grande triunfo que foi a visita dos ufólogos da CBU ao CINDACTA, em maio de 2005, convidados pelo Comando da Aeronáutica, onde foi entregue pela CBU o citado Manifesto ao Comandante do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, brig. Teles Ribeiro. Foi nesta ocasião que, dentro das instalações do COMDABRA, tivemos em mãos alguns dos documentos originais que, de acordo com o que pedíamos no Manifesto, deveriam ser abertos à população. A segunda fase iniciou-se com uma longa espera por atitudes concretas das autoridades, no sentido de cumprir o que solicitava o Manifesto. Ou seja, que o Ministério da Defesa abrisse seus arquivos e que começasse a estudar uma parceria aberta de estudos ufológicos, composta por ufólogos militares civis, para revisão de antigos e abordagem conjunta de novos casos ufológicos, nos moldes do que o SIOANI fizera na década de 60. Depois de um ano e meio sem que nada de concreto surgisse, a segunda fase terminou com o protocolo do Dossiê UFO Brasil no Poder Executivo, no fim de 2007, agora usando a lei como instrumento de pressão. Nova espera se deu no início da terceira fase, e após intensas cobranças junto á Casa Civil, inclusive com o protocolo de novos pedidos reiterando o que estava no Manifesto e no Dossiê, surgiram os primeiros documentos em outubro de 2008. Foi nesta terceira fase que se deram a adesão de importantes nomes militares à campanha, como o do ex-chefe do COMDABRA, brig. José Carlos Pereira. O ano seguinte (2009) foi o ano de ouro para a abertura, com mais de duas mil páginas enviadas pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional. Graças a esta luta, o Arquivo Nacional dispõe hoje de mais de 4.000 páginas só sobre Ufologia. É o terceiro maior lote de documentos ufológicos oficiais disponíveis ao público do planeta, perdendo apenas para os da França e do Reino Unido. Dessa forma, estamos concluindo a terceira fase em 2010 na iminência de termos ainda as décadas de 1990 e 2000 em nossas mãos nos próximos meses. Tudo isto que afirmamos pode ser constatado através das respostas dadas pelo Ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao Requerimento de Informações da Câmara dos Deputados número 4470/2009, por nós solicitado ao dep. Chico Alencar (PSOL/RJ). Documento este que também já se encontra nas prateleiras do Arquivo Nacional.
Isto posto, os próximos passos são, primeiro, o aguardo dos dois últimos lotes de documentos informados pela Defesa (anos 90 e 00), previstos para envio ao Arquivo Nacional até 31 de agosto de 2010. Depois de conferidos, catalogados e divulgados, em se notando a falta de papéis, o que muito provavelmente deve ocorrer, iniciaremos então a quarta fase da campanha, que possivelmente conterá o derradeiro passo: o acionamento do Poder Judiciário, através da nova Lei de Acesso à Informação Pública. Esse novo corpo legal substituirá a 11.111/2005 – usada no Dossiê UFO Brasil – trás imensas vantagens e já está em fase final no Congresso Nacional, devendo ir a sanção presidencial ainda neste segundo semestre de 2010. Ao que tudo indica, a CBU terá essa importante arma para ser usada, tão logo se confirme a disposição da Defesa em esconder alguns dos documentos mais caros à UFOs, Liberdade de Informação Já.