Pihawai é uma maneira carinhosa de chamar o Piauí, que consta como sendo o segundo estado da Nação em número de sítios arqueológicos, segundo informação governamental no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), vinculado ao Ministério da Cultura. Mas após viagem ao Pihawai, em agosto passado, fiquei convencida da defasagem de tal informação. É possível que já passem de mil os sítios daquele estado, uma demonstração cristalina de sua vocação para a pesquisa arqueológica, ambiental e artística.
Tamanho patrimônio nacional precisa ser preservado e restaurado. Nisto há empenho da Universidade Federal do Piauí, que faz a prospecção dos sítios. A professora e arqueoquímica Maria Conceição Soares Meneses Lages, por exemplo, participa ativamente dos levantamentos dos sítios arqueológicos da região. Ela defende a condução de uma pesquisa científica para posterior adequação do delicado patrimônio a visitações públicas. Há outros trabalhos também de grande importância para se conhecer aqueles achados pré-históricos, como a iniciativa do geólogo Érico Gomes, que reuniu valorosa equipe multidisciplinar voluntária no município de Pedro II, e as atividades do sociólogo Benedito Rubens Luna de Azevedo, assessor de turismo da prefeitura de Castelo do Piauí, que tem implementado ações educativas e comunitárias para defesa e valorização do patrimônio arqueológico e ambiental de seu município. No entanto, urge a mobilização da sociedade como um todo, especialmente seus setores organizados, na exigência de ações governamentais para a concretização do sonho. Em Pedro II, há um clima ameno para os padrões locais. Lugar serrano agraciado pelas melhores opalas do mundo e por uma cultura capaz de criar um artesanato admirável, é celeiro de sítios.
Portal Turístico — Em suas prospecções geológicas, Érico Gomes deparou-se com pinturas enigmáticas cujo registro fotográfico foi gentilmente cedido à esta autora. Em Castelo do Piauí, Benedito Rubens também propõe o estabelecimento do Portal Turístico do Cone Leste, incluindo a Pedra de Castelo – suas lendas e relatos místicos – e o cânion do Rio Poti.
O programa Globo Repórter já apresentou extensa matéria sobre as Serras da Capivara e das Confusões, ambas ao sul do Piauí. É notável que em todo o estado haja incidência destas preciosidades artísticas legadas pela Pré-História. Pedro II e Castelo ficam ao norte, assim como o Parque Nacional das Sete Cidades, o primeiro do Piauí. Há abundantes registros de sítios arqueológicos em muitas localidades destas áreas. Mas é preciso se firmar um projeto atento às próximas gerações, legando-lhes conhecimentos – em fase de sistematização – a respeito da nossa História como raça humana e sua aventura cósmica. O estado tem um acervo importante para este objetivo.
A Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), no entanto, lançou um projeto que alardeia trazer imenso progresso ao estado Trata-se da construção de represas no Rio Parnaíba, o Velho Monge. Na sua quietude, o Monge clama a Deus para que o deixem em paz, para ser novamente navegável, liberto do assoreamento atual. Num estado tão rico em energia fotovoltaica e eólica, e com grande potencial para produção de diesel orgânico – como anuncia a voz sempre futurista e autorizada do senador Alberto Silva –, não é possível que a lógica dos frios números do mercado pretendam falar mais alto que a consciência geracional. Mas se o projeto da CHESF vingar, as próximas gerações ficarão privadas da beleza e generosidade do Delta do Parnaíba, um dos três únicos do mundo. Espero sinceramente que não. E conto com os leitores para que o sonho vença a insanidade dos homens de negócios e tecnocratas.