Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criaram em laboratório bolas luminosas amarelas, com temperatura de aproximadamente 1.700 C. Elas rolam e quicam no chão até, depois de mais de 8 segundos, sumirem quase instantaneamente. “É um enigma para a ciência há 250 anos”, explica um dos autores da pesquisa, Elder Alpes de Vasconcelos, físico da UFPE. Milhares de pessoas em todo o mundo já viram esferas luminosas do tamanho de bolas de futebol vagando no ar, geralmente em noites de tempestades com raios. Os pesquisadores coletaram três relatos de bolas luminosas em Recife.
As bolas são conhecidas pelos cientistas como relâmpagos globulares [ball lightning], e sua origem ainda é um mistério. O grupo de Pernambuco foi o primeiro no mundo a produzir em laboratório esferas de fogo parecidas com as reais, ainda que bem menores – a versão “sintética” tem o tamanho de uma bola de pingue-pongue. “Elas imitam pelo menos dez propriedades das bolas luminosas observadas na natureza”, afirma Vasconcelos. “Elas são sensacionais”, comenta o químico Antônio Pavão, líder da equipe que fez a descoberta, a ser publicada no fim deste mês no periódico Physical Review Letters.
Das dezenas de explicações que existem para o fenômeno, a nova experiência favorece a proposta por John Abrahamson, da Universidade de Canterbury, Nova Zelândia, em 2000. “Fiquei muito satisfeito ao ver que os resultados comprovam nosso modelo teórico”, disse Abrahamson. De acordo com a teoria, as bolas luminosas surgiriam quando um raio que atinge o solo evapora o silício contido na terra. O oxigênio do ar incendeia as nanopartículas de silício levantadas pelo raio. “Não sabíamos se poderíamos simular as condições previstas na teoria”, conta Vasconcelos.
É muito difícil reproduzir a eletricidade dos raios. Primeiro, eles tentaram usar um gerador Van Der Graff – a esfera de metal que deixa os cabelos das pessoas em pé nos museus de ciências. Não deu certo. Um aluno de Pavão, Gerson Paiva, descobriu o que estava errado. O importante era usar uma corrente elétrica forte. Com ela, eles vaporizaram as pastilhas de silício com apenas 0,3 milímetros de espessura, fornecidas por Vasconcelos e Eronides da Silva, do departamento de física da UFPE.
A experiência, que usa só um pedacinho de silício e um equipamento de soldador, “talvez seja a mais barata que já foi publicada na Physical Review”, brinca Pavão. O grupo teve ainda colaboração de um especialista em raios, Odim Mendes Jr., do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Pavão disse que o grupo já obteve resultados com outros materiais. Revela apenas que são ligas metálicas. (Para assistir à experiência pela internet, busque “ball lightning” no YouTube).