Há alguns anos, um espantoso caso ufológico ocorreu em Guaxupé, sul de Minas Gerais. Para investigá-lo, uma equipe coordenada por esse autor se deslocou até o local em janeiro de 2007, onde encontrou a testemunha central do episódio, João Franco, em sua residência. Ele tinha passado por uma experiência insólita envolvendo um objeto luminoso desconhecido. O primeiro contato com a história de Franco se deu através do ufólogo mineiro Ênio Junior e, diante das características estranhas de seu caso, iniciou-se uma apuração mais detalhada dos fatos, localizando pessoas que se envolveram direta e indiretamente com ele. A equipe de pesquisa era composta por esse autor e pelos ufólogos Eduardo Pereira, Milton Frank, Ênio Junior e Pedro Ramos — esse último membro da Associação Sul-Mineira de Estudos Ufológicos (ASMEU).
João Franco é um homem simples, melancólico e bastante triste, mas disposto a relatar detalhadamente o que lhe aconteceu — ele permitiu, inclusive, que fosse filmado. Apesar do tom de voz baixo e até um pouco depressivo, ele tinha boa articulação em sua oratória e respondia a todas as perguntas sem hesitação. Franco não soube precisar corretamente o dia em que sua experiência ocorreu, mas garantiu que foi no mês de outubro de 1985. Na ocasião, ele, seu irmão Galvão Franco, um amigo chamado Ozório Rosa de Carvalho e outro colega foram pescar no Açude da Barra, na região de Barra Velha, zona rural de Guaxupé. O grupo tinha o costume de fazer a pescaria há mais de três anos, geralmente à noite. Sempre deixava o carro — um Opala que pertencia a Galvão — na estrada e entrava no local a pé, pescando com um barco inflável.
O processo era rápido: em uma noite os homens iam ao local e instalavam redes, e na seguinte retornavam para recolhê-las com os peixes — já o barco era mantido no açude, escondido embaixo das taboas. A noite do evento ufológico foi justamente aquela em que eles foram retirar as redes, o que não levava mais do que 30 minutos. Segundo se recorda João Franco, quando o grupo estava recolhendo a última rede, ele avistou uma esfera luminosa de cor azul, do tamanho da Lua cheia, sobre a copa das árvores que cercam o açude. A partir daquele momento, todos ficaram em pânico — acharam que poderia ser o holofote ou lanterna de algum guarda florestal. Trataram de sair dali o mais rápido possível.
Logo em seguida, Franco viu sair quatro esferas menores debaixo da primeira. Elas eram bem pequenas, brilhantes e faziam um movimento vertical muito rápido, subindo e descendo sem parar. Enquanto o grupo remava rapidamente, as esferas menores pareciam acompanhar o barco a distância. Quando os homens chegaram às taboas, tentaram se esconder nelas, já que a vegetação é alta e fechada. Mas uma luz pequena e azulada veio flutuando, com movimentos ondulatórios, e acabou entrando no meio das plantas — quando chegou bem perto do barco, lançou um flash extremamente forte e azulado e em seguida desapareceu, sem deixar qualquer vestígio.
Mais de quatro horas de mistério
Por cerca de 10 minutos os pescadores ficaram ali parados. Como as luzes não voltaram a aparecer, concluíram que não havia mais perigo e decidiram remar em direção à margem do açude. Quando lá chegaram, saíram do barco, pegaram os peixes e foram para o carro. Apesar da estranheza da situação, eles ainda achavam que talvez tivessem sido flagrados por algum guarda ao invadirem uma fazenda para fazerem a pescaria. Chegando ao Opala, Galvão Franco tentou dar a partida, mas o carro não funcionava — foi aí que descobriram que não havia uma única gota de gasolina no tanque, o que os deixou ainda mais apreensivos. A falta de combustível era inexplicada, pois eles jamais saíam para pescar sem conferir o nível da gasolina. Chegaram a pensar que alguém tinha roubado o combustível, mas a tampa do tanque estava fechada e não existia o menor sinal de que alguém o tivesse aberto à força.
A única opção para o grupo era procurar alguém que pudesse fornecer algum combustível para o carro, e os quatro começaram a andar pela estrada de terra, chegando à casa do administrador da Fazenda Barra. Por sorte, o funcionário era Ulisses Gonçalves da Silva, conhecido dos rapazes e “irmão de igreja” de Galvão Franco. Ao descreverem a inusitada experiência, Silva comentou que, certa vez, um tratorista da fazenda também passou por momentos terríveis por causa de uma luz azul, no meio da madrugada, quando estava arando um terreno para plantar milho. Antes de irem embora com a gasolina, foram informados pelo administrador que já eram 04h30 — e essa foi uma grande surpresa. Até então, o grupo estava com a impressão de que Silva tinha chegado há pouco da igreja e estaria se preparando para dormir, quando na verdade ele já tinha dormido a noite toda e estava se levantando para começar suas obrigações de administrador da fazenda.
Os pescadores retornaram rapidamente para o carro, abasteceram o tanque e partiram. No caminho de volta, comentaram assustados como poderia ter se passado tanto tempo assim. Na pior das hipóteses, eles gastariam um pouco mais do que meia hora para recolher as redes, sendo que eram mais ou menos 22h30 quando iniciaram a tarefa. Resolveram fazer as contas. Quando as luzes apareceram, eles ficaram escondidos nas taboas por uns 10 minutos. A caminhada na estrada até a casa do administrador levaria outros 40 minutos, no máximo. No entanto, quando foram recebidos por Silva, já eram 04h30. Qualquer que fosse o cálculo, por mais que se atrasassem aqui e ali, tudo deveria estar encerrado até as 24h00. O que teria ocorrido nas mais de quatro horas seguintes? Esse fato perturbador marcou profundamente todos eles, e até hoje João Franco não tem a menor ideia do que ocorreu.
Os quatro homens nunca souberam o que lhes aconteceu nesse período de “tempo perdido” em suas vidas. João Franco foi o mais afetado pela inquietante dúvida, que carrega até hoje. Ele afirmou várias vezes à equipe de pesquisadores que, antes, tinha uma vida normal e controlada, mas que, depois daquela noite, o mundo pareceu ter desabado em cima de sua cabeça — sua saúde nunca mais foi a mesma. Alguns dias depois da experiência, ele conversou com o dono de um posto de gasolina no centro de Guaxupé, a quem relatou os estranhos fatos daquela noite. “Ele disse que, certa vez, quando foi com a namorada a um morro que existe no mesmo local, acabou passando por dificuldades devido à presença de uma misteriosa luz azul”. Ainda atormentado, Franco, que nada sabia sobre Ufologia na época, começou
a ler sobre o tema anos depois.
Sérios problemas de saúde
A testemunha chegou a viajar a São Paulo para fazer uma sessão de regressão hipnótica, mas, quando lá chegou, havia muita gente agendada para fazer o mesmo e ele decidiu voltar para casa, não realizando o procedimento. Cerca de duas a três semanas depois da experiência, os pêlos de seu peito, do lado esquerdo e um pouco acima do mamilo, caíram e formaram um círculo ovalado grande e liso, de 6 a 8 cm de diâmetro. Um pouco acima dele apareceu outro menor, com cerca de 3 a 4 cm de diâmetro. A pele dentro desses círculos tinha cor rosada, um pouco arroxeada — por serem muito visíveis os sinais, ele passou a usar a camisa fechada. O mesmo aconteceu com sua bochecha esquerda, onde apareceu outro círculo ovalado e completamente liso, onde a barba não cresce. João Franco achou que tinha contraído alguma doença na pele, que estaria causando a perda dos pêlos, mas depois de algumas semanas eles voltaram a crescer.
O pescador, angustiado, conta que desde aquela experiência se tornou uma pessoa abatida e depressiva, preferindo se isolar dos outros. Diz que, antes, quando era militar, era bastante ativo e chegava a fazer “bicos” de pedreiro. Mas, depois do episódio, sua saúde nunca mais foi a mesma e ele teve vários problemas — que acredita terem sido causados por aquelas misteriosas luzes durante a pescaria. Mesmo assim, após alguns anos, comprou um pedaço de terra na região, onde há um morro conhecido como Seabra separando sua propriedade do açude. Apesar de carregar o trauma da experiência, João Franco tinha o objetivo de montar um pesqueiro no local, mas acabou voltando a ter contato com luzes desconhecidas. “Em uma noite, eu vi uma bola de luz azul sair voando. Ela veio ao lado da minha terra, voou por cima do morro e foi justamente para o local onde nós passamos por aquela experiência”, declarou. Ele conta que os moradores do local chamam aquilo de Mãe d’Ouro. “É comum observá-la voando ali”.
A testemunha também garante que outra luz estranha o importunava à noite, principalmente entre 04h30 e 05h00. Tinha cor azul, uns 10 cm de diâmetro e aparecia parada na porta de seu quarto. “Ela vinha para cima de mim na cama e quase me tocava — era um tormento. Eu tentava me afastar e ela se aproximava. Tenho certeza de que não era um sonho ou um pesadelo. E quando eu me virava bruscamente ou levantava, ela sumia”. Franco diz que aquela luz foi um dos motivos que o levou a vender sua propriedade e abandonar a ideia de ser dono de um pesqueiro. A estranheza das situações que ele viveu foi acompanhada por um histórico médico complicado, forçando-o a se submeter a exames que, estranhamente, nada detectavam de anormal.
João Franco passou a sofrer falta de ar e febres fortes constantemente — uma possível infecção urinária chegou a ser aludida, mas foi descartada por um especialista após vários exames. Nem mesmo um cardiologista consultado encontrou qualquer anomalia visível. Por fim, com a possibilidade de que os sintomas pudessem ser motivados por seu estado emocional abalado, a testemunha foi encaminhada a um psiquiatra. “Mas ele percebeu que eu era apenas uma pessoa um pouco triste, com depressão e ansiedade. Eu fiquei assim depois daquela noite de pescaria”, repetiu. O psiquiatra receitou o tranquilizante Psicosedin.
“Cheguei ao fundo do poço”
Como se não bastasse tudo aquilo, durante os doze anos seguintes João Franco passou a fazer uso abusivo de álcool, tornando-se alcoólatra: “Quando eu comecei a me tratar, as pessoas diziam que o vício é hereditário e uma predisposição. Eu vivi todas as fases do alcoolismo e cheguei ao fundo do poço”. Ele chegou a ser internado em um sanatório, no meio de todos os tipos de doentes mentais. Mas contou que estava há cinco anos em total abstinência e se livrou do vício. Ele faz parte dos Alcoólicos Anônimos e diz se sentir muito bem no grupo que o acolheu.
Com esses ingredientes, poderíamos dizer que esse é um caso ufológico em que o fenômeno produziu um grave trauma na testemunha, causando sua desestabilização. Mas a experiência de João Franco não é tão simples assim. Uma análise da sucessão dos fatos vividos por ele impede que tenhamos respostas satisfatórias para justificar todos os aspectos do episódio. Se, por um lado, não há como negar que o comprometimento do fator emocional poderia ser responsável por vários dos sintomas apresentados por ele, por outro nos deparamos com fatos estranhos à realidade objetiva. Um deles se deu quando, ao cuspir um pouco de catarro, expeliu um objeto esférico de uns três centímetros de diâmetro. “Meu problema de falta de ar e febre acabou naquele dia. Eu embrulhei a bolinha em um jornal e levei para meu pneumologista, que ficou bastante surpreso — mas ele não soube responder como aquilo tinha ido parar no meu pulmão”.
Em menos de quatro horas após ter expelido o artefato, como exemplo de algo altamente inusitado, João Franco ficou completamente curado e sem febre. “Lamento muito não ter guardado aquilo direito, pois acho que merecia ser analisado. Mas meu médico pode testemunhar e confirmar”, disse à equipe de pesquisadores. O pneumologista em questão é o doutor Edson José Dias Leite Filho, que receitou Fluimucil e Levaquin à testemunha depois de ver aquele pequeno objeto ser expelido — a finalidade dos remédios era combater uma possível infecção que a testemunha apresentava, que não foi detectada nos exames. Mas, sem ter o artefato expelido para examinar, não é possível afirmar que tenha qualquer ligação com os fatos ocorridos na pescaria de outubro de 1985, o que seria apenas uma suposição.
O pescador também sofreu alguns desmaios após sua experiência, que foram diagnosticados como epilepsia — embora um exame de tomografia computadorizada não tenha detectado qualquer problema visível, até hoje a testemunha é obrigada a fazer uso do medicamento Tegretol para controlar os sintomas de perda de consciência.
Confuso e perturbado pelos fatos
A primeira impressão que tem ao conhecer João Franco é de que se trata de um homem íntegro, embora um pouco confuso quanto às suas lembranças e perturbado com o que aconteceu naquela pescaria. Assim, para confirmar ou rejeitar o caso como uma legítima experiência ufológica, o próximo passo era localizar outras testemunhas diretas e indiretas que confirmassem suas afirmações, além de possíveis registros do caso na imprensa. No Jornal da Região, daquela cidade, há referências à história da testemunha em duas edições. A primeira, de 22 de março de 1997, contém o artigo Fenômenos Incomodam Moradores de Guaxupé, que descreve estranhos fenômenos no sítio Bom Jardim dos Machados e proximidades, em uma área de 8 km que beira o aeroporto municipal. Segundo a publicação, é
comum observar fortes luzes na região, chamadas de Mãe d’Ouro pelos antigos moradores.
O jornal ainda descreve bem resumidamente a experiência da pescaria, mas afirma que eram apenas três as pessoas envolvidas: João e Galvão Franco e um companheiro não identificado. No artigo fica patente que João deu seu depoimento tranquilamente, enquanto o irmão Galvão se mostrou mais reservado. No artigo há referência à falta de combustível no tanque do Opala e uma descrição do possível lapso de tempo vivido pelo grupo. Outro dado interessante é que o texto registra que os fenômenos luminosos ocorrem há muito tempo naquela área — inclusive que o antigo morador do sítio Bom Jardim dos Machados é justamente um tio de João e Galvão Franco.
A investigação em Guaxupé levou à gravação de depoimentos de várias testemunhas, entre elas o comerciante aposentado e piloto de avião Renato Euzébio da Silva, que alega ter visto várias vezes uma esquisita bola de luz naquela área, próxima da cabeceira da pista do aeroporto local. Inclusive, Silva comentou que é comum acontecer falhas nos instrumentos das aeronaves quando sobrevoam a região — funcionários do aeródromo também relataram diversos avistamentos e confirmaram as reclamações dos pilotos sobre falhas nos equipamentos.
Depoimento da esposa
Assim, com os acontecimentos ufológicos daquela cidade mineira se avolumando, intensificamos as investigações sobre o Caso João Franco e procuramos sua ex-esposa, Carmem Lúcia de Moraes, para colher seu depoimento. Carmem se lembrou daquela manhã em que o ex-marido voltou para casa com uma estranha história. “Eu vi quando ele chegou de manhã assustado. Contou que estava pescando e pareceu meio perdido, falando que o carro não tinha mais gasolina”, relatou a senhora — que também se recordou quando começaram a cair os pêlos de uma parte do peito dele. A mulher confirmou ainda que o alcoolismo tomou conta de João Franco depois daquela pescaria e que ele parou de sentir falta de ar e febre depois que expeliu algo pequeno pela boca. “Antes daquela noite, ele bebia pouco. Mas depois, caiu no alcoolismo. O João ficou transtornado e meus filhos até me diziam que eu tinha que dar um jeito, porque não tinha mais condições”.
Carmem relata que a situação de Franco se transformou em um enorme transtorno para toda a família. Em seguida, a equipe também entrevistou o segundo participante direto da pescaria, Galvão Franco, irmão de João, que logo demonstrou ter uma personalidade mais difícil e não aceitou dar seu testemunho imediatamente. Foi preciso insistir, mas, mesmo com ar desconfiado, ele acabou permitindo a gravação de seu depoimento em vídeo. Suas lembranças confirmam vários detalhes da história de João, mas também divergem em outros — Galvão, tal como registra o Jornal da Região, em nenhum momento cita uma quarta pessoa na pescaria. Ele confirma que tinham aquela atividade noturna há alguns anos, sem autorização do proprietário do açude, e recorda que seu grupo teve uma experiência muito estranha em outubro de 1985. Seu relato registra a observação inicial de uma luz sobre as copas das árvores naquela noite.
Galvão disse que, quando tirou o barco debaixo das taboas, a luz sobre as árvores piscou repetidas vezes. Aquilo o fez pensar que o guarda florestal Leonardo, seu amigo, tinha pegado o grupo em flagrante e estaria piscando uma lanterna para avisar que estava ali dando cobertura, ou pedindo que fossem embora. Mas confessou ter ficado surpreso com a luz sobre as árvores, que não poderia ter sido produzida pela lanterna do guarda — ela focou várias vezes o barco dos rapazes com uma luminosidade bastante intensa.
Expostos aos feixes de luz
A outra testemunha, Ozório Rosa de Carvalho, que já estava sentado no barco, ficou totalmente exposta à luminosidade, enquanto João ficou apenas parcialmente, quando segurava as redes de pesca no alto. Já Galvão, que estava deitado, ficou com metade de seu corpo fora do barco e com os braços dentro da água, puxando as redes, apenas com as costas expostas aos feixes de luz. Quando a luz os atingia, Galvão mergulhava a cabeça na água, tentando evitar que fosse reconhecido. É importante ressaltar que a luz ficava piscando ininterruptamente sobre as árvores — quando acertava o barco com um intenso feixe, ela parava de piscar e se mantinha constante por vários segundos.
Galvão Franco logo desconfiou que a situação não parecia uma operação policial padrão para flagrar invasores. Também não era comum policiais usarem holofotes ou lanternas nesse tipo de operação. “O que me fez ficar calado quanto aquilo foi o fato de precisar daquele tipo de lazer, que fazia bem para minha cabeça. E nunca passou de 20 minutos”, declarou. Mas confessou ter ficado assustado ao chegar ao veículo e constatar que estava sem gasolina. “Eu fiquei atônico diante daquela situação. Procurei olhar debaixo do carro para ver se tinha alguém ou algum vestígio, mas nada. Em uma pescaria dessas, a gente jamais ia se arriscar ficar sem gasolina”.
Logo em seguida, saíram quatro esferas menores debaixo da primeira. Elas eram bem pequenas, brilhantes e faziam um movimento vertical muito rápido. Enquanto o grupo remava rapidamente, as bolas acompanhavam o barco a distância
A testemunha também confirmou o espanto do administrador da fazenda ao vê-los — e a falta de lembrança sobre cerca de quatro horas daquela noite era um elemento perturbador. “No máximo, terminaríamos nossa pescaria umas 22h30. Nunca passou disso. No entanto, quando fomos ver que horas eram, já estava amanhecendo o dia e não percebemos nada”. A única coisa que diz se lembrar de diferente foi a presença daquela luz. “Acho que ficamos ‘fora do ar’ nos momentos em que o barco era atingido pelo feixe de luz”. Galvão também tinha uma vida tranquila e controlada antes do evento, mesmo sendo policial militar. Mas, depois daquela noite, sua vida parecia ter ficado do avesso, principalmente no aspecto profissional — tal com o irmão, ficou profundamente perturbado com aquele episódio.
O depoimento de Galvão foi uma peça importante no levantamento da ocorrência. O que teria acontecido com aqueles homens? Que explicação razoável poderia existir para o lapso de tempo? O local da pescaria também é peculiar, embora hoje o açude esteja aterrado e sobre ele exi
sta uma plantação de cana-de-açúcar. Aquelas terras têm grande quantidade de minério de ferro em sua composição, pois havia por toda parte manchas negras no chão — e como o ferro é um material altamente condutor de eletricidade, atrai raios de tempestades elétricas, o que poderia explicar a grande incidência deles na área.
Mais fatos inusitados
Uma peça da investigação consistiu em percorrer do ponto exato onde o grupo havia deixado o Opala naquela noite, a pé, até a residência do senhor Ulisses Gonçalves da Silva, onde teria conseguido gasolina e sido informado de que já eram 04h30 — a distância é de 1.100 m, que seria facilmente vencida em uns 20 minutos de caminhada, ainda que na escuridão da noite. Ou seja, não é concebível que os pescadores tenham levado mais de quatro horas para percorrer o trajeto. Além do que, tanto João Franco quanto seu irmão asseguram que a caminhada levou, no máximo, uns 40 minutos.
Importante também foi tentar localizar o antigo administrador, que já não morava mais na propriedade — mas o homem, extremamente religioso e desconfiado, recusou-se a falar com a equipe. Para ele, os mistérios que ocorriam na região eram devidos a assombrações e “coisas do demônio”. Mesmo assim, um dos pesquisadores conseguiu arrancar um depoimento do senhor Silva, então com 82 anos de idade e morador na zona urbana de Guaxupé. “João Franco e seus amigos chegaram apavorados à minha casa. Eram 04h30 de uma madrugada do ano de 1985 e eu já tinha levantado para tocar o sino e chamar os lavradores para a lida. João pensou que fosse 22h30 e me pediu desculpas achando que estavam me acordando àquela hora da noite”, declarou. Silva lembra que João Franco lhe disse ter visto luzes muito fortes sobre o açude e que elas tinham partido para cima dele e de seus amigos. “Mas, para mim, aquilo era obra do diabo e o mundo está no fim”.
Ele também confirmou a alta incidência de bolas de fogo no local, também chamadas por ele de Mãe d’Ouro. Durante as investigações do caso, João queria fazer uma sessão de hipnose regressiva para tentar desvendar o que realmente acontecera naquela fatídica noite — sua insistência nos levou a marcar uma entrevista com o hipnólogo Mário Rangel, experiente investigador de abduções e autor do livro Sequestros Alienígenas [Código LIV-007 da coleção Biblioteca UFO. Veja Shopping UFO desta edição].
Realidade ou imaginação?
Em 26 de maio de 2007, a equipe de pesquisadores levou João Franco para uma sessão de hipnose em São Paulo — mas, em transe hipnótico, ele descreveu apenas os fatos lembrados conscientemente, sendo incapaz de recordar coisas novas. Apesar de frustrante, a sessão não deixa de ter relevância, pois a testemunha recontou a mesma história sob transe, o que é um elemento reforçador de que descreve algo que está em sua memória, independente de se basear na realidade objetiva ou ser apenas um produto da imaginação. Nesse ponto das investigações, já havia sido acumulada uma quantidade expressiva de evidências e depoimentos, além de imagens dos locais envolvidos e até a reconstituição de todos os fatos — a última peça que faltava para compor o quebra-cabeças era o testemunho de Ozório Rosa de Carvalho, o terceiro homem da pescaria, mas ele já falecera.
Assim, com todos os dados levantados nos depoimentos, a reconstituição no local, a localização dos registros de imprensa e até mesmo com a hipnose regressiva realizada em João Franco, concluiu-se que algo incomum ocorreu àqueles homens durante a pescaria daquela noite de outubro de 1985. Os poucos detalhes conflitantes nos depoimentos podem ser resultado de pequenas falhas na memória dos envolvidos, além das características individuais de cada um ao observar, interpretar e descrever os acontecimentos — analisando o quadro como um todo, há um cenário único e claro, apesar de divergências isoladas. A equipe também apurou uma série de relatos de estranhos fenômenos naquela região.
Entretanto, em muitas ocasiões, a investigação do Fenômeno UFO acaba sendo um pouco frustrante, pois dificilmente o pesquisador terá certeza absoluta do que aconteceu às testemunhas — na maioria das vezes, restam apenas seus depoimentos, que são baseados na recordação dos fatos, evidentemente vulnerável a todo tipo de distorção. De qualquer forma, é importante que investigadores independentes e grupos ufológicos busquem registrar os casos da forma mais completa possível, sempre com alto senso crítico e com a checagem rigorosa dos fatos, mesmo que seja impossível se chegar a uma conclusão definitiva sobre eles. Afinal, no mínimo, estamos gerando um banco de dados casuísticos extremamente relevantes, que será de grande importância para qualquer análise sobre a problemática dos objetos voadores não identificados. E assim, a pesquisa sobre este fascinante caso continua.