A ocorrência de estranhos fenômenos nas zonas austrais de nosso planeta tem enriquecido os arquivos de muitos pesquisadores. Desde os tempos em que navegantes intrépidos sulcavam as águas geladas do globo até chegar aos distantes povoados, os visitantes se acostumaram a ver algo mais que frio e neve. Neste trabalho conjunto pretendemos apresentar uma síntese desse riquíssimo panorama de casos que podem ser incluídos na fenomenologia ufológica. Os autores preferem, no entanto, empregar a expressão “fenômenos anômalos” aos fatos observados, para não preconceber os acontecimentos que serão descritos. Mas estão conscientes de que a maioria dos colegas ufólogos e leitores concluirão que pertencem ao gênero de manifestações inseridas no contexto do Fenômeno UFO.
Por ser um território quase inexplorado, a Patagônia poderia extrapolar os conceitos psicológicos e simbólicos do ser humano. Ali, onde germinam alguns dos espetáculos naturais mais belos do mundo, os fenômenos anômalos parecem se associar a essas manifestações sensoriais. Naturalmente, não existindo grandes centros urbanos na vasta região, casos de observações de UFOs e contatos com tripulantes são relativamente poucos. Entretanto, a firmeza de suas aparições e a grandeza da paisagem parecem enriquecê-los com características particulares. São um apoio as hipóteses de que nem todos os fenômenos são exclusivamente físicos, materiais, mas que incluem elementos psicológicos e sociais.
Mergulho em Águas Geladas — Considerando que 75% da superfície terrestre estão cobertos de água, achamos lógico começar nossa exposição pelos episódios de observação de fenômenos anômalos de origem marinha. E vamos fazê-lo pelo Caso Agustín Prat, revelado pelo arqueólogo Alberto Medina Rojas à publicação chilena Revista Del Domingo. O marinheiro Agustín Prat teve uma experiência com um fenômeno aéreo no início do século, muito antes que chegassem ao Chile aviões e outros inventos voadores. Prat, então comandante de infantaria do exército, morto em 23 de abril de 1951, escreveu há quase nove décadas uma carta a Fernando Setit, que foi reproduzida no livro Chiloé y los Chilotes, de Francisco J. Cavada [1914].
Neste texto, Prat relatou um UFO com clareza. “Às 03h45 do dia 08 do corrente mês, depois de cair uma ventania vinda do norte, o mar estava tranqüilo e chuviscando. Fui avisado pelo timoneiro de guarda, capitão de altos Thompson, que se aproximavam em direção ao nosso barco duas luzes grandes e brancas, como a de um farol cada uma. Soltavam labaredas em intervalos e pareciam de algum rebocador que vinha da costa em busca de auxílio”. Como Prat demorou um pouco para atender ao marinheiro, este correu para avisá-lo novamente que as luzes se aproximavam mais rápido, e que seu tamanho era grande e pouco comum. “Por isso a dúvida de que fosse um rebocador. Podia se ver que vinham suspensas no ar a uma altura menor que um metro, sem distinguir embarcação alguma”.
Acreditando que algum acidente fosse ocorrer, Prat observou melhor o fenômeno pela clarabóia de seu camarote e percebeu uma grande claridade que iluminou toda a área, a ponto de parecer que o navio estava em chamas. “Dei um salto, me vesti e cheguei até bombordo, onde encontrei o timoneiro Thompson e o caldeireiro Antonio Rojas, que mostravam assombrados como a grande luz branca avançava para cima do navio”. Segundo descreveu, tratava-se de algo com mais de um metro de superfície, suspenso a uma distância igual ou superior da água. Em estado de choque, Prat correu em busca de binóculos para certificar-se melhor do que via. Mas quando voltou, a luz já tinha se afastado da borda. “Ela se dividiu em duas, que em certos momentos se separavam de modo brusco uma da outra, para unirem-se depois em uma maior e única, que então avançava sempre com velocidade não menor que 11 km/h e não maior que 24 km/h”.
Prat descreveu ainda que o fenômeno anômalo se dirigiu às carvoarias de Punta Arenas, e que permaneceu por certo tempo sobre uma praia da região. Depois iniciou uma marcha acelerada ao céu e desapareceu completamente em direção a Punta Ahuí, mais ao sul da Patagônia. “Isto foi visto também pelo carpinteiro do barco, Gregório Carmona, que entrou de guarda às 04h00, e pelo caldeireiro Antonio Rojas. Uma vez que clareou o dia, já não se via nada, tendo sido suspendida então a observação”, finalizou o marinheiro.
Navio Fantasma no Pacífico — Quase 30 anos mais tarde, outro navio de bandeira chilena seria protagonista de um fenômeno marítimo. Naveguemos então nas frias águas do Pacífico Sul a bordo da corveta-escola General Baquedano. “A semelhança que apresentava o fenômeno celeste observado no Golfo de Penas, que consistia num corpo esférico, luminoso e vermelho, com a ‘bola de fogo’ de que falou o sismólogo R. P. Gun-Bayer em estudo sobre os fenômenos elétricos, nos tem trazido descrições de aparições noturnas análogas no mar, observadas noutras ocasiões”. É assim que um marinheiro chileno, hoje aposentado, nos descreveu a presença de um fenômeno misterioso no final de abril e princípio de maio de 1934, observado desde o General Baquedano.
Era uma noite em que, durante viagem de Juan Fernández até o Estreito de Magalhães, por fora dos canais, a corveta-escola passava em frente ao Golfo de Penas. Nessa jornada, nosso informante era o oficial de guarda da embarcação no turno entre as 24h00 e 04h00. A corveta navegava impulsionada por velas em meio a um mar pesado, e as condições do tempo variavam entre uma leve neblina e um pouco de chuva. O fenômeno anômalo surgiu a leste, próximo do continente. A sentinela de popa foi o primeiro marinheiro a ver e dar o alarme: “Luz na asa de bombordo!” O corpo era grande, luminoso e modificava sua cor. Um minuto depois, a sentinela gritou pela segunda vez: “Luz na quadra do bombordo!”. O misterioso corpo esférico avançava mais rápido que o barco. A tripulação acompanhou o fenômeno intrigada, e os que ainda dormiam também foram acordados. Um oficial se dispôs a tomar com o sextante a localização do corpo, que já havia apresentado inúmeras cores – vermelha, amarela, azul, verde e branca –, repetindo-as em seguida.
Quase toda a tripulação estava de alerta olhando calada o fenômeno, quando um barulhento tripulante rompeu o silêncio: “Seria o Caleuche?” O rapaz estava se referindo a um mito folclórico da Ilha de
Chiloé e regiões do sul do Chile. Para os marinheiros e moradores dessas áreas, o Caleuche é uma imensa luz que aparece sobre o mar, considerada uma espécie de navio fantasma, cuja origem nunca foi identificada [No Brasil também temos o mito do navio ou canoa fantasma no Amazonas, com as mesmas características].
O objeto misterioso seguiu avançando mar adentro, até desaparecer. A visão durou mais ou menos quatro minutos e o comandante, depois de ver as contas feitas pelo oficial com o sextante, fez as anotações correspondentes no livro de bordo do Baquedano, que se encontra arquivado no departamento responsável da Marinha chilena. A corveta-escola seguiu então sua viagem sobre o mar revolto, debaixo de um céu com neblina e às vezes com um pouco de chuva. Mas não somente do lado do Oceano Pacífico a Patagônia e a Terra do Fogo têm recebido visitas. Também do lado do Oceano Atlântico, na costa da Argentina, esses fatos têm ocorrido. Uma série de incidentes já foi verificada na região, sendo uma delas o Caso Bombeiro Suárez, um valente argentino de 23 anos que em 1950 conseguiu realizar o feito de ir de Buenos Aires à Terra do Fogo a pé, acompanhado somente de seus cachorros.
Enquanto fazia sua marcha, o céu do Cone Sul do continente transbordava em observações de luzes e objetos voadores não identificados. O ponto de referência de qualquer viajante na Patagônia deve ser o mar ou a Cordilheira dos Andes, e Romero Ernesto Suárez escolheu o tortuoso trajeto do Atlântico, que banha a costa argentina. Em 03 de fevereiro daquele ano, aproximadamente às 23h00, Suárez percorria uma trilha desde Ushuaia a Buenos Aires – com mais de 4.000 km – quando viu um objeto luminoso de forma ovalada que subia do mar a uns 500 m da costa, entre as localidades de San Sebastián e Rio Grande.
O bombeiro ouviu um estrondo na água e um artefato luminoso elevou-se verticalmente até um ponto determinado, virando em ângulo reto até desaparecer em direção ao continente, em completo silêncio. Quinze dias depois, enquanto atravessava o caminho costeiro na altura de Puerto Coyle, na província de Santa Cruz, Suárez viu igualmente em altas horas da noite um grupo de quatro artefatos que emergiam das águas oceânicas. Eram aparelhos menores que o observado na Terra do Fogo, mas se comportavam manobrando de modo análogo, elevando-se verticalmente e logo se perdendo rumo a oeste, na direção da Cordilheira dos Andes. Nesta segunda oportunidade, várias testemunhas observaram as estranhas evoluções.
Fogo que Emana da Terra — O fogo presente na natureza, no coração da terra, pode aflorar em acontecimentos que às vezes desafiam as explicações científicas. A fúria do magma escapando à alta pressão do interior da crosta terrestre tem sido veículo de um dos acontecimentos mais estranhos que recolhemos na Patagônia, o Caso Ilha Decepción, de 04 de dezembro de 1967. Decepción surge das frias águas que circundam o Pólo Sul. Segundo cientistas, é hoje o último vestígio de um poderoso vulcão que existiu nos remotos tempos em que a Antártida era um continente quente e cheio de vegetação. Naquele mês de 1967, estudiosos começaram a notar vibrações nas cavernas de lava que formam a ilha. Algumas áreas desmoronaram e os poucos animais que lá habitam fugiram.
Os sintomas de uma iminente catástrofe foram se acentuando e uma evacuação das missões científicas na ilha chegou a ser preparada. Segundo relato de testemunhas, os tremores aconteciam sem interrupção e a água dava a impressão de estar fervendo. Muitos cientistas abandonaram seus equipamentos e utensílios pessoais para salvar a vida. Velozes lanchas escapavam daquele inferno, enquanto alguns expedicionários tiravam fotografias da ilha que afundava, pois era uma oportunidade única de se observar tal evento geológico. Uma das expedições que partiram registrou coisas incomuns em suas fotos, reveladas ainda nos próprios barcos de resgate. Numa das imagens, à direita de uma coluna de fumaça procedente da erupção submarina, há um pássaro com as asas estendidas e, mais acima, no lado esquerdo, um objeto discóide claro e inequívoco. Mesmo alguns cientistas admitiram que se tratava de um UFO sobre a Ilha Decepción em erupção.
Pouco depois veio uma bola de fogo sobre um monte alto, que caiu em cima do forte. Dali saltou ao mar, alterando as águas. Após ela, veio outra, acompanhada de uma grande escuridão, que ia voando por toda a baía
— Registros Históricos
chilenos sobre um fato ocorrido em 1633, no Forte Carelmapu
Recuando mais no tempo, temos outros interessantes acontecimentos. Como no século 17, época que testemunharia o espírito aventureiro dos conquistadores espanhóis que desbravaram a América Latina. Nesse período, um interessante caso deu-se no Forte de Carelmapu, no Chile, onde os moradores recebiam constantes ataques indígenas e, eventualmente, de armas por eles descritas como “fogo do céu” . Tal como o mortífero raio enviado pela mão direita de Júpiter, no Olimpo grego, ou a chuva de fogo e enxofre que apagou Sodoma e Gomorra do mapa, algo semelhante a uma bola de fogo arrasou o forte, numa situação que é conhecida na Ufologia Chilena como o Caso Carelmapu, ainda não totalmente explicado.
“O que tem causado grande terror em toda Ilha Chiloé, e ainda em todo o Chile, é a ruína que sofreu o Forte de Carelmapu, gerada pela violência de um furacão ou tornado que passou”, descrevem os registros históricos. O caso ocorreu em 14 de maio de 1633, ao amanhecer, quando se ouviu um ruído forte e espantoso por todas as dependências do forte. O fato obrigou os moradores a saltarem com pressa de suas camas, deixando suas casas para ver o que era. Tudo parecia cair por terra e as três grandes torres do quartel desabaram com o impacto. Juntos foram todo o muro do forte e duas portas muito pesadas, arrancadas inclusive com suas dobradiças. “Os que iam para a igreja, que é resistente e construída de toras e madeira, a encontraram arrasada. As cruzes que estavam em volta do terreno, caíram distantes de seus lugares originais. Os que iam para a vila viam todas as casas maltratadas, umas completamente no solo, como a nossa, com um grande móvel que havia dentro em pedaços”, relataram alguns moradores.
Destruição e Ferimentos — Enfim, o cenário não poderia ser pior. Mas o que causou tamanho estrago? Moradores perderam seus lares, famílias ficaram desabrigadas, casas destruídas, construções destroçadas. “As pedras da praia foram arrancadas com grande força de seus lugares e amontoadas próximas de algumas casas. Duas canoas foram feitas em pedaços. Todos estes estragos vieram de repente”. Curiosamente, os moradores atordoados, ao tentarem entender o que se passava, distanciaram-se do palco dos acontecimentos e nada viram que justificasse o estrago. Não havia uma tempestade visível, apenas os rastros de destruição.
O que quer que tenha sido, teve uma natureza bem diversa da de um tornado ou furacão. “Mas não parou a calamidade e tormenta, porque pouco depois veio uma bola de fogo sobre um monte alto, que caiu em cima do forte. Dali saltou ao mar, alterando as águas. Após ela, veio outra, acompanhada de uma grande escuridão, que ia voando por toda a baía. E, no final, precipitou do céu granizo mais grosso, como balas grandes de mosquete, ficando o mar como que fervendo e levantando tão grandes e altas ondas que dizem ser coisa incrível de acreditar até para quem viu”. O que pensar de um relato desses, detalhadamente registrado nos anais militares chilenos?
Mas há outros casos assim. Um deles aconteceu com inúmeras testemunhas do sul do país, que viram absortas o movimento de uma gigantesca massa incandescente que se dirigiu para a Cordilheira dos Andes, em trajetória de colisão. Entretanto, o objeto, bem aceso, atravessou a formação montanhosa e pouco depois caiu em meio a um barulho ensurdecedor, como o de um raio. Eram 19h15 de 03 de outubro de 1980 quando isso aconteceu, um dos casos mais enigmáticos de queda de objetos não identificados na América Latina. Felizmente, com a excelente investigação de campo realizada por Héctor González Herrero e Pastor Méndez, da entidade argentina Organización Nacional Investigativa de Fenômenos Espaciales (Onife), podemos reconstruir a história do chamado Caso Mencué
Nesse episódio, um objeto cuja identificação ainda não foi obtida precipitou-se em algum ponto da vasta região de El Cuy, na tarde daquele 03 de outubro. Segundo testemunho de várias pessoas, o artefato caiu a uma grande velocidade e envolto numa bola de fogo, produzindo uma densa fumaça ao chocar-se contra a superfície. A notícia foi transmitida inicialmente por um radioamador da Fazenda Los Menucos à torre de controle do Aeroporto de Neuquén, de onde saíram equipes para fazer averiguações aéreas sobre Chapelco, San Carlos de Bariloche e Santa Rosa. Os operadores de radar tentaram determinar se havia algum avião no momento da queda, mas isso foi descartado. Ademais, a informação foi confirmada por numerosas testemunhas oculares, entrevistadas pela forças policiais de Neuquén e Rio Negro, que também enviaram patrulhas até a margem sul do Rio Negro para tentar encontrar o objeto em questão.
Focos de Incêndio — Informações complementares sobre esse inusitado acidente também foram veiculadas numa reportagem da agência de notícias Telam, às 22h30 daquele dia. A nota afirmava que um estranho objeto não identificado havia caído nas imediações da Cordilheira dos Andes, a 70 km de San Martín, sendo visto por dois pilotos civis. No dia seguinte ao fato, os investigadores Herrero e Méndez sobrevoaram a área atingida com um avião do Aeroclube de Bariloche e descobriram, numa fazenda localizada entre Laguna Blanca e Mencué, uma zona com restos de algo acidentado e focos de incêndio presumivelmente provocados pela passagem do estranho objeto. Mas ao aterrissarem e olharem de perto, logo notaram que eram estragos causados por moradores locais. Praticamente, todos os moradores entrevistados nas localidades de Pilcaniyeu, Comallo, Cañadon Chileno, Aguada Del Zorro e Laguna Blanca deram a mesma descrição para o episódio, agregando alguns detalhes. Entre eles, contaram ter escutado uma forte explosão, como um trovão.
Julio Herrera, 40 anos, encarregado da Estância Santa Isabel, declarou aos ufólogos da Onife que observou a grande altura – pelo menos uns 4.000 m – uma espécie de prato muito brilhante que avançava em velocidade regular, girando sobre seu eixo. Segundo afirmou, “o objeto era como a tampa de uma panela e brilhava como um espelho. Depois de uns dois minutos de movimento, soltou uma fumaça densa e automaticamente começou a balançar como uma folha caindo. Finalmente, aumentou a velocidade e sumiu para o norte”. Pouco depois as duas explosões foram escutadas, uma mais intensa que a outra. Os demais testemunhos obtidos, em grande número, são totalmente coincidentes. No entanto, apesar dos esforços dos jornalistas e autoridades, não se pôde descobrir o local do suposto acidente.
Como se vê, os casos na Patagônia envolvem grandes desafios para os pesquisadores, dado ao fato de que as áreas atingidas são muitas vezes inacessíveis. Isso inclui ocorrências em que pilotos civis e militares estiveram frente a frente com fenômenos anômalos, muitas vezes relutantes em declarar os eventos que presenciaram, por razões óbvias. A favor dos encontros aéreos na região estão a homogeneidade da geografia local e dos costumes das populações chilena e argentina, agregada à grande claridade que é própria dos céus austrais. Essa somatória de condições propicia bons relatos de pilotos que tiveram contatos no Cone Sul, quando estes se dispõem a falar – como é o caso que teve como protagonistas os tripulantes de um avião argentino que se aproximava para aterrissar no Aeroporto de Punta Arenas, em junho de 1968.
O caso em questão envolveu dois pilotos do serviço de cabotagem da empresa Aerolíneas Argentinas, que afirmaram ter observado as evoluções de um objeto voador não identificado quando se aproximavam da cidade, no extremo sul do continente. O episódio é um dos mais significativos que tivemos em toda a casuística chilena e parte de uma das ondas ufológicas mais espetaculares da história. Os comandantes Raúl Guardabassi e Ulises Tiviroll pilotavam uma aeronave de passageiros do tipo Avro 748 sobre o Estreito de Magalhães, quando viram sobre o horizonte um objeto de aparência metálica que emanava uma intensa luz vermelha. O estranho artefato efetuou um giro de 90° em relação à sua posição original e voltou-se na direção do Avro.
Manobras Inteligentes — O jornal chileno El Mercúrio, de 07 de junho de 1968, apresentou outros detalhes do incidente. O periódico acrescentou que o UFO, parecido com um prato voador, fora avistado próximo da Base Aérea de Chabunco, quando a aeronave argentina aterrissava na pista 25. As testemunhas citadas estimaram que o objeto estava entre 1.500 a 1.800 m de altura, voando em direção oeste. O artefato realizou dois giros de 90° consecutivos. Tiviroll informou aos jornalistas que pôde ver com toda clareza um objeto brilhante sobre o horizonte, às 20h00. “Os giros de 90° nos
asseguraram que se tratava de um UFO”, disse. Já seu companheiro Guardabassi manifestou que as evoluções pareciam ser “inteligentemente controladas”. Mais tarde, um grupo de pessoas que vinha de Puerto Natales declarou também ter visto o fenômeno. Luiz Quezada, funcionário de uma empresa de navegação que viajava em um automóvel com o taxista José Mirín e outras duas pessoas, declarou ter observado nãosomente um, mas sim três objetos. “Suas cores eram muito fortes e luminosas. Podíamos observar tons vermelhos, verdes e brancos intensos. Um dos objetos se movia em zigue-zague, mas em determinados momentos parava. 40 km adiante vimos mais dois UFOs que tinham uma espécie de auréola, como de gás”, informou Quezada.
É curiosa a quantidade de casos de objetos metálicos próximos da Cordilheira dos Andes, tanto que levam alguns estudiosos a propor a teoria de que exista alguma base oculta desconhecida nas imensas extensões cobertas de neve e isolamento do local. Como alguns ufólogos já sugeriram em trabalhos anteriores, talvez algumas aeronaves supostamente extraterrestres estejam sendo mantidas em nosso próprio planeta, nas bases descritas. Mas isso é especulação.
A incidência de UFOs é alarmante no Chile, tanto que o país é hoje considerado recordista em ocorrência da América do Sul
— Jorge Anfruns
Pouco tempo depois do caso de Punta Arenas tivemos outro episódio envolvendo pilotos, desta vez no Aeroporto de San Carlos de Bariloche, na Argentina. O evento em questão é um mistério que já dura três décadas e meia. Em 23 de julho de 1968, o aeroporto que atende a cidade turística de Bariloche foi envolvido pela presença de objetos aéreos não identificados. Às 13h15, o operador da torre de controle Walter Furst desenvolvia sua tarefa de coordenar a aterrissagem de duas aeronaves que se aproximavam, quando o comandante de outro avião Avro das Aerolíneas Argentinas fez um contato pelo rádio um tanto exaltado. Ele afirmava que tinha a sua frente uma grande aeronave silenciosa, fazendo uma trajetória que indicava manobra de descida. “Tratei de comunicar-me em todas as freqüências com aquilo, mas não recebi resposta. A máquina intrusa voava de perfil e podia ser comparada a um avião Caravelle ou Comet, mas de corpo mais fino, asas muito curtas e prateadas”.
Giro de 360 Graus — O piloto do Avro não viu janelas e notou que o UFO voava entre 200 e 300 km/h. Ele continuou se movimentando a uns 150 m de altura até o final da pista, demonstrando uma manobrabilidade extraordinária. De repente, virou para a esquerda, foi até uns morros próximos e sumiu em direção ao Lago Nahuel Huapi. Pouco depois, voltou a aparecer, repetindo a arriscada manobra, mas desapareceu finalmente após dar um giro fechado de quase 360°. Segundo testemunhas, o objeto desconhecido emitia um fraco zumbido, de nenhuma maneira comparável ao de turbinas de aviões comerciais. Demetrio Cottescu, um experiente piloto romeno radicado em Bariloche, declarou que “as aeronaves a jato que voam a baixa altitude necessitam de turbinas que trabalhem com mais velocidade e potência, para não perder seu nível de vôo. E este objeto virava de forma extraordinária, não perdia altitude, nem aumentava sua velocidade, que era mínima. Seu zumbido era o mesmo o tempo todo, quase apagado”. O desconhecido objeto violou o espaço aéreo argentino e não se identificou em momento algum, provocando o que seria um crime. Entretanto, desapareceu do mesmo modo com que se fez presente. Estes acontecimentos demonstram que os céus são atravessados por veículos com tecnologias que diferem das que comumente se emprega na aviação terrestre.
Esse interessante acontecimento nos remete a outros, mais antigos e surpreendentes. Separados por três anos, dois misteriosos personagens viveram grandes experiências, que se tornaram verdadeiras tradições para os ufólogos argentinos e chilenos. Em 18 de março de 1950, às 18h30, Wilfredo Arévalo encontrava-se guiando sua caminhonete à 32 km do Lago Argentino, pela estrada que o une a localidade de Luis Piedrabuena, na província de Santa Cruz, quando avistou rapidamente na direção sudeste dois pontos luminosos a uma fantástica velocidade. O céu estava sem nuvens e claro, e Arévalo observou os objetos realizando círculos amplos e aproximando-se do solo. “Acreditei inicialmente que fossem estrelas cadentes, pois estava anoitecendo. Mas repentinamente uma dessas luzes tomou vertiginosa altura e ficou fixa no espaço. A outra começou a descrever círculos pronunciados cada vez a menor altura, até que pousou suavemente em terra uns 3 km adiante de mim, no campo de pastoreio de La Blanqueada”, disse Arévalo.
Apesar da distância, ele se deu conta de que realmente se tratava de uma máquina incomum. Era circular, totalmente branca e fosforescente. Dela surgia, pela parte posterior, uma fumaça azulada, intensamente luminosa e densa. O homem decidiu aproximar-se prudentemente, pois pensou que talvez se tratasse de algum avião a jato da Força Aérea Argentina que tivesse se acidentado. “Parei meu veículo a 150 m de distância daquela máquina prateada que brilhava intensamente. Pude ver que ela tinha uma grande cúpula giratória que rodava constantemente, como um toca-disco. Sua estrutura parecia ser de alumínio ou de algum outro metal muito leve, e era estranhamente fosforescente”, complementou a testemunha.
Arévalo informou ainda que no meio da estrutura havia uma ampla cabine de vidro ou algo semelhante, em forma de abóbada, de transparência e claridade deslumbrantes. Em seu interior se moviam quatro homens muito altos e esbeltos, vestidos com roupas brancas grudadas ao corpo. “Aquelas figuras deviam ter 2 m de altura, pelo menos, calculando-se que o diâmetro da cabine fosse de 15 m”. Os tripulantes da máquina pareciam ter seus corpos envoltos em algo como bolsas de celofane, pois suas figuras brilhavam de um modo raro. Seus rostos eram extremamente pálidos, quase brancos. As demais proporções eram normais e até elegantes, segundo descreveu a testemunha. Ao tentar aproximar-se ainda mais do UFO, Arévalo pôde observar que a máquina começou a girar vertiginosamente, emitindo uma intensa luz e expelindo mais fumaça de cor azul. Então se elevou emitindo um suave zumbido. Segundos depois se uniu ao segundo objeto que se encontrava suspenso e ambos sumiram.
Marcas Indeléveis — A Terra do Fogo, assim chamada pelos antigos navegantes em virtude da enorme quantidade de fogueiras acesas pelos indígenas dos confins do continente, é o local em que a Cordilheira dos Andes perde altura para desfazer uma fronteira virtual entre Argentina e Chile, já no coração da Patagônia. Ali, a pequena quantidade da terra firme foi c
ozida por fenômenos que deixaram marcas indeléveis. Neste cenário de belezas delicadas, no ano de 1964, escasso em manifestações anômalas, tivemos um surpreendente acontecimento. Foi o conhecido Caso Monte Susana, ocorrido próximo do morro que protege a cidade de Ushuaia. Era noite de 02 de janeiro daquele ano quando o senhor Roberto Bascur observou três objetos voadores não identificados de tonalidade difusa, com cores amarela, laranja e vermelha fulgurantes. Um dos aparelhos parecia manobrar como se fosse aterrissar, coisa que efetivamente fez pouco depois na geleira do Monte Susana. No dia seguinte, foi encontrado um buraco na neve de 7 m de diâmetro com restos de algas marinhas em seu interior.
O objeto observado por Bascur parecia ter uma forma ovóide, ainda que a frente aparentasse claramente ter um aspecto circular perfeito. O que mais chama atenção nesse caso – e até hoje intriga estudiosos – foi a existência de algas de origem oceânica no buraco encontrado no dia seguinte, que se supõe ter sido causado pelo pouso do objeto. Como poderiam tais vegetais surgirem naquela localidade, relativamente afastada tanto da costa do Pacífico, quando do Atlântico?
Eventos misteriosos e sem explicação povoam a literatura ufológica quando o local considerado é a Patagônia. Um exemplo claro disso é o Caso El Zurdo, acontecido numa região próxima ao Morro Chico e investigado por Jorge Anfruns Dumont, que o publicou em seu livro Extraterrestres em Chile, Top Secret [1996]. Anfruns entrevistou a principal testemunha do caso, o senhor René Peri Fagerstrom, que descreveu o curioso incidente que lhe ocorreu em Punta Arenas, em setembro de 1996. Ele servia em Magallanes e foi ajudante do prefeito local, dom Mateo Martinic. Fagerstrom conta que, por ser uma autoridade, recebia reclamações de todos os lados da Patagônia chilena sobre potentes ruídos inexplicados que eram escutados em diferentes partes do território. Os barulhos causavam quebra de vidros nas fazendas e outros danos. Fagerstrom imaginou inicialmente que os estrondos pudessem estar sendo causados por explosões nas inúmeras minas que existem na região, mas a hipótese foi descartada porque alguns registros vinham de lugares muito distantes, como Butler Cool, já perto de Rio Gallegos, na Argentina, e das cercanias do Monte Aymond. Ele questionou os militares da Base Naval de Magallanes, da 5ª Divisão de Exército e do Destacamento dos Carabineiros [Policiais], sem sucesso. Ninguém sabia dizer o que eram os barulhos. Até que um sargento que servia num quartel próximo ao Monte Aymond descobriu, em uma de suas patrulhas, peças metálicas de origem desconhecida que haviam arrasado touceiras de coirón, um arbusto típico da região.
O sargento já tinha estado no local com seus soldados e examinado a região. Segundo registrou, as peças haviam produzido profundos sulcos no solo. Fagerstrom declarou a Anfruns que esteve naquela zona pessoalmente, para checar o exame que o sargento havia feito. Mas antes tinha recebido e analisado alguns dos tais artefatos em seu escritório. “Recebemos um caminhão com peças de um material de ferro semelhante a tábuas, que não tinham aparentemente nada de extraordinário. Pareciam mal feitas, tinham mais ou menos um metro de comprimento por uns 60 ou 70 cm de largura e espessura de uns 10 cm. Eu as recebi com cautela, pois pensava que poderiam conter algum tipo de radioatividade”, declarou. O material acabou sendo enviado para exames à Empresa Nacional de Petróleo (ENAP), que fez as análises e verificou que o material não tinha nenhuma liga metálica conhecida, e cujos elementos não eram resultado de explosões em minas.
Logo após isso, o material foi também examinado pelo curador do Observatório Astronômico do Colégio San José, que concordou que as placas eram bastante curiosas. O que lhe chamou especial atenção foi a forma como foram encontradas num deserto, onde provocaram queima total da vegetação nativa. Como não houve uma resposta precisa sobre a natureza do material, o prefeito de Punta Arenas decidiu enviá-lo à 5ª Divisão do Exército, quando nunca mais se ouviu falar no caso. “Somente recordo que, uns 6 meses depois, li nos jornais que na Colômbia e na Venezuela haviam sido encontrados objetos similares, precedidos de enorme ruídos. Também tinham aparência mal feita”, declarou Fagerstrom. O que poderiam ter sido esses objetos? Restos de satélites acidentados ou indícios da ação de inteligências não terrestres operando na Patagônia?
Evolução do Homem — Há mais perguntas que respostas quanto à rica e diversificada casuística ufológica do sul do continente. A pequena síntese aqui apresentada é apenas uma amostra da variedade de acontecimentos e cenários da região. Efetivamente, desde remotas épocas em que conquistadores chegaram à região até o momento presente o Fenômeno UFO tem adquirido ares particulares que parecem seguir a evolução do homem como uma sombra. Bolas de fogo, naves estruturadas e luzes com aparências imateriais se entrelaçam com lendas de barcos fantasmas, objetos sem explicação e naves extraterrestres. As vastas regiões da Patagônia abrigam, como todo o planeta, acontecimentos bem reais – e o primeiro passo para conhecê-los é averiguar o mecanismo que permite que sejamos testemunhos e participantes de uma série de fenômenos que ainda carecem de explicação.
Nossa proposta, exemplificada neste resumo, se encaminha para conseguir um estudo multidisciplinar dos fatos não explicados da casuística local, tomando parte em sua análise especialistas dos mais variados ramos do conhecimento. Deixando de lado meio século de disputa entre psicólogos, ufólogos e sociólogos, tentaremos dar forma a uma matéria que está numa etapa de gestação, ainda que com sintomas de sofrer uma lenta metamorfose que a converta em uma ciência.