Desde que abandonou a informática para se dedicar à Ufologia, 30 anos atrás, Marco Antônio Petit já perdeu as contas das vigílias que fez à espera de UFOs. Só na Serra da Beleza, em Valença, foram mais de 600 – incluindo a primeira vez que viu um disco voador, em 1982. Autor de seis livros sobre o assunto, quanto mais Petit observa o céu, mais certeza ele tem de que boa parte das respostas não está lá em cima, mas dentro de pastas no Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro, em Brasília. Por isso, Petit e a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), de que ele faz parte, querem que o governo abra os arquivos militares secretos sobre UFOs no Brasil.
Em dezembro do ano passado, o grupo protocolou um dossiê de 66 páginas na Casa Civil, pedindo o reconhecimento de que os tais documentos existem e, claro, acesso a eles. Como até agora o governo não fez contato, os ufólogos resolveram dar um passo além: estão pedindo audiências com os ministros Dilma Rousseff, da Casa Civil, Nelson Jobim, da Defesa, e até com o presidente Lula.
Os militares, principalmente os da Força Aérea, investigam episódios desde os anos 50. Segundo Petit, alguns contrários ao acobertamento das informações, repassam dados aos ufólogos há muito tempo. Por isso, sabemos que há documentos importantes e que o prazo de sigilo de muitos deles já venceu. É um material que, por lei, deveria estar disponível para consulta pública. “As pessoas precisam saber”, afirmou.
Os documentos que mais interessam aos ufólogos brasileiros dizem respeito a três momentos. O primeiro é a chamada Operação Prato – investigação feita pelo 1º Comando Aéreo Regional, em 1977, na Amazônia. Dela teriam saído, em quatro meses, mais de 500 fotos, além de filmes e relatos sobre avistamentos. Outro arquivo cobiçado trata da chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em 1986, quando 21 objetos não identificados foram rastreados pelo Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro. Caças teriam perseguido vários deles, e o ex-ministro Ozires Silva, que na época deixava a presidência da Embraer, teria voado próximo de um. O último episódio é o emblemático Caso Varginha, que não envolveu a Aeronáutica, mas o Exército, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais
“Infelizmente, Varginha, que é um dos casos mais importantes da Ufologia no Brasil, foi tratado publicamente como piada”, ele diz. Para quem só registrou a piada, os fatos: em janeiro de 1996, duas adolescentes e uma jovem vieram a público contar que teriam visto um extraterrestre, quando seguiam por um terreno baldio na cidade de Varginha. A criatura era cabeçuda, baixinha e tinha enormes olhos vermelhos, um rasguinho de boca e pele marrom. No mesmo dia, sugiram relatos sobre uma nave que soltava fumaça e que teria caído entre Varginha e a cidade de Três Corações.
“O que nos foi relatado é que pelo menos dois seres extraterrestres foram recolhidos”, afirmou o ufólogo. “Um já estaria morto e o outro teria morrido num hospital. Um militar teve contato com ele e faleceu dias depois de uma infecção generalizada que ninguém soube explicar. Todo o material foi recolhido e levado de avião para Campinas.”
Para defender a divulgação, os ufólogos citam a lei 11.111/2005, que trata do sigilo de documentos oficiais. De acordo com esta norma, a papelada pode ser classificada em três tipos: reservado, que tem sigilo máximo de cinco anos; confidencial, que pode ser protegido por dez anos; secreto, cujo prazo chega a 20 anos; e ultra-secreto, que soma até 30 anos de sigilo. O Caso Varginha, segundo fontes dos ufólogos, seria ultra-secreto, protegido até 2026. Por isso, eles pedem que sua classificação seja rebaixada. Nos dois outros casos, os prazos caducaram. “É questão de tempo. No mundo todo esses documentos estão começando a ser liberados”, defendeu o professor de Geografia Antônio Carlos Lupterbach Soares, um fascinado pelo assunto.
Por aqui, a campanha UFOs, Liberdade de Informação Já! começou a ganhar corpo em 2004, nas páginas da revista UFO, a mais antiga do mundo sobre o assunto, com 25 anos e tiragem mensal de 30 mil exemplares. Petit e o editor da revista, A. J. Gevaerd, não se conformavam com o tratamento que as autoridades brasileiras davam à questão. “Sempre que a Força Aérea era procurada por causa de algum suposto avistamento, a resposta era a mesma: eles desconheciam ou não tinham ligação com o assunto”, declarou Petit. “Pelos documentos que vimos, a história é bem diferente” defendeu Gevaerd.
Em maio de 2005, o editor foi convidado a visitar o Comando de Defesa Aeroespacial. Ele, Petit e outros integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos puderam ver as pastas relacionadas à Operação Prato, à Noite Oficial dos UFOs no Brasil e às aparições que aconteceram em 1954, quando até a guarda do Palácio do Catete teria ficado em alerta. Saíram de lá animados.
Em relação ao dossiê, porém, a Casa Civil diz que encaminhou ofícios a todos os órgãos envolvidos, mas ainda espera resposta. Enquanto aguardam, os ufólogos seguem pesquisando e divulgando o assunto. Petit faz palestras sobre Ufologia desde 1981. Os encontros acontecem pelo menos uma vez por mês, no IBAM, no Humaitá. São quatro horas de explanações, vídeos e slides. A última, no dia 6 de abril, foi sobre abdução e a sala estava quase cheia. A próxima, no domingo que vem, dia 27, será sobre novas imagens que indicam a presença de ETs em diferentes pontos do Sistema Solar.
“Em 1200, o homem achava impossível atravessar o mar. Hoje, acha que não há vida em outros planetas. É o mesmo pensamento medieval, só muda o contexto”, pondera Rafael Cruz, de 22 anos, estudante de design e freqüentador das palestras. “É preciso estar preparado para o grande dia em que eles vão aparecer”, é o que pensa ex-costureira Gerusa Aguiar Carvalho, de 65 anos.