Todo pesquisador sabe que a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil – ocorrida em 19 de maio de 1986 – foi um marco muito importante para a Ufologia. Nos dias seguintes a ela, ufólogos de todo o Brasil e até do exterior ficaram maravilhados ao verem o então ministro da Aeronáutica, brigadeiro-do-ar Octávio Moreira Lima, em rede nacional de TV falando abertamente sobre o registro de 21 objetos voadores não identificados nos céus do Brasil, concentrados principalmente sobre as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e São José dos Campos. Nunca antes uma autoridade tinha dado depoimento tão significativo sobre a presença alienígena na Terra. Mas não seria apenas isso: dias depois de sua declaração, o próprio ministro determinou que os pilotos dos caças que perseguiram aquela esquadrilha de UFOs, os operadores de radares que os detectaram e outras autoridades militares envolvidas falassem também abertamente sobre os fatos, numa concorrida conferência de imprensa ocorrida em Brasília – fato inédito até mesmo na Ufologia Mundial.
Para que se entenda por que o ministro e os militares brasileiros resolveram tornar público este fantástico caso, devemos voltar um ano no passado. Em 1985 chegamos ao final do terrível e obscuro período da Ditadura Militar no país, que durava desde 1964. Esta fase da Nação foi marcada pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura e perseguição política, repressão e morte aos que eram contra o regime. Foi o período mais negro da história brasileira. Em seus anos finais, o país apresentava vários problemas graves, entre eles alta inflação e forte recessão. Enquanto isso, a oposição ganhava terreno com o surgimento de novos partidos e o fortalecimento dos sindicatos. Em 1984, políticos da oposição, artistas, celebridades, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participaram do movimento Diretas Já, que pedia a aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Dante de Oliveira – um ato que garantiria eleições diretas para a Presidência da República naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada.
Em 15 de janeiro de 1985, um Colégio Eleitoral escolheu o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Neves fazia parte da Aliança Democrática, o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal. Era o começo do fim do regime militar. Porém, Neves ficou doente inesperadamente, dias antes de assumir, e acabou falecendo, permitindo assim que o vice José Sarney assumisse. Como se sabe, o movimento Diretas Já foi a maior manifestação política jamais vista no país. E foi justamente no meio dessa grande euforia pela qual passavam os brasileiros, que uma esquadrilha de 21 discos voadores se manifestou escancaradamente em nossos céus do Brasil – chegou-se a falar que teriam até 100 m de diâmetro cada. Provavelmente, o fim da Ditadura Militar e o surgimento de um novo regime governamental no país, agora civil, fizeram o ministro Moreira Lima liberar os fatos de 19 de maio de 1986.
Acobertamento militar
Como já é amplamente sabido, durante a Segunda Guerra Mundial muitos aviões envolvidos nas operações de reconhecimento e ataque foram seguidos por estranhas luzes, que ficaram conhecidas como foo fighters [Combatentes tolos]. Logo depois dos Estados Unidos e as forças aliadas ganharem a guerra, tiveram início em vários países projetos militares para estudar os UFOs secretamente. Na ocasião, já se sabia que estávamos sendo visitados por espécies mais avançadas em veículos de grande tecnologia, entre os quais os tais foo fighters. Alguns dos projetos norte-americanos mais conhecidos foram o Grudge [Rancor], o Signal [Sinal] e o Blue Book [Livro Azul]. Mas, enquanto a alta cúpula militar dos Estados Unidos estudava os UFOs em sigilo, foi surpreendida com a notícia dada pelo jornal Roswell Daily Record, de que um disco voador havia caído nas redondezas da cidade, em 02 de julho de 1947. O jornal reproduziu uma nota oficial da própria Força Aérea do Exército Norte-Americano [Na época a Força Aérea era uma subdivisão do Exército dos Estados Unidos].
No meu entendimento, foi por medo do desconhecido que naquele dia teve início o acobertamento ufológico que perdura até hoje, patrocinado principalmente pelo meio militar dos Estados Unidos. Seus aliados em todo o mundo, que também não tinham idéia da dimensão do Fenômeno UFO, acabaram seguindo a mesma cartilha – inclusive o Brasil. Vendo por esta ótica, fica fácil compreender que os ufólogos não devem criticar os militares pelo acobertamento que impõem aos discos voadores, pois eles são seres humanos como nós, estupefatos diante de uma manifestação cuja complexidade e profundidade não conhecem. E além de tudo, estão seguindo regulamentos. Também não devemos criticar as instituições militares envolvidas no processo, pois são necessárias para garantir a soberania nacional dos países. O que devemos é criticar, isso sim, são alguns regulamentos empregados para a manutenção do sigilo aos UFOs, que já estão ultrapassados.
A atitude dos militares norte-americanos, em iniciar o acobertamento ufológico em 1947, foi uma postura correta para a época, uma vez que o país tinha acabado de sair de uma guerra arrasadora e foi surpreendido com a queda de uma nave de procedência ignorada e usando tecnologia desconhecida em seu território. Afinal, poderia ser algum veículo terrestre, de algum inimigo, portando uma tecnologia que os norte-americanos não tinham. Mas hoje, 60 anos depois, esse acobertamento não faz sentido. Os regulamentos que regem o assunto são antigos e devem ser revistos. A população tem o direito de saber a verdade sobre a presença alienígena na Terra.
Um herói brasileiro
Nestas seis décadas em que vem perdurando o silêncio sistemático à problemática ufológica, tivemos algumas exceções em nosso país, períodos em que nossos militares falaram publicamente sobre o assunto. Mas o episódio de 19 de maio de 1986, a Noite Oficial dos UFOs no Brasil, foi o mais marcante de todos, seja pela riqueza de detalhes do avistamento, pela quantidade de UFOs registrados nos radares ou pelo depoimento das autoridades envolvidas. Isso apesar de a documentação sobre o episódio – que foi prometida à Nação pelo ministro Moreira Lima para um prazo de 30 dias – nunca ter sido liberada.
O caso teve a participação direta de algumas importantes autoridades militares da época. Entre elas, além do citado Moreira Lima, estão o major-aviador Ney Antonio Cerqueira, chefe do Comando de Defesa Aérea (CODA), o tenente Francisco Hugo Freitas, do Controle de Operações de Vôo, o coronel Adalberto Resende Rocha, chefe do Centro de Relações Públicas do gabinete do ministro da Aeronáutica, e o m
ajor brigadeiro-do-ar Sócrates Monteiro, comandante do IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4). Entre os pilotos dos caças F5 e Mirage, enviados para perseguição dos UFOs, estavam o tenente-aviador Kleber Caldas Marinho, o capitão-aviador Márcio Brisola Jordão, os capitães Armindo Souza Viriato de Freitas, Júlio César Rosemberg e Rodolfo da Silva Souza, o coronel Azambuja e o tenente Fernando, além de muitos outros. Apesar de tantos nomes, quero dedicar este trabalho a um brasileiro que considero herói, Ozires Silva.
Ozires nasceu em Bauru (SP), em janeiro de 1931. Desde criança se interessou pela aviação e iniciou a carreira militar em 1948. Em 1951, formou-se oficial-aviador e piloto militar pela Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Serviu na Amazônia durante quatro anos voando no Correio da Fronteira, mantido pela Força Aérea Brasileira (FAB), e, mais tarde, no Correio Aéreo Nacional. Ozires se formou em engenharia aeronáutica em 1962, pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP), e em 1966 concluiu sua pós-graduação na área, recebendo o título de mestre em ciências aeronáuticas pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (CalTech), nos Estados Unidos.
Seu currículo é extenso e merece ser parcialmente descrito aqui. Ozires Silva desenvolveu inúmeras atividades profissionais, entre elas a de professor do ITA e líder do grupo que promoveu a criação da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), que ele próprio presidiu desde sua fundação, de 1970 a 1986. Posteriormente, entre 1991 e 1995, Ozires conduziu o processo de privatização da companhia. Ele foi ainda presidente da Petrobrás, ministro de Estado da Infra-Estrutura no Governo Collor e presidente da Varig. Atualmente, Ozires é presidente do Conselho Consultivo do World Trade Center (WTC), de São Paulo, e de inúmeras empresas e instituições, e reitor da Universidade Santo Amaro. Ele ainda atua como consultor do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq) e é membro do Conselho de Política Social da Federação de Comércio de São Paulo, do Centro de Estudos Estratégicos Avançados do Centro das Indústrias de São Paulo etc. Em sua brilhante carreira, Ozires recebeu inúmeras condecorações e homenagens em dezenas de países.
19 de maio de 1986, uma segunda-feira. Nesta data, depois de trabalhar o dia inteiro, dirigi-me após o jantar para o bairro Mirandópolis, na capital paulista, para fazer uma palestra sobre Ufologia. Eu nem tinha a idéia do que estava acontecendo naquela noite. Na manhã seguinte, já no trabalho, um estagiário da empresa, que cursava faculdade em Mogi das Cruzes (SP), me alertou para a grande revoada de UFOs na noite anterior. O rapaz tinha um colega que trabalhava na sala de controle de tráfego aéreo no Aeroporto de Congonhas, onde ficam os radares de acompanhamento de vôo, e foi informado por ele do que se passou. “Chefe, é melhor o senhor se sentar!”, disse o estagiário brincado. “O que houve?”, indaguei. E assim ele me contou tudo o que seu amigo descreveu sobre o movimento de UFOs registrado
pelos radares de Congonhas.
UFOs “invadem” o Brasil
No fim do expediente, já voltando para casa, constatei que nenhum jornal havia publicado qualquer fato sobre o incidente. Mas, ao ligar o rádio na Hora do Brasil, tive uma grande surpresa ao ouvir uma reportagem sobre a presença de 21 objetos voadores não identificados sobre várias cidades do país. A partir daquele instante e nos dias seguintes, acompanhei detidamente o caso através de todos os noticiários da TV, jornais e revistas. Mas, mais do que isso, passei a procurar muitas das testemunhas que viram ou registraram algo estranho nos céus naquela famosa e inesquecível noite, entrevistando-as e apurando as circunstâncias do ocorrido. Acompanhei de perto dezenas de programas de rádios e TVs sobre o assunto, assim como outro tanto de publicações em jornais e revistas, do Brasil e exterior. Fiz uma intensa pesquisa sobre esta notável ocorrência ufológica.
A Noite Oficial dos UFOs no Brasil pode ser resumida numa série de eventos que teve início justamente com o avistamento de dois dos 21 UFOs por Ozires Silva. Depois de 17 anos na presidência da Embraer, ele foi chamado à Brasília pelo presidente José Sarney, onde receberia um convite para assumir a presidência da Petrobrás. Após as formalidades no gabinete do então ministro Aureliano Chaves, Ozires dirigiu-se ao Aeroporto de Brasília, de onde ele e o comandante Alcir Pereira da Silva decolaram com destino a São José dos Campos, a bordo de um avião Xingu fabricado pela Embraer – ele estava no comando. Já era início da noite quando, na torre de controle do Aeroporto de São José dos Campos, o sargento Sérgio Mota observou, com binóculos, dois estranhos objetos no ar. Não eram estrelas nem nada conhecido, o que o levou a telefonar para o Aeroporto de Congonhas e pedir a confirmação da observação dos artefatos através dos radares. Eles foram confirmados. Mota então pegou outro telefone e acionou o I Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (I Cindacta), em Brasília, que também confirmou os alvos em seus radares.
Em seguida, já com o acompanhamento de várias bases militares, foram surgindo outros “alvos radares” – como são conhecidos os pontos que surgem na tela –, chegando ao total de 21 sinais não identificados espalhados pelo país. Neste instante, após duas horas de vôo, Ozires e Alcir já estavam sobre a cidade de Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, ponto onde a comunicação das aeronaves passa do I Cindacta para a torre de controle de São José dos Campos. O Xingu então recebeu uma comunicação do I Cindacta, pelo rádio de bordo, informando que três objetos não identificados se encontravam em posições diferentes sobre aquela região. O novo presidente da Petrobrás confirmou o fato com o sargento Mota, mas nem ele, nem seu acompanhante conseguiram contato visual com os objetos até então. Foi através de uma nova consulta ao I Cindacta que eles receberam instruções sobre
sua localização, e passaram a perseguir um deles.
Perseguindo “intrusos”
Pouco mais tarde, como outros objetos começaram a aparecer nos radares, o Comando de Defesa Aérea (CODA), foi acionado e caças a jato levantaram vôo de várias bases aéreas para perseguir tais “intrusos”. Foram utilizados três F5-E e três Mirage, cujos radares de bordo registraram tudo o que se passou, além daqueles instalados no solo. Veja a seguir um resumo dos acontecimentos.
20h50 — O operador da torre de controle do Aeroporto de São José dos Campos observa dois pontos luminosos. Ele pede a Ozires Silva e ao comandante Alcir Pereira da Silva, a bordo do Xingu, que façam uma busca visual dos UFOs. O mesmo pedido foi feito pelo I Cindacta.
21h10 — Sinais luminosos são vistos pelos tripulantes do Xingu.
21h14 — Os controladores dos radares do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, observam sinais para os quais não têm identificação em suas telas.
21h15 — O centro de controle do Aeroporto de Congonhas informa ao I Cindacta o que está se passando em sua área.
21h20 — O I Cindacta, em Brasília, confirma a presença de sinais não identificados também em seus radares.
21h23 — O primeiro caça a jato modelo F5-E é enviado da Base Aérea de Santa Cruz (RJ) rumo a São José dos Campos, ao encalço dos pontos não identificados detectados pelos radares. A bordo está o tenente-aviador Kleber Caldas Marinho.
22h45 — Os radares do centro de controle de Anápolis, a 50 km de Goiânia (GO), detectam os mesmos sinais e o primeiro Mirage levanta vôo da base aérea local em busca dos UFOs. A bordo está o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas.
22h50 — O segundo jato F5-E levanta vôo da Base Aérea de Santa Cruz, tendo no comando o experiente capitão-aviador Márcio Brisola Jordão.
23h15 — O tenente-aviador Marinho, a bordo de seu F5-E, vê bolas de luz não identificadas pela primeira vez e recebe instruções para persegui-las.
23h17 — O segundo caça Mirage levanta vôo em Anápolis, pilotado pelo capitão Júlio César Rosemberg.
23h20 — O F5-E do capitão-aviador Jordão detecta, pela primeira vez, sinais no radar de bordo.
23h36 — O terceiro Mirage levanta vôo da base de Anápolis, comandado por Rodolfo da Silva Souza.
Assim, a Noite Oficial dos UFOs no Brasil ficou histórica. No dia seguinte, a imprensa já estava a par dos fatos e procurou Ozires Silva para comentar o ocorrido. Ele ficou completamente surpreso, pois acabava de assumir a presidência da Petrobrás e nenhum repórter queria saber quais eram seus planos para a companhia, mas como havia sido o avistamento de discos voadores. Muito equilibrado, Ozires fez uma piada: “Dizem que foi um salto muito grande entre a presidência da Embraer e a da Petrobrás, e que eu subi tanto que cheguei a ver um disco voador”. Depois disso, em inúmeras ocasiões, ele foi entrevistado e nunca se calou, contando sempre com detalhes o que testemunhou naquela histórica noite.
Discos voadores existem?
Mais de duas décadas depois, Ozires lançaria seu livro A Decolagem de um Sonho [Lemos Editorial, 2002], no qual descreve sua incrível trajetória profissional, a fundação da Embraer e sua transformação numa empresa altamente competitiva internacionalmente. Na obra, ele reservou o último capítulo – Discos Voadores Existem? – para relatar em detalhes o que viu na noite de 19 de maio de 1986. “É difícil no mundo ver um céu com tantas estrelas como no Planalto Central brasileiro. É realmente um espetáculo que não se pode perder. Era comum apagarmos todas as luzes da cabine do avião, a fim de nos integrarmos à escuridão da noite”, relatou este herói brasileiro ao descrever como foi o início de seu vôo para São José dos Campos, numa reta que o levaria a um contato com discos voadores. “Eu acabava de sair do gabinete de Aureliano Chaves e a conversa não foi no tom que eu gostaria. Saí com a impressão de que enfrentaria dificuldades”.
Em seu relato, ele informa que o vôo foi tranqüilo e sem turbulências, até o Xingu se aproximar de Poços de Caldas, quando o operador de radar do I Cindacta perguntou se ele e Alcir estavam observando algum objeto estranho nas imediações. Era o sinal de que algo diferente os aguardava. “Olhamos em torno e nada de diferente foi visto. Mantivemos nossa proa [Direção] e prosseguimos até nos aproximarmos de São José dos Campos. Pedi informações e o controlador forneceu a localização de um dos objetos assinalados no radar. Apesar de certo receio demonstrado por Alcir, decidimos voar na direção indicada. Fomos nos aproximando e o que víamos era algo muito semelhante a um astro, bastante amarelo, tendendo ao vermelho e provavelmente um pouco mais alongado no sentido vertical”. Ozires Silva adicionou que a cor do UFO não causou qualquer estranheza a ele ou ao acompanhante. E que o inusitado objeto provavelmente estaria sobre São Paulo. Sua forma oblonga e o fato de aparecer no radar é que eram surpresas para eles.
“Astros sempre aparecem redondos ou cintilantes e não respondem aos sinais eletromagnéticos. Também não geram imagens nos radares. Enquanto isso, eu continuava a pilotar o Xingu na direção do objeto”. Nesta altura de seu relato, Ozires deu um dado importante – o de que ele evitou falar ao rádio naqueles instantes, para não congestionar os importantes canais de comunicação entre o controle em terra e aviões no ar. “Muitos outros aviões estariam dependentes das informações que os controladores deveriam transmitir-lhes. Afinal, o mundo não tinha se imobilizado e outras coisas continuavam a acontecer. Durante todo o período, mantivemos a escuta do rádio, ouvindo informações de outros pilotos, que reportavam estar observando o mesmo fenômeno. Afinal, não estávamos sozinhos”. Ozires acrescentou que, perto das 22h00, algo estranho começou a acontecer. À medida que o Xingu se aproximava do objeto, ele ia se desvanecendo, até que desapareceu por completo. Isso também foi constatado por outros observadores.
Mas a aventura de Ozires Silva e Alcir Pereira da Silva não acabaria ali. Ele conta em seu livro que, nada mais
vendo na proa em que voavam, solicitou ao controlador a posição de outro dos objetos não identificados. Seguindo as instruções recebidas, voaram para leste, cruzando o Aeroporto de São José dos Campos até um ponto ao sul da cidade de Taubaté (SP). “Lá encontramos uma luminosidade abaixo de nosso nível de vôo, que parecia ser uma enorme lâmpada fluorescente, emitindo uma luz intensa com freqüência e cor equivalentes às das lâmpadas que encontramos em nossa residência”. Ele confessa que, neste ponto, sua compreensão dos fatos ficou complicada. Ozires não acreditava que aquilo que ele e Alcir estavam vendo pudesse ser o que o controlador tinha em seu radar. “Estávamos voando no máximo a uns 600 m sobre o solo e seria virtualmente impossível que um objeto qualquer, em nível inferior ao nosso, fosse detectado por um radar instalado em Sorocaba, a cerca de 250 km de distância”.
Segurança e equilíbrio
Aquele vôo de Brasília a São José dos Campos marcaria uma mudança na vida profissional de Ozires Silva – nele passou seus últimos instantes como presidente da Embraer e começou sua carreira na Petrobrás. E foi justamente naquele vôo que ele teve uma de suas experiências mais extraordinárias, conforme deixaria consignado perante a imprensa, em várias ocasiões, porém sempre de maneira segura e equilibrada. “Assim foi minha chegada à Petrobrás. A partir daquele instante, o assunto que deveria dominar a minha agenda seriam o petróleo e seus produtos, com toda a miríade de alternativas criadas pela comercialização do precioso líquido energético”.
Ozires Silva vai ser eternamente lembrado pelos ufólogos brasileiros e do exterior como o homem público que venceu o receio na hora de perseguir UFOs sobre São Paulo, e o preconceito que enfrentaria quando admitiu tê-lo feito. É um verdadeiro herói, e não só por seu ato de notável bravura diante de uma manifestação ufológica, mas também pela maneira ética e vanguardista com que ocupou os mais altos cargos da Nação. Ele é um exemplo de profissionalismo, de simplicidade e simpatia, além de um homem de autoridade exemplar, criatividade produtiva, honestidade e perseverança, qualidades que lhe valeram conquistas e realizações que fizeram bem ao Brasil.