o longo da história da Ufologia muito se especulou sobre o conteúdo dos documentos oficiais que se encontram em posse de governos e forças armadas de diferentes países. Muito se falou, também, sobre documentos registrando casos fabulosos, como resgate de naves e tripulantes, além dos estudos derivados dessas capturas. Os primeiros documentos oficiais desclassificados nos Estados Unidos, entretanto, mostraram um panorama bem diferente — eles continham apenas relatos, não muito diferentes daqueles registrados por instituições ufológicas civis. Essa mesma característica foi constatada quando outros países, notadamente Austrália, Espanha, Inglaterra e Canadá disponibilizaram seus arquivos sobre UFOs.
No Brasil, essa tendência se manteve, embora também guardasse características próprias. Este autor conduziu um estudo sobre a forma como os casos foram registrados e estudados ao longo dos anos pela Força Aérea Brasileira (FAB), levando em conta a rica casuística ufológica paranaense, identificando atitudes, comportamentos e métodos de ação da FAB em relação ao Fenômeno UFO. Essa investigação analisou todos os documentos liberados pela FAB de 2008 a 2014, obtidos por iniciativa da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e pela Revista UFO, através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Os documentos aqui analisados estão disponibilizados no site da publicação [Endereço: ufo.com.br/servicos/documentos], bem como no site Fenomenum [Endereço www.fenomenum.com.br].
Sobre os relatórios oficiais
Ao longo deste estudo, constataram-se algumas inconsistências entre o que já se sabe sobre o envolvimento das Forças Armadas do país com o Fenômeno UFO e o material até agora liberado. Talvez a incongruência mais importante seja a ausência de documentos sobre casos conhecidos da Ufologia Brasileira, que foram até agora omitidos pelas autoridades. Além desses, também são omitidos registros fotográficos, vídeos e gravações relacionados a UFOs e que estão de posse dos militares. Sabe-se, seguramente, que tais materiais existem em separado dos arquivos e relatórios até agora disponibilizados. Fotografias de UFOs, por exemplo, são arquivadas em pasta própria, longe dos relatórios. Vídeos e gravações entre aeronaves em contato com UFOs e controladores de voo são igualmente importantes, pois permitem identificar caraterísticas específicas relacionadas aos casos, que os documentos escritos não transmitem — tais gravações são citadas em inúmeros documentos já liberados oficialmente e podem fornecer valiosos dados sobre o impacto emocional que a experiência gerou nos envolvidos.
Outra característica observada, tanto nos documentos referentes aos casos ufológicos paranaenses quanto aos casos ocorridos em outros estados brasileiros, é a superficialidade de muitos relatórios, notadamente após o ano de 1990. O formulário adotado após aquela data, além de ser superficial, pode gerar erros em análises posteriores. Isso se constata, por exemplo, quando se analisam os formulários das décadas de 1990, 2000 e 2010 e compara-se com a estatística geral de casos do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), desclassificada oficialmente em 2014. Percebem-se informações equivocadas inseridas nesse resumo estatístico e ausência de alguns casos importantes. Essa superficialidade em um estudo estatístico de suma importância gera questionamentos sobre os métodos e critérios utilizados pelos militares, tanto no registro dos casos quanto no consequente arquivamento e posterior liberação dos documentos.
Análise histórica
Por fim, outra inconsistência observada refere-se à distribuição temporal dos documentos e casos já disponibilizados. De um modo geral, eles têm a seguinte característica: documentos da década de 1950 são compostos por apenas quatro lotes — um deles contém uma investigação da FAB sobre o Caso Barra da Tijuca, ocorrido em 1952. Os outros lotes contêm relatórios superficiais sobre avistamentos e duas cartas de pesquisadores civis à FAB.
Já o conjunto de documentos da década de 60 é composto de um relatório enviado pelo Centro de Investigação Civil de Objetos Aéreos Não Identificados (Cicoani) sobre um caso ocorrido em 1962 e por documentos do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) sobre casos ocorridos a partir de 1968. Aqui constata-se uma ausência de casos registrados pela FAB no período de 1958 a 1968. Ou os discos voadores evitaram o território brasileiro naquele período ou então informações estão sendo omitidas. Como sabemos, esse período foi um dos mais intensos na casuística ufológica brasileira, agrupando muitos episódios que chamaram a atenção da população.
Já o conjunto de documentos da década de 60 é composto de um relatório enviado pelo Centro de Investigação Civil de Objetos Aéreos Não Identificados (Cicoani) sobre um caso ocorrido em 1962 e por documentos do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) sobre casos ocorridos a partir de 1968. Aqui constata-se uma ausência de casos registrados pela FAB no período de 1958 a 1968. Ou os discos voadores evitaram o território brasileiro naquele período ou então informações estão sendo omitidas. Como sabemos, esse período foi um dos mais intensos na casuística ufológica brasileira, agrupando muitos episódios que chamaram a atenção da população.
Nos documentos da FAB temos casos muito interessantes ocorridos no Paraná. Um dos mais antigos envolveu o comandante Nagib Ayub que, a bordo de um cargueiro da Varig, avistou um UFO em conjunto com dois outros tripulantes em 1954
Por sua vez, o período da década de 1970 é composto por inúmeros documentos, relatórios, transcrições, registros, estudos, cartas etc, sobre UFOs em território nacional, incluindo os documentos da Operação Prato. Não foram disponibilizados vídeos e gravações desta época. O mesmo se dá em relação aos documentos da década de 1980, pois também não existem fotos, gravações e vídeos disponibilizados em tal período. Já a documentação da década de 1990 em diante é composta em sua maioria por registros em formulário padrão, com duas págin
as, superficiais e sujeitos a erros.
Ao analisar esses aspectos históricos do registro de UFOs por nossos militares, percebem-se variações brutais na quantidade de casos ocorridos dentro de diferentes unidades da Força Aérea Brasileira (FAB). Sabe-se que a movimentação de naves é constante no Brasil, que é um dos países com maior quantidade de registros desse tipo. Sabe-se também que o Fenômeno UFO acontece desde o surgimento da humanidade. Assim, o normal seria que a ocorrência de casos fosse um pouco mais homogênea, tanto histórica quanto espacialmente. O que se observa por meio dos documentos já liberados é que em regiões com centros de controle de tráfego aéreo os registros são muito mais constantes do que em outras, embora não sejam homogêneos temporalmente.
No estado do Paraná isso se confirma plenamente da seguinte forma: desde 1954 foram registrados 112 casos ufológicos pela FAB. Desses, 84 ocorreram em Curitiba e cidades da região metropolitana. Do total de episódios ocorridos no estado, 17 envolveram aeronaves em voo. Curiosamente, houve 8 casos em que UFOs permaneceram por longo tempo suspensos nas proximidades ou acima dos aeroportos Afonso Pena e do Bacacheri, em Curitiba, sede do 2º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II). Não se observa, com base nos documentos, qualquer interesse ou iniciativa de observação do fenômeno por parte dos militares. Embora isso se explique pelo fato de eles estarem de serviço em setores sensíveis, nada impediria o alerta para que outros militares observassem e registrassem tais objetos.
Se houve interesse, e um registro foi feito nesse sentido, isso deve ter gerado outros documentos que até o momento não foram liberados. Ainda em relação à incomum distribuição histórica de ocorrências no estado do Paraná, temos apenas um caso registrado na década de 1950, outro na década de 1960 — e que é citado em um resumo estatístico feito muitos anos depois —, e um ocorrido na década de 1970. Na década de 1980 temos cinco casos arquivados, enquanto que existem 77 registrados ao longo da década de 1990 e outros 27 após o ano 2000.
Os critérios da Aeronáutica
Em outros estados essa característica também pode ser observada, o que gera questionamentos sobre a forma como a FAB cataloga e arquiva seus documentos. A variação abrupta no número de ocorrências seria causada por mudanças nas manifestações ufológicas ou pelo modo como a Força Aérea trata o tema? Se levarmos em conta a casuística ufológica, os casos investigados por ufólogos e certos padrões de comportamento dos militares, facilmente encontraremos a resposta.
Sabemos que a casuística ufológica não apresentou variações significativas em relação ao número de casos. O que muda é a forma como os militares tratam o tema, tanto em nível oficial, por meio de normatizações internas — como, por exemplo, a Diretriz Específica 04/89 e a Norma de Procedimento Aeronáutico 09-C —, quanto em nível pessoal por parte de comandantes e militares. Assim, todos os órgãos de controle de tráfego aéreo devem registrar todos os casos que chegarem ao seu conhecimento, conduzir investigações, caso haja necessidade, e acionar órgãos de defesa aérea se alguma ocorrência represente risco à navegação aérea ou à segurança nacional. A decisão sobre a necessidade dessas ações especiais cabe ao comandante de cada unidade.
Em relação à questão ufológica, as Forças Armadas dividem-se basicamente em dois grupos. Enquanto um deles não tem interesse na pesquisa oficial e na confirmação pública da realidade dos UFOs, outro grupo aceita que algumas informações sejam disponibilizadas publicamente. Essa postura se confirma nos documentos oficiais quando se observa o número de casos ocorridos ao longo dos anos nos diferentes órgãos da FAB. Conforme mudam os comandantes de determinadas unidades, mudam também alguns procedimentos básicos, como o reenvio de relatórios sobre casos ufológicos ao Comdabra, em Brasília.
No final de 1989, a FAB emitiu a já citada Diretriz Específica 04/89, que determina os procedimentos a serem adotados em caso de avistamento ou reporte de UFOs em Território Brasileiro. A partir desse documento surgiu a também citada Norma de Procedimento Aeronáutico 09-C, regulamentando os procedimentos. Desde então se adotou um formulário padrão para registro do que os militares chamam de Tráfego Hotel, um termo cunhado pela Força Aérea Brasileira (FAB) para designar os UFOs. Esse documento, do ponto de vista ufológico, é superficial e também sujeito a erros tanto no registro dos dados de um avistamento quanto na posterior interpretação e análise das informações — sobre o local da ocorrência, por exemplo, confunde-se com o do endereço da testemunha, o que pode prejudicar o mapeamento dos casos no futuro. Outro possível erro se refere à data e hora das ocorrências.
Por padrão, a Força Aérea Brasileira (FAB) utiliza o Tempo Universal Coordenado, ou UTC, em inglês, para registro dos casos. O horário UTC, também chamado “Hora Zulu”, é de padrão internacional e está a três horas de diferença em relação a Brasília. Por exemplo, se o horário UTC indicado em um determinado documento for 17h00, o horário oficial de Brasília será 14h00. No horário brasileiro de verão, essa diferença diminui para duas horas, o que pode gerar confusão e erros em uma análise desatenta. Essa situação é ainda mais complicada quando o caso ocorre próximo à meia-noite. Por exemplo, um caso que tenha se dado às 02h00 UTC do dia 20 de agosto, teria na verdade ocorrido às 23h00 do dia 19 de agosto, segundo o horário de Brasília.
Casos mais importantes
Nos documentos liberados pela FAB também temos casos muito interessantes ocorridos no estado do Paraná. Um dos mais antigos envolveu o comandante Nagib Ayub, que a bordo de um cargueiro DC-3 da Varig, avistou um UFO em conjunto com dois outros tripulantes, na noite de 06 de agosto de 1954. A aeronave, prefixo PP-VBF, havia decolado de Porto Alegre com destino ao Rio de Janeiro, seguindo rota pelo litoral do Paraná. Ao entrar no espaço aéreo do estado, os tripulantes observaram um UFO luminoso e de cor avermelhada evoluindo próximo à aeronave.
Em poucos segundos o objeto aproximou-se do avião, assustando os pilotos, que decidiram mudar a rota e seguir para São Paulo, onde prestaram depoimento. Entre os documentos da FAB já disponibilizados publicamente no Arquivo Nacional, em Brasília, temos um relatório redigido pelo próprio Ay
ub relatando o caso. Alguns meses depois ele prestou depoimento aos militares em um painel sobre UFOs realizado pela FAB, em 02 de novembro de 1954, com ampla cobertura da imprensa. Além de Ayub, vários civis e militares também prestaram depoimento na conferência. Por se tratar de uma atividade oficial da FAB, era de se esperar que o evento tivesse gerado algumas páginas de documentação contendo atas da reunião, depoimentos, relatórios etc. Entretanto, até o momento inexiste qualquer citação àquela reunião nos documentos disponíveis.
Outro caso interessante presente nos documentos liberados envolve um voo comercial entre São Paulo e Londrina na noite de 10 de maio de 1965. Neste caso, um objeto voador luminoso aproximou-se da aeronave, um Convair-340 com três tripulantes, já na fase final do voo, chegando a Londrina — o artefato foi confirmado visualmente pelo operador de serviço na torre de controle daquela cidade. Curiosamente, não há documentos disponíveis no lote correspondente à década de 1960, mas o caso é citado em um documento posterior, da década seguinte, que faz uma revisão histórica de vários casos registrados pela FAB. Isso sugere que o órgão possui documentos específicos sobre o caso que ainda não foram divulgados.
Em 08 de setembro de 1978 ocorreu outro caso envolvendo voos comerciais e UFOs. Segundo os documentos disponíveis, a aeronave prefixo PT-JKQ, durante o trajeto entre Belo Horizonte e Curitiba, deparou-se com um UFO luminoso que se posicionou à frente da mesma durante sua aproximação ao destino. A observação durou aproximadamente 45 minutos e não houve registro em radares. Em 22 de agosto de 1985 ocorreu um importante caso de avistamento múltiplo na cidade de Foz do Iguaçu. Por volta das 11h30, várias pessoas na cidade observaram um objeto voador metálico, de cor alaranjada e em forma de prato, com uma espécie de rabicho e duas antenas na parte superior. Por duas horas, o misterioso artefato evoluiu sobre a cidade e sobre a região do aeroporto, sendo observado por milhares de pessoas.
Várias testemunhas telefonaram para a torre de controle do aeroporto da cidade relatando o avistamento — seus operadores também testemunharam a aparição e contataram as aeronaves que voavam na região, que confirmaram a presença do estranho aparelho. Ao todo, cinco aviões comerciais confirmaram visualmente a presença do UFO, que não era captado pelos radares. Sobre esse caso existem atualmente cinco páginas de documentos contendo descrição mais ou menos detalhada do fato, mas sem qualquer transcrição das comunicações entre as aeronaves envolvidas e a torre de controle de Foz.
Abduções e áreas de incidência
Na noite de 17 de março de 1994 ocorreu outro interessante caso ufológico em Curitiba e no município de São José dos Pinhais, com várias testemunhas em diferentes pontos de observação. Durante aproximadamente duas horas foram observados dois UFOs, um posicionado sobre o Aeroporto do Bacacheri, na capital paranaense, e o outro sobre o Aeroporto Internacional Afonso Pena, já em São José dos Pinhais. Em dado momento, um dos artefatos posicionou-se logo acima de uma aeronave que decolava do Bacacheri. Embora o caso seja importante devido às suas características, número de testemunhas e locais de ocorrência, temos apenas dois informes com dados coletados junto às testemunhas — não houve interesse aparente dos militares em observar, documentar, identificar ou interceptar estes objetos.
Entre os documentos disponibilizados por meio da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, dois chamam a atenção devido a sua possível relação com casos de abdução acontecidos na região de Curitiba. Um deles ocorreu no bairro Boqueirão, em Curitiba, e o outro na cidade de Colombo, região metropolitana. O primeiro tratou-se do sequestro de Ademir Correa, ocorrido em julho de 1988 em um terreno até então desocupado, situado a poucos metros de sua casa e ao lado do quartel do 5º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado, do Exército. O abduzido encontrava-se sozinho em casa, no final da tarde de domingo, quando seus animais de estimação começaram a ficar muito agitados. Correa lembra-se de se dirigir à janela e observar um objeto voador luminoso suspenso sobre o terreno baldio.
Quando ele se aproximou da janela, começava na televisão o programa dominical Os Trapalhões, da Rede Globo. A testemunha se lembra de observar o objeto e de depois se afastar da janela. Naquele momento Correa constatou que o referido programa de TV se encerrava e começava o Fantástico — um lapso de tempo de aproximadamente uma hora, do qual ele não tem qualquer lembrança. Pouco depois, sua esposa chegou em casa e também testemunhou o UFO sobre o local. Vários moradores da região e militares de guarda, nas guaritas do quartel, testemunharam o objeto.
Tudo o que a FAB disponibilizou é apenas a ponta do iceberg. Existem casos impressionantes ainda desconhecidos dos ufólogos, que permanecem sob sigilo por parte dos militares. Talvez os arquivos do Exército e da Marinha sejam idênticos
No terreno baldio, o local onde estava o artefato apareceu queimado, indicando um possível pouso. Militares da base isolaram a área e recolheram muitas amostras de terra e de vegetação do local. Em seguida, roçaram o terreno, revirando o solo para apagar quaisquer vestígios, e destacaram um veículo da guarda para cuidar da área por muito tempo. Teria o Exército conduzido uma investigação sobre esse caso? Haveria documentos sobre esse fato em algum arquivo militar? Atualmente, o local onde o caso ocorreu encontra-se completamente modificado, pois ali, anos mais tarde, foi construído o Clube de Oficiais do Exército. Esse caso encontra-se detalhadamente descrito no livro Sequestros Alienígenas [Código LIV-007 da Biblioteca UFO. Consulte o Shopping UFO: ufo.com.br], de Mario Rangel.
Outro caso também possivelmente relacionado a uma abdução ocorreu às margens da BR-116, próximo ao Clube Santa Mônica, na região do município de Colombo, área metropolitana de Curitiba. O referido acontecimento envolveu a senhora Maria Neves, que estava com sua família em Praia de Leste, no litoral paranaense, em meados de abril de 1997. No começo da noite, a família inteira — aproximadamente 15 pessoas — observou um objeto voador alongado e luminoso com numerosas janelas ao longo de sua estrutura. Maria sentiu-se compelida a sair da casa onde a família se encontrava e a se dirigir à praia, onde a abdução ocorreu.
Quintal iluminado por UFO
Curiosamente, nenhum familiar percebeu a ausência de Maria, que foi encontrada desacordada no dia seguinte, pelo próprio filho que ia à praia para surfar. Ela se mostrou confusa e desorientada, acreditando estar em um ambiente subterrâneo. Dias depois, toda a família retornou para sua residência, em Colombo, e após alguns dias viu-se novamente envolvida em um evento ufológico. Em 14 de maio de 1997, uma sonda ufológica sobrevoou o gramado da residência vizinha à casa de Maria, queimando a vegetação por onde passava. No momento da manifestação, havia na residência apenas duas crianças, Rafael e Vanessa, que tinham 10 e 14 anos, respectivamente. Rafael observou todo o movimento do objeto e gritou para sua irmã, que ainda pôde ver o quintal iluminado pelo estranho aparelho.
Com o desaparecimento da sonda, os irmãos se aproximaram da marca, que ainda ardia em chamas azuladas — algum tempo depois, já com a presença de seus pais, ambas as testemunhas passaram mal e chegaram a ser internadas no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, com sintomas aparentes de intoxicação radioativa. Menos de um mês depois, outro avistamento ocorreu na região, desta vez dentro do Santa Mônica Clube de Campo, situado muito próximo à residência de Maria. Esse novo relato foi publicado no jornal informativo do clube poucos dias após o caso. Entre os arquivos da FAB, já disponibilizados, existe ainda o relatório de um terceiro avistamento, ocorrido na rua lateral ao clube, em 18 de março de 1999, colocando a região como área de elevada incidência do fenômeno.
Após o ano 2000, o número de registros nos documentos da Força Aérea Brasileira (FAB) diminuiu consideravelmente — eles se tornaram mais esporádicos e mantiveram seu caráter superficial, com o uso do relatório padrão. Alguns poucos casos foram registrados de forma mais aprofundada. Um deles envolveu o centro de controle de voo do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, e uma aeronave em aproximação. Nesse caso, um artefato voador luminoso de cor avermelhada acompanhou a aeronave por 52 minutos. Atualmente estão disponíveis sete páginas de documentos com transcrição das comunicações entre aeronave e o controle.
Com base nos dados disponibilizados é possível fazer algumas análises estatísticas. Dos 112 casos registrados até o ano de 2013, 85 ocorreram no período noturno e apenas 25 de dia, com dois episódios sem indicação de horário. O horário com maior incidência está entre 18h00 e 24h00, que corresponde ao horário em que a maior parte da população está mais atenta ao céu. Conforme observamos na casuística ufológica mundial, a maioria dos UFOs observados durante o dia apresenta aspecto prateado e contornos nítidos, enquanto que à noite têm luminosidade e cores variáveis. Isto se confirma nos casos descritos na documentação da FAB, embora exista certa limitação no registro das informações por parte dos militares. Aproximadamente 71% dos arquivos da FAB citam objetos arredondados, luminosos e de cor avermelhada, que podem englobar vários formatos diferentes, como esférico, globular, ovoide, discoidal etc. Os outros 29% correspondem a outros formatos, como triangular, cometa, delta etc.
Informações ausentes
Uma das principais críticas dos ufólogos em relação à liberação de documentos pela FAB está ligada à ausência de informação sobre casos importantes. O Centro de Investigação e Pesquisa Exobiológica (CIPEX), de Curitiba pesquisou vários casos nos quais houve envolvimento das Forças Armadas, a exemplo do já citado Caso Ademir Correa — um dos eventos mais interessantes ocorreu no centro de Curitiba, em 14 de dezembro de 1954, e praticamente parou a capital paranaense. Por volta das 10h00, três UFOs de aparência metálica sobrevoaram a cidade à baixa altitude, durante aproximadamente seis horas. Os objetos chamaram a atenção da população, mas em dado momento dois deles se afastaram e um deles desceu, aproximando-se do topo do Edifício Pugsley, sendo registrado por um fotógrafo presente no local.
Nas ruas, comerciantes fecharam as lojas assustados com o fato. Devido à gravidade da situação, aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) decolaram na tentativa de interceptar os UFOs, mas sequer conseguiram se aproximar dos aparelhos. Entre as testemunhas do episódio está o coronel Carlos Assunção, então chefe de Polícia do Estado do Paraná, que confirmou o avistamento em entrevistas para imprensa. Analisando o caso, temos dois aspectos interessantes. O primeiro é o sumiço das fotografias do objeto, que deveriam estar de posse dos jornais da cidade que cobriram o evento — os acervos dos jornais Gazeta do Povo e Estado do Paraná não contêm as fotografias dos aparelhos e não se sabe o destino delas. O segundo é ausência de documentos ou mesmo referências ao episódio entre os arquivos já liberados pela FAB. Com base nisso, perguntamos: haveria uma política de acobertamento e sigilo sobre os acontecimentos?
Outro importante caso ocorrido em Curitiba não tem documentação ou mesmo citação entre os materiais já liberados pela FAB. Trata-se do pouso de um UFO dentro da Base Aérea do Bacacheri, no ano de 1977. Na época, o local era sede da Escola de Especialistas da Aeronáutica, que mais tarde foi transferida para Guaratinguetá, em São Paulo. Durante certa noite, dois UFOs surgiram sobre o aeroporto, um deles pousando a poucos metros da torre de controle e do local onde futuramente seria construída a sede do citado Cindacta II.
Do aparelho desceram três tripulantes de estatura mediana, que vestiam um traje semelhante ao de mergulhadores, composto por uma roupa colante de cor escura e uma máscara sobre o rosto. Os estranhos se dirigiram a um hangar usado pela Força Aérea onde havia um avião, modelo Bandeirante, que foi puxado para fora por eles. Em seguida os desconhecidos começaram a inspecionar a aeronave, sendo surpreendidos por militares que observavam todo o acontecimento.
Imediatamente o alarme da base soou alertando os ETs, que correram de volta para o UFO, que decolou em seguida fazendo forte barulho — vários moradores da vila de oficiais e moradores do bairro do Bacacheri também teriam testemunhado a decolagem. O comando da base impôs sigilo ao caso, que só é conhecido graças ao então coronel Uyrangê Hollanda, que che
fiou a Operação Prato, que o confirmou ao ufólogo Daniel Rebisso Giese — anos mais tarde, alguns militares que tomaram conhecimento dos acontecimentos foram advertidos para não buscarem mais informações sobre o mesmo.
Um ano antes, em 1976, um UFO deixara um estranho objeto metálico, semelhante a uma caixa, às margens de um rio em Praia de Leste, no litoral paranaense. Um pescador local recuperou a caixa, guardando-a consigo. Tempos depois, um militar do Exército procurou o pescador e comprou a caixa por uma razoável quantia. Não se sabe o que ocorreu com o objeto e qual é o seu paradeiro atualmente. Outro caso que ilustra bem o interesse militar pelos UFOs ocorreu em agosto de 1983, quando Julio Batchen fotografou um disco voador no bairro Batel, em Curitiba. Ao revelar as fotos e perceber a presença nítida do UFO, o autor procurou o Cindacta II, informando o fato. O militar que o atendeu, major João Azevedo, solicitou a foto e os negativos, que seriam enviados para análise em Brasília. Batchen pediu garantias de que tanto a foto como o negativo seriam devolvidos após as análises.
Mutilação de animais
Diante da negativa do oficial, o fotógrafo se recusou a entregar os registros e acabou cedendo-os a grupos ufológicos civis. Em novo contato com a FAB, outro militar, o capitão José Garibaldi, reafirmou o interesse da FAB nos registros, mas após Batchen informar que eles já se encontravam de posse de investigadores civis, Garibaldi disse que a FAB não tinha mais interesse no caso. Esse acontecimento nos remete aos já citados registros fotográficos e de vídeo que compõem o acervo da Força Aérea e que não foram disponibilizados pela entidade. No inverno de 1997, o estado do Paraná foi palco de mortes de centenas de animais de criação em circunstâncias estranhas, atribuídas ao chamado chupacabras. A região metropolitana de Curitiba, notadamente a área rural das cidades de Campina Grande do Sul e Bocaiúva do Sul, foram focos de incidência do fenômeno. Os casos tiveram envolvimento oficial por parte de policiais, agentes da Secretaria de Meio Ambiente de Campina Grande do Sul, da Secretaria de Meio Ambiente do Paraná e do Exército, que empreendeu ações de captura da estranha criatura.
Os militares conseguiram apanhar pelo menos dois seres incomuns, que foram enviados para Londrina, onde embarcaram em um avião Hércules C-130 e decolaram para destino desconhecido. Os ufólogos que na época investigavam o estranho fenômeno documentaram a presença dos militares na região nos períodos de maior incidência dos ataques. De posse das filmagens, foi possível identificar os veículos como pertencentes ao 20º Batalhão de Infantaria Blindada, sediado em Curitiba. Essas operações com certeza devem ter gerado páginas e mais páginas de relatórios internos que, esperamos, um dia venham à tona.
Como vimos ao longo deste artigo, tudo o que a Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou é apenas a ponta do iceberg. Existem casos impressionantes ainda desconhecidos dos ufólogos, que permanecem sob o manto do sigilo por parte dos militares — especula-se que arquivos do Exército e da Marinha sejam igualmente impressionantes ou até mesmo mais importantes em termos de quantidade e qualidade de conteúdo do que os já disponibilizados pela Aeronáutica. Mas a desclassificação e liberação pública dos documentos não bastam. O conhecimento e a verdade são como diamantes que precisam ser lapidados. A principal ferramenta disponível para isso é a análise criteriosa dos casos, o cruzamento de informações, estatísticas e novas investigações dos casos, quando necessário. Só assim podemos eliminar possíveis inconsistências, geralmente involuntárias, nos arquivos oficiais.