Outro momento histórico da Ufologia Brasileira que também consta da documentação oficial liberada agora para a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), também podendo ser acessada no Arquivo Nacional e no Portal UFO, diz respeito a um dos episódios mais divulgados, comentados e polêmicos da casuística ufológica nacional. Trata-se do Caso Vasp Vôo 169, em que um UFO de grandes dimensões acompanhou um Boeing 727 da extinta empresa área Vasp, em 08 de fevereiro de 1982. O avião era proveniente da cidade de Fortaleza (CE) e tinha como destino a capital do estado de São Paulo, com escalas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. A ocorrência se tornou um dos ícones não somente de nossa Ufologia como também para a aviação comercial do país, e teve divulgação maciça na mídia nacional e de todo o mundo.
A chave para tal repercussão está relacionada não só à coragem do comandante do Boeing, o experiente piloto Gerson Maciel de Britto, então com impressionantes 26 mil horas de vôo, que não receou em tornar o fato público, mas também ao número de testemunhas a bordo: eram cerca de 150 passageiros, que foram alertados pelo próprio Britto para que observassem o UFO, justamente no momento em que o artefato se aproximou mais do avião. Neste instante, segundo o comandante, a luz que emanava do aparelho chegava a penetrar no interior da cabine, iluminando a mesma com um tom azulado. Logo na época dos fatos conheci alguns dos passageiros, que de maneira ordeira e responsável foram se revezando nas janelas à esquerda da aeronave – posição que permitia uma melhor visualização do aparelho –, depois de alertados por Britto para sua presença.
O caso também se tornou muito discutido pelo fato de um dos passageiros ter se recusado a observar o estranho objeto voador não identificado. Tratava-se de uma alta personalidade da Igreja Católica, dom Ivo Lorscheider, então dirigente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que provavelmente temeu transformar-se em mais uma testemunha do fenômeno. Estive muitas vezes com Gerson Maciel de Britto, que não só prestou depoimentos detalhados gravados em vídeo sobre tudo que aconteceu, como participou em várias oportunidades de eventos para narrar sua experiência. Tudo começou quando Britto, que sobrevoava a cidade de Petrolina (PE), notou uma intensa fonte de luz, que logo começou a acompanhar sua aeronave em vôo paralelo, mantendo a mesma distância.
Companhia insólita e insistente
Progressivamente, entretanto, o objeto passou a alterar sua velocidade, movimentando-se algumas vezes até ficar bem à frente do avião, para depois permitir sua aproximação. Todavia, foi chegando à cidade de Belo Horizonte, primeira escala do vôo, que o UFO se acercou realmente do Boeing, permitindo, segundo o comandante, a visualização de uma forma lenticular. Neste momento, ele já percebia que estava diante de uma nave alienígena, cuja tecnologia e capacidade de vôo estavam além de nossas possibilidades. O aparelho pôde ser visto até quando a aeronave da Vasp iniciou seu procedimento de pouso no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, e inclusive por pessoas que transitavam na Ponte Rio-Niterói.
O fato causou muita polêmica na época. Não faltaram aqueles que defenderam que o UFO seria simplesmente o planeta Vênus, como o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Até o prolongamento de uma inusitada aurora boreal foi assumido como uma possibilidade para explicar o caso. A coisa ficou ainda mais complicada quando a própria Força Aérea Brasileira (FAB) negou ter detectado o objeto através do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta), apesar do órgão ter reportado e até alertado o comandante do Boeing para a existência de um eco de radar que o acompanhava, justamente na posição em que era observado visualmente. Segundo Britto, a esta altura ele já havia solicitado ao Cindacta uma confirmação da detecção, mas esta só veio quando o UFO começou a se aproximar demasiadamente da aeronave.
Durante um diálogo bastante aberto e franco que tive com o comandante do vôo, Britto comentou que provavelmente o UFO já estava sendo detectado antes pelos radares do Cindacta, mas os controladores só teriam resolvido reportar a presença do mesmo em suas telas quando houve uma maior aproximação do avião, como regra aeronáutica básica e por temor de uma situação de conflito e risco para a aeronave. “Não tenho dúvida de que o aparelho foi registrado pelos radares desde o primeiro momento em que surgiu sobre o país”, declarou o comandante.
Pois bem, agora o Governo acaba de liberar para consulta a documentação relacionada direta e indiretamente a este incidente, e algumas surpresas se verificaram nos papéis que foram enviados ao Arquivo Nacional e para a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). Estes relatórios tiveram origem no próprio Cindacta e foram remetidos por determinação do coronel-aviador Ronald Eduardo Jaeckel, comandante do órgão na época, para o chefe da Primeira Subchefia do Estado-Maior da Aeronáutica, cujo nome não aparece no arquivo.
O que se vê na documentação são transcrições das fitas contendo não só os diálogos entre a cabine de comando do vôo 169 da Vasp, em 08 de fevereiro de 1982, que tinha Britto à frente, e o centro de controle em Brasília, mas ainda, para nossa surpresa, as transcrições das conversas entre comandantes da mesma companhia que efetuaram o mesmo vôo nos dias seguintes, 09 e 10 de fevereiro. Ambas as tripulações também reportaram o avistamento de objetos luminosos naquela rota, mas aparentemente sem haver detecção por radar nas telas do Cindacta. Pelo menos, é isto o que se vislumbra nessas transcrições. O comandante de um dos vôos 169, o do dia 09 de fevereiro, ao contrário do que Britto fez, deixa claro que não gostaria de reportar o suposto avistamento aos jornalistas. Na troca de comunicação com o centro de controle, revela ainda que os passageiros não foram avisados ou alertados para a presença do suposto UFO.
Objeto acompanhou o Boeing
Na parte do relatório referente aos fatos ocorridos na madrugada do dia 08 de fevereiro, temos o registro do exato momento em que o Cindacta I comunica e alerta a cabine de comando do Boeing 727 da Vasp da presença de um objeto não identificado no radar – também chamado de plot ou eco radar – exatamente na posição em que todos observavam visualmente o aparelho a partir do avião. O controlador de tráfego aéreo ressalta, como se pode ler na transcrição, que o objeto acompanhava o Boeing detidamente. “Ele está a oito milhas e na posição nove horas, e segue precisamente o Vasp uno meia nove”, declara o operador de radar.
Isso confirma tudo o que já sabíamos em relação &
agrave; visualização do UFO pelas tripulações de mais dois vôos comerciais, um da Transbrasil, empresa também extinta, e outro da Aerolíneas Argentinas. Mais um documento que faz parte da abertura ufológica governamental dos anos 80, também relacionado aos fatos do dia 08 de fevereiro, e que pode ser associado ao incidente pelo menos de maneira indireta – se é que não faz parte diretamente de um único contexto ou realidade –, é o que registra a observação de várias luzes misteriosas na região da Base Aérea de Anápolis (GO), incluindo o registro paralelo de pelo menos oito sinais ou ecos distintos nos radares. Estes objetos já estavam sendo detectados em Goiás bem antes do comandante Britto localizar sobre o Nordeste brasileiro o UFO que o acompanharia.
E assim, como agora estamos percebendo oficialmente, através da documentação liberada, em fevereiro de 1982 havia muito mais “coisas” em nosso espaço aéreo do que simplesmente o UFO observado por Britto e seus passageiros. Na verdade, os ufólogos brasileiros estavam cientes e acompanhavam inúmeros casos do norte ao sul do país, em meio a uma grande onda ufológica. Tudo isso vem agora a ser confirmado.