Não há o que falar em Ufologia Oficial ou em transparência no lido com a manifestação ufológica no planeta sem que venha à mente, imediatamente, o exemplo uruguaio. Naquele país, um dos menores do continente, há mais de três décadas existe uma entidade oficial mantida com recursos públicos e composta por civis — não remunerados — e militares da Força Aérea Uruguaia (FAU) para investigar oficialmente observações de discos voadores e eventuais contatos com seus tripulantes. A Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni) foi criada por um ato presidencial em 1979, apenas três anos depois de a França ter declarado publicamente a materialidade do Fenômeno UFO e confirmado que se dedicava à pesquisa do tema, estabelecendo, em 1976, o Groupement d’Etude des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés (Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, GEPAN).
Ocorrências de todos os tipos
À frente da entidade uruguaia, há mais de uma década, está um oficial que também é apaixonado por Ufologia — e que não exerce a presidência da Cridovni apenas como mais uma função de sua carreira militar. Trata-se do coronel Ariel Sánchez, que tive a oportunidade de entrevistar no final de 2010, quando aproveitei uma visita que fiz a Montevidéu para proferir uma conferência sobre o processo brasileiro de abertura ufológica, a seu convite. Tratou-se do primeiro evento de que se tem conhecimento em todo o mundo a ser apoiado por um órgão militar, justamente a Aeronáutica do país, e nele se debateu Ufologia em alto nível. No auditório só se via homens de farda, e, ainda assim, ufólogos de diferentes linhas de pensamento se apresentaram. “Não temos preconceito de opiniões na Comissão e acreditamos que pode haver boa informação em cada segmento da Ufologia Civil”, disse Sánchez.
Para tratar desse tema, deve-se manter a mente aberta às possibilidades. Ainda não sabemos com o que ou quem estamos lidando, e todas as hipóteses são possíveis (…) Estamos a serviço do Estado Uruguaio e temos que responder ao comandante de nossa Aeronáutica e, às vezes, até ao ministro da Defesa e ao presidente da República
O militar é antigo conhecido dos ufólogos brasileiros, pois esteve várias vezes no país fazendo palestras. Ele também é, há quase uma década, correspondente internacional da Revista UFO no Uruguai — onde também temos, como consultor, o tenente Daniel Silvera, secretário da Cridovni. Sánchez tem um considerável currículo de experiências e atividades na área da pesquisa ufológica, pois, como presidente de uma das poucas entidades oficiais dedicadas ao tema no planeta — e das raras que o fazem abertamente —, tem à sua disposição ocorrências dos mais variados gêneros para investigar. “Nossos arquivos têm todos os tipos de casos que se pode encontrar na série Arquivo-X”, brinca. Não é exagero: quando recebem relatos — ou denúncias, em espanhol, daí o nome da entidade —, os membros da Cridovni partem para investigá-los fardados e em carro oficial. Em que outro país do mundo se vê algo semelhante? No Brasil se viu coisa assim apenas no final dos anos 60 e começo dos 70, quando existia o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani).
Entender o funcionamento de uma entidade oficial de pesquisas ufológicas, como a Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni), é uma experiência fascinante. O órgão pode servir de exemplo ao Brasil e a várias outras nações que almejam ter centros oficiais de investigação de discos voadores. Em nosso país, essa é a luta dos membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) que, através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, lançada em 2004 por meio da Revista UFO, busca estabelecer uma entidade mista, civil e militar, que trabalhe abertamente com nossa rica casuística. Mas, infelizmente, apesar dos inegáveis êxitos do movimento — como a liberação de arquivos ufológicos secretos — e da promessa do brigadeiro Luis Carlos da Silva Bueno, ex-comandante da Aeronáutica, em maio de 2005, tal feito está longe de ocorrer.
Busca de evidências
“Para tratar desse tema, deve-se manter a mente aberta às possibilidades. Ainda não sabemos com o que ou quem estamos lidando, e todas as hipóteses são possíveis”, afirma Sánchez. Mas ele também avisa que o trabalho da Cridovni tem orientação científica: “Estamos a serviço do Estado Uruguaio e temos que responder ao comandante de nossa Aeronáutica e, às vezes, até mesmo ao ministro da Defesa e ao presidente da República. Por isso, somos imparciais e não estimulamos nem desestimulamos qualquer ideia sobre o tema”. Como esclareceu na primeira parte dessa entrevista, na edição 185, de janeiro, sua entidade já recebeu mais de 2.200 denúncias de UFOs, muitas incluindo fotos e vídeos, mas a Cridovni ainda não admite ter encontrado evidências de contatos diretos com extraterrestres. “Seguimos buscando”.
Na edição passada, além de apresentar um caso espetacular de perseguição a objetos voadores não identificados por caças Pucarás da FAU, o coronel Ariel Sánchez também descreveu uma ocorrência que envolveu um jato da Lufthansa que cruzava o país, em 2007. Ao finalizar aquele segmento da entrevista, Sánchez informava que mantém contatos com militares de outras nações para tratar de incidências ufológicas, e citou o Chile e o Brasil. “Eu estava de plantão como controlador de voo em certa noite, quando tivemos o registro de um eco estranho nos radares do nosso sistema, vindo do Brasil. Então, precisei me comunicar com o centro de Curitiba para consultar se os operadores de lá sabiam de alguma aeronave dirigindo-se para cá, mas a possibilidade foi descartada pelos controladores aéreos brasileiros”. O caso pode ter sido um importante — e surpreendente — desdobramento da chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil [Veja edição UFO 160, agora disponível na íntegra em ufo.com.br]. Vamos à segunda e última parte dessa entrevista.
Como militar na ativa da Força Aérea Uruguaia (FAU), o senhor tem a facilidade de se comunicar com seus colegas das forças armadas de outros países para tratar de temas relativos à aviação. O mesmo ocorre com casos ufológicos? Sim, em casos interessantes podemos fazer uso da facilidade que existe, através da nossa Força Aérea, de podermos nos comunicar com colegas do Brasil, da Argentina ou do Chile, e intercambiar dados que nos permitam avaliar algumas denúncias de objetos voadores não identificados que tenhamos aqui sendo investigados. Creio que, em nível de consultas internacionais, isso é o que temos de mais importante.
A respeito disso, vocês, na Cridovni, têm conhecimento de algum protocolo que exista exclusivamente entre as forças armadas do continente, ou de outras partes do mundo, para estabelecer regras de cooperação nesses casos? Um militar equatoriano nos informou, e um brasileiro confirmou, que há um protocolo de relações que estaria acima das diferenças políticas dos governantes dos países, que estabeleceria como algo deve ser tratado em nível militar. Esse sistema também inclui casos ufológicos? O que existe na América do Sul são reuniões realizadas anualmente com membros das forças aéreas do continente. A elas comparecem os comandantes da Aeronáutica de cada país para discutirem diferentes problemas, como de logística, intercâmbio, cursos para pilotos ou para pessoal de terra etc. Nelas também se discutem diversas questões que forças aéreas sul-americanas têm e se realiza troca de dados e informações. A coordenação das aeronáuticas amigas permite o melhor aproveitamento dos recursos de cada uma. Nessas reuniões também se pode discutir o tema ufológico, e não nego isso, mas não me consta que ele esteja na pauta de discussões como algo oficial. O assunto pode estar, entretanto, na agenda de diferentes comandantes dos países participantes.
Reuniões militares
O senhor tem conhecimento de alguma reunião em que o tema ufológico foi tratado, pelo menos como tema secundário? Especificamente sobre o assunto, não. Mas posso afirmar que há reuniões de comandantes das forças aéreas do continente, às vezes no Uruguai, no Brasil ou na Argentina, para se estabelecer coordenadas de trabalho ou novas rotas aéreas que atravessam diferentes países, e examinar quais serviços uma nação pode oferecer às outras, desde combustível, novos aeroportos, serviços em terra, aeronaves militares de apoio etc. São todas reuniões de trabalho e coordenação entre as forças aéreas, para que possam trabalhar de forma conjunta na América do Sul, mas isso é de conhecimento público e geralmente se informa os resultados à imprensa.
Perfeito. Os militares brasileiros já fizeram alguma requisição ou consulta à Cridovni sobre casos ufológicos, seja de forma oficial ou extraoficial? Desde que estou na Comissão, há 20 anos, não me consta que o seu governo tenha nos consultado sobre qualquer questão ufológica. Eu sim, pessoalmente, em algumas comemorações do Dia da Força Aérea, aqui no Uruguai, quando se faz uma reunião com todos os agregados militares de outras nações operando no país, tive a oportunidade de trocar ideias sobre a questão com membros da Aeronáutica Brasileira. Mas foram apenas conversas para eu saber se havia alguma nova experiência lá ou se já estaria funcionando alguma comissão oficial para tratar do tema no Brasil — mas isso nunca me foi confirmado.
E quanto à Força Aérea Norte-Americana (USAF), assim como a Russa, a Francesa, a Inglesa ou qualquer outra? A Cridovni já recebeu alguma requisição ou consulta sobre casos ufológicos dessas nações? Não, nunca tivemos intercâmbio de informações com elas e não tenho conhecimento de que qualquer uma dessas forças aéreas tenha se interessado pelo nosso trabalho.
O senhor conhece algum grupo semelhante à Cridovni que esteja lidando oficialmente com o Fenômeno UFO em outra nação do mundo? Sim, temos no Chile o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA) e no Peru a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA), essa que me parece ser apenas um escritório. E sei também que há um grupo ou departamento na Força Aérea Equatoriana (FAE) dedicada à questão. Fora essas, sei que foram abertas comissões de trabalho nos Estados Unidos, como o Relatório Condon e o Projeto Blue Book, mas foram fechadas em seguida. Tudo isso está em livros e revistas. Mas, em atividade permanente, a única que existe no mundo, nesse momento, é a nossa Comissão. Outras foram abertas antes e depois dela, mas já estão encerradas. No caso do CEFAA ou da OIFAA, parece-me que foram instaladas e funcionaram por algum tempo, e depois deixaram de operar ou tiveram seu trabalho interrompido. Isso é diferente do que ocorre no Uruguai, onde a Comissão está com 32 anos de existência ativa e ininterrupta.
Desde que estou na Comissão, há 20 anos, não me consta que o Governo Brasileiro tenha nos consultado sobre qualquer questão ufológica. Eu sim, pessoalmente, em algumas comemorações do Dia da Força Aérea, aqui no Uruguai, quando se faz uma reunião com todos os agregados militares de outras nações operando no país, tive a oportunidade de trocar ideias sobre a questão com membros da Aeronáutica Brasileira
Certamente, é um feito, pelo qual a Cridovni merece nossos parabéns. Mas, diga, por favor, se é verdade que a sua entidade elaborou um modelo de trabalho de pesquisas ufológicas e o levou para instruir militares de outras nações? Parece que a OIFAA foi criada em cima do modelo desenvolvido por vocês? Isso ocorreu no Chile. Quando se criou o CEFAA, uma delegação da Força Aérea Uruguaia (FAU) foi a um evento internacional de aviação realizado naquele país — a Feira Internacional do Ar e do Espaço (FIDAE) — e ali eu tive a oportunidade de contatar o general Ricardo Bermúdez e o senhor Gustavo Rodriguez, que estão à frente da entidade de pesquisa ufológica chilena. A eles fiz a apresentação de como a Cridovni trabalhava no Uruguai, e também lhes entreguei um pequeno livro sobre como aplicamos um sistema que desenvolvemos para avaliar casos ufológicos. Ainda lhes ofereci uma série de conselhos e recomendações para que pudessem levar a cabo seu trabalho. Se você observar como está estabelecido o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA) e a forma como trabalham, verá que tem operações praticamente idênticas às que fazemos na Comissão.
Reconhecimento internacional
É a Cridovni fazendo escola, coronel… Sim, e tenho o orgulho de ter escutado do próprio general Bermúdez um agradecimento pelo apoio que a Comissão lhe ofereceu para que pudesse criar uma entidade similar de pesquisas ufológicas no Chile. Ele também já manifestou sua gratidão de forma pública em várias ocasiões.
E sobre o que acontece no Brasil, vocês têm informações se nossos militares investigam ou não o assunto oficialmente? Não. Oficialmente, não temos nada da Força Aérea Brasileira (FAB). A única coisa que sabemos é que alguns civis pediram a desclassificação de seus arquivos ufológicos secretos, através do grupo que você integra, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), para buscar que o tema seja tratado com mais transparência no Brasil.
Sim, a FAB realizou uma desclassificação de documentos secretos — creio que a primeira no continente — e hoje temos liberados arquivos dos anos 50 até 2010, que se encontram disponíveis ao público no Arquivo Nacional, em Brasília. Sim, disso estamos sabendo através de informes anteriores e da conferência que você realizou em nosso congresso, durante o qual gentilmente nos ofereceu um CD com cópia de todo esse material já liberado pela FAB.
O senhor também sabe que parte das reivindicações da CBU é de que a FAB estabeleça uma comissão mista, civil e militar, para pesquisa ufológica, aproximadamente nos moldes da Cridovni? Apesar da abertura ufológica que já conquistamos no Brasil, isso ainda falta ocorrer. O que o senhor pensa da nossa reivindicação? Acho que as forças aéreas de todas as nações do mundo deveriam investigar os UFOs, pois são objetos que estão sobrevoando seus territórios. Ou seja, deveria ser obrigação de todos os países — tenham ou não um órgão como a Comissão — investigar veículos que sejam detectados por radares ou vistos por testemunhas, para saber o que está acontecendo. Isso é o que ocorre aqui no Uruguai, onde, quando os casos relatados têm alto nível de estranheza [Veja a primeira parte da entrevista na edição UFO 185], a Comissão é ativada para analisar as características de voo de tais aparelhos, já que essa não é tarefa dos controladores de tráfego aéreo, que cuidam dos voos regulares que entram ou saem do país.
E por que, em sua opinião, os países relutam em tratar da questão? Bem, na verdade, todos os países do mundo investigam UFOs, mas não como máquinas extraterrestres — o problema é que muita gente pensa que os UFOs têm necessariamente origem extraterrestre. Ora, a maioria das observações resulta em algo identificado, que não é nada extraordinário. Assim, as nações que mantêm seus territórios sob vigilância estão, direta ou indiretamente, investigando UFOs. Elas apenas não os tratam como veículos alienígenas. Existe muita coisa nesse meio que não é real, muitas teorias conspiratórias sobre essa questão.
Controle de tráfego aéreo
A fantasia popular atrapalha as investigações sérias do Fenômeno UFO? Sim. O que podemos dizer é que todas as forças aéreas do mundo controlam o espaço aéreo de seus países, mas o que não se vê ou não se detecta no radar não pode ser investigado. No entanto, com a ajuda dos cidadãos, que recorrem às autoridades quando veem coisas estranhas nos céus, comissões como a nossa podem ser formadas ou ativadas para que investiguem tais ocorrências — e isso pode levar à confirmação de que um UFO pode ser “algo mais”.
E quando isso ocorre, o que fazer com a informação de que algo visto ou detectado tenha uma origem extraordinária? Isso depende de cada órgão, de cada país. Aqui no Uruguai, em nossa Comissão, trabalhamos dando apoio às tarefas de controle de tráfego aéreo que faz a Aeronáutica e também oferecemos subsídios à pesquisa científica da questão. O que temos detectado e visto é um fenômeno que não se comporta de maneira normal. É algo extraordinário — os tais 3% dos quais falamos [Veja a primeira parte da entrevista na edição UFO 185] — que investigamos de forma científica para tentar chegarmos a alguma conclusão sobre sua natureza. E isso é difícil, porque sempre nos faltam provas, comprovações e evidências, pois não podemos repetir esses fenômenos em laboratório. Se pudéssemos, seria muito fácil.
Isso seria o ideal… Sim. Mas, seja como for, todas as forças aéreas do mundo controlam seus céus, e podem também estar registrando UFOs. Muitas coisas podem escapar ao seu controle, mas elas investigam o que podem. Porém, bom mesmo seria se houvesse comissões como a Cridovni em todas as partes do globo, até para trocarmos informações.
Vendo por esse ângulo, coronel, não parece irresponsável que não existam entidades como a Cridovni em outras partes do mundo? Se os UFOs são um fenômeno tão sério, coisa da qual vocês aqui no Uruguai têm plena consciência, e por isso fazem esse trabalho, o mesmo teriam que fazer Argentina, Brasil, Bolívia, Peru, México, Estados Unidos, todos os países, enfim… Acho que muitas dessas nações estão fazendo suas pesquisas, apenas não as tornam públicas. Aliás, elas não têm porque anunciar que estão investigando um fenômeno desconhecido em seu espaço aéreo, porque poderiam interferir em outras áreas. Não se esqueça de que países como os Estados Unidos, França, Russia etc, são nações envolvidas em uma corrida armamentista militar diferente da que estão os nossos países, aqui no continente. Eles podem estar desenvolvendo veículos com tecnologia aeronáutica ainda desconhecida, que as pessoas veem e pensam que são UFOs, e isso pode atrapalhar tais experimentos. Há muita concorrência entre tais nações. Nos Estados Unidos, por exemplo, há empresas de desenvolvimento aeroespacial que têm novos protótipos de aeronaves, tanto comerciais como militares, ou protótipos de satélites e foguetes que estão competindo com companhias de outros países.
O senhor acredita que uma parte das observações ufológicas tenha origem em testes militares? Sim, pode acontecer de as forças aéreas que operam em conjunto com empresas civis no desenvolvimento aeroespacial não tenham interesse em tornar público que estão lançando um novo tipo de foguete propulsor de satélites, por exemplo, algo com tecnologia diferente da que podem ter as companhias concorrentes. Por isso, faltam informações para avaliarmos muitos casos ufológicos. Uma testemunha que viu algum tipo de foguete desconhecido no céu pode achar que era uma nave extraterrestre — e se for divulgado o que ela realmente viu, a concorrência pode pesquisar ou copiar o novo veículo. Temos aí um problema de natureza econômica. E veja que mesmo países como Brasil, Argentina e Chile estão em uma corrida aeroespacial.
O Fenômeno UFO ocorre no Uruguai da mesma forma como em todo o mundo, e os governos e suas forças aéreas — especialmente do nosso continente — deveriam estar mais interessados em trocar informações a respeito. Ou, pelo menos, instituições como Cridovni, CEFAA e OIFAA deveriam ter contato mais firme entre si para intercambiar dados para benefício de todos. O que o senhor acha? Acho que temos alguma coisa positiva quanto a isso. Tenho falado regularmente com os amigos peruanos e chilenos — especialmente o comandante Julio Chamorro, da OIFAA [Consultor da Revista UFO], e o general Ricardo Bermúdez, do CEFAA — sobre fazermos reuniões para tratar do problema. Também discutimos formas de motivar outros países para que se unam a nós nesse esforço, criando comissões dentro de suas forças aéreas para todos podermos trabalhar de forma conjunta com o fenômeno — que, como você bem disse, ocorre em todo o mundo por igual. Seria interessante fomentar isso e eu já propus tais coisas, mas a questão é se as propostas vão encontrar receptividade nas demais nações e se elas vão incorporar a questão ufológica ao trabalho de suas forças aéreas. Seria muito importante que o tema fosse tratado nas reuniões que elas realizam anualmente.
Acho que muitas nações estão fazendo suas pesquisas do Fenômeno UFO, apenas não as tornam públicas. Aliás, elas não têm porque anunciar que estão investigando um fenômeno desconhecido em seu espaço aéreo, porque poderiam interferir em outras áreas (…) Tenho falado regularmente com os militares de outros países sobre fazermos reuniões para tratar do problema
A Cridovni ou a Força Aérea Uruguaia (FAU) estaria interessada em propor isso de forma oficial a outros países? Na verdade, já propus isso em congressos de que participei no Chile e na Argentina. Já mencionei várias vezes as vantagens de podermos trocar informações e, como disse, também mandei nosso sistema de trabalho à comissão de pesquisas ufológicas chilena, que o passou à peruana — e parece que a equatoriana também trabalha com os mesmos métodos que elaboramos. O que quero dizer é que já houve um eco ao trabalho que realizamos, e isso nos interessa, pois talvez assim cheguemos a conclusões mais rápidas sobre esse fenômeno. Trabalhando juntos, nosso banco de dados será maior e nosso intercâmbio e diálogo com outros grupos também será mais amplo. Daí, creio que poderemos chegar a algumas respostas sobre o tema.
Registros de UFOs por pilotos
No Brasil, há anos, quando é feita uma observação ufológica por um piloto — seja civil ou militar, brasileiro ou mesmo estrangeiro, mas que esteja voando em nosso país —, ele é obrigado a preencher um formulário próprio que está disponível nos centros de controle de tráfego aéreo de nossos aeroportos, que se encarregarão de encaminhá-lo ao Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), em Brasília. Pelo menos em teoria, pois muitos decidem não registrar oficialmente o fato. Existe algo assim no Uruguai? Aqui, quando um piloto civil ou militar tem algum incidente em voo, seja de que tipo for, ele tem a obrigação de informar o fato aos órgãos aeronáuticos — e existe um formulário próprio para se relatar incidentes ocorridos no âmbito da Aeronáutica civil. Os pilotos devem registrar ocorrências que tenham colocado em risco a operação de suas aeronaves. É dessa forma que acabamos recebendo relatos de muitos deles com descrições de avistamentos de estranhos objetos. Ontem mesmo, ao ir ao Aeroporto de Carrasco, aqui em Montevidéu, encontrei um amigo comandante da companhia Pluna que me relatou um avistamento que teve em voo. Eu já formalizei um pedido de mais detalhes do fato. Os pilotos geralmente colaboram com nosso trabalho e nos enviam seus relatos, mas é claro que há aqueles que preferem não informar nada — e assim nunca sabemos de ocorrências ufológicas que poderiam ser pesquisadas.
Um Sioani modernizado
No Brasil, em 1969, tivemos uma comissão oficial de pesquisas ufológicas chamada Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), uma corporação semelhante à Cridovni, porém com estrutura maior, já que o país é maior e há mais casos para investigar. O Sioani tinha membros civis e militares fazendo o mesmo que vocês fazem no Uruguai, mas fechou no começo dos anos 70. Desde então, não há mais nada oficial em andamento no país para pesquisar discos voadores. O senhor sabia disso? Sim. Acompanhei um pouco a trajetória do Sioani e lamento que tenha fechado, mas, pelo que eu soube, a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já quer reabrir a entidade modernizada [Veja edições UFO 156 e 158, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
Sim. O movimento obteve até agora a liberação de documentos secretos dos anos 50 até 2009. Porém, algo importante ocorreu em agosto de 2009, quando o comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o brigadeiro Juniti Saito, expediu determinação para que todos os casos ufológicos registrados pela arma — especialmente relatados por pilotos — sejam enviados ao Arquivo Nacional, em Brasília, para conhecimento público. É uma grande inovação, mas o problema é que Saito não mencionou se, no processo, irá mandar investigar tais casos, o que gerou dúvida entre os ufólogos brasileiros. O senhor acredita ser possível que episódios envolvendo aviões comerciais com 100 ou 200 pessoas a bordo sejam apenas registrados pela Aeronáutica, mas não investigados? Bem, não conheço os procedimentos internos adotados pela FAB, e então não posso opinar sobre isso. Mas me parece que, se a arma estiver recebendo relatos de avistamentos ufológicos, eles devem passar por alguma investigação, e só então os resultados devem ser enviados ao Arquivo Nacional para que as pessoas possam tomar conhecimento dos fatos. Não acho que a FAB deva receber tais registros para não investigá-los — ainda que enviar tais casos ao Arquivo mostre certa transparência nos seus atos.
A determinação do brigadeiro Saito causou estranheza a todos, primeiro devido à sua própria natureza e ineditismo, e depois porque não deixou claro o que vai acontecer com os relatos recebidos. Afinal, estamos falando de aviões comerciais repletos de passageiros e em rota entre grandes cidades, que podem ter tido contato com UFOs. São fatos muito sérios para que a FAB não abra uma investigação a respeito. O que pode estar acontecendo é que talvez os relatos vindos de aviões comerciais tenham sua investigação feita pela aviação civil. Parece que no Brasil, tanto quanto no Uruguai, a aviação comercial é independente da Força Aérea, certo? Nesse caso, é possível que o meio aeronáutico civil se incumba desses casos. Há países em que os avistamentos aéreos não são investigados pelos militares, mas por civis. O Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA), por exemplo, está alojado na estrutura da Escola Técnica da Aeronáutica, que pertence à Direção Nacional de Aviação Civil chilena, e não à Força Aérea. Talvez o Brasil esteja fazendo a mesma coisa. Já no Uruguai é diferente: a Comissão depende diretamente do comando da Força Aérea. Isso deve ser levado em conta. Talvez no Brasil os relatos vindos de pilotos civis estejam sendo encarados pelo meio aeronáutico civil.
Creio que a tarefa de investigar tais casos aeronáuticos, sejam eles relatados por civis ou militares, teria que ser da Força Aérea de cada país, como ocorre no Uruguai, e assim deveria ocorrer também no Brasil. Até porque, até onde sabemos, a aviação civil não tem nenhum departamento de investigação de casos ufológicos no país. Sim, teria que ser uma responsabilidade militar, mas em certos países, como o Chile, por exemplo, não é assim. Pode ser que, no futuro, haja um departamento em seu país que se envolva com o tema. Não sei se terá natureza militar ou civil.
Esse é nosso objetivo principal, que esperamos ver atingido em breve através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já — coisa que já nos foi prometida. E se ocorrer, será muito importante que vocês, da Cridovni, por terem tanta experiência acumulada, venham ao Brasil apresentar seu modelo de trabalho e nos demonstrar como o realizam no Uruguai, pois o fazem de maneira exemplar. Será um prazer. As tarefas de investigação ufológica que realizamos são muito simples e, creio, muito lógicas também. Seguimos um padrão, um protocolo de investigação, e mais nada — não inventamos nada exótico. O que fizemos aqui, no começo, foi pegar a tabela de classificação de casos ufológicos de J. A. Hynek, que lida com o “nível de estranheza” de uma ocorrência e o “nível de credibilidade” das testemunhas, e a modificamos e ampliamos para adaptá-la às nossas necessidades [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185].
As tarefas de investigação ufológica que realizamos são muito simples e, creio, muito lógicas também. Seguimos um padrão, um protocolo de investigação, e mais nada — não inventamos nada exótico (…) Graças à Revista UFO, temos um conhecimento muito amplo dos casos brasileiros — e, em particular, o que mais me interessa, da Operação Prato. Essa me parece uma situação muito impactante
Perfeito. Agora, coronel, gostaria de saber que conhecimento o senhor e sua equipe têm a respeito da Ufologia e dos casos brasileiros, como a Operação Prato, o Caso Varginha, a Noite Oficial dos UFOs e outros? Graças à Revista UFO, temos um conhecimento muito amplo desses acontecimentos — e, em particular, o que mais me interessa, da Operação Prato, de 1977. Essa me parece uma situação muito impactante. Dos casos mais emblemáticos e que se tornaram consagrados no Brasil, como a Noite Oficial dos UFOs, Varginha e um outro que não me recordo nesse momento, creio que a Operação é o episódio mais importante, por todo seu desenvolvimento, a forma como a população local foi afetada pelos objetos não identificados, os ataques às vítimas — inclusive por envolver a morte de quatro pessoas durante a onda chupa-chupa naquelas regiões [Veja edições UFO 114 a 117, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br]. Esse é um caso de cuja investigação eu gostaria de ter participado.
Ataques por extraterrestres
Creio que também teria sido uma satisfação ao coronel Uyrangê Hollanda, comandante da Operação Prato, que o senhor o tivesse acompanhado nas investigações. Teria sido uma honra e um prazer para mim, porque realmente seu trabalho foi muito importante.
E por falar nisso, já houve algo semelhante à onda chupa-chupa ou à Operação Prato no Uruguai? Um período de grande atividade ufológica, em que tivessem sido registrados até ataques por extraterrestres, seguido de uma investigação oficial? Não, nada semelhante à onda chupa-chupa e nem à Operação Prato ocorreu por aqui. Aliás, em linhas gerais, tomando os 3% de todos os casos ufológicos que investigamos, aqueles 40 casos que não podemos explicar [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185], podemos deduzir que o fenômeno não demonstra agressividade em nosso país.
Não há nenhum caso de ataque a pessoas por objetos não identificados ou seres estranhos no Uruguai? Exceto um ou dois acontecimentos, não há nada assim aqui. Lembro-me de um caso em que uma grande esfera apareceu à noite para uma pessoa que vinha caminhando, que a descreveu como um pequeno Sol. O observador ficou muito queimado, como se tivesse sido exposto ao Sol durante algumas horas ou dormido na praia. Sua pele ficou bem bronzeada, escura mesmo. Esse é um dos poucos casos ocorridos aqui em que alguém saiu afetado.
Casos de queimaduras provocadas pela luminosidade de discos voadores são comuns em todo o mundo, mas no Uruguai só houve esse? Ah, houve outro episódio em uma fazenda da região de Aurora, no interior do país, que também foi emblemático. Mas ele não foi investigado pela Comissão, que não existia naquela época, e sim por grupos civis — que depois cederam seus arquivos para nós. O dono da propriedade também relatou ter ficado com algumas queimaduras, como se tivesse sido exposto ao Sol durante bastante tempo. Ele disse que isso ocorreu devido a um raio emitido de uma suposta nave, que também teria atingido uma árvore e matado um touro, um cão e vários animais. Esse é outro caso de que lembro em que pessoas foram afetadas. Mas, de qualquer forma, o Fenômeno UFO — pelo menos aqui no Uruguai — demonstrou ser inofensivo para as pessoas.
E casos mais extremos, como de abduções alienígenas e implantes? Há ocorrências ufológicas assim em seu país? Sim, em baixa porcentagem, mas aqui também há casos desse tipo. Temos uma variedade de acontecimentos como às vezes encontramos nas séries de TV, tal como Arquivo-X. Há aqui relatos de abduções e casos de pessoas que dizem ter implantes em seus corpos. Inclusive, há uma testemunha recente que alega ter uma dessas peças — ainda não foi possível marcar uma pesquisa com ela, mas estamos para fazer uma análise do local onde ela diz que o implante estaria. O cidadão já afirmou que não há problema algum que façamos uma radiografia ou uma ecografia em sua perna, onde estaria o tal objeto, e estamos nos preparando para realizar tais procedimentos. Essas coisas sempre exigem cautela, pois há leis rigorosas em nosso país. Na hora de pedir um exame médico, é preciso ter certa segurança do que se procura, para que mais tarde não haja nenhum problema legal.
E os casos de abdução, como são? Bem, sobre esse gênero de ocorrências temos recebido alguns relatos. Há, inclusive, o caso de uma pessoa que, dormindo com sua esposa, à noite, acordava e de repente tinha seu corpo enrijecido, e então via surgir seres como os clássicos grays [Cinzas] ao seu redor. Ela diz sentir, nessa hora, como se alguma coisa fosse introduzida em seu tórax e abdome, algo que dói e que a faz querer gritar, mas ela não consegue. Eu investiguei esse caso pessoalmente, falando com a testemunha e com a família separadamente. O que podíamos fazer, além disso, era tentar uma regressão hipnótica, mas ela não foi autorizada pela pessoa e o caso acabou arquivado.
Nada semelhante aos ataques da onda chupa-chupa brasileira ocorreu no Uruguai. Aliás, em linhas gerais, podemos deduzir que o fenômeno não demonstra agressividade em nosso país
A testemunha não aceitou ser submetida a uma regressão hipnótica? Por quê? Não, não aceitou. Nós nos propusemos a fazer isso com todas as garantias, mas ela ainda assim não aceitou. E como não tínhamos evidências muito contundentes de que fosse uma abdução de fato, exceto pelo relato da pessoa — tanto sua esposa como os filhos nunca notaram nada estranho na casa que pudesse indicar algo desse tipo —, arquivamos. O melhor seria se pudéssemos ter feito a regressão para tentarmos encontrar algo mais.
Regressão hipnótica
Em casos em que regressões são necessárias, a Cridovni também está preparada para realizá-las? Vocês têm profissionais para isso? Sim, temos médicos, psiquiatras e psicólogos que podem desempenhar esse trabalho e nos dar uma opinião profissional sobre tais casos. Mas, até agora, não fizemos nenhuma regressão hipnótica em ocorrências ufológicas que nos foram informadas. Não tem havido registro de casos que tenham necessidade de ser pesquisados com essa técnica, mas temos recebido relatos de pessoas que dizem ter estado dentro de naves. Recordo-me de um em que uma menina estava em uma festa na casa de uns amigos e se afastou dali brincando de esconder, indo para um terreno baldio, e voltou dizendo ter entrado em um aparelho que estava estacionado ali. A jovem afirmou que viu alguns seres naquele local e que eles a convidaram para ver a nave por dentro, acompanhando-a até lá. Mas depois ela ficou com medo e desceu as escadas pelas quais havia subido e dirigiu-se a casa onde ocorria a festa de aniversário.
E o que aconteceu em seguida? Como a Cridovni tratou desse caso? Bem, a menina então contou o que se passara para sua mãe e a família inteira saiu para ir ao terreno ver a tal nave, mas ninguém encontrou qualquer coisa ali. Nós fomos informados do fato e nos deslocamos até o local, mas também não achamos marcas que corroborassem a história da jovem. Daí, fizemos um estudo psicológico dela, com autorização dos pais, para termos ideia da veracidade de seu relato, mas igualmente não encontramos nada que confirmasse o que a menina contou. Temos um staff na área de psicologia e psiquiatria que nos apoia nesse tipo de trabalho, para sabermos se estamos ou não diante de uma testemunha confiável.
A Cridovni tem algum protocolo ou procedimento já estabelecido para o caso de abduções alienígenas, se for necessário? Não temos um protocolo exclusivamente para abduções, mas seguimos o procedimento normal de investigação quando há relatos desse tipo. Primeiramente, pedimos à testemunha que faça uma entrevista com psicólogos que indicamos, que lhe fazem uma série de perguntas, e avaliamos o resultado a que eles chegam. Às vezes encontramos pessoas que estão psicologicamente desequilibradas, e nossos profissionais detectam isso. Mas, em muitas ocasiões, concordamos com eles quando um caso merece ser investigado.
Ainda nessa linha de casos extremos, há no Uruguai ocorrências mais controversas estudas pela Cridovni, como de contatados, pessoas que dizem estar em sintonia com extraterrestres quando querem? A Comissão tenta não estimular nem desestimular essas crenças, como já disse anteriormente — as pessoas são livres para fazer a afirmação que quiserem. Mas realizamos um trabalho profissional para ver qual a porcentagem de verdade que pode existir em tais afirmações. E eu diria que, em 99,9% dos casos, o que está sendo afirmado não corresponde à realidade. Ou seja, até agora ninguém que tenha se apresentado a nós como contatado demonstrou ter de fato tal capacidade. Percebemos, no entanto, que essas pessoas parecem ter uma sensibilidade diferente, um comportamento distinto das demais. São até muito boas, mas, nesse ponto, estão fora da realidade. Pelo menos cientificamente não se pode comprovar que o que afirmam seja verdade.
Temos médicos, psiquiatras e psicólogos na Cridovni que podem nos dar uma opinião profissional sobre casos de abduções. Mas, até agora, não fizemos nenhuma regressão hipnótica em ocorrências ufológicas que nos foram informadas. Não tem havido casos que necessitem ser pesquisados com essa técnica, mas temos recebido relatos de pessoas que dizem ter estado dentro de naves espaciais
Há algum tempo a Cridovni recebeu um complemento, uma organização paralela chamada Centro Regional Investigador de Fenómenos Aeroespaciais e Terrestres (Crifat). Com que objetivo ela foi criada? Essa foi uma ideia minha. Meu objetivo era criar um grupo de pesquisas que atuasse em toda a América Latina e que reunisse as demais entidades do gênero — como a Associação Uruguaia de Futebol, por exemplo, que agrupa todas as equipes dedicadas ao esporte no país, ou a FIFA, que reúne todas as seleções de futebol do mundo. Mas pretendíamos fazer isso com âmbito regional, no continente.
Um grande banco de dados
E como a Crifat foi implantada? Teve sucesso em seu funcionamento? Já tratei do assunto com alguns amigos da Argentina e Chile, assim como falei com você sobre a ideia de formar esse centro regional na América do Sul, que pudesse coletar informações de casos ufológicos e também disseminar tais dados entre todos seus membros. A ideia era de se criar um grande banco de dados em benefício de todos. Mas acabou sendo difícil fazer com que os grupos convidados adotassem o nosso sistema de trabalho, que é semelhante ao que a Comissão usa. Veja que o próprio nome da entidade — Centro Regional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres — já define que suas operações visam tratar da fenomenologia ufológica ocorrida no céu, em terra ou na água. O objetivo inicial era atrair grupos do Uruguai, Argentina, Chile e Brasil para atuarem segundo uma mesma linha de trabalho — e seus resultados poderiam ser usados pela Comissão.
E qual seria a razão de o método de investigação ufológica da Crifat ser adotado pelas demais entidades que a ela se associassem? As vantagens são muitas, entre elas termos uma padronização de métodos. Por exemplo, não sei se o sistema usado no Brasil pode ser compatível com o nosso, e assim, quando algum grupo em seu país me enviar um caso para que eu dê minha opinião, não saberei avaliá-lo devido à diferença entre os métodos empregados. Mas se tivermos todos usando os mesmos procedimentos, teremos uma base de dados padronizada e mais facilmente examinável — ou seja, estaremos “falando o mesmo idioma” em matéria de investigação ufológica.
Isso não será tarefa fácil… Não, não. Reconheço que tal objetivo é bastante difícil de ser atingido, porque na América do Sul temos grupos que encaram a fenomenologia ufológica de formas muito diferentes. Alguns o fazem sob o ponto de vista científico, outros de maneira esotérica ou espiritual, e há ainda outras linhas de pensamento — como os grupos de contatados, a exemplo do Rama [Entidade criada pelos peruanos Carlos e Sixto Paz nos anos 70, difundida em todo o mundo e praticamente extinta. No Brasil, converteu-se em Projeto Amar e está fechado], que não fazem investigação e apenas afirmam estar em sintonia com outras espécies cósmicas.
A ideia da Crifat é excelente, mas implementá-la será um trabalho hercúleo… Sim, mas os benefícios seriam inúmeros, além dos que já descrevi. Usando o mesmo sistema de avaliação de casos ufológicos, podemos todos trabalhar de forma conjunta, o quem representa até mesmo menos gastos. Os resultados, por outro lado, podem ser espetaculares. Teremos condições de analisar muito mais ocorrências e ter com mais precisão informações sobre a fenomenologia que se apresenta, tais como formas, cores, movimentos, trajetórias, comportamentos etc de discos voadores pesquisados com um mesmo sistema. Assim, hipoteticamente, poderíamos dizer: o Fenômeno UFO se manifesta dessa maneira em determinada época do ano, fazendo-o com esse comportamento, apresentando tais formas e cores etc. De outra maneira, como poderíamos saber se tais objetos têm as mesmas características no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile, se não temos um banco de dados único?
Realmente, isso seria excelente. E mais ainda em nível mundial, caso se conseguisse que um expressivo número de entidades de pesquisas ufológicas em todo o globo aderisse. Essa foi, aliás, uma tentativa que teve Hynek nos anos 80, mas que não funcionou. Sim, seria. Mas sigo tentando estabelecer a Crifat dentro dos objetivos propostos inicialmente. Não desisto.
Perfeito, coronel. Voltando agora à casuística ufológica, o senhor comentou [Veja a primeira parte da entrevista, na edição UFO 185] que, durante a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em maio de 1986, houve troca de informações entre a Cridovni e a Força Aérea Brasileira (FAB). Como ocorreu isso? Naquela época eu estava trabalhando nos radares do centro de controle de tráfego aéreo uruguaio e soube dos fatos relativos àquela ocorrência em seu país. A Comissão levantou informações sobre o acontecido no Brasil porque aqui no Uruguai também tivemos avistamentos na mesma época — como o caso dos aviões Pucará — e queríamos comparar os dados brasileiros com os nossos. Entre eles, em especial, se o que foi avistado pelos pilotos de seu país era o mesmo que fora testemunhado pelos daqui, e descobrimos que algumas peculiaridades de ambas as ocorrências eram similares — nos dois casos foram avistadas esferas luminosas. O que chamou muito nossa atenção foi que a Aeronáutica brasileira perseguiu uma frota de UFOs sobre a Região Sudeste, especialmente sobre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Como a Cridovni obteve informações sobre a Noite Oficial dos UFOs no Brasil para comparar tal acontecimento com os uruguaios? Na ocasião, o coronel Eduardo Aguirre, que foi o primeiro presidente da Comissão, fez algumas consultas ao adido militar do consulado brasileiro em Montevidéu, um representante da sua Força Aérea. Também houve muita informação divulgada pela imprensa dos dois países, da qual pudemos tirar alguma informação. Fomos muito bem atendidos e recebemos dados bem úteis da FAB, que nos permitiram ver que algo similar à noite oficial ocorreu aqui do lado uruguaio. Não sei se foram os mesmos objetos os observados, mas eram bem similares quanto à forma, suas cores e luminosidade.
Quantidade e qualidade
À frente de um órgão oficial de pesquisas ufológicas, como a Cridovni, o senhor percebeu se houve recentemente algum aumento no número de ocorrências, em termos globais? O que me parece ter acontecido foi um aumento na quantidade de informação sobre o tema. Hoje, graças aos meios de comunicação e à internet, contamos com muito mais dados do que antes. Podemos, por exemplo, conhecer em tempo real detalhes de uma ocorrência de avistamento na Europa, se ela é registrada pela mídia e pela rede mundial. Já no Uruguai houve uma diminuição do número de relatos de novos casos, ao passo que aumentou sua qualidade. Se antes havia 100 relatos por ano, agora temos 30 ou 40, mas são mais elaborados e completos — hoje, o cidadão, ao ver um objeto que não conhece, já descarta a possibilidade de ser um satélite, avião ou qualquer outro fenômeno atmosférico ou meteorológico.
O que o senhor espera para o futuro da Ufologia, digamos em 10 ou 20 anos? O fenômeno irá aumentar em intensidade, a pesquisa estará em um estágio mais avançado? Que quadro, enfim, o senhor imagina que teremos? Pelo que temos visto nesses últimos 30 anos, penso que no futuro a qualidade dos relatos que receberemos vai melhorar ainda mais, que é o que já estamos vendo. Se você tivesse feito essa pergunta em 1979, quando a Comissão foi inaugurada, talvez eu tivesse dito que as pesquisas e investigações iriam continuar à espera de algo novo, ou talvez que a quantidade de relatos aumentaria. No entanto, o que vemos é que aumentou sua qualidade, não quantidade — e acho que dentro de uma ou duas décadas ela será ainda maior e teremos algo mais definido quanto ao fenômeno. Esse é meu prognóstico. Talvez tenhamos a sorte de encontrar alguma civilização extraterrestre inteligente em 10 ou 20 anos. Tomara!
O senhor acredita que a inteligência que está por trás do Fenômeno UFO, seja ela de natureza extraterrestre, ultraterrestre ou qualquer outra, está tentando se aproximar de nós com algum propósito específico? É difícil ter certeza, mas penso que sim. Essa é uma das minhas hipóteses para explicar a fenomenologia, algo relacionado a extraterrestres. Mas, ao passo que não posso descartar essa ideia, também não posso assegurar que estejamos sendo visitados por outras inteligências. De maneira lógica, a possibilidade existe. Acho que assim como vários países estão enviando sondas espaciais para explorar o Sistema Solar, uma civilização igual à nossa — e não precisa ser superior, apenas igual à nossa — também pode estar enviando seus aparelhos para cá. Talvez alguma raça vivendo em um sistema planetário vizinho esteja enviando sondas em nossa direção, para fotografar e explorar a Terra e os diferentes planetas do Sistema Solar. Por que não?
Quem sabe tal civilização seja mais adiantada do que a terrestre… Sim, e se for mais adiantada, poderia enviar até tripulantes em tais aparelhos. Mas, não pensemos que sejam mais adiantadas, pelo menos por enquanto. Pensemos apenas que sejam outra semente de vida que caiu em um sistema planetário vizinho ao nosso, e que envia somente sondas robóticas para cá, tais como as nossas enviadas para o espaço. Apenas isso já seria algo extraordinário.
Sobre nossos possíveis vizinhos cósmicos, o que o senhor pensa das declarações feitas recentemente por Stephen Hawking, cientista reconhecido em todo o mundo, que disse que, se extraterrestres vierem à Terra, poderemos ter uma surpresa bem desagradável? Quando se ouve alguém como Hawking dizer que temos que ter cuidado quando nos encontrarmos com uma civilização superior à nossa, logo se pensa: bem, ele deve saber de algo que nós não sabemos — Hawking não faria uma afirmação dessas sem alguma base sólida. Mas o que ele diz é certo. Veja o exemplo do contato que os espanhóis tiveram com as civilizações indígenas aqui da América do Sul, na Idade Média: a experiência foi bastante ruim para os primitivos, não é verdade? Como se sabe, uma civilização mais poderosa e avançada, como era a europeia daquela época, se comparada às nações indígenas que aqui havia, ao se aproximar de uma mais fraca e despreparada, tende a aniquilar essa última. Isso ocorreu aos incas, aos maias e aos astecas, por exemplo.
Pelo que temos visto nesses últimos 30 anos, penso que no futuro a qualidade dos relatos ufológicos que receberemos vai melhorar ainda mais, que é algo que já estamos vendo (…) Esse é meu prognóstico. Talvez tenhamos a sorte de encontrar alguma civilização extraterrestre inteligente em 10 ou 20 anos. Tomara!
Podemos de fato estar em risco caso outras espécies cósmicas venham até aqui? Creio que o que Hawking disse foi que o contato com uma civilização superior a nossa, que possa vir até aqui em busca de certos recursos naturais, que talvez lhes faltem, pode ser algo perigoso para a humanidade. Mas, na verdade, isso dependerá do objetivo que efetivamente tenham. Pode ser que venham em busca de algum conhecimento científico que detenhamos, ou de aprendizagem em técnicas de colonização…
Mudança de postura da Igreja
E quanto ao que afirmou o monsenhor José Gabriel Funes, astrônomo oficial do Vaticano, o que pensa? Ele disse em 2008 que os extraterrestres existem e são nossos irmãos, e que não reconhecer a existência de outras espécies mais adiantadas no universo é o mesmo que menosprezar a capacidade criativa de Deus. Bem, essa é uma apreciação do Fenômeno UFO bem distinta da de Hawking, embora ambas sejam ideias bastante impactantes. Acho que o que disse o astrônomo do Vaticano, de que outros seres seriam como nossos irmãos, reflete a postura atual da Igreja em relação à possibilidade real de que não estamos sozinhos. É uma atitude prudente até mesmo para cientistas — que não trabalham no mundo das religi&ot