O Diálogo Aberto desta edição traz uma entrevista exclusiva com um notável investigador cubano residente nos Estados Unidos, onde é diretor do Miami UFO Center (MUFOC), uma entidade sem fins lucrativos criada em 1976, na Flórida, para investigar o crescente número de ocorrências ufológicas que estavam sendo registradas em todo o estado norte-americano no período. Virgilio Sánchez-Ocejo nasceu em Havana, Cuba, em 1936. Completou seus estudos no Colégio La Salle, graduando-se posteriormente em letras no Instituto Havana. Interessou-se pelo Fenômeno UFO no ano de 1956, quando teve seu primeiro avistamento enquanto estudava na Universidade de Havana.
Em 1960 decidiu migrar para os Estados Unidos e, em 1963, inscreveu-se no programa voluntário para cubanos do Exército norte-americano, servindo no Forte Jackson, Carolina do Sul. Desde que se lançou na pesquisa ufológica, escreveu inúmeros artigos em inglês e espanhol sobre o tema para revistas de vários países, incluindo Espanha, Argentina, Chile e Brasil. O especialista participou de diferentes programas de rádio e televisão sobre o assunto, tanto em espanhol quanto em inglês, apresentando suas informações sobre a presença alienígena na Terra. Por vários anos Sánchez-Ocejo produziu um programa para uma rádio local de Miami chamado Buscando Respostas, no qual coletava dados de avistamentos ufológicos de imigrantes cubanos — foi neste período que se teve ideia de quão rica e diversificada era a casuística ufológica do país dos irmãos Castro.
Em 1974 Sánchez-Ocejo participou do Primeiro Congresso Mundial de Ufologia, em Acapulco, México, e lá conheceu o pioneiro Joseph A. Hynek, que foi assessor da Força Aérea Norte-Americana (USAF) por 20 anos, atuando inicialmente no Projeto Blue Book e depois fundando um órgão independente de pesquisas, o Center for UFO Studies (CUFOS), do qual Sánchez-Ocejo foi nomeado representante. A amizade entre ambos cresceu e eles viajaram juntos a vários países investigando casos ufológicos, inclusive de abduções, além de participarem de vários congressos até o falecimento de Hynek, em 1986. O entrevistado também participou como associado do Unicat, um banco de dados ufológicos criado pelo próprio Hynek e levado adiante pelo seu assessor, o doutor Willy Smith, até a morte deste, em 2006.
Membro de entidades decanas
Nomeado representante especial para a América do Sul da Mutual UFO Network (MUFON), Sánchez-Ocejo foi também membro da Aerial Phenomena Research Organization (APRO) e do National Investigations Committee On Aerial Phenomena (NICAP), todas entidades veteranas de pesquisa ufológica nos Estados Unidos. Ele também atuou como consultor em documentários para a televisão, como A Search for Chupacabras [Uma Busca por Chupacabras], pela rede pública BNN, Chupacabras: Is It Real? [Chupacabras Isto é Real?], para a National Geographic, e The Strangest UFO Stories of All Time [As Mais Estranhas Histórias de UFOs de Todos os Tempos], para o Discovery Channel.
Em seu primeiro livro, UFOs: Contact from Undersea [UFOs: Contato do Fundo do Mar, UFO Photo Archives Editorial, 1982], Sánchez-Ocejo trata da investigação de um caso de abdução ocorrido em Miami que deu a ele amplo reconhecimento dentro desta temática. Já em OVNIs: Lo Físico y Psíquico Del Fenómeno [UFOs: O Físico e Psíquico do Fenômeno, Paperback, 2012], publicado mais recentemente, contém cinco casos de abduções. “Estas entidades, em seu programa de abduções por todo o mundo, manipulam nossa vontade violando nossa liberdade de pensamento e consciência”, afirma.
Ainda há dois anos publicou Las Mascotas de los OVNIs [Os Mascotes dos UFOs, CreateSpace, 2012], no qual detalha casos de centenas de animais que foram atacados por predadores desconhecidos, abordando avistamentos e pousos de UFOs, fenômenos paranormais, relatos de pássaros, seres e animais estranhos, combustão espontânea, poltergeist, homens de preto, entre outros temas. Hoje passa a maior parte do tempo processando relatos de atividades ufológicas, divulgando o Fenômeno UFO e tentando formar uma ligação entre os investigadores de língua hispânica e os norte-americanos. “Minha finalidade é descobrir a essência do Fenômeno UFO”, diz.
Qual é sua definição do Fenômeno UFO?
Esta é a pergunta mais importante que você pode me fazer, obrigado! Em todo estudo científico é necessário começar definindo precisamente o que é que vamos estudar. Este é o primeiro passo que a comunidade científica daria para entrar na área e aceitar a existência de um fenômeno que constitui um desafio a ela própria. Entretanto, o primeiro erro dos ufólogos é adotar uma definição preconcebida para todo o Fenômeno UFO, o que não está certo. Eu compartilho da opinião do doutor J. A. Hynek, que foi o cientista de maior estatura no estudo do tema e que nos deixou em seu legado esta definição: “Um UFO é o relato da percepção no céu ou sobre o solo de um objeto ou uma luz cuja aparência, trajetória, comportamento dinâmico e aspectos luminosos não apenas não encontram explicação convencional e lógica quanto permanece sem identificação técnica usando-se todos os meios disponíveis”.
As mensagens extraterrestres ou sequestros por aliens nos fazem pensar que talvez estejamos frente a um sistema de controle que sutilmente manipula a consciência humana, porque o fenômeno cria distorções em nosso senso de realidade
Podemos falar hoje de um Fenômeno UFO físico e psíquico?
Sim, e foi o mesmo doutor Hynek quem, desde o princípio, ensinou-me que os UFOs têm duas características inseparáveis: uma é seu aspecto físico e a outra, seu aspecto psíquico. Disse-me que não devíamos estudar apenas a parte física ou a psíquica do fenômeno, e deu-me como exemplo um corredor que alcançaria a linha de chegada mais rapidamente se usasse as duas pernas em vez de uma só. Em minhas investigações sempre estudei essas duas características, daí o título do meu último livro, OVNIs: Lo Físico y Psíquico Del Fenómeno. Não é estranho encontrar nos casos que apresento na obra vários fenômenos paranormais, como telepatia, predições, telecinese, poltergeist, curas, levitação, premonições etc. São ocorrências que não podem ser repetidas em laboratório, mas mecanismos que também fazem parte do Fenômeno UFO. Os componentes físico-psíquicos das manifestações ufológicas constituem um sistema de controle e condicionamento da consciência das testemunhas e, assim, da humanidade. O “absurdo” das mensagens extraterrestres ou sequestros por aliens nos faz pensar na ideia de que talvez estejamos frente a um sistema de controle que sutilmente manipula a consciência humana. Digo condicionamento porque o fenômeno tem a habilidade de criar distorções em nosso senso de realidade ou substituí-lo por sensações artificiais. Portanto, o Fenômeno UFO pode influenciar e, de fato, afetar nossas crenças, nossa política, nossa história e nossa cultura.
Mudança científica completa
O que o leva a afirmar isso com tamanha segurança? O que lhe garante isso?
Veja, não quero dizer com isso que estejamos na iminência de uma invasão alienígena, porque estas inteligências facilmente já o teriam feito, mas sim que elas têm um sistema que atua nos humanos e o usam efetivamente. Acredito que o próximo passo da humanidade seja uma mudança científica completa das nossas atitudes sobre o psíquico ou paranormal — e com esta transformação poderemos ter acesso ao sistema de controle dos ETs. Neste momento estamos estagnados cientificamente no aspecto psíquico do ser humano, se compararmos com o vertiginoso desenvolvimento físico, mas isto não quer dizer que continuaremos assim. Neste século os cientistas começaram trabalhos para avançar nossa psiquê até chegar a dominá-la. Creio que um dia conseguiremos eliminar as doenças mentais e nos curarmos de algumas outras com recursos novos. E que certamente também nos comunicaremos através da telepatia, sabendo quando alguém mente para nós. Se pensa que estou delirando, estude os relatos de avistamentos ufológicos e veja como será nosso futuro, porque este é o propósito do sistema de controle e de condicionamento alienígenas.
O que os grandes investigadores com quem trabalhou, como J. A. Hynek e Willy Smith, entre outros, lhe deixaram como ensinamento?
Ter o privilégio e a honra de poder acompanhar e conviver com o doutor Hynek em congressos nacionais e internacionais, assim como em suas investigações de campo em um período de seis anos, até sua morte, foi o mesmo que ter um professor ao meu lado 24 horas por dia. Tanto minha convivência com Hynek como minha estreita amizade com Smith e seu projeto Unicat foram a matéria-prima do meu conhecimento científico e ufológico. Tive outros mentores que também contribuíram coma minha formação na Ufologia, mas a lista ficaria muito grande e não quero deixar ninguém de fora dela.
A casuística ufológica cubana é muito rica e você deixou isso claro em seu recente livro OVNIs: Lo Físico y Psíquico Del Fenómeno, no qual relata, por exemplo, o caso da senhora Arcadia Álvarez, de 1930. Podemos dizer que este seria um dos primeiros casos da ilha?
Possivelmente, e se este estranho caso fosse analisado atualmente, muitos estudiosos o classificariam como um encontro direto entre um humano e um extraterrestre, sendo que naquela época nem se falava em UFOs. As testemunhas, um médico da Marinha de Guerra cubana, e sua esposa Arcadia Álvarez eram pessoas sérias e conhecidas. Anos mais tarde, em 1951, relataram a aterrissagem de um estranho objeto perto de uma ponte.
Existe dificuldade em ter acesso a casos ufológicos ocorridos em Cuba?
Devo confessar que levei muito tempo para poder criar uma cronologia de casos ufológicos cubanos — por mais de 26 anos o governo do país, sem razão lógica, censurou todas as publicações sobre o Fenômeno UFO. Contudo, obtive relatos de avistamentos de discos voadores por vários meios, como por cubanos que chegavam aos Estados Unidos, vindos da ilha, ou através de um programa de rádio que tive em Miami. Hoje é praticamente impossível se saber de novos casos em Cuba, porque fecharam a internet para contatos com pessoas fora de lá. Acho que a casuística cubana é muito mais rica do que sabemos e esperamos que algum dia cheguemos a conhecê-la livremente, sem pressões nem censura.
Outro caso cubano que chama a atenção é o ocorrido em março de 1967, quando pilotos de combate foram enviados para interceptar um UFO. Poderia falar mais sobre este incidente?
Sim. Foi a organização norte-americana Citizens Against UFO Secrecy [CAUS] que recebeu a história de um especialista servindo no Esquadrão de Segurança da Base Aérea de Homestead, na Flórida. A missão do esquadrão era supervisionar todas as comunicações da Força Aérea de Cuba e as detecções de seu sistema de radar durante a Guerra Fria. Cem homens foram escalados para um destacamento localizado na Estação Naval Aérea de Key West, também na Flórida, para fazer o rastreamento das comunicações militares de Cuba. Assim, em um dia daquele mês, os operadores, que falavam espanhol, ouviram os controladores de tráfego aéreo cubanos falarem de um objeto não identificado aproximar-se do país vindo do nordeste. O UFO entrou no espaço aéreo cubano a uma altitude de cerca de 10 km e a velocidade de quase 700 km/h.
E o que ocorreu então? Aquele era um período tenso da história das relações entre Estados Unidos e Cuba…
Sim. Na sequência, dois aviões de combate Mig-21 foram imediatamente enviados ao encontro do intruso. O caça era, na época, o mais novo modelo da linha de combate fornecida pela antiga União Soviética aos países do bloco, como Cuba. Ele é capaz de alcançar uma velocidade de Mach 2.1, uma altitude de cerca de 18 km e realizar manobras em um raio de combate de mais de 500 km com o combustível que carrega. Bem, os Migs foram guiados a menos de 5 km do UFO pelo pessoal de controle de tráfego aéreo para sua interceptação. Neste momento, o líder de voo informou por rádio que o objeto era uma esfera brilhante metálica, sem marcas ou detalhes visíveis. Depois de uma tentativa de contato por rádio, a base cubana de defesa aérea ordenou ao líder do avião que destruísse o artefato — o piloto informou que seu radar já estava com o aparelho na mira e seus mísseis estavam armados. Mas, segundos depois, o piloto do segundo avião gritou ao controle de terra que o jato de seu líder havia explodido. Quando se recompôs, ele informou ainda, que não havia fumaça nem chamas no ar, afirmando que o Mig de seu líder havia se desintegrado. O pessoal do centro de controle cubano disse — e as comunicações foram interceptadas pelos norte-americanos — que o UFO acelerou rapidamente e subiu a quase 30 quilômetros, dirigindo-se para a América do Sul.
Informações secretas
Quais medidas foram tomadas neste impressionante caso?
Um informe da Inteligência dos Estados Unidos, enviado pelo Serviço de Segurança da Força Aérea à Agência de Segurança Nacional (NSA), relatava pormenores da ocorrência. Por meio dele soube-se que, em questão de horas, o destacamento de Key West recebeu ordens de enviar todas as fitas e dados pertinentes ao caso à NSA — a Inteligência dos EUA queria saber detalhes da explosão do avião cubano. Os militares também poderiam combinar os dados de seus próprios radares com as informações obtidas por meio das escutas das conversas dos controladores cubanos para triangular a localização e altitude de voo dos Migs e do UFO.
Depois de uma tentativa de contato por rádio, a base cubana de defesa aérea ordenou ao líder do avião que destruísse o UFO, e o piloto informou que seu radar já estava com o aparelho na mira e seus mísseis estavam armados. Segundos depois, estava morto.
As informações desta ocorrência vazaram em Cuba? O senhor pôde confirmá-las independentemente do que os Estados Unidos tinham descoberto?
Bem, com estes dados e mãos tratamos de tentar comprovar o fato, mas a partir do lado cubano. Fazia vários anos que o general Hugo Del Pino havia desertado do regime de Fidel e estava no exterior falando abertamente do que sabia. Ele foi chefe da Força Aérea de Cuba e costumava fazer discursos para a Rádio Martí, que era uma porta-voz da revolução cubana. Um dia, um repórter da rádio lhe perguntou fora do ar sobre o ocorrido e se era certo que um UFO havia desintegrado um dos Migs do país. Mas a resposta, passado um breve período de tempo, foi não. Pois, apesar de o general e sua família estarem sob proteção norte-americana vivendo em uma base militar desconhecida, Raúl Castro o havia ameaçado de morte onde quer que estivesse por sua deserção. Desta forma, uma resposta afirmativa teria lhe causado problemas. No entanto, anos depois, Del Pino viria a confirmar que de fato tudo aconteceu como descrito e que um Mig-21 havia sido desintegrado em pleno ar por um UFO.
O senhor teve conhecimento de outros eventos similares envolvendo pilotos civis ou militares cubanos?
Sim, e esta é uma novidade. Nos anos 80 eu morava em um prédio cujo porteiro me disse que havia um novo vizinho que queria conversar comigo sobre Ufologia, mas que eu fosse falar com ele sem gravador, câmera fotográfica, nada. Isso me chamou muita a atenção. Bati à sua porta e me atendeu um senhor que logo convidou-me a entrar, dizendo seu nome e que era cubano residente nos Estados Unidos, como eu, mas que queria anonimato em relação ao que iria me relatar. Antes de eu poder dizer qualquer coisa, ele foi logo falando que era coronel da Força Aérea Norte-Americana (USAF) e veterano da Guerra do Vietnã. Chegou a abrir uma pequena caixa e me mostrou, entre outras condecorações, uma medalha Coração Púrpura, que normalmente só é concedida aos heróis mortos em batalha — disse que recebera a comenda por ter derrubado muitos Migs pilotados por russos sob a bandeira do Vietnã do Norte.
Impressionante. E o que ele lhe contou?
Ele começou dizendo que não era nenhum mentiroso e que o que iria me relatar era a mais pura verdade. Começou assim: “Isso que vou te contar aconteceu aqui na Flórida. Como reservista, tenho a obrigação de acumular certa quantidade de horas de voo por ano. Certo dia, como sempre faço, dirigi-me à Base Aérea de Homestead, tomei um avião e comecei a juntar tais horas voando sobre o pântano Everglades”. Ele disse que já entardecia quando observou uma pequena luz à distância, que se aproximava em sua direção. A princípio ele pensou que fosse um avião e mudou sua trajetória para o leste, então subindo cerca de 300 m. E continuou seu relato dizendo: “Mudei várias vezes de posição para evitar um choque, porém a luz continuava em frente e se aproximando. Então me dei conta de que ela não tinha asas nem cauda, e já estava tão perto que eu podia ver que, na verdade, era uma nave em forma de prato com uma cúpula e janelas”.
“Cheguei a urinar nas calças”
Um fato espantoso, e ocorrido na Flórida.
Sim. O homem então disse que havia sido treinado para reconhecer qualquer avião ou objeto inimigo por sua forma, para não ser enganado e atacar um avião amigo, mas que nunca havia visto nada como aquilo. E continuou: “Senti medo do que tinha diante de mim e joguei-me em direção aos Everglades, em um mergulho à procura do aeroporto mais próximo e acabei aterrissando no Aeródromo de Tamiami, de aviões civis pequenos. Quando cheguei ao solo, me dei conta de que havia urinado nas calças”. Ele disse também que nunca soube onde o objeto foi parar e que teve que relatar ao comando que havia feito um pouso forçado por falha no motor, pois, se tivesse dito a verdade, ninguém acreditaria nele e, além disso, seria submetido a uma bateria de interrogatórios psiquiátricos que teriam acabado com a sua vida. Devemos tomar nota de que a descrição do UFO, neste caso, se assemelha ao do episódio anterior, de março de 1967.
De acordo com os relatos de UFOs ocorridos na ilha e que chegaram até meu conhecimento, as características de tais objetos aparentam ser semelhantes às de objetos observados na América do Sul. Por exemplo, as formas dos aparelhos coincidem, sendo discoides de dia e luminosos à noite. Também há casos idênticos, em Cuba e na América do Sul, de humanoides altos e loiros, como os do Caso Adamski, até seres pequenos e do tamanho de crianças, além de robôs, humanoides alados etc. As abduções alienígenas e os contatos telepáticos entre pessoas e ETs se assemelham. No Fenômeno UFO, embora variem as descrições feitas pelas testemunhas, existe um denominador comum ou características que são similares em qualquer parte do mundo em que se manifestem tais veículos.
Em suas viagens à América do Sul com os doutores J. A. Hynek e Willy Smith o senhor investigou vários casos de UFOs. Qual lhe chamou mais a atenção?
Acho que foi a abdução de Ricardo Jesús Velázquez, não apenas por ele posteriormente ter feito uma previsão espantosa sobre a Guerra das Malvinas, antes que ela ocorresse, mas também por tudo o que nos aconteceu durante a investigação e que descrevo em meu livro como “um dos casos mais excitantes, no estilo dos filmes de Hollywood” [Veja box]. Mas foi uma pesquisa complicada e chegamos a ter que solicitar um visto argentino para entrada no país, o que anteriormente não era necessário, porque, como os Estados Unidos tinham ajudado os ingleses durante a guerra, éramos considerados inimigos e mal vistos pelas autoridades militares, que nesse tempo governavam o país. Na noite em que chegamos a Potrerillo, na província de Mendonza, para conversar com Velázquez, nos deparamos com um agente armado com uma pistola calibre 45 nos esperando — ele nos acompanhou em todas as etapas da investigação, até pegarmos o avião de volta aos Estados Unidos, quando respiramos aliviados.
Como o senhor vê o Caso Ricardo, que investigou profundamente e sob condições tão complicadas? É mesmo um acontecimento real?
Bem, para começar, em vez de qualificarmos um caso como real, duvidoso ou falso, utilizamos um sistema de parâmetros criado por Hynek e Smith no projeto Unicat. Para chegar a ele estabeleceram-se 120 condições que, somadas, determinam o grau de veracidade de uma ocorrência. A primeira delas é a confiabilidade da testemunha — usamos a palavra confiabilidade em vez de credibilidade para não ofender a pessoa. Seguem então considerações como índice de estranheza do incidente, índice de certeza e índice de qualidade da informação, entre outros. A estes parâmetros damos um valor numérico de um a 10. Ao final, isso nos fornece um resultado médio, no qual uma nota 1 faz com que o caso seja considerado um incidente ruim ou falso. Uma nota 5 nos fazia ver o fato como duvidoso e uma nota 10 correspondia a um caso real ou perfeito — mas nunca tivemos um 10. O Caso Ricardo recebeu uma nota 8 e foi um dos poucos que investigamos com um número tão alto.
E do que se tratou o Caso Ricardo, em resumo?
Foi um episódio ocorrido em Mendonza, na Argentina, em 23 de fevereiro de 1981, no qual interveio até o Serviço de Inteligência do país. Em síntese, Ricardo Jesús Velázquez foi abduzido de uma maneira nova ou diferente das que conhecíamos. Ele morava em um lugar ermo da Cordilheira dos Andes argentina e, após um encontro com uma nave, foi levado a uma base alienígena dentro das montanhas, onde viu coisas incríveis e recebeu informações sobre o início e o desfecho de uma guerra que só começaria um ano depois, a das Malvinas.
Bases alienígenas subterrâneas
O senhor teve formação ufológica científica. Como vê casos que envolvem entradas em supostas bases alienígenas subterrâneas, sejam na Cordilheira dos Andes ou outros lugares?
Bem, estas são experiências que nos relatam alguns abduzidos, que exponho em meu novo livro. É como o Caso Ricardo, que foi levado por uma entrada invisível ao que ele alegou ser uma base no interior de uma montanha nos Andes. O mesmo se deu a Filiberto Cárdenas, que foi levado a uma base subaquática no Oceano Pacífico. Acreditamos nas experiências narradas por estes abduzidos, que descrevem seu ingresso nas naves alienígenas como se fossem outros mundos, ou seja, outras dimensões. Sobre isso, lembro-me que Hynek dizia que, embora não descartasse que os UFOs pudessem ser viajantes do espaço, ele se inclinava mais a pensar na possibilidade de que viessem de outras dimensões, pela maneira como as naves se materializam e depois de desmaterializam em pleno ar.
O que o senhor deduz deste comportamento do Fenômeno UFO? E quando os abduzidos alegam que são levados ao interior de bases? Podemos confiar nesses relatos?
Com esses dados concluo que, quando um abduzido é levado para dentro de uma nave, na verdade ele entra em outra dimensão, em outra realidade do espaço-tempo. Sua mente é manipulada dentro da nave de acordo com a programação dos sequestradores, de modo que nem toda a experiência relatada pela testemunha deve ser interpretada de modo literal. Para mim, neste sentido, os alienígenas são uns mentirosos, já que as mensagens e tudo o que os abduzidos descrevem são parte de uma programação mental que eles lhes impõem — não a sua realidade. Os sequestradores nunca dizem toda a verdade às vítimas, só o que lhes convêm. Como já falei, as abduções são parte de um controle e condicionamento programado, e isso vale também para as alegadas viagens às bases subterrâneas ou subaquáticas, que tanto podem ser reais quanto induções mentais pelos abdutores.
Tratar da questão ufológica usando conceitos de outras dimensões é algo complicado, o senhor não acha?
Sim. Mas pelo menos sabemos que outras dimensões podem penetrar fisicamente as três em que vivemos, e nós podemos entendê-las como se fôssemos um coador a filtrar a sensação de cada uma delas. Desta maneira, seria certo o que dizem os abduzidos quando afirmam que foram levados por entradas invisíveis a mundos subterrâneos nas montanhas e embaixo do mar, sem que as naves tocassem ou se chocassem com as paredes físicas de tais montanhas ou até mesmo o fundo do mar.
Lembro-me que Hynek dizia que, embora não descartasse que os UFOs pudessem ser viajantes do espaço, ele se inclinava mais a pensar que venham de outras dimensões, pela maneira como as naves se materializam e depois de desmaterializam no ar.
O senhor acredita que algum dia o homem conseguirá dominar estas entradas na matéria e ir até locais subterrâneos usando alguma tecnologia que hoje os seres extraterrestres já possuem?
Sim, embora tenhamos que esperar muitos anos para isso, o homem certamente chegará a dominar a entrada na matéria e poderá conhecer mundos subterrâneos interdimensionais.
Perfeito. Outra de suas áreas de estudo diz respeito às civilizações incas, astecas e maias. Hoje sabemos que elas, como os egípcios, também tinham suas pirâmides, edifícios e observatórios astronômicos. Em suas pesquisas o senhor chegou a determinar de onde esses povos obtiveram conhecimento para construí-los?
Se você souber de alguém que conheça com certeza a resposta para esta pergunta, por favor, me avise [Risos]. Na verdade, há milhares de artigos e livros com diferentes hipóteses sobre a origem de tais construções, e nem sequer os arqueólogos estão de acordo quanto a elas. Foram publicadas muitas obras sobre este tema e grande variedade delas teve êxito de vendas porque, é claro, a imaginação popular é sensacionalista e recebe de braços abertos tal literatura. A mais comum das teorias se refere a um suposto e talvez possível contato dos incas, astecas e maias com seres extraterrestres. Mas todas estas obras padecem do mesmo defeito — a falta de evidência física concreta, corroborativa e independente que ateste a origem dos monumentos. Assim, sua pergunta continua sem resposta: de onde estas civilizações obtiveram tal conhecimento?
Povos ancestrais e ETs
Por que, em sua opinião, essas antigas civilizações tinham tanto interesse e até conhecimento sobre astronomia?
Quanto a este ponto, quase todos os estudiosos estão de acordo. O interesse principal dos incas, astecas e maias, e até dos egípcios e outros, foi motivado pela necessidade de sobrevivência que tinham. Porque, além da caça de animais e da pesca, buscavam no Sol e nas outras estrelas os ciclos de seus cultivos. Isso fez tais antigas civilizações buscarem conhecer cada vez mais os astros.
Consta que o senhor teve uma experiência paranormal em Palenque, no México, que é um dos locais onde há vestígios da possível interação entre povos ancestrais e seres extraterrestres. O que lhe aconteceu lá?
Além dos fenômenos físicos que lá vivi, como uma experiência mental embaixo da pirâmide de Palenque, onde passei uma noite, também senti uma mudança na minha maneira de enfrentar a vida. A minha atitude diante de tudo que me rodeia mudou e creio que hoje posso enfrentar os problemas com maior segurança e com mais calma. Enfim, algo místico ocorreu lá. Às vezes penso que se tivesse permanecido dentro da pirâmide uma semana ou um mês, em vez de uma só noite, teria mudado completamente — teria saído de lá como outro homem, uma pessoa completamente diferente em meu caráter e pensamentos, uma sensação que poderia ser comparada com as que sofreram alguns de nossos astronautas depois de seu regresso à Terra, quando renunciaram ao seu trabalho e deixaram suas casas e famílias, abandonando tudo para escrever livros e pregar uma filosofia nova sobre o que é a vida.
O senhor já havia tido experiências místicas antes dessa ocorrência?
Não, mas estou convencido de que esta foi uma. Acredito que a pirâmide de Palenque, onde passei a noite, nos isola de todas as pressões de nossa vida cotidiana, nos faz entrar em um estado de paz psíquica que nos ajuda a compreender e a evoluir como verdadeiros seres humanos, e assim encontramos respostas para as nossas preocupações. Isso é algo como o que se dava aos guias ou sacerdotes dos povos maias e egípcios, que utilizavam tais sensações para vencer os obstáculos buscando contato com algo superior. Considero que temos muito que aprender com nossas antigas civilizações, que não são totalmente compreendidas por nós.
O senhor acredita que fomos visitados na Antiguidade por seres mais avançados e que nossos antepassados os entenderam como deuses, segundo a Teoria dos Antigos Astronautas?
Acho que o Fenômeno UFO sempre existiu. As civilizações de onde ele vem são mais antigas do que nossa e, por isso, nossos visitantes têm mais experiência e mais capacidade — mas não os considero mais inteligentes, e sim que tenham uma inteligência distinta da nossa. Dentro de milhares de anos acontecerá o mesmo conosco, pois teremos uma inteligência diversa da atual e, olhando para nosso passado por esta perspectiva, diremos que nossos antepassados chamavam incorretamente de deuses seres que vinham de fora.
Curas paranormais
Obrigado. Agora, voltando à Ufologia, o senhor investigou uma das abduções mais importantes da Ufologia Mundial, o Caso Filiberto Cárdenas, ao qual se referiu há pouco. A que conclusões chegou sobre este caso?
Esta é a experiência de um cubano exilado em Miami que, em 03 de janeiro de 1979, diante de sua família, foi levado por uma nave alienígena. Utilizando os parâmetros já descritos anteriormente, dei a nota 8 ao episódio, tal como ao Caso Ricardo, da Argentina. São episódios que considero muito sérios.
Em outro relato em seu livro o senhor menciona fatos acontecidos na Prisão Alfonso Ortega, em Camagüe, Cuba, em abril de 1980. Lá uma pessoa chamada Pablo teve uma de suas pernas curada em menos de dois dias enquanto estranhas luzes visitavam o lugar. Que relação há entre discos voadores e tais supostas curas?
O caso da Prisão Alfonso Ortega nos surpreendeu porque não tínhamos muitas informações anteriores de que o fenômeno pudesse beneficiar ou prejudicar fisicamente as testemunhas. Há relatos de vários casos em que a proximidade das pessoas em relação aos UFOs lhes causou algum tipo de doença, como no Caso Cash Landrum, de 1980, quando três testemunhas, Vickie Landrum, seu neto de 5 anos Colby Lee Landrum e Betty Cash, sofreram numerosas lesões, como a queda de cabelo e queimaduras, ao ficarem a curta distância de um UFO que aterrissou em seu caminho, com faíscas de energia que inflamaram o ar.
O Fenômeno UFO sempre existiu. As civilizações de onde ele vem são mais antigas do que nossa e, por isso, nossos visitantes têm mais experiência. Mas não os considero mais inteligentes, e sim que tenham uma inteligência distinta da nossa.
Em que o caso da Prisão Alfonso Ortega lhe chamou mais atenção?
No caso cubano, as testemunhas estavam presas em uma cadeia de pouca segurança, para pessoas que cometeram crimes relacionados ao mercado negro, como vender alimentos fora do controle do governo. Lá algumas coisas incríveis ocorreram, além da cura de Pablo, que teve uma de suas pernas curada ao longo de um processo em que estranhas luzes visitavam o lugar. Mas falar com os presos do local, depois de libertados, não era nada fácil. Em outubro de 1980, Castro esvaziou as prisões e os hospitais com doentes e loucos, e uns 125 mil cubanos chegaram a Miami em lanchas e barcos, entre eles Pablo e outras testemunhas dos fatos. Chegaram tão traumatizados que disseram: “Temos medo de sermos sequestrados e levados de novo para a prisão em Cuba se falarmos disto”. Deu muito trabalho convencê-los de que nada mais aconteceria com eles.
E o que ocorria naquele presídio que eles tinham tanto medo de contar?
O fato é que naves passavam lá constantemente e alguém — seus tripulantes? — deixavam enormes frutas aos internos da prisão, entre elas maçãs, que não dão nos trópicos e que no passado eram importadas. Como elas surgiam lá? Este é o único caso do gênero que conheço, pois não me lembro de nada parecido. Ao longo da investigação dos insólitos acontecimentos, eu me perguntava quem deixaria frutas a presos comuns? E frutas caras e raras? Considerando as revoadas de luzes não identificadas sobre o local, a pergunta tinha um direcionamento: teriam sido extraterrestres? Por outro lado, o fato de que Pablo se curara de uma gangrena ao comer tais frutas teria que ser pesquisado melhor com exames médicos apropriados, para se determinar as verdadeiras condições da cura, que de fato ocorreu. Agora, tanto tempo passado, não podemos fazer mais nada a não ser esperar que aconteça algo similar.
Em seu recente livro Las Mascotas de los OVNIs o senhor relata encontros de pessoas com estranhos seres, como o chupacabras e pássaros incomuns. O que o levou a se interessar por este tema e a escrever a obra?
A maioria dos investigadores se concentra na inteligência que manipula o Fenômeno UFO, não em suas consequências. Assim como em sua vida inteira Einstein investigou uma teoria para unir as forças do universo em uma só equação, temos que buscar algo similar que mostre que os eventos paranormais ligados a esta fenomenologia e suas consequências estão relacionados. Acho que todos os fatos insólitos que expus na obra, que vão bem além de UFOs e tratam até de fantasmas, estão unidos a uma mesma força ou energia sincronizada. Se os cientistas estimam que o universo tenha 11 dimensões, nós, enquanto seres tridimensionais, desconhecemos o que pode existir nas outras que não conhecemos, além das três que nos rodeiam. Portanto, não podemos entender as situações invisíveis e os mundos ocultos que existem em volta do nosso.
Portal interdimensional
Poderia deixar essa informação mais claro para os leitores, por favor?
Sim. Os relatos de experiências paranormais existem e persistem com casos similares em uma escala global. Eu não tenho nenhuma dúvida de que as pessoas estão vendo, sentindo e informando a mesma coisa, algo que está na raiz do Fenômeno UFO. Tenho recebido relatos de avistamentos que estão ocorrendo ao mesmo tempo em que fenômenos paranormais se manifestam, que incluem aparições de fantasmas, atividade poltergeist, presença de estranhas criaturas, mutilação de animais, homens de preto, pássaros estranhos, combustão espontânea etc. Isso me dá a sensação de que em um determinado momento abriu-se um tipo de portal interdimensional, como diz Jacques Vallée, cientista, astrônomo e ufólogo, permitindo que nosso plano de realidade fosse bombardeado por estes fenômenos paranormais.
Falando no assunto, qual é sua opinião sobre as mutilações de gado que continuam ocorrendo hoje em dia? São resultantes de experiências dos tripulantes dos UFOs?
No meu livro Las Mascotas de los OVNIs dediquei um capítulo ao mistério das mutilações. O primeiro relato que tivemos de um animal atacado ocorreu em 1969 e até hoje já são milhares de casos. Neste período gastaram-se verbas consideráveis em investigações tentando encontrar uma resposta para o mistério, tanto da parte dos criadores de gado como das agências governamentais, em ambos os casos sem resultado. Durante esse tempo todo floresceram diferentes hipóteses para explicá-lo, que invariavelmente se referem a relatos de UFOs nas áreas onde ocorreram mutilações. Mas há também os que fazem uma conexão do tema com a doença da vaca louca [Encefalopatia espongiforme bovina], porque se sabe que nestes animais há infecção por uma proteína chamada príon, a mesma que se encontrou em todas as vacas mutiladas supostamente por extraterrestres.
Tanto os homens de preto quanto as autoridades têm dois objetivos: amedrontar, ameaçar e intimidar as testemunhas do Fenômeno UFO, ao mesmo tempo em que recolhem qualquer evidência física deixada nos encontros com naves e seres alienígenas.
Há alguma relação entre as mutilações de animais e o chupacabras?
Não que se saiba. Por exemplo, no Chile, em 2001, quando acabou a onda de ataques desses tais chupacabras, teve início a de mutilações de gado, o mesmo ocorrendo em outros países. Acabava um fenômeno e começava outro. Trata-se de casualidade ou causalidade? Seja como for, voltando ao tema das mutilações, para resumir, minha opinião é de que os tripulantes dos UFOs estão nos advertindo quanto ao fato de que a comida humana poderia estar infectada com a proteína príon, que é muito difícil detectar. Tanto as misteriosas mutilações quanto outros fenômenos, que são considerados distintos por muitos estudiosos, formam as partes comunicantes do grande mistério de nosso século, o Fenômeno UFO. E o mistério dos ataques a gado continua…
No Chile o senhor investigou vários casos de estranhas mortes de animais, supostamente resultantes da ação do chupacabras. Como definiria este aludido animal?
Não é fácil dar uma definição exata a ele devido à variedade de depoimentos das testemunhas, mas ainda podemos assinalar algumas características dos chupacabras. Embora já tenham sido vistos por muita gente e até por autoridades durante o dia, eles costumam atacar quase sempre ao cair da noite. Sua atuação se dá em completo silêncio, neutralizando suas vítimas com algum método desconhecido que não deixa sinais de violência — as presas aparecem com perfurações quase sempre em um lado do pescoço, sem apresentar trauma no outro lado, como ocorreria em uma mordida. O suposto animal perfura, mas não rasga e não deixa hematomas nas vítimas. Enfim, não há sinais de mastigação e as perfurações parecem ser cirúrgicas — o chupacabras mata suas vítimas, mas não as come, apenas suga seu sangue por meio do orifício em seu pescoço.
Mas há casos de maior intervenção do chupacabras nas vítimas?
Sim, alguns animais atacados têm seus órgãos e glândulas extraídas através da perfuração e não apresentam rigidez, mas ficam em estado de flacidez. As pegadas coletadas vão desde pequenas até maiores que as de um cachorro, com cerca de 13 cm de largura por aproximadamente 12 cm de comprimento, e a relação unha-casco é distinta da dos cachorros. O chupacabras já foi visto caminhando em duas patas, em quatro patas, cambaleando, correndo e dando saltos como um canguru — e até voando com asas de mais de 2 m de envergadura. Por último, seu comportamento é extremamente inteligente ou guiado por uma inteligência.
Mutilações e chupacabras
Os ataques ocorridos nos Estados Unidos são do mesmo tipo de chupacabras que atacaram em Porto Rico, Chile, Brasil, Argentina e outros países?
O tempo que duraram os ataques em Miami, em 1996, quando eu os investiguei, foi muito curto. Achei então que se tratava de um único tipo de animal, embora as testemunhas nos relatassem também estranhos pássaros. No Chile os ataques duraram vários anos e isso me deu tempo para obter dados de diferentes tipos de chupacabras. Em geral, poderíamos dizer que os tipos desse predador se assemelham em relatos de ataques provenientes de uma grande quantidade de países, como Porto Rico, Estados Unidos, México, Guatemala, Costa Rica, El Salvador, Brasil, Chile e Espanha.
É fato que em alguns desses incidentes registrou-se a presença dos homens de preto? Por que intervieram nesses casos?
Isso ainda está sob consideração, mas vale destacar que durante minhas investigações no Chile a presença de veículos estranhos também era habitual — havia sempre um carro branco de quatro portas e sem sinais por perto. Contudo, quando tentava me aproximar para falar com os passageiros, eles se retiravam, ficando sempre a uma distância de uns 200 m. Eram vários modelos de veículos, passando-se despercebidos, com passageiros vestidos de trajes finos e gravata. Acredito que suas intenções eram obter evidências físicas, perseguir e intimidar as testemunhas dos ataques.
Já foram registrados vários casos de homens de preto na Argentina, Chile, Brasil, México e Espanha, e os eventos continuam até hoje. Qual é a sua opinião sobre a presença deles entre nós?
Tanto os homens de preto quanto as autoridades têm dois objetivos: amedrontar, ameaçar e intimidar as testemunhas do Fenômeno UFO, ao mesmo tempo em que recolhem qualquer evidência física deixada nos encontros com naves e seres alienígenas.
Como o senhor vê o estado atual da Ufologia, em nível mundial?
Devo dizer que só posso opinar sobre o que ocorreu nos Estados Unidos, minha área de concentração, mas que pode nos dar uma ideia do que também ocorreu em nível mundial. Há duas décadas a Ufologia Norte-Americana estava no auge, com várias organizações nacionais agrupando um grande número de membros interessados no Fenômeno UFO e proporcionando um amplo respaldo financeiro às pesquisas — isso fora os pequenos grupos, que eram suficientemente ativos em outras áreas geográficas do país. Duas das principais organizações de grande porte, a National Investigations Committee on Aerial Phenomena (NICAP) e a Aerial Phenomena Research Organization (APRO), existiram quase desde o começo da Era Moderna dos Discos Voadores. A NICAP, por exemplo, foi organizada e dirigida por Donald E. Keyhoe e atraiu muitos distintos membros da elite militar e científica do país. Mas, conforme os anos se passaram, a estrutura da entidade se dispersou e ela, lenta mas irreversivelmente, deixou de existir — o combativo pioneiro Keyhoe faleceu em 29 de novembro de 1988.
E com a APRO, também uma lenda dentro da história da Ufologia, o que houve?
Ela foi criada por Jim e Coral Lorenzen e atraiu alguns dos melhores investigadores do Fenômeno UFO do mundo, tais como o doutor Olavo Fontes, no Brasil, e Horácio Gutiérrez Ganteaume, na Venezuela. Não há dúvidas de que a principal força por trás da APRO era Coral, tanto que, quando sua saúde piorou, foi necessário vender sua biblioteca — a entidade sucumbiu por completo depois de sua morte, também em 1988. Outras duas organizações que sobreviveram ao começo dos anos 80 foram a Mutual UFO Network (MUFON) e o Center for UFO Studies (CUFOS). Hoje, lamentavelmente, não existe mais o espírito investigativo dos tempos dourados daquelas e dessas entidades.
Onde exatamente o interesse sobre o assunto se perdeu, em sua opinião?
Um dia aconteceu algo repentino. Um polêmico episódio supostamente ufológico foi mal administrado por algumas entidades de pesquisas e ameaçou sua existência, abalando a estrutura da Ufologia nos Estados Unidos. Ele foi o deplorável Caso Gulf Breeze, de 11 de novembro de 1987, perpetuado por Ed Walter [Também conhecido como Edward Hillman ou Ed Hanson], um duvidoso fotógrafo que conseguiu dividir os ufólogos com algumas fotos falsas de UFOs. O pior foi que, para a vergonha dos investigadores, quem expôs a fraude não foi um ufólogo, mas um persistente jornalista chamado Craig Myers, do Pensacola News Journal. Isso rachou a Ufologia Norte-Americana e fez a opinião pública duvidar da capacidade dos estudiosos.
Dano à Ufologia
O Caso Gulf Breeze foi tão danoso assim para a Ufologia dos Estados Unidos?
Sim, foi. E alguns ufólogos inescrupulosos tiraram proveito econômico da situação sem pensar que estavam destruindo o que nossos pioneiros alcançaram. Assim, chegamos à conclusão de que o Fenômeno UFO, em nível mundial, teve uma mudança radical de um estágio de quase aceitação científica para o de um assunto de clube social ou de passatempo para uma maioria. Para o nosso consolo, o mesmo ocorreu com os céticos e sua principal organização nos Estados Unidos, o Comitê para a Investigação Científica de Alegações do Paranormal [Committee for the Scientific Investigation of Claims of the Paranormal, CSICOP]. A falta de relatos consistentes de UFOs levou os céticos a perseguirem outros fenômenos.
Como o senhor se considera? Um investigador do Fenômeno UFO, um caçador de fatos estranhos ou um apaixonado pelos mistérios?
Não é como eu me considero, mas sim como os outros me consideram. A princípio, quando comecei a investigar os UFOs, minha família dizia que eu estava louco. Com o tempo passei a investigar fatos estranhos e misteriosos associados aos fenômenos ufológicos, e aí sim minha família pensou que me perdi de vez. Por fim, quando publiquei meus estudos sobre a parte psíquica do Fenômeno UFO, todos pensaram que eu estava senil [Risos]. Falando sério, se você me pergunta como me considero eu respondo: de tudo um pouco.
Com a experiência de ter investigado centenas de casos ufológicos em diferentes países e de ter compartilhado trabalhos com grandes nomes da área, tornando-se um deles, o que você diria aos que estudam os UFOs?
Diria que em todos estes momentos do processo de amadurecimento da Ufologia estamos experimentando uma falta enorme de investigadores de campo, que é a base do estudo do fenômeno. Sem este tipo de pessoas fazendo averiguação in locu dos casos ufológicos não alcançaremos as evidências, e se não as coletarmos, nunca chegaremos a conhecer a realidade dos UFOs. Todos nós que fazemos investigações de campo contribuímos com a parte científica desse estudo, e para fazer este trabalho, que anda escasso, não é necessário ter título universitário, apenas o desejo de contribuir com algo positivo e fazer algum sacrifício.
O senhor considera que a abertura ufológica em vários países ajudará a elucidar o fenômeno?
Experiências passadas nos dizem que isso é uma perda de tempo. Por mais de 20 anos Hynek foi assessor da Força Aérea Norte-Americana (USAF) dando explicações aos relatos de UFOs que o órgão recebia, até que um dia se deu conta de que os militares o estavam enganando e que não o permitiam ver os relatos mais contundentes do fenômeno, só os mais rasos. Pude obter oficialmente, pela Lei de Liberdade de Informação (FOIA), mais de 600 documentos que, na época dele, eram considerados secretos. Agora eu pergunto: você acredita que 600 documentos são todos os que a USAF tinha? Claro que não! Não existe um único país que tenha um governo transparente quanto a este assunto — todos padecem de um mesmo problema, que se chama burocracia.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa a esta entrevista?
Sim. Quero dizer que, em geral, o desenvolvimento da Ufologia foi seriamente prejudicado pela falta de unidade de seus praticantes, pela falta de objetivos comuns entre eles e pelo desprezo sistemático que muitos ufólogos têm pelo método científico. A quantidade de evidências já obtidas sobre os discos voadores é suficiente para estabelecer a existência de que há um problema sério e inquestionável aí, algo que está fora da esfera da ciência convencional e que é suficientemente grave para justificar um estudo sistemático por ela. Mas isso é exatamente o que não foi feito. Embora a informação venha sendo coletada há mais de 60 anos, isso tem sido realizado de forma desordenada, fazendo com que a qualidade dos dados já em posse dos ufólogos seja tão variada que todas as tentativas de criar estatísticas terminem inconclusivas. No momento em que os relatos forem coletados de maneira séria e estudados de forma criteriosa, a Ufologia voltará a ser uma protociência que, com o tempo, poderá evoluir para uma ciência tratada com toda a seriedade e objetividade que estes acontecimentos merecem.