Às 07h25 de 10 de maio de 1969, chegou à Estrada de Ferro Central do Brasil, em Belo Horizonte, o trem NF-32, proveniente da Estação Pedro Nolasco, em Vitória (ES). Geraldo Lopes da Silva, agente de segurança da ferrovia, observou entre os passageiros que desciam dos vagões a presença de um rapaz mal vestido, com touca de meia na cabeça, trazendo algo embrulhando numa lona. Foi justamente o embrulho que chamou a atenção sobre o rapaz, porque havia freqüentes roubos de fios de cobre da estrada de ferro. Interpelando-o, o agente pediu sua identidade. “Chefe não tenho identidade, porque me tomaram. Mas sou soldado”, respondeu o rapaz. O agente continuou insistindo e recolheu o rapaz a uma das salas da estação, onde passou a examinar o conteúdo de sua mochila. Nela encontrou material de pesca, de alimentação e peças de vestuário.
Pressionado pelo agente, José Antônio da Silva disse que tinha uma história para contar e identificou-se como ordenança do major Célio Ferreira, subcomandante do Batalhão de Guarda da Polícia Militar de Minas Gerais. Após ouvir a história várias vezes em busca de contradições, o agente acabou por aceitá-la, apesar de sua estranheza. Chamou então a reportagem da Rádio Guarani e, após rápida entrevista, o soldado foi encaminhado ao seu quartel. Impressionado com o profundo abatimento físico do rapaz, o major Ferreira isolou-o em sua própria residência, por 24 horas, proporcionando-lhe alimentos, remédios e repouso. Na manhã do dia 11, domingo, o soldado subiu o morro de sua casa, com muita dificuldade, para juntar-se a seus familiares. Estes o perceberam magro, queimado de Sol, barbado e manco de uma perna. Sua ausência de quase uma semana os deixara aflitos, pois José Antônio nunca passara tanto tempo fora de casa, sem aviso. O próprio major Ferreira chegara a mobilizar subordinados para irem à sua procura no dia anterior à sua chegada. Na noite do dia 11, o Centro de Investigação Civil dos Objetos Aéreos Não Identificados (Cicoani) obteve a primeira entrevista com José Antônio e, a partir desta data, inúmeras outras se sucederam sem que houvesse variações significativas nos seus relatos ou em seu comportamento. Uma semana após o seu retorno, foi feita uma reconstituição de cena no próprio local da ocorrência, Bebedouro. O rapaz conta que na tarde de 03 de maio de 1969, sábado, saiu de cada para uma pescaria. Apanhou um ônibus na Rodoviária de Belo Horizonte, com destino a Pedro Leopoldo, e desceu do veículo antes de chegar a essa cidade, seguindo a pé pela Estrada Jaguará até o local denominado Bebedouro, antiga fazenda dos Ingleses, no município de Matozinhos. Por volta das 24h00 chegou à beira de uma pequena lagoa, retirou seus apetrechos da lona que levava a guisa de mochila e montou sua barraca, indo pescar um pouco antes de dormir.
Ao amanhecer de domingo, dia 04, José Antônio acordou, enrolou a lona e continuou a pescaria, sem êxito. Fez uma pausa às 12h00 para alimentar-se com sardinha enlatada e retornou à pesca. Perto das 15h00, olhando para o lado, percebeu vagamente vultos e ruídos. Ouviu então um grito “parecendo um gemido vindo do fundo do peito” e, em seguida, percebeu-se atingido nas pernas por uma rajada de fogo vinda da direção de um vulto parcialmente coberto pelo mato. Sentindo câimbra e adormecimento nas pernas, ajoelhou-se automaticamente na beira da lagoa soltando no solo a vara de pescar. “A rajada parecia de fogo, mas não era, porque não queimou minha perna”, diz José Antônio. Era um feixe de luz esverdeada no centro e avermelhada nas bordas, abrindo-se um pouco a partir do ponto de origem. Logo se viu ladeado por dois indivíduos pequenos e mascarados, que passaram a levantá-lo pelas axilas, arrastando-o pelo matagal pantanoso, por onde caminhavam com muita facilidade. Com seus joelhos arrastando-se pelo chão, José Antônio desistiu de reagir ao pensar no que lhe aconteceria se um novo jato de luz fosse disparado contra sua cabeça. Já a 10 m da lagoa, percebeu por entre o capim alto, um terceiro indivíduo que não se moveu à sua passagem, ficando para trás. Todos os três carregavam uma espécie de arma, mas José Antônio supõe que o terceiro fora responsável pelo disparo e também pela emissão do som grave, que parecia uma espécie de gemido.
Descrição dos ETs raptores
A esta altura, o rapaz vestia apenas um calção curto de camurça amarela, trazendo um grande rosário enrolado na cintura e na cabeça, um gorro de meia de mulher, coberto por outro, de malha preta. Observou que os homenzinhos tinham cerca de 1,20 m de altura e estavam totalmente cobertos – o corpo, por uma roupa clara, brilhante, dispondo de gomos nas articulações dos cotovelos e dos joelhos, e a cabeça por uma máscara de cor cinza fosca, como “alumínio apagado”. Esta era redonda na parte de trás e na frente era esquinada, aplainando-se a partir da testa, exceto na altura do nariz, onde havia a saliência correspondente. Na altura dos olhos havia dois orifícios circulares de uns dois cm de diâmetro. Aparentemente rígida, a máscara descia larga sobre os ombros e não tinha conexão com o vestuário. De sua parte inferior saía um tubo semelhante a plástico, que passando sobre o peito e sob as axilas, terminava num pequeno bujão fixado à sua pequena estatura. Suas pernas pareciam grossas. “Eu acho que daria conta de dois deles, se quisesse” – comenta José Antônio. Nesta altura sentia mais curiosidade do que medo.
Tão logo passou pelo terceiro indivíduo, avistou um aparelho, para o qual era levado, através do arvoredo. Ele se apoiava um tanto inclinado numa pequena estrada de terra. Era composto por um cilindro vertical, ligado pelas bases a duas peças lenticulares ou achatadas, ambas de diâmetro maior do que o cilindro, e a de cima com a base sobre um pires e com a boca encimada por outro pires maior e emborcado. Das bordas da plataforma superior saiam, a intervalos regulares, hastes que iam se encaixar obliquamente na base do cilindro – e não nas bordas da plataforma inferior. No cilindro havia uma abertura, semelhante a portas, de aproximadamente 1,30 por 0,6 m. Pela parte de fora, o aparelho teria uns dois metros de altura total, uns três metros de diâmetro na plataforma superior, e uns 2,5 m na plataforma inferior, apoiada
no solo. O cilindro era de cor cinza e as duas plataformas pretas.
Introduzido através da porta, José Antônio deparou com um cômodo de forma quadrangular, com cerca de dois metros de lado e de altura. As paredes, o teto e o assoalho eram de cor cinza escura fazendo lembrar superfícies de pedra, assim como os banquinhos, que não tinham pernas. Junto à parede, estava o banco cúbico mais comprido aonde ele e seus dois acompanhantes iriam se sentar. No meio do cômodo, o banco menor, que logo seria ocupado pelo tripulante ainda ausente. Apesar da iluminação ambiente ser intensa e do tipo vapor de mercúrio, o soldado não conseguiu descobrir os focos de luz nem aberturas ou saliências nas superfícies lisas.
Uma vez sentado no meio do banco duro, seus acompanhantes adaptaram na sua cabeça um capacete igual ao que levavam, introduzindo-o através de uma abertura traseira. Também desse capacete saía um tubo que se dirigia às costas, mas José Antônio não percebeu a adaptação, em si, do bujão semelhante aos que iam às costas dos tripulantes. Admite a possibilidade de que essa peça estivesse colocada atrás do seu banco, mas não a percebeu. Sentando-se cada um de um lado, os dois acompanhantes amarraram-lhe os pés e em seguida sua cintura com um material “ressecado” e áspero. Passaram então a amarrar-se a si próprios, momento em que entrou no cômodo o terceiro tripulante, para sentar-se à sua frente, no banco isolado, e amarrar-se também. Nesta altura José Antônio só podia enxergar através dos orifícios da pesada máscara, cujas pontas começavam a incomodar-lhe os ombros e a base posterior do pescoço.
Viagem interplanetária
Sentado de frente para os três, o tripulante isolado acionou uma pequena alavanca situada no piso à sua esquerda. Imediatamente José Antônio ouviu um zumbido oriundo da parte superior do aparelho, acompanhado por uma sensação de decolagem. Em seguida, ao ser acionada para cima uma alavanca maior à direita do piloto, ouviu um zumbido na parte inferior, tendo a impressão de que o aparelho acelerou verticalmente. Logo após a decolagem os estranhos começaram a falar animadamente entre si, olhando freqüentemente para o rapaz, que nada entendia. Língua ininteligível, nela predominava a letra R no final de muitas palavras, que eram pronunciadas de forma rompante com voz grave e gutural.
À medida que o aparelho lhe parecia mais alto, a respiração do soldado se fazia mais difícil. A certa altura, além do abatimento moral, sentiu o organismo cansado e paralisado. Sua posição foi se tornando cada vez mais incômoda devido à dureza e tamanho do banco, ao adormecimento das pernas e ao peso do capacete, cujas quinas machucavam-lhe os ombros e a nuca. Após muito tempo de viagem, que lhe pareceu interminável, percebeu que a claridade no interior do cômodo se tornava cada vez mais forte e pulsava, obrigando-o a fechar os olhos, dentro do capacete. Após mais ou menos uma hora, percebeu que a claridade diminuía, podendo reabrir os olhos.
A viagem continuou sem novidades, até o momento que o aparelho pareceu girar 90° sobre o eixo lateral. Para ilustrar essa manobra, José Antônio pegou um copo – representando o cilindro central – e colocou-o deitado. As cadeiras se adaptaram à nova situação do aparelho, “parecendo terem virado também”, declarou. Muito tempo depois, o aparelho normalizou sua posição, assim como as cadeiras. Decorrido outro prazo, o aparelho apoiou-se em algum lugar. “Senti o arranco”, diz José Antônio. Os homenzinhos se desamarraram e, em seguida, também a ele. Vedaram-lhe os orifícios da máscara, de modo que agora ele podia apenas escutar. Os indivíduos, até então muito falantes e parecendo alegres, calaram-se e o pegaram pelas axilas carregando-o de pernas encolhidas, os joelhos arrastando-se pelo chão. As pernas continuavam dormentes, mas José Antônio julga que já conseguiria ficar de pé, se pudesse tentar. Os homens tinham muita força, para seu reduzido tamanho.
Na medida que avançava na escuridão, sempre carregado, José Antônio ouvia ruídos de passos e de muita conversa. Tinha vontade de enxergar e, nesta altura, chegou a sentir-se alegre. Em todas as vozes que ouvia, distinguia o mesmo idioma estranho de seus acompanhantes, que agora estavam calados. Algumas vozes eram mais graves, outras menos. Nenhuma, entretanto, lhe pareceu de origem feminina. Percebeu que o sentaram num banco sem encosto. Em seguida, tiraram a venda dos orifícios de sua máscara, através dos quais se viu num salão muito grande, quadrangular, com cerca de 10 a 15 m de lado. Imediatamente chamou-lhe a atenção uma figura que estava de pé, à sua frente, a uns cinco metros de distância e focalizando-o com o olhar.
Era um indivíduo pouco maior que os demais – com cerca de 1,25 m – e também mais robusto, sem máscara e sem uniforme de vôo, que olhava para José Antônio, com aparente satisfação. Neste momento, os seus três acompanhantes estavam retirando as respectivas máscaras conversando muito animadamente com aquele que, ao rapaz, pareceu ser o chefe. Como os demais, este tinha cabelos longos, ondulados e avermelhados, ultrapassando os ombros por trás da cintura. Sua barba era espessa e comprida, chegando a altura do abdômen. As sobrancelhas eram separadas, da espessura de dois dedos, cobrindo quase toda a testa. Pele clara, bem pálida. Olhos arredondados, de tamanho superior ao comum, de cor verde, semelhante à da folha que começa a murchar. Cavidades orbitais fundas, esclerótica mais escura do que a pele e pupilas escuras. Os olhos quase não piscavam. Nem deu para reparar os cílios.
Seres urânidas e cadáveres humanos
“Rezei na hora que vi aquele ser. Imaginei que não voltaria mais”, disse José Antônio aos investigadores do Cicoani. Seu nariz era afilado e comprido, “maior do que os nossos”, complementou. Suas orelhas, também maiores, eram iguais às nossas na parte de baixo, mas eram despontadas na parte superior. A boca era larga, com largura semelhança às nossas, “mas parecia boca de peixe”. “Eu não vi dentes nelas. Se eles abrem a boca, eu não vi”, argumentou. O ser, cercado pelos companheiros de viagem de José Antônio, parecia muito alegre e fazia gestos com as mãos ao falar. O medo do soldado foi atenuando, porque “o homem parecia bom”. Surgindo de sua retaguarda, o abduzido perc
ebeu que outros indivíduos de aspecto físico semelhante vieram rodear aquele que parecia ser o chefe, chegando a 10 ou 12 o número de homenzinhos presentes em certo momento.
Ao surgirem ou desaparecerem de seu limitado campo de visão, faziam-no na direção de suas costas, onde José Antônio supõe haver uma parede com porta. Não viu essa parede, porque sua posição e a máscara não deixavam. Percebeu apenas três paredes do salão e o piso, mas não reparou o teto, em virtude de sua posição inclinada, com as pernas estendidas; o banco era muito baixo. O rapaz ficou surpreso e amedrontado quando percebeu ao seu lado e junto à parede lateral esquerda, uma espécie de estrado baixo, aparentemente de pedra, onde haviam quatro homens enfileirados. Estavam desnudos e sem máscaras, de olhos fechados e com rigidez cadavérica. Um deles era negro, outro moreno claro, ambos bem robustos. Os outros dois eram mais claros e franzinos, sendo um deles bem loiro, “como estrangeiro”, disse.
Os mortos eram semelhantes a humanos e não apresentavam qualquer ferimento visível. “Só se havia nas costas, que eu não pude ver”. Os seres não davam qualquer atenção aos cadáveres, que em José Antônio despertava pensamentos tétricos e pessimistas quanto ao eventual retorno. Ainda assim, ele não julga que os homenzinhos tenham matado aqueles homens. “Talvez eles não tenham resistido ou tirado a máscara”, pensou o rapaz. A situação permitiu que ele examinasse o salão à sua volta. Suas paredes e o piso pareciam de pedra, devido ao tom cinza uniforme. A iluminação também era uniforme e intensa, do tipo vapor de mercúrio, mas não tinha focos aparentes. Não havia janelas ou aberturas visíveis. Na parede da esquerda – junto à qual estava o estrado com os cadáveres – havia desenhos coloridos, de muitas coisas familiares ou conhecidas por José Antônio: bichos como onça, macaco, elefante, girafa. Também havia desenhos de casas e uma cidade pequena, árvores, florestas e o mar, caminhões, um avião bimotor a hélice e um automóvel. Tais figuras, isoladas umas das outras, cobriam apenas uma parede. As da frente e da direita nada continham visível.
Apoiado no piso, um pouco à direita, estava um aparelho estranho que fez José Antônio se lembrar de um carro de corrida. Tinha uma estrutura mais ou menos cilíndrica, com dois metros de comprimento e uns 80 cm de altura, toda fechada e repousada sobre o piso. De um lado e de outro, nas posições correspondentes às das rodas de um carro, havia quatro saliências arredondadas que tocavam o chão e fizeram-no lembrar turbinas. Apesar de ter se esforçado não conseguiu ter nenhuma idéia sobre a utilidade e o funcionamento daquele aparelho. Cerca de cinco metros à sua frente havia um pequeno banco de forma cúbica e sem pernas, onde o líder do grupo se sentava de vez em quando. Do lado direito desse banco e quase no nível do piso, havia um outro estrado, com três metros, sendo utilizado como lousa para desenhos.
Exame dos pertences e comunicação
No meio da confusão provocada pelo entrar e sair dos homenzinhos, da gesticulação acompanhada de linguagem estranha e da animação aparente nas fisionomias dos estranhos, José Antônio chegou a supor que eles estavam muito satisfeitos com sua presença. Os indivíduos se assemelhavam muito uns aos outros, apesar de variações envolvendo tamanhos, fisionomias, tons de pele, comprimento da barba e cor dos olhos. O abduzido ficou surpreso ao perceber que um dos indivíduos tentava desamarrar cuidadosamente o embrulho de lona onde trazia seus apetrechos de pesca. Ao ser capturado, na beira da lagoa, essa lona estava aberta numa pequena clareira e os objetos espalhados em torno. Ele não sabe quem a teria enrolado com os objetos dentro e levado àquele salão. Supôs, depois, que aquilo tivesse sido obra do terceiro tripulante, que ficara para trás, no matagal, enquanto ele era carregado para o aparelho.
De qualquer forma, ali estavam os seres retirando e examinando com muita animação um a um dos pertences contidos pela lona. De mão em mão, passavam as suas coleções de anzol, machadinha, escavadeira, facões, caixas de fósforo, lata de sardinha e outros alimentos, assim como as peças de roupa. Enquanto isso, José Antônio apesar de estar respirando melhor, sentia frio, pois continuava apenas de calção. Percebeu que, logo após detido exame das peças, era separado um exemplar de cada objeto do qual houvesse duplicata. Assim, os homenzinhos se apossaram de um exemplar de cada anzol, de um dos três facões, de uma caixa de fósforo, uma das duas mudas de roupas e uma nota de 100 cruzeiros, entre os 35 mil e 100 cruzeiros que encontraram num dos bolsos. As peças sem duplicatas – como a lata de sardinha, por exemplo – foram devolvidas ao envoltório de lona e este foi de novo enrolado e amarrado cuidadosamente. A exceção ocorreu com sua carteira de identidade encontrada também num dos bolsos e exibida para todos, que não foi devolvida.
O rapaz julga que os homenzinhos identificaram, através de sua carteira, sua condição de militar, porque logo um deles, apontando sua arma para a parede, disparou um jato de luz que resultou na descoloração da área atingida. As armas portadas pelos seres eram padronizadas, apesar de suas variadas dimensões. Bem menores do que um fuzil, apresentavam canos bem mais largos e curtos e, formando uma peça única, continuavam se alargando para formar as coronhas. Na parte intermediária superior de cada arma havia uma espécie de gatilho que, acionado para trás, provocava a ejeção de um feixe luminoso do tipo que o atingiu antes de ser capturado.
Um dos indivíduos passou ao líder, um pequeno objeto cilíndrico e negro que, a seguir, seria por ele utilizado como lápis na lousa clara e lisa a seu lado. Voltado diretamente para José Antônio, o líder fazia gestos e sempre os acompanhava com sua linguagem incompreensível. Apontava para o soldado, depois para cima, para baixo, para seus companheiros. Para cada conjunto de gestos e palavras, parecia aguardar uma resposta do rapaz. À medida que as tentativas se sucediam, ele passou a entender alguma coisa, como as expressões que significavam “sinal para baixo”, “sua terra”, “sinal para cima”, “igual a este salão”, “nossa terra”, e assim por diante. O entendimento foi aumentando, a partir das ilustrações em forma de desenhos toscos
feitas pelo líder na lousa branca e com o acompanhamento às palavras e gestos.
No primeiro desenho, José Antônio julgou perceber um quartel. Era um círculo com figuras armadas em torno, com sentinelas. O líder apontou para as armas do desenho, depois para o soldado, em seguida para baixo e finalmente para cima, tendo o abduzido entendido que ele desejava possuir armas das nossas corporações militares, por seu intermédio. O soldado gesticulou negativamente e, pelo modo com que o líder insistia em temas desse tipo, começou a perder toda a esperança de retornar a salvo. Curiosamente, mesmo perante a insistência dos ufólogos, José Antônio tem se negado a revelar outros trechos da conversa que envolveu este tema.
Carregando com as duas mãos um cubo, aparentemente pesado e de pedra, um dos homenzinhos aproximou-se do soldado. O cubo era escavado na parte superior e continha um líquido de cor verde-escura. O líder fez sinal para que ele o tomasse, enquanto um dos subordinados afrouxava sua máscara por detrás, chegando a suspendê-la com certa violência. José Antônio resistiu e fez sinal negativo. Vendo que um dos próprios homenzinhos tomava o líquido, resolveu tomar também, porque se sentia fraco e sem alimentos. O líquido tinha um sabor amargo e estava contido numa cavidade piramidal do cubo. A partir desse instante começou a sentir-se melhor e mais animado. Além disso, julga que passou a entender melhor o que o líquido queria dizer.
Alimento extraterrestre
Dentre todos os aspectos abordados, nas tentativas de comunicação, o rapaz não tem dúvidas sobre o fato de que aqueles indivíduos estavam insistindo para que ele os auxiliasse em seus propósitos para com nossa sociedade. Manipulando aquela espécie de lápis grosso, sobre a lousa horizontal, o líder traçou pacientemente dois grandes círculos, lado a lado. Em seguida enegreceu um deles, deixando branco o outro. Apontando sucessivamente para os dois círculos, depois para José Antônio e para baixo, o soldado acabou compreendendo que o círculo branco era correspondente ao dia terrestre e, o preto, à noite. Decorrido muito tempo até ter chegado a esta conclusão o soldado fez sinal afirmativo com a cabeça e o líder prosseguiu em seus desenhos. Passou a esboçar uma série enorme de pequenos círculos de interior branco, relacionando-os, através de gestos, com o círculo branco maior. Pelo abandono da referência ao círculo escurecido, o soldado compreendeu que os pequenos círculos correspondiam a dias.
Ao fazer cada círculo pequeno, o homenzinho fazia uma pausa e chamava, com gestos, a atenção de José Antônio, que começou a contá-los. Com muita paciência, o líder completou um grande aglomerado de pequenos círculos, mas concluiu que o conjunto significava um ano – ou seja, 365 dias. Depois de fazer ao líder um sinal afirmativo, este prosseguiu desenhando mais nove aglomerados de pequenos círculos, relacionando-os por gestos com o primeiro e chamando a atenção de José Antônio que compreendeu tratar-se de um conjunto de 10 anos, pois cada aglomerado estava circunscrito por outro círculo maior. Em seguida, o ser traçou um risco grosso que separava três aglomerados dos sete restantes e passou a apontar, sucessivamente, para o conjunto de três, para José Antônio e para baixo. Depois apontou de novo para o soldado, para cima e para o conjunto de sete grandes aglomerados, fazendo ainda outros gestos e levando José Antônio a entender a seqüência da seguinte maneira, conforme descreveu aos investigadores: “Ele estava propondo me levar à Terra, onde ficaria por três anos, colhendo informações para eles. Em seguida, mandaria me buscar para junto deles, onde ficaria estudando por sete anos. Finalmente, desceriam à Terra e eu ficaria sendo um guia para eles”.
Como resposta a esta proposta, o soldado fez sinal negativo com a cabeça, para indicar sua recusa. Nesta altura, já estava manipulando o rosário que trouxera enrolado à cintura, e fazia suas orações em voz alta. Demonstrando irritação pela primeira vez, o líder agarrou o crucifixo e arrancou-o de suas mãos. Uma das contas rolou pelo piso e foi apanhada por um dos homenzinhos, que a exibiu aos demais. Da mesma forma foi exibido o crucifixo, que despertou a curiosidade de todos. Subitamente, enquanto os homenzinhos se ocupavam com um longo debate, o soldado viu surgir à sua frente, como se tivesse vindo do nada, uma figura humana que ali se manteve imóvel, com atitude firme e amigável, olhando e falando com ele em português claro. Logo José Antônio concluiu que aquela visão era exclusiva dele, pois apesar de sua posição favorável, não era aparentemente percebida pelos homenzinhos, que continuavam discutindo entre si, cada vez mais irritados.
Uma visão e um segredo
Apesar da forma como surgiu, a figura era nitidamente a de um homem de cerca de 1,70 m de altura, magro, com barba e cabelos compridos, loiros. Sua pele era clara, corada e seus olhos claros. Sua roupa escura descia até os pés descalços. Tinha mangas largas, gola revirada e uma espécie de corda branca e grossa na cintura, com um nó e duas extremidades pendentes, como batina de frade. José Antônio, que até aquele momento se sentia angustiado e sem esperança, sentiu alívio com a presença daquele que identificou como “pessoa boa, um dos nossos”, e viu-se animado, com certas revelações oriundas daquela visão. Tais revelações não poderiam ser transmitidas a ninguém, segundo entendeu o abduzido, antes de receber novas instruções – e isto demoraria talvez dois ou três anos.
Sobre esta visão, houve uma enorme resistência do soldado em abordá-la com os investigadores, principalmente no que se refere à mensagem recebida, que José Antônio considera secreta. Mesmo os dados sobre a descrição física do indivíduo foram fornecidos com muita relutância, pois ele alega que eles poderiam ser suficientes para a identificação da pessoa. Perguntamos a ele, como se poderia descobrir o segredo, mediante a simples descrição dos traços de alguém que não conhecíamos nem iríamos jamais encontrar. Ele deu a entender que seria possível reconhecer a pessoa e que não seria impossível encontrá-la. Inquirido sobre se a visão era de Jesus, respondeu prontamente que não. Se era de algum santo, ele não quis responder, apenas sorriu e desviou a conversa.
Nessa fase dos acontecimentos, iniciou-se então a longa viagem de volta, com a presença de três tripulantes e os mesmos incidentes da ida – o aparelho variando de posição, a luz aumentando e pulsando por certo período. Logo após ter sentido o baque correspondente ao pouso do aparelho, seus acompanhantes afrouxaram e, em seguida, retiraram sua máscara. Então perdeu quase totalmente a consciência, percebendo vagamente que o arrastavam para a escuridão. Calcula que ficou neste estado de semiconsciência cerca de uma hora, percebendo depois os primeiros raios de luz, d
o dia que ia nascer. Nesse momento, percebeu também o ruído de água próxima e, movido por uma sede intensa, arrastou-se até encontrar um ribeirão com uma corredeira. A seu lado estava a mochila, de onde retirou o cantil, enchendo-o por duas vezes. Calculou ter tomado um litro e meio de água, sem ter a sede totalmente saciada. Em seguida preparou seu material de pesca e conseguiu apanhar pequenos peixes, com os quais se alimentou.
Paisagem completamente estranha
Quando o Sol despontou, o soldado pôde reparar melhor a paisagem que lhe era completamente estranha. Tinha sido deixado sobre uma pequena pedreira ao lado de um córrego. Começando a caminhar trôpego, confuso e abatido, com barba de alguns dias, logo encontrou uma rodovia asfaltada e abordou um transeunte. Perguntando-lhe que local era aquele, foi informado estar a 32 km de Vitória, justamente na rodovia que liga a Minas Gerais. Com espanto, perguntou que dia era aquele, assustando o transeunte desconhecido, que lhe respondeu ser 09 de maio, sexta-feira.
Quatro dias ausente
Fazendo mentalmente os cálculos, José Antônio concluiu que sua ausência demorara quatro dias e meio. Informando-se a respeito da direção de Minas Gerais, passou a caminhar pela estrada, absorto em seus pensamentos. Chegou à conclusão que não devia voltar a Minas, porque não poderia justificar sua ausência, já que ninguém iria dar crédito ao seu relato. Em conseqüência, preferiu embrenhar-se no mato e tentar sobreviver consumindo frutas e peixes. Tinha receio de ser abordado pela polícia do Espírito Santo, pois não tinha mais a carteira de identidade para apresentar. Apesar dessas idéias, sua caminhada foi aproximando-o cada vez mais da divisa do estado de Minas. Em várias oportunidades rejeitou caronas de motoristas que paravam, ao perceberem a dificuldade de seu andar. A perna direita estava mais afetada e parecia inchada na altura do joelho. Além disso, havia três feridas abertas nos ombros e abaixo da nuca, provocadas pela fricção do capacete.
Finalmente, foi vencido pelo cansaço e aceitou uma carona que o deixou perto da cidade de Colatina (ES). Mas continuou evitando revelar sua história e alegava “estar cumprindo promessa”, para justificar seu estado maltrapilho. Voltando a caminhar, encontrou-se com um grupo de meninos e com eles se informou sobre o atalho que o levaria à mais próxima estação da ferrovia que liga Vitória a Belo Horizonte. Queixou-se de que os meninos, após indicarem o caminho, fizeram chacotas e atiraram pedras nele, talvez devido a sua esquisita aparência. Seguindo pelos trilhos da ferrovia, deparou com uma pequena estação, que não era ainda a de Colatina. Ali parou, informando-se com o agente sobre o próximo trem para Belo Horizonte, pois já mudara de idéia resolvendo voltar e enfrentar as conseqüências.
Como o trem demoraria muito ficou na estação conversando com o agente, com quem fez amizade, chegando depois a visitar a casa deste e conhecer sua esposa e filhos, que o alimentaram. Encontrou-se também com um sitiante vizinho, que lhe ofereceu serviço, mas não aceitou. Grato pelo tratamento que recebera, deu ao agente um dos dois facões que lhe sobraram. Além disso, financiou a passagem de um jovem que não tinha dinheiro para pagar. Os homenzinhos tinham devolvido ao bolso de sua calça, 35 mil cruzeiros, do total de 35 mil e cem que tinha antes da viagem.
Às 07h25 de sábado o soldado desembarcou na Estrada de Ferro Central do Brasil, em Belo Horizonte, onde foi abordado pelo agente de segurança, a quem acabou contando sua história, e por quem foi encaminhado ao seu quartel. Foi de lá que seguiu para a residência do major Célio Ferreira. Durante as entrevistas que o Cicoani fez com José Antônio insistiu muito para que o acompanhássemos ao local de pouso, porque ali, provavelmente, acharíamos ainda um peixinho nadando entre rochas, nas quais ficara preso quando ele, já saciada a fome, o devolveu à água. Disse também que o agente ferroviário o reconheceria e nos mostraria o facão recebido de presente.